O primeiro suplente de deputado estadual pelo PSOL, o destemido líder do Sindicato da Polícia Civil de Pernambuco, Áureo Cisneiros foi o primeiro a se insurgir contra uma espécie de "acordão" costurado pela oligarquia que nos desgoverna e seus partidos aliados, o PC do B e o PT, para eleger o príncipe-infante, ora Deputado Federal, João Campos à Prefeitura da cidade do Recife e assim manter a hegemonia incontrastada na política pernambucana. Nada disso seria novidade, se o "acordão" não envolvesse os parlamentares (municipais e estaduais) do PSOL. Porque aí ficariam os eleitores sem muitas opções para votarem contra a reprodução do familismo amoral que reina entra nós. Disse o bravo suplente do PSOL que é desmoralizante ter feito uma oposição aos desmandos da oligarquia durante todo esse tempo, e agora se compor com ela para inviabilizar a pré-candidatura de Marília Arraes e eleger o filho de Eduardo Campos. Afirmou ainda Cisneiros que o vereado Ivan Moraes vem fazendo uma oposição "light" ao PSB, na Câmara dos vereadores, e o mandato coletivo "juntas" já teria acenado para uma possível aproximação com a bancada socialista na Assembléia Legislativa.
A se confirmarem essas notícias, vamos ter a continuidade da política do amigo e inimigo em Pernambuco, com a obstaculização de toda e qualquer possibilidade de uma terceira via democrática, socialista e de massas no estado. Lembro que esse processo não é novo no cenário política da região. A polarização entre PMDB e PFL, depois PSB e PFL tornou impossível que partidos como o PPS e o próprio PT se oferecesse como alternativa a essa polarização. O ensaio de independência e voo próprio feitos pelos petistas, com a conquista da Prefeitura do Recife, não só contou com o apoio dos socialistas como foi, depois, inviabilização pela divisão interna do partido e o oportunismo de Eduardo Campos, através do verdadeiro "Cavalo de Tróia" que foi a candidatura do empresário Maurício Rands.
É de se lamentar profundamente esse tropismo que a oligarquia dominante exerce sobre esses partidos ditos de esquerda em Pernambuco. Este tipo de "transformismo político" produzido pelos maiorais do PSB só contribui para o subdesenvolvimento da cultura partidária do estado e tira dos eleitores a possibilidade de escolha de seus candidatos preferidos. O argumento usualmente utilizado de que é necessário a união para combater o fascismo (correto, em tese) não deve ser utilizado para justificar políticas de aliança com adversários que deveriam estar no banco dos réus e não na linha de frente das negociações políticas. Lamento muito que parlamentares que militaram a vida toda contra os desmandos do atual grupo governante (e há pessoas honestas e sinceras) aceitem negar toda a sua trajetória anterior em troca de cargos e mandatos. Não pensam no futuro: apenas em sua sobrevivência imediata. Serão tão importantes assim?
PS.: Segundo um bem informado e arguto observador da cena política pernambucana, a estratégia do PSB é cooptar Geraldo Júlio para secretaria de Governo, para que ele dispute a sucessão de Paulo Câmara, assegurando assim o domínio da oligarquia em todos níveis no estado. Só falta o Palácio das Princesas intervir no PDT, temendo que o prestígio de Fátima Bernardes acabe por levar Túlio Gadelha a Prefeitura do Recife. Mas para isso, o diretório estadual do partido. Precisaria dar o aval a pré-candidatura do jovem deputado. O que não é provável que aconteça.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia
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