Acompanhamos, com muita atenção, o desenrolar dos trabalhos da CPI da pandemia. Aliás, essas duas semanas de recesso estão parecendo uma eternidade. Com as pessoas em casa, essa CPI tornou-se um verdadeiro espetáculo, digno de uma Copa do Mundo ou dos desfiles das escolas de samba do primeiro grupo, no Rio de Janeiro. Como o país está polarizado, as torcidas estão bem divididas. Há os torcedores que se identificam com o G-7 e os torcedores que se encantaram com o Rolex daquele senador da base aliada, que faz uma defesa enfática do governo. Este editor, particularmente, se declara satisfeito com a condução dos trabalhos daquela comissão. É salutar, inclusive, que as instituições democráticas do país assegurem seu perfeito funcionamento, como uma prerrogativa inerente do próprio sistema, ou seja, a do Poder Legislativo fiscalizar os atos do Poder Executivo, como recomenda os bons manuais dos regimes democráticos.
Num ponto, porém, vou concordar aqui com os senadores da situação, que exigem que os desvios de recursos públicos durante a pandemia sejam investigados não apenas no plano federal, mas nos Estados e capitais do país. Há motivos robustos para que um pente fino seja aplicado no tocante a possíveis malversação desses recursos, seja na aquisição de insumos, uso de verbas federais ou construção de hospitais de campanha. Faciliataria bastante o trabalho da CPI o fato de a Polícia Federal já ter realizado várias operações concernentes a este assunto. A própria Polícia Federal estima que um montante superior a 4 bilhões de reais tenham sido desviados de suas finalidades republicanas. Caberia, tão somente, a CPI articular-se melhor com a PF, que já possui eventuais inquérios abertos sobre o assunto.
Uma CPI que iniciou seus trabalhos para investigar a conduta do governo federal no que concerne à vacinação contra a Covid-19, hoje, debruça-se sobre eventuais desvios de recursos públicos em operações nebulsos e a conduta de agentes públicos e privados nessas tecituras pandêmicas. Circunstâncias políticas excepcionais, tornaram esta CPI um termômetro de nossa saúde democrática. Aliás, uma saúde democrática, como afirmei em editoriais anteriores, bastante fragilizada. Aqui, analogicamente, convém sempre deixar claro que a nossa democracia nunca esteve completamente imunizada contra as aventuras autoritárias. Eis aqui um vírus que nunca esteve completamente erradicado num país como o nosso, de comprovado déficit institucional e profundas desigualdades sociais.
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