Não
há um acontecimento mais debatido, na imprensa internacional, do que o
ataque as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque. Os EUA tinham sofrido antes as consequências de uma dura guerra civil
que até hoje deixou sequelas raciais no país. 0 ataque ao World Trade Center seria a segunda guerra em solo americano, agravada pela autoria
de agentes externos. Descontados os efeitos da derrota no Vietnã e a
contracultura dos anos 60, o 11 de setembro representou um trauma na
ideia da invulnerabilidade do grande país do Norte.
A maioria dos analistas da política internacional
concordam que o evento e as mortes que ele causou provocaram uma grande
mudança na política externa americana. Após o ocorrido, a política dos
direitos humanos foi servida pelos governos nacionais a lá carte,
no sentido de sua submissão as conveniências estratégicas e econômicas
das grandes nações. Quem o disse foi a alta comissária dos direitos
humanos da ONU. A começar pelos EUA, com a edição do patriotic act,
que no dizer do romancista Gore Vidal, suprimiu na prática as liberdades
civis em solo americano em nome da segurança dos cidadãos. Foi quebrado
o sigilo das comunicações postais e eletrônicas e os estrangeiros foram
(ainda são) vítima de perseguição em razão da cor, da religião ou
da ideologia.
As consequências mais graves, contudo, manifestaram-se na
política externa norte-americana, submetida doravante a agenda "de
guerra ao terror", o que representou uma espécie de carta branca para
invadir, perseguir, matar e destruir os países do Oriente Médio e Ásia
Central, suspeitos aos olhos do Pentágono de colaborar com os militantes
da Al-Qaeda ou Bin Laden. Aventuras militares que arrastaram consigo a
maioria dos países europeus, com exceção da França e da Alemanha. Os
americanos nunca aceitaram o fato de que a União Europeia tivessem uma
política externa independente. A lealdade canina dos ingleses e a
presença militar americana em terras europeias -representada pela OTAN -
mesmo depois do fim da Guerra Fria só tem como explicação a
permanência da influência de Washington no contexto da
política externa da Europa. De nada adiantou o manifesto assinado por
Habermas e Derrida por uma política externa independente. A agenda de
"Guerra ao Terror" triunfou em toda linha arrastando consigo os
principais governos europeus, com a colaboração da Alemanha de Ângela Merkel.
A invasão da Líbia, a guerra civil na Síria e o apoio a
ditadura egípcia que derrubou o governo legítimo da irmandade muçulmana é
a prova inconteste da hegemonia americana na política internacional.
Está agenda tem um pesado custo: a guerra movida pela frente ocidental
contra o estado islâmico tem provocado a morte de muitos civis e forçado
a imigração massiva de velhos, doentes, mulheres e crianças levando os países europeus a fecharam as fronteiras e não
respeitarem as leis humanitária de conceder o direito de refúgio a esses
imigrantes. Numa política de absoluto cinismo e indiferença para com o
sofrimento humano. Aceitam fazer parte da coligação capitaneada pelos
americanos contra governos árabes, mas não aceitam acolher as vítimas
dessa calamidade humanitária. Simultaneamente, os países membros da
"entente" anti-terror tornam-se alvo, por excelência, das ações do
estado islâmico, em represália a esse política anti-terror. Em alguns
casos, o desrespeito cultural alimenta a guerra, como o jornal francês
que publicou charges ofensiva ao islamismo.
O certo é que depois do 11 de setembro o
mundo ficou mais inseguro e inóspito para se viver. Até hoje se debate
as causas verdadeiras do ataque às torres gêmeas, especulando os
motivos internos do governo de George Bush, nos desdobramentos desse
episódio e suas relações com a família de Bin Laden. O fato é que a
política internacional voltou, como nunca, a ser comandada pelos
interesses estratégicos e comerciais dos EUA. e as liberdades
públicas sofreram um enorme golpe, no mundo inteiro.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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