pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Qual, afinal, a real identidade do Centrão?
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quarta-feira, 28 de julho de 2021

Editorial: Qual, afinal, a real identidade do Centrão?



O presidencialismo de coalizão no Brasil se constitue numa grande dor de cabeça para qualquer chefe do poder Executivo. Mas, a rigor, não há outras alternativas para o ocupante do Palácio do Planalto - seja ele quem for - que não a de alinhar-se a essas forças políticas, sob pena de ver seu mandato minguar inexoravelmente, culminando com seu afastamento do cargo. Com um olho na missa e o outro no padre, especula que, mesmo na condição de real gestor da máquina pública no governo atual, os atores políticos ligados a este grupo - que controla um terço do Legislatico - não fecharam as portas para futuros pretendentes a inquilinos do Planalto, como é o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Centrão pode não ter endereço, CNPJ ou CPF, carteira de identidade, mas tem, certamente, um DNA bastante conhecido dos brasileiros : o do fisiologismo visceral.   

Eles, matreiramente, comem o mingau quente pelas beiradas, esperam pacientemente a crise de governabilidade instalar-se e, aí, apresentam a fatura, quase sempre muito cara, sem que qualquer garantia seja dada ao governante de turno, que passa a ser refém dessas forças. Em tais circunstâncias, quando o governante entrega os anéis para não perder os dedos, a rigor, já podemos concluir que o governo caiu. A tropa  tem um apetite voraz.

Constitue-se numa tarefa das mais complexas governar um país em tais circunstâncias, com uma margem de manobra bastante limitada ao chefe do Executivo. Outro dia, li um cientista político afirmar que "ceder" poderia ser uma estratégia ótima. Será? Para quem? Talvez unicamente para os atores vinculados a esta coalzão de forças denominada de Centrão, beneficiadas com liberação polpudas de emendas, cargos e penduricalhos outros. Trata-se de um grupo político frio e calculista, o que não se traduz numa novidade no mundo da política. Eles pressionam com o cérebro e empastelam-se com o estômago. E haja canapés para satisfazer esses apetites. 

Houve um tempo em que se falou bastante sobre a necessidade de uma reforma política. Hoje este assunto encontra-se em standy by. Há quem reclame - não sem alguma razão - que a coalizão de governo liderada pelo PT perdeu uma ótima oportunidade de convocá-la. Credita-se aqui uma grande oportunidade perdida pela coalizão, que poderia, igualmente, ter implementado outras reformas importantes para o país, como a reforma tributária, a reforma agrária, dos meios de comunicação, para ficarmos entre as prioritárias. O problema é que esta coalizão já chegou ao poder comprometida até a medula com forças que nunca desejaram mudar nada neste país. Já está se desenhando o mesmo cenário para as próximas eleições, caso tal conjunto de forças volte a ocupar o Palácio do Planalto.  

Talvez não tenhamos mais chances de retomar este debate. Uma alternativa seria a convocação de uma constituinte exclusiva para debater uma reforma política que pudesse reestruturar esses padrões de relação entre o Executivo e o Legislativo, mas, pelo andar da carruagem política, é pouco provável que saiamos desse círculo vicioso, sobretudo se entendermos que ele não chega a ser assim tão ruim para alguns segmentos políticos. É ruim mesmo para a sociedade brasileira, para a nossa frágil e incipiente experiência democrática, que sofre uma inanição profunda de práticas de caráter republicano.   

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