pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Doutrina Putin em 7 pontos

A Doutrina Putin em 7 pontos

Entenda a posição da Rússia no xadrez geopolítico mundial e qual é a mensagem que Putin quer enviar ao Ocidente com a anexação da Crimeia



Nazanín Armanian
Russian Presidential Press and Information Office
Sun Tzu dizia: “É preciso ganhar a guerra antes de declará-la”. Que dados fizeram o Pentágono e a CIA pensarem que seu complô contra a Rússia – de instalar um regime antirrusso em Kiev e integrá-lo com a OTAN – ia prosperar? Se, apesar de contar com milhares de agentes e informantes militares, civis, públicos e ocultos naquele país, os EUA tiveram um fracasso de grande calibre e de consequências imprevisíveis, como então conseguiram elaborar sua tática em um país como o Irã, onde não há nem embaixada? 
 
Os setores belicistas do governo dos EUA cometeram uma grave imprudência ao cruzar a linha vermelha com Moscou, passando de guerras periféricas (anteriormente na Coreia ou no Vietnã, atualmente na Síria) a provocar um enfrentamento direto com a Rússia. Agora, além de engolir a história da integração da Crimeia com a Rússia – em parte graças ao referendo e ao habilidoso uso do vox populi por parte do Kremilin – também tiveram que aceitar a proposta de Moscou de mudar a Constituição ucraniana para transformar o país em uma federação, em um Estado tampão não alinhado. Assim, impedir que se transformasse em outra base da OTAN em suas fronteiras. E talvez seja melhor que não ameacem com mais sanções econômicas se não querem que os russos tirem seu dinheiro do Chipre ou de Portugal e forcem Bruxelas a um novo resgate. 
 
A metamorfose de Vladimir Putin
 
Existia, entre os principais dirigentes russos, a ideia de que “quanto mais dependemos do Ocidente, mais o Ocidente vai depender de nós”, que é o mais parecido com uma doutrina absurda de segurança de homens que, depois de trair os ideais de um mundo justo, estavam ansiosos por fazer um vazio na elite do capitalismo global. 
 
Assim, deixaram que os EUA determinassem o rumo do país, até que “mudanças progressivas quantitativas gerassem mudanças qualitativas” e um dirigente chamado Vladímir Vladímirovich Putin sofreu este mesmo processo na própria pele e agora está mudando o rumo de seus país. Aqui há uma cronologia resumida de como aconteceu: 
 
- 1997: A OTAN firma com Gorbatchev a Ata Fundacional, cujo eixo são “três nós”: que a OTAN não tem “nenhuma intenção, nenhum plano, e nenhuma razão” para levar grandes contingentes militares aos 12 países do antigo bloco socialista. A Aliança estava enganando os russos. Não tardará a romper sua promessa.
 
- 1998 e 1999: Putin, desde o governo de Yeltsin, reprime duramente a rebelião dos chechenos com a ideia de impedir a maior desintegração do país. Ambos os lados cometem crimes de guerra.
 
- Tendo sucedido a Yeltsin em 2000, Putin é tratado com mimos por um Ocidente que pretende desativar sua possível oposição às aventuras bélicas em curso, contar com seu consentimento para instalar bases militares na Ásia Central, implicá-lo na imoral guerra contra o Afeganistão e utilizar seu território para o trânsito dos combios (Rota Norte) – e tudo isso a troco de nada: concessões unilaterais.
 
- 2008: Putin vê como o Ocidente e a Arábia Saudita desestabilizam o Cáucaso. Volta a empregar a mão dura ante a brutalidade dos chefes chechenos.
 
- Putin e sua equipe já se dão conta de que a proximidade com o Ocidente não beneficiou a Rússia. O enfoque brzezinskiano da política externa de Obama, de menos Oriente Próximo e mais contenção da Rússia e da China, é claro e público. Putin recorre à ideia fracassada de Obama de formar um G2 com a China, e fortalece seus laços com o grande vizinho.
 
- Putin projeta uma imagem de força e segurança, e consolida seu poder pessoal. Sua postura anti-Estados Unidos neutralizará os militares “nostálgicos” que vinham exigindo uma política externa contundente em defesa dos interesses nacionais.
 
- Com o aumento do preço dos hidrocarbonetos, melhora a situação econômica da Rússia. A crise financeira do Ocidente faz com que os países afetados aumentem sua dependência em relação aos mercados e aos investimentos das potências emergentes –entre elas, a Rússia.
 
-  Putin suspeita, assim como os chineses, de que as primaveras árabes sejam promovidas pelos EUA para redesenhar o novo mapa da região de acordo com seus atuais interesses e em detrimento da Rússia e da China.
 
- A Líbia é o nome do penúltimo golpe recebido dos EUA: a resolução do Conselho de Segurança propunha uma zona de exclusão aérea e não a troca do regime.
 
- Putin se opõe às ameaças de Washington contra o Irã e a Síria, e concede asilo a Snowden, tentando recuperar a autoridade moral que perdeu ao não se opor ao bombardeio na Líbia.
 
- A profunda decepção do Kremlin com seus “amigos ocidentais”, que na Ucrânia alcança tal ponto que acaba com seu pragmatismo e realismo defensivo para dar lugar ao realismo e à ofensiva, o que dá forma a sua doutrina.
 
Assim fica a Doutrina Putin:
 
- Considerar a instabilidade dos países vizinhos como uma ameaça para a segurança russa e ter o direito de estabilizá-los.
 
- Não confiar nos EUA e na União Europeia. Os trágicos fins de Saddam e Gadafi mostraram que nem uma sólida relação com o Ocidente é garantia de salvar sua pele.
 
- Elevar a autoridade da Rússia em nível internacional para que os EUA não voltem a considerá-la como “uma potência regional”. Com sua história e seu grande patrimônio energético e cultural já demonstraram – por exemplo, na crise síria –, ele é capaz de resgatar o próprio presidente dos EUA de sua autodenominada “linha vermelha”, evitando uma nova catástrofe bélica para o mundo.
 
- Resolver os conflitos internos e também com os vizinhos.
 
- Advertir o mundo de que jogar com a “nova” Rússia terá seus custos: uma das lições da Crimeia.
 
- Embaralhar, quando julgar necessário, a utilização do conceito de “intervenção humanitária e a Responsabilidade de Proteger (R2P)”, tal como seus homólogos ocidentais.
 
- Fortalecer as posições da Rússia na Eurásia, impedir a desintegração do país (Chechênia) e recuperar a influência perdida sobre os ex-membros da URSS e sobre os velhos aliados (Cuba, Vietnã).
 
Luta de classes ou nacionalismo
 
A burguesia russa que dirige o governo por meio do controle sobre a exploração dos recursos naturais do país mantém uma estreita (embora complexa) relação com a oligarquia internacional. Ainda com seus traços particulares, marcados pela história e pela cultura do país, não se pode descartar o uso do nacionalismo russo um tanto exacerbado para exportar a crise interna ou canalizar o descontentamento de setores mais desfavorecidos, por meio de um discurso populista 
 
Segundo o Partido Comunista da Rússia (proibido por Yeltsin em 1991, legalizado em 1993, e hoje a segunda força política do país), a taxa de pobreza subiu a 12,2% em 2013, um ponto a mais do que no ano anterior (nos EUA, essa taxa é de 15% e na Espanha, de 21%). Tais cifras não devem menosprezar o grande trabalho dos russos por se levantarem do duro golpe da desintegração da URSS e das políticas de Yeltsin e companhia, que deixaram 33% da população (49 milhões de pessoas) em um nível escandaloso de pobreza.
 
O índice de crescimento econômico caiu de 3,4% em 2012 para 1,6% em 2013.
 
Os comunistas, que acabam de ganhar a prefeitura de Novosibirsk, a terceira maior cidade do país, denunciam a doença holandesa da economia do país: a dependência da economia em relação às exportações do hidrocarboneto (70% do total em 2012) e que apenas um terço das receitas chegam às alçadas do governo. O resto está nas contas dos empresários nacionais e estrangeiros, e a essa cifra se devem acrescentar os 50-70 bilhões que são extraídos do país por conta da “fuga de capitais”.
 
O PC, que apoiou o direito da Crimeia à livre determinação, assim como a restauração voluntária da União Soviética, denuncia o abandono de 40 milhões de hectares produtivos, que fizeram desaparecer povos inteiros, e o fato de a agricultura representar apenas 4,4% do PIB. Na Rússia emergente e dos grandes magnatas, a expectativa de vida é de 70 anos, ocupando a posição 97 entre 180 países. As políticas sociais do governo continuam sendo insuficientes, ainda que o nível de vida tenha melhorado em relação à década de 90.
 
Mas a pressão sobre a Rússia a empurrará em direção a uma política externa agressiva e a uma ascensão da ultradireita na Rússia e na Europa.
 
Pode ser que o perfil de Putin seja apropriado para uma nação em ascensão e o de Obama, para uma em declínio, mas a única coisa certa é que estamos diante do fim da Nova Ordem Mundial de Bush e que a geopolítica tem uma natureza mutante. Só se pode falar de tendências.
 
* Nazanín Armanian é iraniana e residente em Barcelona desde 1983, data em que se exilou de seu país. Licenciada em Ciências políticas. Ministra aulas nos cursos online da Universidade de Barcelona. Colunista do diário online publico.es.

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

Créditos da foto: Russian Presidential Press and Information Office



Tapioca com açaí...isso pega?

Quando Marina Silva esteve em terras pernambucanas, muito se comentou sobre o cardápio que seria servido na residência de Dois Irmãos. Alérgica e regrada, a irmão deve ter se contentado com uma dieta bem light, bastante diferente daquelas servidas para a comitiva presidencial de Dilma Rousseff, que incluía camarão na moranga, pernil de cordeiro, bolo de rolo, rapadura e outras iguarias do gênero.Eduardo e Marina estão viajando pelo país, em plena campanha para tornarem-se conhecidos, em regiões onde os eleitores ainda não os conhece. Imagino o arranjo que eles estão fazendo para chegarem a algum consenso sobre o cardápio. Tapioca com açai...isso pode dar muito certo? Aqui pelo Alto da Sé, em Olinda, come-se tapioca com quase tudo, mas nunca vi o acompanhamento com açaí. Isso pega?

Uma campanha presidencial raivosa em 2014. Deus te livre de uma ideia fixa.


Parece não haver mais dúvidas de que teremos uma campanha presidencal "raivosa" em 2014. Pelas declarações do ex-governador Eduardo Campos - que anda fazendo um périplo pelo país para tornar-se mais conhecido - não há porque duvidar disso. O que mais nos intriga na fala do candidato é o seu teor de arrogância, prepotência, soberba e vaidade. Ele se coloca como o dono da verdade. Não adimite ser contestado. Aliás, essa prática já teria contaminado toda uma geração de neo-socialistas, forjados ainda nos tempos de faculdade. Fico imaginando como serão os debates presidenciais com candidatos com esse perfil. Numa de suas últimas bravatas, afirmou que Dilma descerá a rampa do Planalto, porque ele a subirá depois de eleito. Irá apear as velhas raposas da política nacional, coisa que ela poderia ter feito e não o fez. Como ele pretende fazer isso, gente? Aliado ao que há de mais atrasado na política brasileira, doutrinado pelo capital internacional, refém de inúmeros interesses em jogo. Tornar-se presidente da República passou a ser uma ideia fixa para o caboclo. Comenta-se que ele alimenta essa ideia desde muito tempo. Antes mesmo de ser governador de Pernambuco. Isso não vem fazendo bem a ele. Como diria o escritor Machado de Assis, "Deus te livre de uma ideia fixa. Antes um argueiro. Uma trave nos olhos". Infelizmente só encontrou assessores para bajulá-lo. Melhor que encontrasse alguém para dizer-lhes algumas duras verdades. Teria sido de melhor proveito. Seu Governo, exibido numa estupenda campanha institucional, aos poucos, quando se desce às minúcias do cotidiano das pessoas, está em crescente processo de derrretimento. A qualidade de vida dos pernambucanos caiu no seu Governo. Acabei de ler que o gestor atual, João Lyra, estaria preocupado com o desempenho dos alunos do ensino médio na região metropolitana do Recife.

Bomba! O telefonema de Dirceu a Dilma!

Bomba ! O telefonema
de Dirceu a Dilma !

Esse Nelson Rodrigues …
O Conversa Afiada se orgulha de oferecer ao amigo navegante um furo de dimensão planetária.

A transcrição do telefonema de José Dirceu, da Papuda, para a Presidenta Dilma Rousseff, no gabinete presidencial do Palácio do Planalto.

Isso só foi possível, porque o Conversa Afiada entrou em contato com Lord Snowdown e conseguiu um Wikileeks muito antes do Fantástico.

Trata-se de generosa colaboração ao edificante trabalho da Procuradora Milhomens, que, movida por uma patriótica “denúncia anônima informal”, resolveu grampear o coração da República.

Clique aqui para ler sobre o impacto dessa salutar decisão na “segurança nacional” e aqui para ver que ela segue superior orientação.

À transcrição que abalará as colunas do Governo:

(Som de gravação – “esta é uma chamada a cobrar. Quando ouvir a identificação, desligue, se não quiser atender”).

José Dirceu – Olá, Dilma, aqui é o Dirceu.

Dilma Rousseff – Fala, Zé ! Tudo bem por aí ?

- Tudo ótimo, Estela. Não podia estar melhor !

- Tão te tratando bem aí ?

- Estela, me sinto no Península de Hong-Kong…

- Como assim ?

- Menina, tenho jacuzzi com gueixas tailandesas …

- Não são gueixas japonesas ?

- Não, Estela, aqui na Papuda são tailandesas…. Lençol de linho egípcio, vinho francês de primeira. O piorzinho é o Pera Manca …

- Quem leva o vinho ?

- O Ricardo Sergio. E, você sabe, a adega dele só não é melhor do que a do Galvão Bueno.

- Gente fina é outra coisa ! E a alimentação ?

-  Vem tudo do Fasano. Espetacular.

- Pensei que fosse da casa do João Dória.

- Não, Estela, isso é pra tucano chic. Eu não passo de um petista…

- Nós, né, Zé ?

- Claro !

- Tá sentindo falta do Delúbio, do João Paulo, do Genoino…

- Muito. Nós tínhamos até planejado roubar o cofre do Gilmar …

- Do Ademar ? De novo ?

- Não, Estela ! Do Gilmar !

- Ah ! Não quero nem saber o que tem lá dentro.

- Não, eu desisti. Sem eles a operação não teria sentido. Era pra pegar a grana e dar pro PT …

- Tem televisão aí, Zé ?

- Tem, mas tem um problema. O Agnelo não comprou Bom-Bril para a antena e a gente vê o jornal nacional sem som.

- Que bom ! E dá pra perceber o noticiário do Kamel ?

- Claro ! Eles só mostram desgraças, cenas de sangue, barbárie  e violência no Cairo, Bagdá, Karachi, Kabul, na Faixa de Gaza. Uma miséria. O mundo está à beira do caos.

- O que é que você está lendo ?

- As obras completas do Fernando Henrique.

- Ninguém merece, Zé.

- Pois é, Estela. Mas, você sabe que estou até achando bom …

- Você pirou aí dentro. Nem o Cerra leu isso !

- Não ! Veja bem. Quando caiu o crime de quadrilha, o Barbosa  resolveu me dar uma pena adicional: ler as obras do FHC … Ele foi ou não foi generoso ?

- De fato. Podia te mandar sentar na cadeira do dragão …

- E não mandou ! Devo ou não devo estar agradecido ?

- Sem dúvida, Zé. Você sabe que a cada dia que passa simpatizo mais com o Barbosa ?

- Eu também, Estela. Tem um coração enorme !

- Claro, Zé, você sabe que ele é mineiro, né ?

- Claro, como você e eu.

- Então, gente conciliadora, gentil, generosa.

- E se o Nelson Rodrigues tiver razão, Estela ?

- O que tem o Nelson Rodrigues, Zé ?

- Não foi ele quem disse que mineiro só é solidário no câncer ?
Nesse ponto, caiu a ligação.



(Publicado originalmente no site Conversa Afiada)

Tarso Genro: Uma explicação para a ofensiva midiática da turma da Petrobrax

publicado em 24 de abril de 2014 às 10:12

Turma da Petrobrax na ofensiva: o monstro da Época e a destruição de Veja. O que há por trás das notícias?
Tarso Genro: O capital está vencendo. Como a esquerda pode barrá-lo?
22 de abril de 2014
Por Tarso Genro
A lenta, mas firme desagregação da esquerda européia depois da quebra da URSS, está ancorada em fatores “objetivos”, tais como as mudanças no padrão de acumulação capitalista –“pós-industrial” como já analisavam alguns economistas há trinta anos — que atravessaram a sociedade de alto a baixo.
Estas mudanças alteraram as expectativas políticas, o modo de vida, as demandas do mundo do trabalho e da constelação de prestadores de serviços, dos técnicos das atividades da inteligência do capital, dos sujeitos dos novos processos do trabalho e de amplos contingentes da juventude.
Estes, originários de famílias das classes médias, que perderam o seus “status” social e o seu poder aquisitivo, adquiridos na era de ouro da social-democracia. A social-democracia não se renovou, nem o comunismo, para responder a estas transformações.
A desagregação, todavia, também está ancorada na ausência de respostas – fator “subjetivo” dominante — dos núcleos dirigentes da esquerda comunista e social-democrata. Esta falta de formulação superior pode, parcialmente, ser atribuída a uma ausência de “caráter” — pela “acomodação” teórica e doutrinária dos seus dirigentes — mas este não é, certamente, o fator preponderante: o vazio de respostas de esquerda à nova crise do capital tem outras determinações mais fortes.
Mesmo aqueles que se jogaram para uma posição “movimentista” — mais, ou menos, corporativa — aparentemente radical (ou os que se propuseram a enfrentar o retrocesso com práticas de Governo ou com novas elaborações no âmbito acadêmico) não conseguiram – nos seus respectivos espaços de interferência – abrir novos caminhos que se tornassem hegemônicos.
A adesão da social-democracia francesa, italiana, espanhola e portuguesa – para exemplificar — aos remédios exigidos pela União Européia (leia-se Alemanha), põe por terra as esperanças que algum governo europeu, num futuro próximo, possa inspirar mesmo uma saída social-democrata novo tipo à crise atual.
Tudo indica que a recuperação da Europa capitalista virá por um canal “social-liberal”, depois de um longo período de reestruturação das classes em disputa. Teremos perdas significativas para os trabalhadores do setor público e privado, para as micro, pequenas e médias empresas, que são responsáveis pela maior parte da oferta de empregos. A isso se agregará uma forte pressão sobre os imigrantes e a crescente redução dos gastos públicos, destinados à proteção social.
Paralelamente a este desmantelamento tudo indica que crescerão as alternativas nacionalistas de direita, de corte autoritário e mesmo neo-fascistas, pois o vazio que gera desesperanças pode fazer renascer o irracionalismo das utopias da direita extrema.
Se isso é verdade, o nosso problema brasileiro é bem maior do que parece. A contra-tendência instituída no Brasil, que criou dez milhões de empregos no mesmo período em que foram destruídos mais de sessenta milhões de postos de trabalho em todo o mundo, está sob assédio.
O nome deste assédio é a garantia do pagamento rigoroso — com juros elevados — da dívida pública, para que o sistema financeiro global do capital possa ter reservas destinadas a bancar as reformas e por em funcionamento um novo ciclo de crescimento das economias do núcleo orgânico do capitalismo global.
Cada uma das alternativas que sejam propostas para o próximo período, visando desenvolver o país, combatendo as suas desigualdades sociais e regionais — sejam elas de inspiração neo-keinesiana ou socialista — só poderão ter efetividade e capacidade de implementação política se mostrarem de maneira coerente como elas se comunicam, acordam ou confrontam, com este cenário global.
Ou seja: como as alternativas poderão ser efetivas no território, numa situação de domínio integral do capital financeiro sobre os cenários econômicos e políticos do mundo.
O internacionalismo hoje é, conjunturalmente, mais democrático e social do que propriamente “proletário”, naquele sentido clássico que foi proposto pelo filósofo de Trévèrs.
As conquistas democráticas e sociais das nações estão bem mais ameaçadas depois da crise que se iniciou com o “sub-prime”, pois os governos são vítimas de uma pressão brutal para reduzir, ainda mais, a sua autonomia política e assim integrar-se, pacificamente, nas contaminações globais da crise.
Apresentar soluções internas, portanto, é também apresentar alianças de sustentação destas políticas no cenário internacional, para que as propostas não sejam voluntaristas ou demagógicas
Caso as formações políticas e os governos não consigam apresentar alternativas aceitas pelo senso comum, dificilmente terão apoio popular para governar. O seu fracasso — e o povo sabe disso — terá reflexo imediato como aniquilamento das conquistas de inclusão social, econômica e produtiva, que ocorreram no Brasil nos últimos dez anos.
Este é, na verdade – nos dias que correm — o dilema, tanto demo-tucano e marino-campista, como do extremismo corporativista e movimentista: ambos deveriam responder qual é, nos quadros da democracia política, o efeito imediato na vida das famílias — especialmente das chamadas “novas classes médias” e dos trabalhadores — dos seus projetos concretos de Governo, demonstrando como é possível aplicá-los pela via democrática.
Os ataques à Petrobras, que vem sendo modulados, tanto pela direita neoliberal como pelas oposições anti-PT e anti-Lula — de corte direitista e esquerdista — talvez sejam a síntese mais representativa desta dificuldade.
O ataque, turbinado pela grande mídia, dá espaço para estes grupos políticos não dizerem, de forma clara (se fossem eleitos), o que fariam com a economia e com as funções públicas do Estado, no próximo período. Unidos, esquerdismo e neoliberalismo, desta vez no ataque ao Estado — não somente ao Governo — ficam absolvidos de fazerem propostas para dizerem como o país deverá operar, gerando emprego e renda, ao mesmo tempo que se defende da tutela do capital financeiro e das pressões da dívida pública.
A desmoralização de um ativo público da dimensão da Petrobras, os ataques ao seu “aparelhismo” político, a crítica aos gastos públicos excessivos (programas sociais, na verdade), os ataques às políticas do BNDES – de forma combinada com um permanente processo de identificação da corrupção com o Estado e com os Partidos em geral — fecham um quadro completo do cerco ao país: liquidem com a Petrobras e teremos o Estado brasileiro pela metade; acabem com os gastos sociais e teremos uma crise social mais profunda do que a das jornadas de junho; restrinjam o BNDES e o crescimento – que já é pífio — se reduzirá ainda mais; desmoralizem os partidos e a política e a técnica neoliberal substituirá o contencioso democrático.
Como os militares estão aferrados às suas funções profissionais e constitucionais e não estão para aventuras, o golpismo pós-moderno vem se constituindo através da direita midiática. Esta, se bem sucedida no convencimento a que está devotada, encarregaria um novo Governo social-liberal da desmontagem do atual Estado Social “moderado”, obtido no Brasil num cenário mundial adverso.
Lido este cenário de refluxo da esquerda e de retomada dos valores do neoliberalismo selvagem, que devasta as conquistas da social-democracia européia, pode-se concluir que o debate verdadeiro no processo eleitoral em curso – momento mais importante da nossa democracia republicana concreta – é o seguinte: ou o projeto lulo-petista se renova, baseado no muito que já fez e conquista novos patamares de confiança popular; ou o refluxo direitista liberal, que assola a Europa, chegará em nosso país pela via eleitoral, legitimado por eleições democráticas.
A semeadura da insegurança, que precede as inflexões para direita, está em curso em todos os níveis e para responder a esta sensação manipulada — que vai da economia à segurança pública — é preciso dizer de maneira bem clara quais os próximos passos contra as desigualdades e contra perversão da política e das funções públicas do Estado. Chegamos a um momento de defesa política de um modelo novo combinado com a velha luta ideológica.
Recentemente o MST, no seu Congresso Nacional, deu uma demonstração de acuidade política e clareza programática. Fez a vinculação da questão agrária do país a um novo conceito de reforma: vinculou as demandas particulares dos deserdados da terra à produção de alimentos sadios para os cidadãos de todas as classes, numa verdadeira rebelião agroecológica, que faz a disputa no terreno da produção e da política.
Particularmente ele se reporta àqueles que mais sofrem os efeitos “fast-foods”, turbinados por agrotóxicos e por malabarismos genéticos, cujos efeitos sobre a espécie humana ainda não são avaliáveis na sua plenitude.
Trata-se, na verdade, da superação de uma demanda particular de classe – uma reforma agrária baseada na mera redistribuição da propriedade – para um plano universal de interesse da totalidade do povo, sem a perda das suas raízes classistas. Belo exemplo que vem do povo para ser absorvido e renovar a cultura política da esquerda.
O capital financeiro, no mundo, está vencendo, mas pode ser barrado pela imaginação criadora de uma esquerda que seja consciente da grandeza das suas tarefas nos momentos de refluxo. O MST deu um belo exemplo. A esquerda o seguirá?
PS do Viomundo: Do ponto-de-vista meramente eleitoral, a atual ofensiva tira da candidata Dilma um tema que ela usou extensivamente em 2010, ou seja, a ameaça da privataria que paira sempre sobre os tucanos. Agora Aécio pode se apresentar como a pessoa que vai “salvar” a Petrobras. Sei.

(Publicado Originalmente no Viomundo)

Michel Zaidan Filho:Uma análise crítica dos anos de Eduardo Campos em Pernambuco

Instado pelo repórter da Folha de São Paulo a preparar um material crítico sobre os anos eduardianos em Pernambuco, por ocasião da campanha presidencial deste ano, resolvi compilar de forma organizada por temas, os artigos publicados no Blog do Jamildo, desde o início do mandato de governandor de Pernambuco, exercido  pelo neto de Miguel Arraes.
                             Não confiro a essa organização temática de matéria já publicada nenhuma qualidade especial. Trata-se de uma oportunidade de reunir num só volume reflexões críticas, no calor de hora, sobre os diversos aspectos da obra administrativa eduardiana: desde a vitória sobre Jarbas Vasconcelos e  Mendocinha até o anúncio oficial da chapa "tapioca com açai".
                             Neste sentido, serão coletados textos que discutem os méritos e as razões da derrota da Frente jarbista, o perfil da gestão (gerencial), as denúncias de nepotismo, a política ambiental, a publicização da educação, saude etc., a politica de desenvolvimento regional, a politica industrial, a politica cultural e as alianças políticas do ex-governador.
                             Parte  especial será reservada para a maneira como Eduardo  comandou sua saida da base aliada da presidente Dilma,  preparou a sua candidatura e transferiu o governo para João Lyra.
É nossa convicção que o método ou a forma dessa candidatura e suas repercussões no PSB e fora dele foi  um pouco desastrada, unipessoal, centralizada, sem um amplo processo de discussão no partido e entre os partidos aliados. E as consequências estão por vir.
                             Será ainda objeto de destaque a diferença de perfil administrativo e objetivos estratégicos entre o avô e o neto,  sobretudo pela adesão de Eduardo Campos  à agenda gerencial de Fernando Henrique Cardozo. Neste capítulo, será mencionada a aproximação programática de Eduardo em relação à Aécio Campos e a vinda a Pernambuco de um conselheiro deste último para  aplicar um choque de gestão   no secretariado de Campos.
                             Finalmente será analisada  a dificuldade de nacionalização da candidatura do ex-governador e o panorama do estado de Pernambuco, depois de Eduardo Campos.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O capitalismo global está destruindo a raça humana

Fora as armas nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já enfrentou. Ele levou a ganância a um patamar de força determinante da história.



ArquivoPaul Craig Roberts (*)



A teoria econômica ensina que os movimentos financeiros a preços e lucros livres garantem que o capitalismo produz o maior bem-estar para o maior número de pessoas. Perdas indicam atividade econômica em que os custos excedem o valor da produção, de modo que investimentos nestas áreas devem ser restritos. Lucros indicam atividades em que o valor de produção excede o custo, que fazem o investimento crescer. Os preços indicam a escassez relativa e o valor das entradas e saídas, servindo assim para organizar a produção mais eficientemente.

Essa teoria nao é o que funciona quando o governo dos EUA socializa custos e privatiza lucros, como vem sendo feito com o apoio do Banco Central aos bancos “grandes demais para quebrarem” e quando um punhado de instituições financeiras concentram tamanha atividade econômica. Bancos “privados” subsidiados não são diferentes das outrora publicamente subsidiadas indústrias da Grã Bretanha, França, Itália e dos países então países comunistas. Os bancos impuseram os custos de sua incompetência, ganância e corrupção sobre os contribuintes.
 
Na verdade, as empresas socializadas na Inglaterra e na França eram dirigidas mais eficientemente, e nunca ameaçavam as economias nacionais, menos ainda o mundo inteiro de ruína, como os bancos privados dos EUA, os “grande demais para quebrar” o fazem.  Os ingleses, franceses e os comunistas nunca tiveram 1 bilhão de dólares anuais, para salvar um punhado de empresas financeiras corruptas e incompetentes.

Isso só ocorre no “capitalismo de livre mercado”, em que capitalsitas, com a aprovação da corrupta Suprema Corte dos EUA, pode comprar o governo, que os representa, e não o eleitorado. Assim, a tributação e o poder de criação de dinheiro do governo são usados para bancar poucas instituições financeiras às custas do resto do país. É isso o que significa “mercados autorregulados”.

Há muitos anos, Ralhp Gomery alertou que os danos para os trabalhadores estadunidenses dos empregos no exterior seria superado pela robótica. Gomery me disse que a propriedade de patentes tecnológicas é altamente concentrada e que as inovações tornaram os robôs cada vez mais humanos em suas capacidades. Consequentemente, a perspectiva para o emprego humano é sombria.

As palavras de Gomory reverberam em mim quando leio o informe da RT, de 15 de fevereiro último, com especialistas de Harvard que construíram máquinas móveis programadas com com termos lógicos de auto-organização e capazes de executarem tarefas complexas sem direção central ou controle remoto.


A RT não entende as implicações. Em vez de levantar uma bandeira vermelha, a RT se entusiasma: “as possibilidades são vastas. As máquinas podem ser feitas para construir qualquer estrutura tri-dimensional por si sós, e com mínima instrução. Mas o que é realmente impressionante é a sua capacidade de adaptação ao seu ambiente de trabalho e a cada um deles; para calcular perdas, reorganizar esforços e fazer ajustes. Já está claro que o desenvolvimento fará maravilhas para a humanidade no espaço, e em lugares de difícil acesso e em outras situações difíceis”.

Do modo como o mundo está organizado, sob poucos e imensamente poderosos e gananciosos interesses privados, a tecnologia nada fará pela humanidade. A tecnologia significa que os humanos não serão mais requeridos na força de trabalho e que os exércitos de robôs sem emoção tomarão o lugar dos exércitos humanos e não há qualquer remorso quanto a destruir os humanos que os desenvolveram. O quadro que emerge é mais ameaçador que as previsões de Alex Jones. Diante da pequena demanda por trabalho humano, muito poucos pensadores preveem que os ricos pretendem aniquilar a raça humana e viver num ambiente dentre poucos, servidos por seus robôs. Se essa história ainda não foi escrita como ficção científica, alguém deveria se dedicar a fazê-lo, antes que se torne algo comum da realidade.

Os cientistas de Harvard estão orgulhosos de sua conquista, assim como sem dúvida estavam os participantes do Projeto Manhattan, em relação à conquista por terem produzido uma arma nuclear. Mas o sucesso dos cientistas do Projeto Manhattan não foi muito bom para os residentes de Hiroshima e Nagasaki, e a perspectiva de uma guerra nuclear continua a lançar uma nuvem negra sobre o mundo.

A tecnologia de Harvard provará que é inimiga da raça humana. Esse resultado não é necessário, mas os ideólogos do livre mercado pensam que qualquer planejamento ou antecipação é uma interferência no mercado, que sempre sabe melhor (daí a atual crise financeira e econômica). A ideologia do livre mercado alia-se ao controle social e serve a interesses de curto prazo de gananciosos grupos privados. Em vez de ser usada para a humanidade, a tecnologia será usada para o lucro de um punhado.

Essa é a intenção, mas qual é a realidade? Como pode haver uma economia de consumo se não há emprego? Não pode, que é o que estamos aprendendo gradativamente com a exportação de empregos pelas corporações globais, para o exterior. Por um período limitado uma economia pode continuar a funcionar na base de empregos de meio turno, rebaixamento de salários, cartões de benefícios sociais – de segurança alimentar e auxílio-desemprego.

Quando a poupança cai, no entanto, quando os políticos sem coração que demonizam os pobres cortam esses benefícios, a economia deixa de produzir mercado para consumir os bens importados que as corporações trazem para vender.

Aqui vemos o fracasso total da mão invisível de Adam Smith. Cada corporação em busca de vantagens gerenciais maiores, determinadas pelos lucros obtidos em parte pela produção da destruição do mercado consumidor dos EUA e da miséria maior de todos.

A economia smithiana aplica-se a economias nas quais os capitalistas têm algum sentido de vida comum com outros cidadãos do país, como o tinha Henry Ford.
 
Algum tipo de pertencimento a um país ou a uma cidade. A globalização destrói esse sentido. O capitalismo evoluiu ao ponto em que os interesses econômicos mais poderosos, os interesses que controlam o próprio governo, não têm sentido de obrigação com o país nos quais seus negócios estão registrados. Fora as armas nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já teve diante de si.

O capitalismo internacional levou a ganância a um patamar de força determinante da história. O capitalismo desregulado e dirigido pela ganância está destruindo as perspectivas de emprego no mundo desenvolvido e no mundo em desenvolvimento, cujas agriculturas se tornaram monoculturas para exportação a serviço dos capitalistas globais, para alimentarem a si mesmos. Quando vier a quebradeira, os capitalistas deixarão “a outra” humanidade à míngua.

Enquanto isso, os capitalistas declaram, em seus encontros de cúpula, “que há muita gente no mundo”.
 
(*) Diretor do Institute for Political EconomyVersão original do artigo aqui.
 
(**) Tradução: Louise Antônia León

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

Pondé e a filosofia da misoginia

Pondé e a filosofia da misoginia

Por Renato Rovaiabril 22, 2014 22:16 ATUALIZADO

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"Ser jovem e liberal é péssimo para pegar mulher", diz Pondé (CPFL Cultura / Wagner Moraes)
“Ser jovem e liberal é péssimo para pegar mulher”, diz Pondé (CPFL Cultura / Wagner Moraes)
Em sua coluna da Folha de S. Paulo desta segunda, Luiz Felipe Pondé sai em defesa de uma “direita festiva”. Para que? Conquistar corações femininos. Diz ele que o “maior desafio dos jovens que não são de esquerda” é a “falta de mulheres jovens, estudantes, que simpatizem com a posição liberal (como se fala no Brasil) ou de direita (quase um xingamento)”.
“As meninas detestam economia, essa ‘ciência triste’, porque atrapalha a alegria da vida”, decreta o colunista, sem atentar para o fato que o Brasil tem uma presidenta exatamente formada em economia.
Pois então a mulher só se interessa pela política se ela for “festiva”? Isso lhe parece misógino? É isso mesmo. Ele acha que mulher não está disposta a debater a sério. E chega à obtusidade de dizer que “quando liberais se reúnem há uma forte escassez de mulheres, o que é sempre um drama”.
Ele, infelizmente, não está sozinho. Uma pesquisa feita pela Universidade de Vanderbilt, dos EUA, no ano passado, apontou que, no Brasil, 28% da população ainda acredita que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres.
Os dados refletem o Congresso Nacional, onde elas ocupam menos de 9% das cadeiras, mesmo que o eleitorado feminino seja maioria. Além disso, o Brasil ocupa o 156º lugar em um ranking de 188 países relativo à representatividade da mulher no Poder Legislativo. Não à toa está em curso uma campanha do Tribunal Superior Eleitoral que procura diminuir essa defasagem nas eleições deste ano.
O mais lamentável de toda essa história é que um sujeito com essa qualidade de elaboração continue assinando uma coluna no jornal diário de maior circulação do país. E ainda encante uns e outros que babam ao falar de política. Para eles, vale qualquer coisa e de qualquer jeito. Pode ser um discurso racista, sexista ou misógino. Desde que seja contra aqueles que se dizem de esquerda. Ou que defendam valores humanos e sociais. Triste fim de um pensamento e de um tipo de colunismo que já teve a representá-lo gente como Paulo Francis e Roberto Campos. Agora, esse povo se contenta com a filosofia pondestiana.
(Publicado originalmente na Revista Fórum)

Marco Civil da internet prova que é possível avançar na comunicação

Lei sancionada nesta quarta-feira (23) pela presidenta Dilma Rousseff consolida o protagonismo do Brasil na governança mundial da web.



Najla Passos
Roberto Stuckert Filho/PR

Brasília - A presidenta Dilma Rousseff sancionou o marco civil da internet brasileira nesta quarta (23), na abertura do Encontro Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança da Internet (NetMundial). Aprovada pelo Sendo na noite de ontem, a legislação consolida o protagonismo do Brasil na luta global por uma internet mais democrática e segura. E, internamente, mostra que, com articulação política e mobilização popular, o governo petista pode sim avançar na polêmica pauta das comunicações.

“O Brasil tem muito a contribuir, a partir do amplo processo interno que resultou na lei do marco civil da internet, aprovada ontem pelo congresso nacional e que tenho a honra de sancionar, aqui, neste evento. A lei, que Tim Berners-Lee [tido como o pai da Internet] considerou um presente para a web em seu 25º aniversário, demonstra a viabilidade e o sucesso de discussões abertas e multissetoriais, bem como da utilização inovadora da Internet como plataforma interativa de debates”, afirmou Dilma aos participantes do encontro, que reúne representantes de 80 países.

A presidenta ressaltou a importância do processo de democratização da governança da internet, hoje hegemonizada pelos Estados Unidos, que deve respeitar princípios elementares aos direitos humanos, como o da privacidade. “O Marco Civil, exemplo de que o desenvolvimento da Internet não pode prescindir dos estados nacionais, é uma referência inovadora porque, em seu processo de elaboração, ecoaram as vozes das ruas, das redes e das instituições”, disse ela.

Legislação com DNA popular

A proposta de um marco civil para a internet brasileira começou a ser construída ainda no governo Lula, a partir de um eficiente processo de consulta à sociedade civil, que envolveu não só governo, como também especialistas e movimentos organizados. Por isso, desde o início, recebeu a chancela dos movimentos de luta pela democratização da comunicação, que batalharam pela aprovação do marco em todos os níveis.

Poderia ter ficado esquecida nos arquivos do Planalto como outras propostas populares de legislação para o setor, mas ganhou contornos de prioridade, no ano passado, após as denúncias formuladas pelo ex-funcionário da NSA Edward Snodew sobre a espionagem norte-americana nas comunicações e dados de cidadãos brasileiros, incluindo o próprio governo Dilma.

A presidenta denunciou a violação à ONU e ao mundo, ganhou apoio de representantes dos outros países vítimas da mesma prática e passou a encabeçar o descontentamento mundial com a hegemonia dos Estados Unidos no controle da rede de computadores. Para fazer jus ao posto, insistiu na aprovação do marco civil brasileiro e encaminhou à Câmara, em caráter de urgência, em outubro do ano passado, um projeto assinado pelo governo.

Apesar dos esforços da oposição em tentar vender a falsa ideia de que o marco era uma forma do governo tentar controlar o espaço, a população aderiu em massa à defesa do projeto. Dentre as inovações propostas e aprovadas, constam medidas protetivas do usuário, que impõem maior rigor punitivo contra a espionagem, ressaltando o caráter inviolável das comunicações, salvo por ordem judicial específica.

No restante, muda muito pouco a relação que o brasileiro já possui com a internet. Seu maior mérito, inclusive, é impedir que as empresas de comunicação possam cercear a livre circulação que hoje existe na rede, com base em demandas de mercado. O princípio da neutralidade, o mais polêmico, garante que o usuário possa acessar qualquer tipo de conteúdo disponível a partir do pacote contratado, à revelia do que era proposto pelas empresas de telecomunicações.

“A lei é importante porque afirma direitos dos usuários e estabelece limites para a atuação de operadoras e sites. Ela garante a liberdade de expressão na Internet ao prever a retirada de conteúdos apenas com decisão judicial. E, mais importante, deixa claro que a rede tem que ser neutra, impedindo que operadoras de telecomunicação possam vender pacotes com serviços diferenciados e discriminem os conteúdos que trafegam na rede”, esclarece Jonas Valente, da coordenação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal.

Crise na Câmara X agilidade no Senado

Criticada pela oposição, a rápida tramitação do projeto no Sendo, de apenas um mês, comprovou que o assunto já saiu exaurido da Câmara, onde tramitou por mais de dois anos e chegou a se transformar no estopim da maior crise entre governo e base aliada. Apesar da forte resistência de siglas como DEM e PSDB, foi Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder do maior partido que dá sustentação à base aliada depois do PT, quem personificou no parlamento a oposição ao projeto encabeçada pelo mercado.

Sob o risco de não conseguir maioria de votos, o marco civil da internet travou a pauta da Câmara por cinco meses, até que o trabalho de negociação do governo conseguisse reverter o placar, com o acolhimento de emendas que não alteravam a essência do projeto: neutralidade, liberdade e proteção na rede. Cunha lutou enquanto pode contra a aprovação da matéria, em especial contra a o princípio da neutralidade, que tanto desagradou o mercado, mas acabou vencido. Com ele, as outras vozes que amplificava.

No Senado, a matéria encontrou ambiente já propício à aprovação. Na audiência pública convocada para discutir a matéria, nenhuma voz se levantou contrária.
 
Apenas alguns parlamentares da oposição tentaram atrasar o processo, alegando que a matéria merecia mais debate. A maioria, porém, não comprou a alegação e aprovou sem alterações o texto encaminhado pela Câmara, que já tinha o aval do governo e dos movimentos populares. 


Por mais avanços

Enquanto comemoram o sucesso da empreitada, os movimentos pela democratização da comunicação já pensam além: se o governo Dilma conseguiu driblar opositores importantes como as empresas de telecomunicações para aprovar a legislação da internet, por que não ousar e encaminhar para o debate também a que prevê nova pactuação para a comunicação em geral?

Construído a partir de ampla participação popular na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009, o projeto de marco civil da comunicação, que democratiza especialmente as concessões públicas eletrônicos, como a TV e o rádio,  chegou a merecer uma análise criteriosa do então ministro da Secretária de Comunicação do governo Lula, Franklin Martin. Porém, desde então encontra-se engavetado pelo Planalto. A alegação mais corriqueira do governo é que não existe ambiente no parlamento para aprová-lo.

“A aprovação do marco civil da internet é uma evidência de que quando o governo quer pautar um tema há espaço para avanços no parlamento. Isso deveria ocorrer também no caso do marco legal das comunicações. Assim como é preciso garantir os direitos dos usuários da Internet, é necessário assegurar os direitos dos usuários das demais mídias. E este é o espírito de um novo marco regulatório de cunho democrático”, afirma Jonas Valente.

(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)

Madura: Venezuela precisa de paz e diálogo para seguir em frente

Maduro: Venezuela precisa de paz e diálogo para seguir em frente

publicada quarta-feira, 23/04/2014 às 19:18 e atualizada quarta-feira, 23/04/2014 às 19:39
Por Nicolas Maduro, presidente da Venezuela*
Os recentes protestos na Venezuela ganharam as manchetes internacionais. Grande parte da cobertura midiática estrangeira distorceu a realidade do meu país, assim como os fatos em torno dos eventos ocorridos.
Nós, venezuelanos, somos orgulhosos de nossa democracia. Construímos um movimento participativo e democrático pela base que garante a distribuição igualitária tanto do poder quanto dos recursos naturais entre nosso povo.
Segundo as Nações Unidas, Venezuela reduziu consistentemente a desigualdade: agora possuímos a menor desigualdade de renda da região. Nós reduzimos enormemente a pobreza – para 25.4% em 2012, segundo dados do Banco Mundial, de um percentual de 49% em 1998; no mesmo período, de acordo com estatísticas do governo, a extrema pobreza diminuiu de 21 para 6 por cento.
Nós criamos sistemas-modelo universais de saúde e educação, gratuitos para nossos cidadãos em todo o território nacional. Nós atingimos essas façanhas em grande parte através da utilização da renda do petróleo venezuelano.
Enquanto nossas políticas sociais melhoraram a vida dos cidadãos em vários aspectos, o governo vem enfrentando, nos últimos 16 meses, desafios econômicos como a inflação e escassez de produtos básicos. Nós seguimos, dentro dos marcos do mercado, buscando soluções através de medidas como o novo sistema de comércio exterior, desenvolvido para diminuir a abrangência do mercado negro. E nós estamos monitorando os negócios para assegurar que os consumidores não sejam enganados e produtos não sejam estocados para fins de especulação. A Venezuela vem lutando também contra um alto índice de criminalidade. Estamos enfrentando este problema com a construção de uma nova força policial nacional, fortalecendo a cooperação entre a comunidade e a polícia e mudando drasticamente nosso sistema prisional.
Desde 1998, o movimento fundado por Hugo Chávez venceu mais de uma dúzia de eleições presidenciais, parlamentares e locais através de um processo que o ex-presidente estadunidense Jimmy Carter classificou como “o melhor do mundo”. Recentemente, o PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela) recebeu expressiva votação nas eleições majoritárias (dezembro de 2013), sagrando-se vitorioso em 255 dos 337 municípios.
A participação popular na política aumentou consideravelmente na Venezuela durante a década passada.
Devido a minha origem sindicalista, acredito profundamente no direito à organização e no dever cívico de promover o triunfo da justiça, assegurando que demandas legítimas sejam veiculadas em assembleias e protestos pacíficos.
Aqueles que falam da existência um déficit democrático na Venezuela e que os atuais protestos representam um sentimento geral são desmentidos pelos fatos. Os protestos da oposição são feitos por pessoas oriundas dos segmentos mais ricos da sociedade e que buscam reverter os ganhos do processo democrático que beneficiou a maioria do povo.
Manifestantes oposicionistas agrediram fisicamente e danificaram hospitais, queimaram uma universidade no estado de Táchira e atiraram coquetéis Molotov e pedras nos ônibus.
Eles atingiram também outras instituições públicas atirando pedras e morteiros na Suprema Corte, a companhia de telefonia pública CANTV e o escritório da Promotoria Geral da República. Os danos dessas ações custaram milhões de dólares.  É por isso que os manifestantes não receberam nenhum apoio nos bairros pobres.
Os manifestantes possuem um único objetivo: a derrubada inconstitucional do governo democraticamente eleito. Líderes da oposição deixaram isso claro quando começaram a campanha em janeiro, prometendo criar o caos nas ruas. Aqueles que possuem críticas legítimas às condições econômicas e ao índice de criminalidade estão sendo explorados pelos líderes dos protestos, que tentam impor sua agenda violenta e antidemocrática.
Em dois meses, 36 pessoas foram tidas oficialmente como mortas. Nós acreditamos que os manifestantes são diretamente responsáveis por pelo menos metade dessas fatalidades. Seis membros da Guarda Nacional foram assassinados com tiros; outros cidadãos foram mortos enquanto tentavam remover obstáculos colocados pelos manifestantes para bloquear o trânsito.
Um pequeno número do pessoal das forças de segurança também foi acusado de atos violentos que resultaram na morte de algumas pessoas. Estes são eventos lastimáveis, e o governo venezuelano respondeu com a prisão daqueles que eram suspeitos. Nós criamos um Conselho de Direitos Humanos para investigar todos os incidentes relacionados a estes protestos. Cada vítima merece justiça, e cada criminoso – independentemente de ser um apoiador ou oponente do governo – será responsabilizado por seus atos.
Nos Estados Unidos, os manifestantes são descritos como “pacíficos”; enquanto isso, o governo venezuelano é acusado de reprimi-los violentamente. Segundo essa narrativa, o governo estadunidense está ao lado do povo da Venezuela; na realidade, ele está ao lado do 1% por cento que desejam fazer nosso país voltar à época onde os 99% eram impedidos de participar da vida política e apenas uma minoria – incluindo empresas estadunidenses – se beneficiava do petróleo venezuelano.
Não podemos esquecer que alguns daqueles que apoiaram a destituição do governo democraticamente eleito da Venezuela em 2002 estão liderando os protestos hoje. Aqueles envolvidos no golpe de 2002 imediatamente dissolveram a Suprema Corte e a legislatura, e rasgaram a Constituição. Aqueles que incitam a violência e hoje tentam semelhantes ações inconstitucionais devem enfrentar o sistema judiciário.
O governo estadunidense apoiou o golpe de 2002 e reconheceu o governo golpista mesmo com seu comportamento antidemocrático. Hoje, a administração Obama gasta anualmente pelo menos 5 milhões de dólares com o apoio a movimentos oposicionistas na Venezuela. Um pedido de 15 milhões adicionais para essas organizações de opositores está agora no Congresso. O Congresso decide também de que forma irá impor sanções à Venezuela. Eu acredito que o povo estadunidense, sabendo a verdade, irá decidir que a Venezuela e seu povo não merecem tal punição, e pedirá a seus representantes que não criem leis para nos sancionar.
O momento pede diálogo e diplomacia. Por toda a Venezuela, nós estendemos a mão para a oposição. E nós aceitamos as recomendações da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) de nos engajar imediatamente em conversas com a oposição. Meu governo também estendeu a mão ao presidente Obama, expressando nosso desejo de novamente trocar embaixadores. Nós esperamos que sua administração responda gentilmente.
A Venezuela precisa de paz e diálogo para seguir em frente. Nós receberemos bem qualquer um que deseje sinceramente ajudar-nos a alcançar esses objetivos.
* Reprodução de tradução publicada no Correio da Cidadania.

(Publicado originalmente no site O Escrevinhador)

MP arquiva ação sobre promotor que esqueceu Caso Alstom na gaveta. Será que o MP é inútil?

MP arquiva ação sobre promotor que esqueceu Caso Alstom na gaveta. Será que o MP é inútil?

23 de abril de 2014 | 20:30 Autor: Fernando Brito
mp
Folha noticia que a “Corregedoria do Ministério Público Federal decidiu arquivar a investigação sobre o engavetamento de um pedido de cooperação jurídica da Suíça por quase três anos no gabinete do procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelo inquérito do caso Alstom”.
De Grandis, como se sabe, disse que os pedidos foram parar “numa gaveta errada”, onde ficaram esquecidos, muito embora o Ministério da Justiça pelo menos três vezes lhe pedisse que respondesse à Suíça.
A Corregedoria do Ministério Público, pelo visto, considera dispensável o trabalho dos promotores que o integram,  ao afirmar que “a demora de dois anos e oito meses para atender ao pedido não causou prejuízos à investigação”.
Ora, se engavetar a investigação por dois anos e oito meses “não traz prejuízo à investigação”, para que mandar isso ao promotor?
Não seria melhor ele devolver o expediente dizendo que não ia investigar nada?
Para que serve, então, um caríssimo promotor de Justiça, pago pelo dinheiro público, para nada?
E a promotora que usou de um ardil para tentar quebrar o sigilo telefônico do Palácio do Planalto, também “não trouxe prejuízo”, uma vez que se descobriram suas intenções antes e, então, fica tudo por isso mesmo?
Será que o Ministério Público, que tem o papel de fiscal da lei, acha que suas próprias atitudes não devem ser avaliadas pela lei?
Acabou aquela história de que a lei é erga omnes (para todos)?
 (Publicado originalmente no site Tijolaço)