pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Por enquanto, Datafolha confirma um segundo turno no Recife. Qual o caminho do PSDB e do DEM?
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sábado, 24 de setembro de 2016

O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Por enquanto, Datafolha confirma um segundo turno no Recife. Qual o caminho do PSDB e do DEM?

Resultado de imagem para João Paulo/Geraldo Júlio

José Luiz Gomes


Alguns articulistas da imprensa local questionaram bastante se teria sido prudente a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aqui no Recife, para apoiar a candidatura do petista João Paulo à Prefeitura da Cidade do Recife nessas eleições municipais. Argumentavam eles que, pelo fato de o juiz Sérgio Moro ter aceito as denúncias contra o ex-presidente - um fato que alcançou ampla repercussão naqueles "canais competentes" - isso poderia trazer alguns prejuízos para o candidato, em vez de alavancar a sua campanha. É mesmo difícil precisar os efeitos desse assassinato de imagem de que estão sendo vítimas tanto o PT quanto o seu principal líder, Luiz Inácio Lula da Silva. Nesses momentos bicudos - de instabilidade política e insegurança judicial - a setores da mídia foram delegados o papel de julgar e condenar os indivíduos, mesmo sem provas. Estamos num tribunal de exceção, de consequências funestas para o país. Para se condenar alguém basta um certo procurador sentar-se e, no seu computador, preparar um Power Point. Não precisa mais do que isso. Como ele mesmo afirmou, bastam suas idiossincrasias, traduzidas como convicções. 

A mais recente pesquisa do Datafolha sobre as intenção de votos aqui no Recife, confirmam os dados então apresentados por uma pesquisa anterior, realizada pelo Instituto Maurício de Nassau, com ligeiras variações que podem ser creditadas à questões pontuais, como metodologia, universo pesquisado, período de realização da pesquisa. Nada muito relevante. O relevante mesmo é que os dois institutos convergem para resultados semelhantes, o que nos permitem olhar com mais clareza sobre essa tal radiografia das eleições municipais do Recife. Até o momento, por exemplo, confirmar-se a possibilidade concreta de um segundo turno nessas eleições, polarizada entre os candidatos Geraldo Júlio(PSB)(38%) e João Paulo(PT)(29%). Neste contexto, começam as especulações em torno do posicionamento de candidaturas como a de Daniel Coelho(PSDB) e Priscila Krause(DEM). Por razões de natureza ideológica, seria "natural" que eles tenderiam a apoiar Geraldo Júlio(PSB) num eventual segundo turno.  

Mas, a julgar pelo andar da carruagem política, essa tendência "natural", hoje, poderia não ser confirmada, em razão de uma série de motivos. A relação de Geraldo Júlio com o núcleo duro tucano que gravita em torno da candidatura de Daniel Coelho estão profundamente azedadas. Alguns candidatos tucanos à Casa de José Mariano construíram suas plataformas eleitorais em torno de uma oposição aberta à gestão da Prefeitura da Cidade do Recife, como é o caso do vereador André Regis. Quem talvez reunisse capital político para arrumar o meio de campo e reconstruir pontes seria o ex-prefeito do município de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes, mas este já tem problemas demais para eleger o seu sucessor no município, Heraldo Selva(PSB) - que não vai bem nas pesquisas - além do seu filho, Betinho, no Cabo de Santo Agostinho, que também encontra dificuldades com os números. 

Na realidade, as relações entre o PSDB e o PSB, no Estado, nunca estiveram tão ruins. O governador Paulo Câmara(PSB), por exemplo, tem se queixado do tratamento do Governo Federal, em particular de um determinado ministro tucano. Em política, como bem afirma o comunista da chapa amarela, quando se deseja, é possível se dar nó em água. Mas, a rigor, essa costura entre tucanos e "socialistas" não seria assim tão simples. Quando Sérgio Guerra era vivo, ele regia a orquestra tucana conforme seus desejos e vontades. Depois de sua morte, as aves tucanas formaram vários bandos, cada qual agindo consoante diretrizes próprias. A afirmação de uma candidatura tucana à Prefeitura da Cidade do Recife, por exemplo, quando algumas aves já faziam ninho na gestão de Geraldo Júlio, é um claro indício do tamanho dessas divergências. 

O mesmo raciocínio poderia ser aplicado ao caso do DEM, cuja candidatura de Priscila Krause representou um verdadeiro "divisor de águas" na relação entre "socialistas" e Democratas. A relação entre os dois grêmios partidários estão profundamente estremecidas tanto no plano estadual quanto no plano municipal. Na condição de Deputada Estadual, a representante dos Democratas exerceu uma das mais ferrenhas oposição à gestão do governador Paulo Câmara, criticando e denunciando os possíveis equívocos de sua administração. Apesar das arestas, o governador Paulo Câmara pediu para o seu secretário de Educação prestigiar a posse do ministro Mendonça Filho no MEC, num gesto de quem não deseja ver os canais de diálogos completamente obstruídos, embora tenha pedido todos os cargos indicados pelo partido. 

Com a "nova" correlação de forças formada após o "impeachment" da ex-presidente Dilma Rousseff, o DEM parece ter renovado suas expectativas de atuação política na quadra local. Se, por um lado, para esses dois grêmios partidários não será nada fácil reconstruir o caminho de volta ao palanque de Geraldo Júlio, num eventual segundo turno, por outro, a possibilidade de migração para um possível apoio ao nome de João Paulo, por razões bem conhecidas, seria bastante improvável, mesmo se considerarmos o fato de a dinâmica das competições locais não corresponderem,  necessariamente, ao que ocorre na capital federal.  

P.S.: Do Realpolitik: Hoje saiu mais uma pesquisa do Instituto Maurício de Nassau, encomendada pelo grupo JC. Nesta pesquisa, Geraldo Júlio aparece com 33% das intenções de voto, ao passo que o candidato do PT, João Paulo, pontua em 25%. Em nada essa nova pesquisa interfere na possibilidade, cada vez mais concreta, de um possível segundo turno nas eleições do Recife. Por enquanto, o quadro parece inalterado. Sobre os possíveis "efeitos" da presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque de João Paulo, positivo ou negativo, nada foi aferido.

Li alguns comentários do cientista político Roberto Numeriano sobre as próximas eleições municipais do Recife. Interessante suas considerações sobre uma possível estratégia do PT, quem sabe com o objetivo de angariar os votos de setores da classe média, adotando uma prática, digamos assim, "contida" em relação ao golpe parlamentar recentemente ocorrido no país e de como seus opositores se identificam com este projeto. Também não teria sido apontado pelo PT a "carona" dos amarelos em relação às obras federais no Estado, o que poderia ter alavancado a penetração de Geraldo Júlio na periferia, o que se explica pelo seu ligeiro crescimento, embora não o suficiente para liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Se o PT usou uma estratégia equivocada, pode ter perdido espaço na periferia, além de não ter penetrado nos redutos de classe média. Se estamos certos, o PT foi infeliz em conquistar os votos daqueles que bradam pelo "Fora, Temer", democratas que não são necessariamente petistas. Alguém lembrou que, nas duas eleições vencidas por João Paulo, os redutos de classe média foram importantes para essas vitórias. É possível que a decisão de reconquistá-los - ou não amedrontá-los - nessas eleições tenha sido uma posição baseada nesse background. Vale as ponderações do cientista político Roberto Numeriano. Uma outra ponderação importante diz respeito ao candidato tucano, Daniel Coelho, que parece ter atingido o seu "teto", aí pela casa dos 13% do eleitorado recifense. Cumpre o papel de levar a eleição para um segundo turno, mas deve assistir ao embate de camarote, possivelmente torcendo, mesmo que a contragosto, pelo "socialista" Geraldo Júlio. Ressalto aqui, por outro lado, aquilo que os blogueiros independentes já estão chamando de Operação Boca de Urna, ou seja, uma série de medidas tomadas pelo PIG e por setores do judiciário com o propósito explícito de desgastar, ainda mais, as forças do campo progressista, impedindo-as de esboçar uma reação já a partir deste momento. Momento aliás único, pois existe uma possibilidade concreta de "mudanças das regras do jogo da democracia representativa". Para quem derrubou uma presidente legitimamente eleita, sem crime de responsabilidade, tudo torna-se possível. 

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