José Luiz Gomes
Numa das eleições que disputou para a Prefeitura da Cidade do Recife - isso já faz algum tempo - o hoje senador Humberto Costa fez uma declaração emblemática, logo após o resultado daquelas eleições, onde ele fora derrotado. Na reta final da campanha, o então candidato demonstrava um crescimento surpreendente. Ele então afirmou: se tivéssemos mais uma semana de campanha, eu venceria aquelas eleições. A frase utilizado pelo hoje senador sempre nos vem à mente, nessa retal final de campanha, quando os candidatos investem pesado no corpo-a-corpo junto ao eleitorado, tentando reverter índices desfavoráveis; assegurar uma vitória ainda no primeiro turno ou mesmo habilitar-se para a disputa de um segundo turno,desbancando outros pretendentes. O entusiasmo com que o candidato João Paulo fala sobre a possibilidade concreta de um segundo turno, nos remetem a deduzir que, para ele, esse segundo turno seria aquela semana a mais à qual fazia referência o senador Humberto Costa.É bom está motivado numa campanha. Irradia esse entusiamo para o eleitorado.
Todos os indicadores até agora apontam para uma eleição em dois turnos no Recife, possivelmente disputada entre os candidatos Geraldo Júlio(PSB) e João Paulo (PT). O candidato Daniel Coelho ainda alimenta alguma expectativa de disputar essa vaga com João Paulo, mas nos parece que isso não passa apenas de um desejo. Em todos os institutos de pesquisa, seus índices oscilam entre 13% e 15%, muito distante, portanto, de atingir os índices de João Paulo, que teria, no mínimo, o dobro de suas intenções de voto. Desde o início, a expectativa do seu grupo político era a de que ele pudesse polarizar essas eleições, sobretudo em razão da última eleição que disputou para a Prefeitura do Recife, onde teve um desempenho que surpreendeu a muitos. Mas ainda não deverá ser desta vez.
Neste momento de instabilidade política e insegurança jurídica essas eleições municipais - ou qualquer que seja a "oportunidade política" - revestes-te de uma importância fundamental para as forças progressistas e de esquerda asseguram seus espaços de resistência e de construção - ou reconstrução - da cidadania, hoje profundamente ameaçada. Como diria o editor do Le Monde Diplomatique, Sílvio Caccia Bava - em editorial já discutido aqui no blog - se os conspiradores possuem a bancada da bala, dos bois, da Bíblia, dos bancos, da berlinda, nós precisamos montar a nossa bancada da cidadania, começando, inclusive pelas câmaras municipais, compondo um núcleo de atores políticos comprometidos com a democracia política e substantiva, independentemente de grêmios partidários - que estão com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato.
Neste aspecto, concordamos com uma expressão do cientista político José Álvaro Moisés: A democracia política não é condição suficiente para se promover a democracia substantiva, mas ela é, certamente, necessária. No Brasil, a democracia procedimental enfrenta alguns problemas estruturais, alguns deles já discutidos aqui, subsidiados por autores como Sérgio Buarque de Holanda, que a considera um grande mal-entendido entre nós. Mesmo nessas circunstâncias, vale a observação de José Álvaro Moisés, a julgar, sobretudo, pelo que estamos acompanhado hoje no horizonte político do país, onde um membro do Ministério Público senta-se próximo ao seu computador, prepara um Power Point e, baseado em suas convicções, faz uma denúncia contra alguém, sem nenhuma prova consistente. E um juiz lá do Paraná a aceita sem a menor cerimônia. A ditadura do judiciário é uma das mais danosas, porque o individuo não tem a quem recorrer. E ainda aparecem uns cupinchas para "reclamarem" pelo fato de algumas dessas vítimas recorreram aos tribunais internacionais, sob pena de expor o país lá fora. E aqui dentro um cidadão pode ser achincalhado, tendo seus direitos mais elementares subtraídos?
Do lado dos conspiradores, anda em curso uma espécie de "Operação Boca de Urna", com o propósito de fragilizar as possíveis reações das forças legalistas, democratas e de esquerda nessas eleições municipais de 2016. Alguns fatos já podem ser aqui perfeitamente elencados, como as recentes declarações de um certo Ministro da Justiça, em palanque, antecipando os próximos passos da Operação Lava Jato, em ações encaminhadas pela Polícia Federal. O tal ministro sofreu uma admoestação do chefe,mas, daí a supor que ele poderia vir a cair vai uma longa distância. O homem é peça-chave no esquema. O seu chefe tem mais possibilidade de cair do que ele. Mas, deixando de lado as digressões e voltando à terrinha, quais seriam os trunfos de João Paulo(PT) nesta retal final de campanha?
Por aqui pelo blog nós o desaconselhamos a fazer, mas sua equipe resolveu ir em frente e contratou o Instituto Vox Populi, do cientista político Marcos Coimbra, para realizar uma pesquisa de intenção de voto, com a qual ele pretendia realizar um contraponto com os demais institutos de pesquisa. A pesquisa do Instituto Vox Populi veio confirmar, exatamente, os índices apontados por institutos como o Datafolha, o Ibope, o Ipespe e até o Mauricio de Nassau, com pequenas variações, que podem ser creditadas à margem de erro com que trabalham esses institutos. Realmente fiquei sem entender qual a motivação de sua equipe com esta pesquisa. Seria a de demonstrar que, possivelmente, esses números não batiam com os dados que dispunha a sua coordenação de campanha? Se este seria um trunfo para contestar os números até então apresentados, parece que o resultado não foi muito satisfatório. Como não seria prudente brigar com dados tão similares, em diferentes institutos, restou apenas ratificar a tese de um segundo turno, o que já seria uma vitória, dada as adversidades enfrentadas pelo partido que, de uma forma ou de outra, acaba respingando no candidato, como a dificuldade de retomar o diálogo com a classe média.
O dado alvissareiro é que a pesquisa do Instituto Vox Populi, creio, tenha ido às ruas antes da presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que veio reforçar a campanha do petista. Muitos articulistas locais recomendaram prudência com esta vinda de Lula ao Recife, pois, como disse o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Lula passa por um momento difícil. De fato, sim, mas Lula continua atraindo multidões aos seus comícios, numa demonstração de que o seu capital político ainda não teria sido totalmente corroído, a despeito do massacre da mídia golpista. Isso em todo o Brasil, como neste último final de semana, na periferia de São Paulo, acompanhando Haddad, que já esboça uma reação nesta reta final, o que também poderá ocorrer aqui no Recife.
Amanhá, a Rede Globo Nordeste irá realizar um debate com os candidatos que concorrem à Prefeitura da Cidade do Recife. Pena que as regras engessem tanto esses debates, tornando-os burocráticos e monótonos. Bons debates eram os de antigamente, quando as regras eram mais flexíveis, permitindo aos debatedores se enfrentarem entre si. Era muito difícil mediar tais debates, mas que eram bons eram. A essa altura o candidato João Paulo(PT) deve estar dando os últimos retoques em sua apresentação durante o debate de amanhã, que poderá ser decisivo nessas eleições, uma vez que a cobertura da mídia para eventos como as ações da Operações da Lava Jato, perdeu um grande espaço. Serão todos contra Geraldo Júlio(PSB) e, se ele não estiver bem preparado, poderá sentir os reflexos disso no próximo domingo. Se estivesse convidado para este debate, teríamos algumas perguntas atinentes sobre a sua gestão, assim sobre aquela fase em que ele esteve envolvido com o Pacto pela Vida, uma política pública de segurança que agoniza, mas que ele insiste em defendê-la.
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