O eterno arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, quando questionado sobre o seu silêncio, já no final da vida - ele que fora um combativo guerreiro da justiça social e das liberdades democráticas - costumava responder que havia tempo de emergir e de submergir. Em nenhuma hipótese poderíamos deixar de identificar-se com os governos de coalizão petista, sobretudo em razão de seu enfrentamento sistemático dos seculares problemas das desigualdades sociais no país. Costumo dizer que "briguei" - paguei todos os ônus - para estudar o PT no contexto de um "feudo institucional" profundamente identificado com a estrutura hierarquizada da sociedade brasileira. Tenho uma profunda admiração e respeito pela presidente Dilma Rousseff e não a abandonarei. Pagamos um preço alto por respeitarmos a história de vida dessa gente. Entendo o momento, as circunstâncias e as opções políticas que lhes foram facultadas no atual momento político, marcado pelo recrudescimento das forças conservadoras no país, propondo, inclusive, em ultima análise, uma ruptura institucional. Mas, devo confessar, que depois de 50 anos de idade não iria fazer qualquer tipo de acordo com os meus algozes. Tenho uma enorme dificuldade em compactuar com os "tapinhas na costa", com o "tirar por menos", com o "jeitinho brasileiro". Essa expressão sempre me causou muitos problemas. Penso que nunca tive esse tal "jogo de cintura". Isso é para as exuberantes mulatas, com aquelas bundas enormes, pelas quais confesso minhas quedas. Embora a política seja a arte do possível, como ensinava uma velha raposa da política pernambucana - mesmo assim - é doloroso para mim acompanhar os primeiros movimentos e acenos do Governo Dilma, que segue uma perspectiva de "acordos" nebulosos com os setores mais reacionários da política brasileira. Alguém já disse que Dilma está sofrendo da Síndrome de Estocolmo. Não sei. Mas, pelo andar da carruagem política, é possível que tenhamos de esquecer aquela agenda necessária para o país encontrar-se consigo mesmo - como dizia o geógrafo Nilton Santos - como os avanços na reforma agrária, na democratização da mídia, a tão sonhada reforma política. Certamente, não será com Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados que ela irá sair. Se sair, será "a la carte", sob medida, como costuma enfatizar o professor Michel Zaidan Filho. Nesse ritmo, como alguém profetizou, não nos surpreendamos com a possibilidade concreta de um convite a Lobão para assumir o Ministério da Cultura, sob o argumento de refrear a sanha oposicionista. Que nos perdoem os petistas mais radicais, mas pega mal para alguém que demonizou Marina Silva por sua amizade com Neca do Itaú contemporizar com um ministério sob medida para atender às pressões do mercado e do agronegócio. Para nós - que nos matamos por Dilma - seguindo o conselho de Dom Hélder - talvez seja o tempo de submergir.
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