Moser escreveu que, ao lado de Lispector, ‘Carolina [de Jesus] parece tensa e fora de lugar, como se alguém tivesse arrastado a empregada doméstica de Clarice’
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Redação
O escritor e historiador Benjamin Moser, autor da mais recente biografia de Clarice Lispector, vem sendo acusado de racismo desde que um trecho do livro, publicado no Brasil em 2011, foi resgatado nas redes sociais.
A lembrança veio da autora mineira Ana Maria Gonçalves. No último sábado (14), ela republicou uma passagem de Clarice em que Moser descreve uma imagem na qual Lispector aparece conversando com Carolina Maria de Jesus durante o lançamento de um livro.
“Numa foto, ela aparece em pé, ao lado de Carolina Maria de Jesus, negra que escreveu um angustiante livro de memórias da pobreza brasileira, Quarto de despejo, uma das revelações literárias de 1960. Ao lado da proverbialmente linda Clarice, com a roupa sob medida e os grandes óculos escuros que a faziam parecer uma estrela de cinema, Carolina parece tensa e fora do lugar, como se alguém tivesse arrastado a empregada doméstica de Clarice para dentro do quadro”, escreve o biógrafo na página 25.
O trecho provocou comentários indignados nas redes sociais. Muitos condenaram o caráter racista dos comentários de Moser ao não reconhecer Carolina de Jesus como escritora, mas sim como uma “negra” que, ao lado da “proverbialmente linda” Clarice, poderia ser confundida com uma empregada doméstica.
“Pois é. Jura que para exaltar a Clarice tinha que depreciar Carolina, chamando-a de ‘negra que escreveu’ e não de escritora; de ‘fora de lugar’, dizendo que parece a empregada da linda Clarice? Não teve ninguém pra dar um toque no ‘branco que escreveu’ isso?”, criticou Ana Maria Gonçalves em sua página no Facebook.
Nesta quarta (18), o texto publicado por Gonçalves já havia sido compartilhado quase 700 vezes no Facebook. O próprio autor chegou a se defender de alguns comentários, dizendo que “a ideia da passagem é que as aparências enganam”, e que ele estava apenas “comparando as aparências de duas pessoas numa foto”.
Em nova postagem, na segunda (16), Ana Maria Gonçalves voltou a criticar o escritor norte-americano. “Pelo que pude entender, ele já foi questionado anteriormente, e escolheu ignorar. Pode ser que a escolha dele continue sendo esta, mas não será a minha.”
Não é a primeira vez que o trecho é considerado problemático. Em julho do ano passado, a professora da UFRJ e feminista negra Giovana Xavier escreveu uma carta aberta à FLIP (Festa Literária de Parati) onde afirma que a passagem “representa de forma violenta e emblemática o confinamento das mulheres negras às representações racistas”. No texto, ela também criticava a falta de participantes negros, especialmente mulheres, no principal evento de literatura do país.
Procurado pela CULT, Benjamin Moser não quis dar entrevista. Ele afirmou que fez as modificações necessárias no texto para que, nas próximas edições da biografia, “suas intenções fiquem mais claras”. Ele não concorda que a descrição tenha sido, de fato, preconceituosa, e afirmou que considera o assunto “fechado”.
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