pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

sábado, 14 de agosto de 2021

Publisher: "You love uncertainty and you will be a democrat"


It is not just today that we discuss the weaknesses of our democratic fabric here. In fact, in reality, it was never a good fabric, due to the great social inequalities existing in the country, as well as due to the cultural reflexes of our colonial formation, which forged a clumsy, prejudiced, infamous and inconsequential elite. We have followed - not without great concern - this tension in the relationship between the Executive and Judiciary powers, translated into raids and skirmishes that have been going on for some time, promoting a situation of discomfort for our democratic institutions and, consequently, for Brazilian society , which is already living with a deep sanitary, economic, social and civilizing crisis, marked by the disregard for the environment, the national cultural heritage, and an authoritarian bias that is intolerant of minorities.

Don't tell me you can't talk about a crisis of civilization, after the fire in our Cinematheque, in one of the warehouses that held a very precious collection of filmmaker Glauber Rocha. It is equally desperate what happens in relation to the escalation of forest deforestation in the Amazon, as well as the illegal occupation of indigenous lands, through irregular mines, which smuggle gold abroad. It is necessary to have nerves of steel to withstand that tragedy of environmental aggression excess - counted on thousands of soccer fields - with effects in all regions of the country, since the Amazon region exerts a strong influence on the planet's climate. There are those who assure that, if tough measures are not taken immediately, the next Covid-19 will come out of those hoverings, due to the environmental imbalance produced.

Still far from cooling down - despite vaccination - the Covid-19 pandemic worries European and Asian authorities again, with more aggressive variants, more transmissible and, in some cases, even more resistant to immunization. This would be the moment for a single command around your confrontation. Definitely, this is not the time to discuss whether the vote will be printed or electronic, much less question the fairness of past or future claims. There is no evidence of the suggested frauds, because, simply, these were legitimate claims, where these frauds did not occur.

This theme has been recurrent, but it seems that we will always have to remember that political actors who wage an institutional struggle must necessarily respect the rules of the game, or, if they prefer, act within the four lines, under the arbitration of the Federal Constitution . Anything outside of that can be translated as a violation or a coup, whether of the traditional type or of these modern, "light" type coups, without the use of military intervention force, as in the past. These typologies of "institutional coups", by the way, have been a current trend, characterized by the strengthening of the Executive, which begins by lashing out on precedent democracy and "testing" other powers, such as the Legislative and the Judiciary.

Democracy has as basic presuppositions dialogue, persuasion, persuasion. The political actor who participates in this game needs to convince voters that their government project is the best for the country, for society as a whole and for their more specific electorate, as long as the rules of the game are maintained. It is a government regime that also presents risks and uncertainties, as a condition inherent to its own dynamics, which are shaped from the moment of the elections.

Several mistakes can be made at this time, such as failing to attend public debates, making mistakes in campaign strategies, presenting a program that does not convince a majority of the voting population. Democracy, therefore, is full of uncertainties and, as such, the political actors who work in these four lines of institutional engineering need to submit to its rules. In the end, for those political actors who are not yet convinced of these premises, I recommend an article by the Polish political scientist, Adam Przeworski, an expert on this topic: "You love uncertainty and you will be a democrat"

Tijolinho: Os presidenciáveis estão chegando à província

 


Até recentemente, li uma matéria onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) demonstrava sua preocupação com os grupos religiosos neopentecostais, que hoje se inserem entre os mais aguerridos apoiadores do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que tem projeto de continuar como inquilino do Palácio do Planalto pelos próximos quatro anos. A preocupação do ex-presidente Lula era a de entender como o Partido dos Trabalhadores havia perdido a sua interação com esses grupos religiosos, hoje, um eleitorado importante no contexto de uma eleição presidencial. A atuação política desses grupos neopentecostais, como se sabe, é explícita e eles tem um projeto de poder, alimentado desde alguns anos, com partidos e  bancadas distribuídos nas esferas públicas municipais, estaduais e federais. Mais recentemente, por exemplo, acordos mantidos entre Jair Bolsonaro e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto(DEM-BA), permitiram que o pastor Silas Malafaia obtivesse o controle do Democratas no Estado do Rio de Janeiro, isolando completamente a família do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.  

Lula costura uma nova candidatura nas eleições presidenciais de 2022, mas é pouco provável que consiga recuperar o terreno perdido junto a esses grupos evangélicos pentecostais e neopentecostais. Em todo caso, costuras são costuras e não se pode perder muito tempo com os embainhados. É com este espírito que ele desembarca no próximo domingo aqui na província para uma conversa com os principais caciques da legenda socialista no Estado, entre eles o governador Paulo Câmara(PSB-PE), vice-presidente nacional da legenda. Alinhavar as conversas políticas no principal reduto político do Partido dos Trabalhadores - a região Nordeste - parece ser mesmo a estratégia do petista, assim como a mulher nordestina, que, primeiro, faz a limpeza da casa, antes de se dirigir ao quintal. Neste périplo, o petista deverá visitar os estados do Piauí, Rio Grande do Norte e do Maranhão. 

E, por falar em périplos de candidatos, quem também apareceu aqui na província foi o atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS), que disputa a indicação de candidato presidencial no ninho tucano nas eleições de 2022. Foi recepcionado pela simpática prefeita Raquel Lyra(PSDB-PE), sua correligionária,que também alimenta sonhos majoritários nas eleições de 2022. Pelo andar da carruagem política, a disputa no ninho tucano será das mais acirradas, mas deverá trazer bons momentos para a nossa democracia, pois eles pretendem realizar debates públicos entre os pretendentes. O eleitorado mais consciente só tem a agradecer, pois trata-se de uma excelente oportunidade de fazer escolhas reublicanas, consoante o preparo de cada concorrente. Na foto acima, Eduardo Leite aparece na janela da Casa Museu dedicada à preservação da memória do artista Vitalino Pereira dos Santos, um verdadeiro cartão de visitas da cidade de Caruaru. Como bom gaúcho, Eduardo Leite deve ter saboreado a famosa chã de bode servida num daqueles restaurantes do Alto do Moura.  

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Editorial: "A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância"




No ano de 1945, o filósofo austríaco Karl Popper lançou o texto A Sociedade Livre e Seus Inimigos, onde apresenta o paradoxo da intolerância. Popper foi um dos maiores críticos do filósofo alemão Karl Marx. Num texto emblemático, exponhe os limites fundamentais para não tolerarmos os intolerantes num regime de sociedade livre e democrática, sob pena de perdemos a própria capacidade de convivermos ou permitirmos a tolerância. O bom-senso diz que já há algum tempo superamos este limite no país, colocando nossa frágil experiência democrática sob um grave risco, violada sistematimente por atores políticos sem qualquer compromisso com a manutenção desse regime de governo.  

Como afirmamos em editorias anteriores, é compromisso inalienável dos atores políticos que travam as suas lutas no escopo da institucionalidade, defenderem e se submeterem às regras do jogo do sistema político democrático, arbitrados pelos pesos e medidas dos três poderes da República, pelos órgãos de controle e fiscalização, e, sobretudo, pelo que rege a Constituição Federal. Se essas regras não são aceitas, eles não podem participar deste jogo, sob pena de destruição ou comprometimento dessas mesmas regras, assim como ocorreria com a complacência aos intolerantes, que põem em risco a tolerância inerente a um regime de sociedade livre. Os intolerantes são seus inimigos, diria Karl Popper.   

Isso nos faz lembrar os estudos do cientista político Adam Przeworski sobre a transição dos partidos políticos socialistas do Leste Europeu - que antes atuavam na clandestinidade - e que precisaram largar as "armas" para se inserirem na luta institucional pelo voto, participando de eleições regulares, conforme os bons manuais de democracia política.  Uma aprendizagem dura, difícil, mas necessária. Mas não precisamos ir tão longe, pois, aqui no país, o mesmo fenômeno ocorreria com o PT,  na década de 80, quando o partido  passou a  lutar pelo voto para chegar ao poder, contendo os ímpetos revolucionários dos seus grupos mais radicais que, antes de  participaram de sua fundação - como a Convergênciao Socialista - estavam na clandestinidade. Para travar essa luta institucional, o PT precisou cortar na pele. A Convergência Socialista foi expulsa da agremiação e fundou o PSTU, ainda hoje um partido refratário à luta institucional imposta por esse modelo de democracia burguesa. 

O hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, chegou a Brasília num momento difícil, de disputas políticas acirradas entre oposição e situação, numa conjuntura geopolítica mundial nada favorável à democracia. Assumiu o Ministério da Justiça num governo de transição, depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff, algo até hoje pouco digerido politicamente. Penso que nem ele mesmo imaginaria que iria cumprir um papel institucional tão importante para o país, na defesa das instituições, do Estado Democrático de Direito e da engenharia institucional da democracia que construímos ao longo dessas últimas décadas. 

A harmonia, o pleno funcionamento, as prerrogativas e  o equilíbrio entre os três poderes foi quebrado no país há algum tempo. Farpas, escaramuças, testes e atentados a este saudável equilíbrio estão sendo postos, sistematicamente, através de expedientes torpes, como o emprego de milícias digitais que tem como propósito atacar pessoas e instituições com o objetivo de minar o regime democrático. Entra nesta conta de assédios os instrumentos da democracia política procedimental, como as eleições livres, regulares e soberanas, que impõe uma "incerteza" que alguns desses grupos não gostariam de contar. 

Assim, para a própria saúde do regime democrático, tornou-se inevitável a adoção de medidas disciplinadoras contra atores políticos que, deliberadamente, atentam contra a democracia. As ações dessas milícias digitais - que disseminam ataques e acusações falsas contra opositores - são criminosas e não poderiam ser toleradas, evidenciando o paradoxo de Karl Popper, ou seja, "A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância". Aí sim,  acaba a democracia e teríamos um outro regime político, de corte fascista, com o propósito de iniquilar seus opositores. Estes, sim, de tolerância zero com os que pensam diferente, algo que não ocorre nos regimes democráticos. 


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Charge! Duke via O Tempo

 


Glossário Walter Benjamin

 Patrícia Lavelle

Glossário Walter Benjamin
78
Alegoria, aura, experiência, imagem dialética, pura linguagem: entenda conceitos fundamentais na obra de Walter Benjamin (Foto: Reprodução)

 

 

Alegoria

 

A teoria da alegoria remete tanto à filosofia da linguagem quanto à reflexão estética de Benjamin. Na terceira e última parte de Origem do drama barroco alemão (1925), a alegoria é definida como “expressão da convenção”, metamorfose expressiva da ligação convencional entre significado e significante, conceito e imagem. Ruína que opera com materiais previamente sedimentados, surge da erosão do signo, como “facies hippocratica da história”. Se a obra de arte simbólica esconde a fratura da significação numa aparência harmônica, a expressão artística alegórica a exibe. Engendrando uma progressão vertiginosa de imagens que apontam para fora delas mesmas, a forma alegórica apresenta a própria abstração conceitual como imagem. Numa nota crítica incluída no Livro das passagens, Benjamin afirma que Baudelaire teria feito da alegoria a armadura de sua poesia.

 

Aura

 

Entre o conceito e a metáfora teórica, a noção de aura pode ser representada na imagem do contorno luminoso de uma montanha vista de longe. Benjamin a define como “a aparição de um longínquo, por mais próximo que esteja”. Numa leitura das Correspondances de Baudelaire, ele compreende a experiência estética da aura como uma transferência, às coisas, da capacidade humana de retribuir o olhar. Esta experiência fundamentalmente onírica diz respeito ao “valor de culto” da obra de arte, que tende a declinar com a sua reprodutibilidade técnica e a consequente intensificação de seu “valor de exposição”.  A noção de aura se relaciona, assim, às reflexões de Benjamin sobre fotografia e cinema, em “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, mas também aparece no contexto de suas considerações sobre o declínio da arte de contar histórias.

 

Crítica

 

De acordo com a tese de doutorado de Benjamin “Sobre o conceito de crítica estética no romantismo alemão” (1919), a possibilidade da crítica decorre da reflexão colocada em forma numa obra de arte. Neste sentido, a crítica não é um julgamento sobre o valor estético das produções artísticas, mas um método de seu acabamento. Ultrapassando a obra através da destruição de sua unidade expressiva, visa prolongar e desenvolver a reflexão nela contida. Partindo desta hipótese, que pressupõe a “criticabilidade” das verdadeiras obras de arte, o ensaio “Sobre As Afinidades eletivas de Goethe” (1924-1925) funciona como um modelo de crítica que apresenta o seu próprio conceito. Benjamin nele opõe o comentário, que procura reconstruir o “teor concreto” da obra, isto é, seus condicionamentos históricos, à crítica, que visa o seu “teor de verdade”, aquilo que a faz perdurar além do contexto de seu surgimento. Entretanto, a verdade da obra estaria imersa em sua historicidade, o comentário que destrói sua unidade aparece, assim, como parte constitutiva do trabalho crítico. Tal relação é apresentada na famosa imagem da obra como uma fogueira diante da qual o comentador opera como químico, e o crítico, como alquimista. Se para o primeiro apenas madeira e cinzas são objetos de análise, para o segundo, a própria chama constitui um enigma.

 

Experiência (Erfahrung)

 

Em “Sobre o programa da filosofia vindoura” (1917-1918), uma espécie de projeto filosófico, Benjamin se propõe a partir de Kant para pensar um conceito superior de experiência capaz de incluir os campos da “religião” e da “história”. Segundo ele, Kant assentou as bases do conhecimento possível sobre um conceito pobre de experiência, o da física newtoniana. Assim, levando em conta a “metacrítica” de Hamann, um dos primeiros leitores da Crítica da razão pura, Benjamin projeta reformular o conceito kantiano de experiência a partir da reflexão sobre a linguagem e sobre a expressão linguística do próprio pensamento filosófico. Embora não tenha escrito o sistema projetado, ele elabora uma filosofia da linguagem que se inscreve nesta perspectiva programática.

Em 1933, “Experiência e pobreza” retoma a noção de experiência e o tema de seu “empobrecimento” sob outro ângulo, num ensaio. Benjamin aí discute a desvalorização moderna da noção tradicional de experiência, aquela que podia ser transmitida de geração a geração. Rejeitando as tentativas de restaurá-la, sugere partir de seu empobrecimento, assumindo uma nova barbárie que se inspira na atitude construtiva das vanguardas artísticas. “O Contador de histórias”, de 1936, retoma alguns elementos deste ensaio, associando a experiência acumulável e compartilhável da tradição à capacidade de contar histórias oralmente, em declínio na modernidade. Coletiva e transmissível, esta noção de experiência (Erfahrung) se distingue da noção de vivência (Erlebnis), que concerne as experiências vividas de cada individuo.

 

Imagem dialética

 

Muitos dos textos teóricos de Benjamin não se enquadram numa perspectiva sistemática nem se inscrevem no gênero do ensaio crítico. São prosas curtas que constroem imagens atravessadas (e tensionadas) por elementos conceituais. A noção de imagem dialética, que aparece entre os fragmentos do projeto inacabado das Passagens, diz respeito a esta forma na qual o “pensamento se imobiliza numa constelação saturada de tensões”. Cesura no movimento do pensar, remete à reflexão de Benjamin sobre o conhecimento histórico. Nela, o outrora encontra o agora de sua conhecibilidade, num relâmpago: “a imagem é a dialética parada”.      

 

Materialismo histórico

 

Numa leitura heterodoxa do marxismo, Benjamin rejeita a projeção hegeliana de um telos revolucionário e privilegia as descontinuidades messiânicas. Pensa, assim, a escrita da história como um gesto político e utópico através do qual cada presente tem a chance revolucionária de redimir um futuro que espera, oprimido e esquecido, no passado. Visando “escovar a história à contrapelo”, o “historiador materialista” se opõe à empatia na relação com o passado, associada à identificação com o vencedor. Esta atitude é denunciada como um conformismo que faz uma leitura apologética de monumentos e obras do passado, reforçando continuidades culturais opressivas. Tais reflexões se encontram na série de prosas curtas que compõem “Sobre o conceito de história” (1940).

 

Tempo messiânico

 

Para Benjamin, o tempo messiânico não se projeta no futuro, como uma finalidade, ele coincide com o instante imobilizado num “agora” pleno: “messiânico é o mundo da atualidade plena e integral”, afirma num manuscrito. No “Fragmento teológico-político”, ele apresenta o tempo messiânico através da imagem de um gráfico que funciona como um elástico. Nele, a direção representada pela intensidade messiânica se opõe à da dinâmica do acontecer profano visando a felicidade. Entretanto, é esta força contrária, exercida pelo desenrolar dos acontecimentos num continuum temporal homogêneo e vazio, que intensifica a descontinuidade messiânica do tempo.

 

Nome/Juízo

 

Benjamin apresenta a noção de nome numa releitura ficcional da Gênese bíblica incluída em “Sobre a linguagem geral e sobre a linguagem humana” (1916). Segundo ele, Adão teria conhecido as coisas criadas sem a mediação do conceito, no próprio ato de nomeá-las. Nesta perspectiva, o nome é apresentado como tradução imediata da linguagem material das coisas em linguagem humana. Entretanto, este conhecimento mágico não determina seus objetos: os puros nomes seriam tonalidades expressivas indeterminadas, intensidades evocativas que atuam na linguagem verbal, mas não são propriamente palavras. O verbo humano – e a consequente pluralidade linguística – surgiria apenas com a “queda” desta linguagem paradisíaca no juízo, que comunica exteriormente, fazendo da palavra um meio, signo cindido em significado e significante. Relacionado ao surgimento da abstração na esfera do pensamento ético, é o juízo que interroga sobre o conhecimento abstrato “do Bem e do Mal”, sem conteúdo objetivo ou normativo.

O “Prefácio crítico-epistemológico” do livro sobre o drama barroco faz novamente alusão à narrativa bíblica. Ao distinguir ideia e conceito, identifica a primeira à dimensão simbólica da linguagem, na qual as palavras conservam o poder adâmico de nomear, e o segundo à linguagem judicativa. Mas de acordo com este texto, a apresentação das ideias mobiliza a mediação conceitual em construções discursivas historicamente condicionadas.

 

Pura linguagem

 

“Sobre a linguagem geral e sobre a linguagem humana” propõe uma concepção alargada da linguagem como Medium no qual pensamos e percebemos, e não apenas como um meio através do qual podemos comunicar conteúdos de pensamento ou conhecimento. “Razão é linguagem: logos”, afirma Benjamin, citando Hamann. Remetendo a esta compreensão da linguagem, a noção de “pura linguagem” surge em “A Tarefa do tradutor” (1923), prefácio teórico que Benjamin incluiu na edição de suas próprias traduções da poesia de Baudelaire. Quando fazemos da palavra um meio através do qual pensamos ou comunicamos exteriormente, estamos necessariamente numa língua singular, embora possamos também traduzir de uma língua a outra. Assim, a “pura linguagem” deve ser pensada não apenas como a totalidade aberta e sempre em evolução das línguas históricas – concebida como Medium no qual a experiência humana se traduz –, mas também como algo que se opera “entre” elas, permitindo a tradução.

 

Semelhança não-sensível

 

Em dois textos de 1933, “Sobre a faculdade mimética” e “Teoria das semelhanças”, a capacidade humana de produzir e de perceber semelhanças é definida como “rudimento da antiga e potente necessidade de se assimilar e de se comportar”. Fundamento da possibilidade de se constituir como sujeito, assimilando o vivido numa experiência individual, a faculdade mimética, representada alegoricamente na figura da “Mummerehlen” de Infância berlinense por volta de 1900, não age apenas na percepção de semelhanças sensíveis na natureza, mas também produz “semelhanças não-sensíveis” que caracterizam a brincadeira infantil, constituíram outrora o vasto domínio da magia e permanecem ativas na linguagem. Ao mesmo tempo identidade e diferença, toda semelhança corresponde à produção do mesmo no outro e do outro no mesmo, numa tensão comparativa. As semelhanças não-sensíveis são aquelas que, produzidas no pensamento, e não na sensação, concernem as relações espirituais que estabelecemos entre as coisas, e não as próprias coisas ou sua aparência sensível. Na esfera da linguagem, a produção de semelhanças não-sensíveis mobiliza o fazer poético, compreendido num sentido amplo, e atua também na tradução, abrindo passagens de uma língua a outra.

 

Patrícia Lavelle é poeta, tradutora e ensaísta, professora de teoria e crítica literária no Departamento de Letras da PUC-Rio. Fez doutorado em Filosofia na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris e sua tese foi publicada na França: Religion et histoire. Sur le concept d’expérience chez Walter Benjamin (Editions du Cerf, col. Passages, 2008). Seu novo livro de ensaios desenvolve alguns dos tópicos incluídos neste glossário, e encontra-se atualmente no prelo: Walter Benjamin metacrítico. Sete ensaios para uma poética do pensamento (Relicário/Editora PUC-Rio).

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

domingo, 8 de agosto de 2021

Charge! Duke via O Tempo

 


Tijolinho: Armando Monteiro questiona o projeto de governo do PSB.

 


Até recentemente, setores da imprensa pernambuvana deram a notícia de que os caciques da legenda socialista estariam "enchendo a bola' de uma secretária de governo, de olho nas eleições de 2022. Ela é mulher, tocadora de obras e de bom trânsito político. O candidato socialista ao governo de Estado nas eleições de 2022, portanto, ainda, não seria prego batido de ponta virada, embora, como sempre faço questão de enfatizar, um deles possui um coringa nada despreizível na correlação de forças entre os atores políticos socialistas relevantes, ou seja, entre aqueles que decidirão o nome do partido que deverá conconrrer às eleições majoritárias de 2022, como candidato do PSB ao Governo do Estado. 

Em encontro recente no ninho dos tucanos locais, o ex-senador Armando Monteiro(PSDB) teceu algumas críticas que já se tornaram recorrentes em relação ao governo socialista aqui na província, ou seja, o inevitável esgotamento de um projeto de governo, que tornou-se, tão somente, um projeto de poder. Eis aqui uma observação que precisa ser analisada como bastante carinho pelas eleitoras e eleitores pernambucanos. Estamos diante, portanto, de um projeto de poder dinástico, sem uma liga efetiva com os rumos de desenvolvimento do Estado.  

Uma pena que outras variáveis - que não um programa de governo republicano, que atenda às reais demandas da sociedade - em alguns casos sejam mais relevantes na hora do eleitor escolher seus governantes. Esse pronunciamento do ex-senador vem no bojo de uma alavancada do nome da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB), ao Governo do Estado, nas eleições de 2022. A jovem prefeita do agreste pernambucano desponta como uma provável candidata no campo das oposições. Está na hora de uma movimentação política mais efetiva se deseja permanecer como opção política deste campo. 



Editorial: "Amas a incerteza e serás um democrata"





Não é de hoje que discutimos por aqui as fragilidades do nosso tecido democrático. Aliás, na realidade, ele nunca foi um bom tecido, em razão das grandes desigualdades sociais existentes no país, assim como em razão dos reflexos culturais de nossa formação colonial, que forjou uma elite torpe, preconceituosa, infame e inconsequente. Acompanhamos - não sem uma grande preocupação -este tensionamento na relação entre os poderes Executivo e Judiciário, traduzido em rusgas e escaramuças que já se arrastam há algum tempo, promovendo uma situação de desconforto para as nossas instituições democráticas e, consequantemente, para a sociedade brasileira, que já convive com uma profunda crise sanitária, econômica, social e civilizatória,marcada pelo descaso com o meio-ambiente, com o patrimônio cultural nacional, de um viés autoritário e intolerante com as minorias. 

Não me digam que não se pode falar numa crise civilizatória, depois do incêndio de nossa Cinemateca, num dos depósitos que guardavam um preciosíssimo acervo do cineasta Glauber Rocha. É igualmente desesperador o que ocorre em relação à escalada do desmatamento florestal da Amazônia, assim como a ocupação ilegal de terras indígenas, através de garimpos irregulares, que contrabandeam ouro para o exterior.É preciso ter nervos de aços para suportar aquela tragédia de agressão ambiental desmedida - contada em milhares de campo de futebol - com reflexos em todas as regioes do país, já que a região da Amazônia exerce uma forte influência no clima do planeta. Há quem assegure que, caso medidas duras não sejam tomadas de imediato, o próximo Covid-19 sairá daquelas pairagens, em razão do desequilíbrio ambiental ali produzido.  

Ainda muito longe de um arrefecimento -apesar da vacinação - a pandemia da Covid-19 volta a preocupar as autoridades européias e asiáticas, com variantes mais agressivas, mais transmissíveis e,em alguns casos,  até mais resistentes à imunização. Este seria o momento de um comando único em torno do seu enfrentamento. Definitivamente, não é o momento para se discutir se o voto será impresso ou eletrônico e,muito menos,fazer questionamento à lisura de pleitos passados ou futuros. Não existem provas das fraudes sugeridas, porque, simplesmente, tratou-se de pleitos legítimos, onde essas fraudes não ocorreram.  

Esta temática tem sido recorrente, mas parece que vamos sempre ter que lembrar que os atores políticos que travam uma luta institucional precisam,necessariamente, respeitar as regras do jogo,ou, se preferirem, atuar dentro das quatros linhas, sob a arbitragem da Constituição Federal. Qualquer coisa fora disso pode ser traduzido como violação ou golpe, seja do tipo tradicional ou desses golpes modernos, do tip "light", sem o emprego de força militares de intervenção, como no passado. Essas tipologias de "golpes institucionais", aliás, tem sido uma tendência da atualidade, caracterizado pelo fortalecimento do Executivo, que começam por fustigar a democracia precedimental e "testar" os demais poderes, como o Legislativo e o Judiciário.

A democracia tem como pressupostos básicos o diálogo, o convencimento, a persuação. O ator político que participa deste jogo precisa convencer os eleitores de que o seu projeto de governo é o melhor para o país, para a sociedade como um todo e para seu eleitorado mais específico, desde que mantidas as regras do jgo. É um regime de governo que também apresenta riscos e incertezas, como condição inerente à sua própria dinâmica, que se conformam desde o momento das eleições. 

Vários equívocos podem ser cometidos neste momento, como, por exemplo, deixar de comparecer aos debates públicos, errar nas estratégias de campanha, apresentar um programa que não convençam uma maioria da população votante. A democracia, portanto, é cheia de incertezas e, como tal, os atores  políticos que atuam nesta quatro linhas de engenharia institucional precisam se submeter às suas regras. No final, para aqueles atores políticos que ainda não estão convencidos dessas premissas, aconselho um artigo do cientista político polonês, Adam Przeworski, um especialista neste tema: "Amas a incerteza e serás um democrata" 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

A invenção da mordernidade

 


A invenção da modernidade
10


 Michel Foucault (Foto: Reprodução)


 

 

O que é a modernidade ocidental? Quando começou? Ela já encontrou seu fim? E a que se refere este termo: moderno? Há muitas respostas, por certo; dificilmente um consenso. Mas partamos aqui desta proposição: a modernidade não é necessariamente um período histórico específico, determinado por marcos temporais estritos – marcos que, de resto, como sabemos, podem ser tão arbitrários como quaisquer outros. No entanto, ela pode ser pensada, sim, como um singular regime narrativo: um regime composto por diferentes vozes, assim plural.

À modernidade não corresponderia obrigatoriamente uma época, com seu antes e seu depois, seu “pré” e seu “pós”. Não seria, então, um intervalo de tempo preciso – desse modo delimitável, como outros, na longa cadeia da violenta história do Ocidente. Nesse sentido, portanto, não obedeceria a uma crono-logia: a uma ordenação lógica e objetiva, a partir de um evento algo datado (como – digamos – a queda de Constantinopla, ou as grandes navegações, ou os governos esclarecidos, ou a emergência da racionalidade científica, ou a revolução industrial, ou a formação dos Estados nacionais liberais etc.), evento que, uma vez inaugurado, seguiria um processo linear, até ser encerrado por outro, igualmente registrável (como o fim da Segunda Guerra Mundial, ou o começo da Guerra Fria, ou o ano de 1968, ou a queda do muro de Berlim, ou a constituição do capitalismo neoliberal etc.). Enfim – insisto –, nada disso.

De modo diverso – talvez mais complexo, mas sem dúvida mais interessante, ao menos neste presente que nos cabe – a modernidade poderia ser pensada, no que ela tem de mais característico, como uma singular rede de relatos. E o que tais relatos compartilhariam, isto é, o que eles teriam, com efeito, de moderno, seria o fato de que seus protagonistas (como sujeitos, intimamente ligados aos próprios relatos) se encontram diante de um mundo em que o sentido e a verdade do próprio ser, absolutamente contingentes, não mais se mostram garantidos de antemão. E mais que isso, se não estão no princípio, o sentido e a verdade tampouco se encontram, naturalmente, no fim da existência, de maneira que é o presente (moderno vem de modernus, termo que designa o “agora mesmo”, o “contemporâneo”) que se abre, como um desafio sem resposta, para o pensamento e a ação.

Essa modernidade descontínua, heterogênea e arriscada foi preparada, de diferentes maneiras, por inúmeros intérpretes, cujos nomes escapariam a estas linhas muito sumárias. Não obstante, interessa notar o que parece ser delineado, em traços ora mais ora menos decisivos, como o modo de ser moderno: trata-se do emergir de um sujeito que se faz presente, pensa, sente e age apenas na medida em que é marcado por essa falta de garantias, ao que tudo indica irremediável. Nesse lugar aparentemente vazio, onde não está mais pressuposta uma definição do que somos ou deveríamos ser, encontramos, sob uma luz crepuscular, as ruínas do que o Ocidente reivindicava como fundaçãotradiçãoexperiênciaautoridadeDeus etc.

Em outras palavras, na modernidade destacam-se sujeitos cujas performances – para dizer deste modo – colocam em cena uma ausência estruturante dos homens e suas sociedades; uma ausência que, mesmo sendo reconhecida, não chega a ser apaziguada. Isso porque essa falta constitutiva, espécie de avesso da imemorial imaginação mítica que nos acompanha, continuamente retorna, reposta como a incessante emergência da nossa condição originária. E é essa a condição que nos colocaria, daí então, diante da necessidade de, uma e outra vez, nos inventarmos a nós mesmos, por meio de uma miríade de suplementos e técnicas, afinal como sujeitos ao mesmo tempo elaborados e interrompidos por arranjos de signos e de práticas contingentes.

Em linhas muito breves e provisórias, eis a modernidade. E se, como afirmei acima, ela foi anunciada por muitas vozes, talvez tenha sido Michel Foucault quem lhe deu uma formulação incontornável, já urdida nas proposições anteriores. A ideia se encontra de modo mais bem acabado nos cursos e textos tardios, quando a atenção do filósofo se desloca entre os exercícios do poder governamental e as práticas de subjetivação. E, de modo ainda mais pontual, nos comentários a um opúsculo de Kant publicado em dezembro de 1784, que tem como título Resposta à pergunta: Que é o esclarecimento?

Na verdade, seria mais acertado dizer que Kant se encontra no início e no fim do percurso intelectual de Michel Foucault. Como nos lembra Edgardo Castro, em 1959, encarregado da direção do Instituto Francês de Hamburgo, Foucault prepara sua tese secundária de doutorado, que inclui a tradução e uma longa introdução a Antropologia do ponto de vista pragmático, de Kant, introdução que é concluída com uma reflexão acerca das limitações da herança transcendental kantiana (e com uma aproximação a Nietzsche). Essa herança é a de uma “ilusão antropológica”, num sentido muito amplo, baseada no estabelecimento de regras de verdade universais; “uma filosofia analítica da verdade em geral” – segundo o registro de Foucault em O governo de si e dos outros (curso de 1982-1983) – que, nas palavras de Edgardo Castro, irá traduzir-se num “mal-estar”: “a disposição ou o sonho da cultura moderna de querer encontrar no homem o fundamento do próprio homem”.

No fim do seu percurso, Foucault retoma Kant, agora num duplo movimento. Por um lado, a fim de reforçar seu distanciamento dessa herança autotélica universalista, que para realizar a humanidade última do homem engendrou enormes equívocos e violências sem termo. Por outro, para formular, na leitura do opúsculo de 1784, o que se caracteriza como uma atitude-limite: uma via notadamente crítica, elaborada a partir do próprio questionamento de Kant sobre a atualidade, e que é, ao mesmo tempo, para Foucault, a melhor definição da modernidade ocidental. Lemos em O governo de si e dos outros:

Essa outra tradição crítica não coloca a questão das condições em que um conhecimento verdadeiro é possível, é uma tradição que coloca a questão de: o que é a atualidade? Qual é o campo atual das nossas experiências? Qual é o campo atual das experiências possíveis? Não se trata, nesse caso, de uma analítica da verdade. Tratar-se-ia do que poderíamos chamar de uma ontologia do presente, uma ontologia da atualidade, uma ontologia da modernidade, uma ontologia de nós mesmos.

Em texto publicado em 1984 – ano do seu falecimento –, Foucault voltaria ao opúsculo, dessa vez considerando, também, a figura de Baudelaire. Assim como Kant se interroga sobre o sentido da sua atualidade e os possíveis modos do agir livre (por meio do “uso público da razão”), Baudelaire, interrogando agudamente “o transitório, o fugidio, o contingente”, faz-se elemento e agente desse “êthos filosófico”. Trata-se de uma a atitude de modernidade, escreve Foucault, entendida como uma “crítica permanente de nosso ser histórico”. “Essa modernidade não liberta o homem em seu ser próprio; ela lhe impõe a tarefa de elaborar a si mesmo”. E seu trabalho não se separa dos discursos e das práticas que nos constituem como elementos e como agentes históricos; não se separa, em suma, da contingência que nos fez ser o que somos.

Essa atitude é pensada afirmativamente, mas com uma finalidade disruptiva, como um “não mais”: afinal, essa ontologia histórica de nós mesmos, diz Foucault, “não deduzirá da forma do que somos o que para nós é impossível fazer ou conhecer”; mas deduzirá, sim, “da contingência que nos fez ser o que somos a possibilidade de não mais ser, fazer ou pensar o que somos, fazemos ou pensamos”. Daí a proposta de transformarmos a crítica conduzida sob a forma da limitação necessária em “uma crítica prática sob a forma da ultrapassagem possível”.

Sem dúvida, em nossa situação latino-americana e brasileira, o desafio se coloca de forma específica. Aqui, a atitude de modernidade, se igualmente livre de uma cronologia estrita, deve confrontar-se, ainda, com a terrível herança da razão colonial e sua empresa exploratória, com a herança do genocídio de povos indígenas, a herança do racismo, da violência e da exclusão estruturantes da sociedade.

Ao questionarmos, sem garantias, nossa atualidade e o campo das nossas experiências, tais heranças talvez aumentem nosso desamparo. Talvez não. E não porque elas nos servem, necessariamente, como definição do que somos ou deveríamos ser. Mas porque elas demandam, uma e outra vez, nossa capacidade crítica, nossa maior inventividade, neste presente crepuscular que nos cabe. Talvez seja diante dos exercícios de uma política de morte que devamos, antes de tudo, reivindicar não mais ser, fazer ou pensar o que somos, fazemos ou pensamos. Isso se estiver em jogo na atualidade – como de fato creio que está – a invenção de um êthos capaz de “fazer avançar para tão longe e tão amplamente quanto possível o trabalho infinito da liberdade”.

Artur de Vargas Giorgi é professor de Teoria Literária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).(Publicado originalmente no site da Revista Cult)


Tijolinho: Os Coelho continuam adubando as bases




Naturalmente, seria um pouco precipitado fazer um diagnóstico mais preciso ou definitivo acerca da composição de forças de oposição nas eleições majoritárias de 2022 no Estado. Mas, pelo andar da carruagem política pernambucana no campo da oposição, um arranjo que agrade aos diversos atores políticos que se incerem neste contexto vem se tornando cada vez mais complicado. A questão é que só existe uma cabeça de chapa e as costuras não são nada simples, principalmente porque entre os atores mais relevantes deste campo político encontra-se uma turma de menudos, jovens aspirantes - de certa forma ainda pouco afeitos ao argumento da cessão em nome do projeto em curso. Hoje, o mais provável é que tenhamos mais de uma candidatura no campo oposicionista, a julgar pelas movimentações de atores políticos como  o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho(MDB, Anderson Ferreira(PSL), prefeito de Jaboatão dos Guararapes e Raquel Lyra(PSDB), prefeita de Caruaru, na região do agreste pernambucano. Esta última, a mais discreta e ponderada. Embora com as interdições impostas pela sigla do PT, outra aspirante que tem se movimentado bastante é a Deputada Federal Marília Arraes. 

Embora tenha se especulado nos últimos dias uma possível rearticulação política dos Coelho com o Palácio do Campo das Princesas - de olho nas eleições majoritárias de 2022 - a família não perde a oportunidade de ampliar sua capilaridade política, percorrendo todas as regiões do Estado, adubando as bases, visando as próximas eleições. Esta última maratona política contou, inclusive, com o concurso do senador Fernando Bezerra Coelho(MDB), disponivél em razão do recesso dos trabalhos na Comissão Parlamentar de Inquérito, onde exerce o papel de líder do governo. 

No plano governista, é evidente o desgaste do nome que se apresenta como o principal postulante a continuar a gestão socialista no Campo das Princesas. Até mesmo os atores políticos mais próximos não escondem o desconforto com esta situação, ou seja, em razão de injunções políticas específicas, ter de engolir uma candidatura que teria muitas explicações a dar aos eleitores, atacada virulenttamente durante os eventuais debates. Tenho dúvidas se o capital político de Lula seria suficiente para superar essas dificuldades, como se presume. 

Pérolas do Millôr

 




Corrupção: 

"Acabar a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder"

Millôr Fernandes.



Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Democracia decapitada: Em torno de um nome de auditório, em torno da estátua de Borba Gato.





Há uma semana atrás, o país foi sacudido por uma grande mobilização nacional em torno de uma pauta progressista, cuja agenda preconizava a defesa das garantias constitucionais da democracia, além de medidas sanitárias mais efetivas para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. Nesta manhã de domingo, dia primeiro de agosto,  os partidários do presidente Jair Bolsonaro foram às ruas para defender, entre outras questões, o tal do voto impresso, uma discussão que tem esticado a corda entre os poderes Executivo e Judiciário. Ambas mobilizações fazem parte de um exercício perfeitamente concebível num regime democrático, desde que não se atente, naturalmente, contra os seus alicerces fundantes, ou seja, as garantias das regras do jogo do próprio regime democratico. 

É preciso ter muita responsabilidade em relação a esses princípios, que não podem ser violados pelos atores políticos que os integram. É o preço que precisa ser pago, no contexto de um regime que tem suas falhas, seus problemas, mas, como recomenda uma máxima, é, talvez, o menos ruim entre os piores modelos de governança entre os homens... e entre as mulheres também, antes que nos acusem de misogenia. A democracia é o regime do argumento, do convencimento, da persuação. Daí, por exemplo, a polêmica gerada em torno da destruição da estátua do bandeirante Borba Gato, mesmo em se considerando o seu status de capataz da classe dominante, de capanga dos ricos, de perseguidor e matador de negros e indígenas. 

Aliás, esta é uma tendência mundial, principalmente depois das mobilizações promovidas pelo movimento Vidas Negras Importam, que desencadeou uma onda de destruição de monumentos em homenagem à personalidades que estiveram organicamente vinculadas ao tráfico e ao genocídio de negros e índios. Uma "onda' que começou em solo norte-americano, e já se espalha pelos cinco continentes, suscitando discussões acaloradas em torno do assunto, inclusive entre os museus históricos e antropológicos que tem, entre as suas missões, construir uma narrativa sobre essas etnias em seus circuitos expositivos. Aqui, inclusive, abre-se um campo bastante fértil para uma "Museologia da Reparação', uma discussão teórica que ganha musculatura nesses tempos bicudos que enfrentamos. 

Os mais radicais advogam que essas memórias devem ser destruídas, mas há grupos de perfil progressista e menos radicais que advogam que tais monumentos devem ser preservados, simbolicamente associados a um passado sombrio, como é o caso da estátua de Edward Colston, um famoso traficante de escravos inglês, que foi retirada do mar, mais colocado numa instituição museológica na sua posição mais adequada, ou seja, deitada no chão, no aguardo de um plebiscito popular que deverá definir o futuro do seu passado. Talvez não fosse o caso de simplesmente destruir essas referências históricas, mas encontrar uma "solução expositiva" que dê conta desse passado sombrio e permita às novas gerações, pedagogicamente, entender, o que, de fato, eles representaram para a humananidade. 

A linha argumentativa acima talvez explique uma polêmica recente, ocorrida aqui no Estado de Pernambuco, em relação à proposição da troca do nome de um auditório do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, em homenagem a um professor daquele centro, vinculado à ditatura militar instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Os professores ficaram dividos em relação ao assunto, mesmo em se tratando de um dos departamentos mais progressistas da Instituição, muito identificado com o educador Paulo Freire, que, naqueles idos, integrava o MCP, cujo homenageado no nome do auditório, foi um dos interventores e, segundo o pesquisador, Evson Malaquias, moveu moinhos para apagar o seu legado para a educação brasileira.  

Repercutiu bastante na imprensa pernambucana - e entre os professores e professsoras daquele Centro - um artigo do professor aposentado Flávio Henrique Brayner, defendendo a manutenção do nome do auditório, argumentando sobre o caráter pedagógico de se preservar essa 'memória autoritária', quem sabe, levando a uma reflexão necessária acerca das fragilidades de construção de nosso tecido democrático. O passado, argumento o professor, não é algo apenas do pertencimento das classes oprimidas. Ele também pertence aos opressores, quer gostemos ou não. Neste caso, convém às futuras gerações com as quais o professor demonstra estar preocupado, uma consideração deste humilde escriba: Que tal acrescentarmos um aposto: Auditório Fulano de Tal, interventor do Movimento de Cultura Popular? Como observava Adorno, isso talvez ajude a adiar a repetição de catástrofes que já aconteceram.