Michel Zaidan Filho
Uma visão panorâmica de Pernambuco no início do século 20 nos levaria a
considerar o peso da herança socioeconômica da indústria sucroalcooleira na
vida do Estado. A economia dos engenhos e usinas resultou de uma simbiose entre
o velho e novo: nos canaviais, ao lado do trabalho assalariado, sobreviviam
inúmeras relações de trabalhos remanescentes do cativeiro negro ou a ele
associadas. O tom geral que caracteriza a atividade agrícola na Zona da Mata,
Agreste e Sertão é determinado pelo velho, pelo anacronismo das relações
sociais, transpostas para as cidades, através da influencia política e econômica
dos `coronéis, ‘ dos usineiros e dos altos comerciantes. Da mesma forma,
aquelas relações delimitam o espaço político das cidades sempre no sentido da
exclusão do povo.
Recife, capital do Estado de Pernambuco, se apresenta como um centro
natural de atração para todos aqueles que, no Nordeste, querem se aperfeiçoar
nos estudos, para os exilados políticos regionais ou para quem busca
simplesmente melhores oportunidades econômicas ou sociais. O velho porto
comercial e financeiro da região, a exemplo de outras metrópoles, sobrevive
principalmente como escoadouro de toda a produção agrícola exportável (café,
açúcar, algodão, mamona, etc)do Estado e de zonas agrícolas adjacentes. Suas indústrias
são escassas, desconcentradas e caracterizadas por formas artesanais de
produção (resumem-se a umas poucas fabricas de tecidos e cigarros, alem, é
obvio, de duas usinas de açúcar), e uma parte substancial de seu proletariado
urbano está nos serviços portuário e ferroviário, bem como nos transportes
urbanos – os ferrocarris. De sua parte, não é desprezível o contingente de
funcionários públicos, sobretudo os médios e baixos. Há, também uma grande
quantidade de profissionais liberais. O comercio recifense acha-se, em grande
parte, nas mãos de ingleses, portugueses, alemães americanos e outros
estrangeiros. Só o pequeno comercio encontra-se, de fato, sob o controle de
grupos nacionais.
Pernambuco ainda não entrou no século 20 comunga o sonho modernista de
um Estado habitado por uma população bela, forte e saudável, seguindo os
padrões higienistas e sociais da `Belle Époque’ europeia.
Mas tem que conviver a todo instante com bondes de burro, iluminação a gás,
falta de saneamento, epidemias, óbitos e muita sujeira nas ruas. A reforma
urbana e sanitária de Otavio de Freitas e Saturnino Braga será obra da década
seguinte, bem como a reforma do porto do Recife. O torpor oitocentista do
Estado só será com a campanha sucessória estadual de 1911, com a chegada do
general Dantas Barreto.
É quando o sono dos conselheiros do império será interrompido pelo
alarido das massas urbanas, aproximando a praça do palácio e fazendo do
Carnaval o estribilho da revolução. Esse episódio – conhecido como `salvação’ –
foi a porta de entrada de Pernambuco na modernidade, acabando o longo reinado
da oligarquia do conselheiro Rosa e Silva e trazendo o povo para o proscênio da
política. Depois dele, Pernambuco não seria mais um condomínio de velhos
oligarcas. O sonho republicano de Martins Júnior voltaria a se corporificar.
Como a França, também tivemos a queda da bastilha e o nosso 1789… O povo não
sairia tão cedo das ruas.
II
A derrota da oligarquia chefiada pelo conselheiro Rosa e Silva, em 1911,
não foi definitiva. E os interesses remanescentes do império só esperavam uma
oportunidade para se estabelecerem na cena política do Estado. Essa
oportunidade foi criada com a luta entre Dantas Barreto e o futuro governador
Manuel Borba, seu aliado de véspera. Borba vai se compor com os correligionários
de Rosa e Silva, resultando dessa aliança outro divorcio entre a praça e o
palácio.
A década de 10 em Pernambuco será palco de imensa agitação política e
social. 1914 é a data chave para se entender a criação da federação operaria do
nosso Estado. Obra de um incansável militante social pernambucano, o estivador
José Elias, enviado especial do 2 o Congresso Operário Brasileiro para a
reorganização da classe trabalhadora da região. Importante também será o eco da
Revolução Russa em nosso Estado e particularmente sua influencia sobre as
`sociedades de resistência’ dos trabalhadores urbanos (estivadores,
ferroviários, portuários, condutores de bondes etc). Associada ao eco da
revolução Russa, terá, no interior do Estado, uma grave ocorrência política
conhecida pelo nome da ‘hecatombe de Garanhuns’: uma violenta briga entre
famílias que acaba num banho de sangue, mas que assinala a longa e dolorosa
transição do patriciado rural da região para um novo patriciado urbano, ligado
ao núcleo agroexportador da economia de Pernambuco.
Contudo, o acontecimento de maior repercussão do Estado e mesmo além de
suas fronteiras é a greve dos operários da Pernambuco Tramway. Essa grandiosa
paralisação, que se iniciou como uma mera disputa corporativa entre a empresa e
seus funcionários, terminou assumindo uma dimensão regional, graças à
habilidade de um assessor jurídico da federação operaria, e imobilizou a
economia do Estado durante vários dias.
Mas uma vez, os trabalhadores urbanos de Pernambuco eram chamados a
participar da `grande política’, através de uma estratégia de remotas raízes na
política de nosso Estado: a fusao dos interesses corporativos como uma questão
nacional. O resultado dessa inteligente política foi o apoio generalizado ao
movimento dos operários contra a avidez de um truste internacional.
Essa experiência de mobilização policlassista, na esteira de revoluções
passadas, como a Praieira e o Movimento Salvacionista, abririam definitivamente
as portas da política de Pernambuco para a participação popular, nem sempre –
como veremos – em beneficio do povo.
III.
As mobilizações policlassistas que marcaram a historia política e
sociais de Pernambuco voltaram a ocorrer durante os anos 20, uma época de
muitas agitações e transformações importantes: o Tenentismo, a fundação do PCB,
o Movimento Regionalista, as reformas do governador Sergio Loreto. Alias, há
quem diga que o fim da `Republica Velha’ tenha começado em Pernambuco, tal o
estado de ebulição social, política e cultural aqui existente na década de 20.
Nesse sentido, a década se inicia com duas grandes mobilizações
populares, capitaneadas pelo professor Joaquim Pimenta. Uma contra o chamado
`orçamento monstro’ – nome atribuído ao abusivo aumento de impostos decretado
pelo então governador José Rufino Bezerra, em 1921, que uniu industriais,
comerciantes, donas de casa, operário e o povo em geral. A outra, contra a
ameaça de intervenção federal do Estado, ordenada pelo presidente da Republica,
o paraibano Epitácio Pessoa. Em ambos os casos, os trabalhadores urbanos, os
funcionários públicos e a população foram arregimentados pelo Dr. Pimenta para
lutar por questões apresentadas como de `interesse geral’ da sociedade.
O desfecho dessas agitações será a indicação do juiz Sergio Loreto para
o Governo do Estado, pacificando a disputa entre borbistas e dantistas. A
assunção de Loreto assinala i inicio de uma gestão modernizadora em Pernambuco,
com a reforma do Porto do Recife, a abertura de grandes avenidas, a criação do
Departamento de Assistência e Saúde (sob a direção do medico Amaury de
Medeiros), a reforma da Escola Normal… O perfil modernizador de Loreto se
associava intimamente a um ranço autoritário e conservador, sobretudo no que
diz respeito `as manifestações sindicais e operarias, a exemplo do que ocorreu
com a ultima grande greve deste período (a dos ferroviários da Tramways), com a
prisão e o exílio de lideranças políticas e sindicais.
Mas os anos 20 foram, o marco de fundação de importantes iniciativas
político-culturais: a criação do Centro de Estudos Sociais, embrião da seção
local do Partido Comunista; a instalação do Centro Regionalista, em 1924; a
coluna do intrépido tenente Cleto Campelo, que deveria se unir `a coluna
Prestes no Sertão pernambucano; as co conspirações da Rua Velha; a criação do
Diário da Manhã do futuro interventor Carlos de Lima Cavalcanti e, finalmente,
a realização do congresso Regionalista.
Os agitados anos 20 haveriam de ser uma época seminal em muitos sentidos
politicamente, com a crise das velhas oligarquias e a radicalização ideológica
que então se anunciava; administrativamente, com as profundas reformas urbanas,
sanitárias e econômicas; com a criação e difusão da `regionalismo nordestino’.
O alcance e abrangência dessa produção discursiva – `a brasilidade nordestina’
– dos anos 20 só se explicitará anos mais tarde, com a sobrevida
simbólico-cultural da saga de uma oligarquia, deslocada do poder pelos
correligionários de 30.
O sonho de modernidade alimentado pelo imaginário social da primeira
década do século 20 iria se concretizar, ao seu modo, na década de trinta. Anos
de profundas instabilidades política e grande radicalização ideológica (a luta
entre fascismo e comunismo), a década se anuncia em Pernambuco – como em todo o
Brasil – como um período de ruptura com o passado neocolonial do país.Ruptura,
contudo, conduzida pela elites através do que passou a ser conhecido como `a
via prussiana’do desenvolvimento capitalista, ou seja, através de uma
conciliação entre o velho e o novo . Daí, a fachada de `pardieiro político’ com
que se revestirão as grandes transformações políticas do Brasil.
Dessa forma, quem representará em Pernambuco a legenda da Aliança
Liberal será nada menos do que a figura de um tradicional usineiro: Carlos de
Lima Cavalcanti, proprietário do jornal Diário da Manhã e antigo aliado de
Estácio Coimbra, o Governador de posto pela Revolução de 30 em nosso Estado.
Com a vitória do movimento de 30, Carlos de Lima Cavalcante é nomeado o
primeiro interventor federal do Estado. A interventoria, que se estende até o
golpe de 1937, será caracterizada por um misto de inovação administrativa e
repressão política aos movimentos sociais. O contraponto da ação administrativa
de Carlos de Lima será a recorrente instabilidade política do período. AS
organizações trabalhistas se dividirão. De um lado, a Federação das Classes
Trabalhadoras de Pernambuco colaborará com o Governo; de outro, a União
Proletária de Pernambuco a atacará. Os militantes do PC seriam, por sua vez,
detidos inúmeras vezes sob a acusação de agitadores sociais e teriam seus
mandatos eletivos `degolados’ pela justiça eleitoral.
Outros eventos que merecem destaque nesse período são a chapa da
esquerda `Trabalhador, Ocupa teu Posto’, que concorreu às eleições de 34; a
revolta do 21 BC contra a interventoria (também conhecida como `a revolta de
Pedro Calado’);o Congresso Afro-Brasileiro realizado sob a inspiração de
Gilberto Freyre; a Constituinte de 1934, com a eleição de Carlos de Lima
Cavalcanti para o Governo do Estado; à realização do Congresso Eucarístico no
Parque 13 de maio;a leitura do Manifesto Integralista no Recife e, certamente,
o levante da Aliança Nacional Libertadora, onde se destacaria a bravura e o
patriotismo do então Sargento Gregório Bezerra.
Mas o ambiente de intensa radicalização política e ideologicamente
existem no País e as indefinições políticas no mundo seriam responsáveis pelo
Golpe de Estado de 1937 e a subsequente instalação de um regime ditatorial no
Brasil, conhecido pelo nome de Estado Novo. Em Pernambuco, a nova situação
política será representada pela figura de Agamenon Magalhães, chamado até pelos
amigos de `china gordo’, não só em função de seu aspecto físico, mas, sobretudo
pelas características de sua ação administrativa.
IV
Os agitados anos trinta foram na verdade, a preparação para o advento de
uma experiência de Governo no Brasil, e particularmente em Pernambuco, que iria
transformar profundamente a sociedade brasileira. Manobrando ora com a direita
(o integralismo), ora com a esquerda (a ANL), Getulio Vargas criaria a
oportunidade tão esperada para dar o golpe de Estado, de novembro de 1937, e
instalar o chamado Estado Novo, um regime altamente centralizado, autoritário e
intervencionista.
Nos estados não seria diferente. Uma vez rasgada a constituição (e a
ordem jurídica) pactuada em 1934, sobreviria uma onda de intervenções estaduais
e municipais patrocinada pelo ditador. Em Pernambuco, o Governo
constitucionalmente eleito de Carlos de Lima Cavalcanti começara a perder prestigio
depois do levante da Aliança Libertadora Nacional, em 1935. e terminaria por
ser deposto por Vargas, após um período de intensas intrigas fomentadas por
Agamenon Magalhães, o escolhido pelo ditador para trazer “a emoção do Estado
Novo” para Pernambuco.
Analisar o que foi essa experiência de Governo entre nós é reconhecer o
laboratório político-ideológico e social que se tornou o nosso Estado no âmbito
mais geral do regime varguista: não só pelas características biográficas do
interventor, mas, sobretudo pelas características de sua ação administrativa e
os resultados de sua gestão.
Agamenon Magalhães era um sertanejo que havia sido seminarista e
recebido uma grande influencia da doutrina social-católica (de Leão XIII). Na
crise do pensamento liberal do século passado, ainda mais exacerbada pelo
conflito entre Nazismo e Comunismo, o social-catolicismo aparecia como uma
variante do credo antiliberal, preocupado em assistir os trabalhadores (para
evitar a influencia do comunismo), através do reforço da família, da
propriedade, da ética do trabalho, do respeito à hierarquia e, sobretudo, à
tradição. Dessa forma, o que vamos assistir com `a emoção do Estado Novo’ em
Pernambuco é à montagem de um regime fortemente centralizado na pessoa do
interventor, apoiado num ideário tradicionalista e interveniente nos mínimos
detalhes da vida social (inclusive no lazer).
A obra administrativa de Magalhães pode ser dividida, primeiro, pela
busca desenfreada do `consenso máximo’ na sociedade pernambucana, a partir de
uma falsa imagem de paz e harmonia social no Estado. Objetivo perseguido
através de uma feroz repressão aos adversários, críticos, comunistas,
prostitutas, afro-brasileiros, vadios e homossexuais, bem como da criação do
Departamento de Imprensa e Propaganda.
Esses foram os instrumentos utilizados por Agamenon, além de seu jornal
diário, a Folha da Manhã, para a produção do `consenso máximo’ em Pernambuco. É
preciso acrescentar que o anticomunismo foi utilizado como matéria-prima de
primeira classe para induzir a opinião publica a aceitar as idéias do
interventor, a pretexto de se desenvolver o sentimento de brasilidade entre os
pernambucanos.
Outro aspecto dessa obra que merece atenção é a criação dos Centros
Educativos Operários, cujo fim era “educar, regenerar, civilizar e integrar” os
trabalhadores no seio da sociedade. A meta principal era fazer um trabalho de
saneamento e profilaxia social, afastando os operários da doutrina marxista da
luta de classes.
Mais um ponto a ser ressaltado foi a campanha contra os mocambos, que
assumiu um caráter ressocializador, na medida em que vinculava estreitamente
habitação, saúde, integridade física e moral da família, trabalho e cidadania.
A campanha de erradicação do mocambo foi objeto de intensas e apaixonadas
controvérsias entre sociólogos, antropólogos, engenheiros, sanitaristas e
urbanistas. Na verdade, ela escondia uma intenção civilizatória com a qual
muitos não concordavam, como Gilberto Freyre, Mario Sette, Manuel Bandeira e
outros.
A conjunção entre modernidade e autoritarismo, revestida das cores
locais do mandonismo sertanejo, foi essencial ao projeto reformador das elites
brasileiras nesse período, em consonância, aliás, com as utopias sociais
surgidas da crise do liberalismo. A cara feia que ela tomou entre nós não
invalida as transformações por ela produzidas.
Quando se tornou evidente, depois da entrada do Brasil na guerra, que o
regime iria mudar, o interventor deixou o cargo, para ocupar o Ministério da
Justiça e preparar a transição política. Mas antes deixou uma herança
importante: a potente maquina partidária do PSD, responsável pela reprodução de
`agamenonismo’ em Pernambuco ate pelo menos a derrota eleitoral de 1958.
V
O Fim do Estado Novo em Pernambuco, prenunciado com a saída de Agamenon
Magalhães para o Ministério da Justiça, não significou o fim do `agamenonismo’
na vida política do Estado. O `china gordo’ – como ironicamente o apelidara o
poeta Manuel Bandeira – legou a seu sucessor, o bacharel Etelvino Lins, a
importante tarefa de estruturar, em nível estadual, a potente maquina
partidária do Partido Social Democrata (PSD), apoiada numa extensa rede de
coronéis do Agreste e do Sertão, que garantiria dali para frente a vitória de
todos os candidatos ao Governo do Estado indicados pelo ex-interventor ou seu
partido.
Dessa maneira, ainda que tivesse de administrar a crise do regime em
Pernambuco, e particularmente as tendências oposicionistas do Recife e
adjacências, o PSD conseguiria eleger Barbosa Lima Sobrinho, em 47; Agamenon,
em 51; Etelvino Lins, em 53, e o marechal Cordeiro Farias, em 55 – só perdendo
as eleições na capital, onde seus candidatos sempre obtiveram menos votos do
que os partidos de oposição (PCB,PTB,PSB,PST,etc).
A grande disputa ideológica desses anos, em Pernambuco, seria entre a
visão conservadora, agrarista e ruralista do PSD – que, apesar do nome, era
identificado com as oligarquias interioranas – e o pensamento
nacional-desenvolvimentista definido por uma frente de partidos que congregava
industriais, classes media, militares nacionalistas, comunistas, socialistas,
católicos progressistas, trabalhadores, camponeses e estudantes. Essa disputa
ocorre no bojo do segundo Governo de Vargas e de seus sucessores, imersos na
crise do nacionalismo populista da segunda metade dos anos 50.
Como se recorda, o nacional desenvolvimentismo se assentava num pacto
político de classes muito diferentes. Quando a ação do governo – ameaçado por
pressões externas e por grupos conservadores no Brasil – pendeu para a
esquerda, tornou-se difícil a sua manutenção. Dessa forma, assistiríamos em
Pernambuco a um afastamento progressivo do PSD da agenda desenvolvimentista.
Os anos 50 viram o nascimento de importantes iniciativas políticas, que
brotaram graças ao clima de agitação desenvolvimentista da época, a exemplo do
Congresso de Salvação do Nordeste, em 1954, que daria origem ao GTDN e depois à
Sudene em 1958, pelas mãos do economista Celso Furtado – um importante
instrumento do planejamento regional destinado a combater as desigualdades
sociais, através de incentivos fiscais para a industrialização e do apoio à
introdução de processos regionais do uso e cultivo da terra, bem como pela
liberação de lotes para a reforma agrária.
Outro evento notável foi a organização do movimento camponês e dos
trabalhadores agrícolas, dando origem à formação das ligas e sindicatos rurais.
Contudo, mais importante foi a coalização política reformista que foi se
formando em reação ao longo domínio do PSB em Pernambuco, para dar à luz o
movimento chamado `Frente do Recife’, a partir das primeiras vitórias da
oposição nas eleições para Prefeitura da capital do Estado.
O Congresso de Salvação do Nordeste propiciara uma aproximação do
Partido Comunista com ala nacionalista de PTB. A corrente desse partido,
juntamente com os comunistas e socialistas, formaria o núcleo ideológico da
`Frente’, dando-lhe a necessária consistência eleitoral para desbancar o
`pessedismo’. O primeiro grande resultado dessa articulação política foi a
vitória do engenheiro e professor Pelópidas Silveira para a Prefeitura do
Recife, em janeiro de 1955. Estava lançada, assim, a semente para a derrota
eleitoral e política da maquina `pessedista’, criada por Agamenon no Estado.
Dessa maneira, nas eleições de 1958 para o Governo do Estadual, o
embrião da experiência eleitoral de 55 deu forma a uma grande coalizão
política, constituída pela UND, PCB, PSB, e PTB, reunindo industriais,
sindicalistas, comunistas e socialistas, num acordo desenvolvimentista para o
Estado. A chapa composta pelo industrial e usineiro Cid Sampaio e Pelópidas
Silveira derrotou fragorosamente o candidato `pessedista’ e também usineiro
João Cleofas de Oliveira, numa das mais memoráveis campanhas políticas de
Pernambuco (talvez só comparável à derrota do Conselheiro Rosa e Silva no
começo do século). A partir de então, iniciava-se um novo período de
radicalização política no Estado, que vai dar no golpe militar de 1964.
VI
A derrota eleitoral do PSD, em 1958, para legenda das Oposições Unidas,
foi o inicio da desagregação do quadro partidário em Pernambuco e de uma
progressiva desinstitucionalização da política no Estado. Com o fim do longo
domínio da maquina pessedista sobre a política estadual, nenhum partido deteria
mais, sozinho, a hegemonia do sistema partidário. Daí as constantes modificações
do jogo político no Estado, produzindo alianças conjunturais onde os aliados de
ontem seriam os adversários de hoje, e assim por diante.
As alianças entre usineiros industriais, trabalhadores, camponeses,
classes médias urbanas e a esquerda – representada pela Frente do Recife –
estava fadada a ter uma breve existência no contexto da instabilidade política
nacional e das próprias contradições do nacional desenvolvimentismo. Nesse
sentido, a crise da aliança se inicia com o alinhamento de Cid Sampaio à candidatura
de Jânio Quadros à Presidência da Republica, em 1961, recompondo-se com a
direção nacional da UDN. Mas aprofundou-se com a repressão movida pelo Governo
do Estado ao movimento camponês e com o esvaziamento paulatino da SUDENE
enquanto órgão de planejamento e intervenção regional. Pressionado pelas ‘classes
conservadoras’ ora pelos aliados da esquerda e movimento popular – que cobravam
coerência do governador em relação aos compromissos de campanha – Cid rompe
finalmente com seus aliados, em 1962 reaproximando-se do PSD e das velhas
oligarquias do Estado.
O rompimento da Frente do Recife deu inicio a um processo de
radicalização política sem paralelo na vida do Estado. Radicalização produzida
pelas ambiguidades e hesitações da própria republica populista desses anos. A
renuncia de Jânio jogara o País numa profunda instabilidade política (aliás,
ocasionada pelo frágil sistema partidário brasileiro de então). João Goulart, o
vice-presidente, assume o poder sobre tutela do Congresso, em razão da emenda parlamentarista
votada em 1963. Jango procura mover-se entre dois focos: de um lado, uma frente
conservadora – alimentado pelo imperialismo americano através do IBAD – de
outro, a frente nacionalista democrática apoiada pelos partidos de esquerda e
movimento sindical a UNF e outros. O presidente hesita em tomar mediadas
radicais e definidas, para evitar um golpe de direita. É esse ambiente em que
as forças progressista vão se reaglutinar no estado para eleger Miguel Arraes
de Alencar governador de Pernambuco, em 1963, ao lado do político pessedista
Paulo Guerra.
A coligação política que elegeu Miguel Arraes assinala o fim de um
ciclo, não o seu inicio. Ela só foi possível em função da desagregação do
sistema partidário estadual e da perda de unidade nos hostes pessedista e pela
progressiva desinstitucionalização da política representada pelo pujante
movimento dos trabalhadores rurais, dando origem a vários congressos, encontros
e organizações. A emergência desse ato político na vida do País desequilibra o
precário arranjo da republica populista, que vigorou de 1945 a 1964, quando a
coligação dos partidos de esquerda, católicos progressistas, sindicalistas e
independentes se uniu ao movimento camponês e passou a contemplar suas
reivindicações, estava dada a largada para conspirações civis e militares que
derrubariam o Presidente da Republica e Governador de Pernambuco.
A saga do `Governo popular’ começou a ser criada com eleição de
Pelópidas Silveira para prefeitura do Recife, em 1954 foi reforçada pela
vitória de Arraes para o Governo municipal, em 1958, quando o ex-governador –
em prosseguimento à gestão de Pelópidas, fez uma excelente gestão, inovando a
política municipal em vários pontos: educação, abastecimento, segurança
publica, desenvolvimento regional/agrário, direitos trabalhistas no campo, etc.
Mas foi com o Governo do Estado, em 1963, que Arraes mudou inteiramente
as prioridades da administração estadual, elegendo o povo (leia-se os
camponeses e trabalhadores rurais) como prioridade numero um, nos marcos da
legalidade constitucional então vigente. Dois aspectos de sua gestão merecem
ser destacadas: a extensão da Legislação Social Trabalhista ao campo e o
Movimento de Cultura Popular (MCP).
Num contexto de radicalização política, efervescência dos movimentos
sociais e profundas instabilidade das instituições políticas, a experiência do
`Governo popular’ não poderia sobreviver, particularmente diante de uma intensa
mobilização ideológica das classes médias urbanas, atemorizadas com o
espantalho do comunismo. A derrota do PSD foi também a derrota das precárias
instituições da republica populista. A memorável campanha de Frente do Recife
em 1958, e depois, de 1963, só poderia ter vingado no quadro de uma nova
institucionalidade democrática que contemplasse a participação dos
trabalhadores rurais e camponeses no complicado jogo das alianças políticas.
Infelizmente, o que se viu foi a gênese de um regime muitas vezes mais
autoritário e liberticida do que o que vigorou a partir de 1937 no Brasil.
VII
A frágil institucionalização do quadro político brasileiro, face à
mobilização anticomunista das classes médias urbanas, conduziu a um golpe
bonapartista de direita no Brasil. As características do regime implantado
pelos militares uniam a centralização política, uma razoável dose de repressão
às liberdade civis e um furor desenvolvimentista, que desmentiria facilmente as
analises sobre o caráter regressivo da intervenção militar. Na verdade, o golpe
de 1 o de abril de 1964 impôs, pela via do terrorismo de Estado, uma modalidade
de capitalista monopolista, que transfiguraria profundamente a sociedade
brasileira.
Aspecto relevante do centralismo político imposto ao país foi a nomeação
de governadores e prefeitos para os estados e capitais. A violação da legalidade
constitucional, através da edição de sucessivos atos institucionais, atingiria
seu ápice com o famigerado Ai-5, que fechou o congresso, impôs uma drástica
censura aos meios de comunicação de massas e desencadeou uma feroz perseguição
política aos opositores do Regime Militar.
Pernambuco, como um dos pólos regionais de maior agitação política e
social do País, não poderia escapar ileso a essas medidas de força,
patrocinadas pelos Governos Militares desde a deposição do governador Miguel
Arraes de Alencar até as torturas medievais infringidas ao militante comunista
Gregório Bezerra, passando pelas perseguições, prisões, assassinatos e maus
tratos a lideres estudantis, intelectuais, jornalistas e membros do clero
progressista, como o cruel assassinato do Padre Henrique.
Caracterizar a vida política de Pernambuco, nesta quadra, não fugiria
muito ao padrão centralizador intervencionista dos militares no resto do País.
O Estado teve quatro governadores indiretos, além do vice-governador de Miguel
Arraes de Alencar, saída do remanejamento dos grupos políticos tradicionais da
região, cuja principal marca de atuação foram a subserviência aos militares, a
intransparência administrativa e a realização de grandes obras publicas.
O Estado – como o resto do país – viveu o clima da euforia
desenvolvimentista do Regime Militar, muito auxiliado pela conquista da Copa do
Mundo em 1970 pela Seleção Brasileira de Futebol. Euforia baseada num imenso
arrocho salarial, na manipulação de índices estatísticos, na repressão aos sindicatos
e partidos de esquerda e bastante ajudada pelo brilho platinado da indústria
cultural moderna (leia-se Rede Globo de Televisão).
O saldo desse regime foi a falta de a renovação da vida política
brasileira, no acanhado espaço do bipartidarismo oficial, um grau inaudito de
internacionalização da economia brasileira e uma sociedade civil complexa e
diferenciada, ansiosa por encontrar formas de participação.
VIII
O regime implantado pelos militares em 1964 terminaria por engendrar as
suas próprias contradições. O processo de uma modernização da economia
brasileira, à custa do arrocho salarial, hiperinflação e endividamento externo,
despertaria forças e atores sociais difíceis de conter na camisa de força do
bipartidarismo oficial. A partir das eleições proporcionais de 1974, quando a
oposição ao regime militar venceu em toda linha, o núcleo estratégico do
Governo passou a elaborar um plano “que permitisse uma distensão controlada e
auto- reforma ou a institucionalização da ditadura militar”.
Ocorre que o processo de abertura política foi mais veloz que o projeto
dos militares. A complexidade e a diferenciação da sociedade brasileira -suscitada
pela modernização conservadora – produziram atores e demandas incompatíveis com
acanhado espaço de participação política então existente, ultrapassando as
manobras continuístas do regime. A partir dos anos 80, ficou claro que o
controle do processo de abertura não estava com os militares e sim com a
sociedade civil (OAB, ABI, CNBB), o sindicalismo do ABC, o movimento de
intelectuais, de donas de casa, estudantes e entidades comunitárias.
É preciso atentar, também, para a evolução da participação institucional
da oposição do regime: o MDB, depois PMDB, os sindicatos de trabalhadores
urbanos, e os aparelhos privados da sociedade civil. Cada vez mais, o sistema
bipartidário criado pela ditadura estava se tornando um instrumento
involuntário de canalização da insatisfação social. E muitos parlamentares da
esquerda e/ou das correntes de centro esquerdistas passaram a se eleger sob a
legenda do MDB. Foi tentada, ainda nos anos 80, uma reforma partidária para
conter os avanços eleitorais da oposição. Mas não deu certo. O centro manteve-se
unido à esquerda, isolando o partido do Governo nos Estados e, depois, nas
capitais.
Em Pernambuco, a evolução do bipartidarismo não foi diferente. Criado
inicialmente para acolher todas as forças e legendas de oposição ao regime, o
MDB tornou-se o autentico partido de oposição, apoiado, inclusive, por setores
progressistas da Igreja Católica. A eleição de Marcos Freire ao Senado Federal,
em 1974, foi fruto de uma campanha memorável da oposição em Pernambuco. Na
política estadual, o MDB também elegeu vários deputados, vereadores e
prefeitos. A exemplo de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, o Estado
nunca deixou de lado a sua intensa politização. O caráter ideológico do partido
– em nível regional – se traduzia por uma linha de centro-esquerda (à qual
nunca esteve alheio o Partido Comunista Brasileiro), representada por uma
geração de novos políticos como: Marcos Freire, Marcos Cunha, Fernando Bezerra
Coelho, Cristina Tavares, Roberto Freire e outros.
Esse processo de renovação político-partidário em Pernambuco encontraria
seus limites na redemocratização e na volta dos exilados políticos ao Brasil.
Quando o ex-governador Miguel Arraes de Alencar retorna ao Recife, vem em busca
da liderança outrora exercida no conjunto das forças esquerdas no Estado. Mas
as suas pretensões encontrarão fortes resistências nos novos políticos do
ex-MDB, agora PMDB. Essa disputa, inicialmente com Marcos Freire quando da
indicação do candidato para as eleições de 1982 ao Governo do Estado, evoluindo
para uma dura e amarga briga pessoal com o hoje governador Jarbas Vasconcelos,
que teve seu nome preterido na convenção partidária, em nome do político
udenista Cid Sampaio.
Nas primeiras eleições para as capitais depois do fim do regime militar,
Jarbas Vasconcelos abandona o PMDB para candidatar-se à Prefeitura do Recife
por uma coligação partidária arrumada na ultima hora.
Em 1990, Jarbas tenta se eleger governador do Estado contra a
candidatura do hoje deputado federal Joaquim Francisco, que sai vitorioso. Ele
responsabilizaria Miguel Arraes pela sua derrota, o que o leva a buscar uma
aliança com o PFL, para derrotar Arraes a qualquer custo.
A ruptura aconteceu na segunda gestão de Jarbas Vasconcelos à frente da
Prefeitura do Recife. A partir daí, a política de Pernambuco sofreria uma nova
inflexão, com a volta do PFL ao poder e a derrota da coligação dos partidos de
centro-esquerda nas eleições municipais de 1996 e, depois, nas eleições
estaduais de 1998. As consequências dessa aliança neoconservadora ainda não são
de todos visíveis para o futuro político do Estado, até porque não se sabe ao
certo qual será o tempo de duração de tal aliança.
IX
Quando, em fins de 1993, cogitou-se pela primeira vez a possibilidade de
uma aliança política entre o então prefeito da cidade do Recife, Jarbas
Vasconcelos e os próceres do Partido da Frente Liberal contra a candidatura de
Miguel Arraes de Alencar ao Governo do estado, houve quem saudasse com
entusiasmo aquela aliança, acenando para o surgimento de um fato novo na vida
política de Pernambuco. Dizia-se que a aliança era o fim da tradicional
polarização política em nosso estado e o inicio da construção de uma terceira
via. É dessa época, aliás, a cantilena da terceira via produzida pela junção
das palavras ‘socialismo’ e `mercado’.
Ou seja, a conversão do pensamento da direita ao evangelho social, e o
dá esquerda ao credo liberal, criando um pensamento de centro-direita. Nem
esquerda, nem direita: neo-social ou social-liberal, como afirmava cinicamente
o presidente da Republica, referindo-se aos ingentes esforços de um certo
senador baiano para aumentar o salário mínimo do trabalhador brasileiro e
acabar com as mazelas da administração publica no País.
Desde aquela época, já se advertia para o possível malogro dessa
terceira via nordestina, em face do caráter eleitoreiro da aliança, fundada de
um lado na esperteza política do PFL e, do outro, na obsessão de Jarbas em
derrotar Miguel Arraes a qualquer custo. Afirma-se também que as consequências
dessa estranha aliança para o quadro partidário de Pernambuco seriam
desastrosas (e isso não apenas pela vergonhosa metamorfose de ex-comunistas
engajados até o pescoço na administração municipal), mas, sobretudo pelo
desequilíbrio e pela desestabilização do poder relativo das demais forças
políticas do Estado, produzindo uma `reoligarquização’ da esfera publica e
reduzindo o já exíguo espaço para novas candidaturas ou propostas partidárias.
Não demorou muito e os resultados dessa malfada experiência começaram a
se manifestar: a implosão do PSDB e sua transformação em legenda de aluguel nas
mãos de trânsfugas partidárias; a implosão do PSB com a derrota de Miguel
Arraes e a saída de ilustres parlamentares socialistas para outras legendas
partidárias; a desmoralização do PMDB, transformada em mero instrumento das
pretensões eleitoral de Jarbas; e o estreitamento do campo político da
esquerda, reduzido agora ao PPS, PT, PcdoB, PSB e PCB.
Mas grave, contudo, foi a promiscuidade que se estabeleceu entre o poder
publico, o poder econômico e uma parte da mídia, a serviço de interesses nem
sempre confessáveis dos parceiros dessa aliança. As inúmeras denúncias de
corrupção, favorecimento ilícito de empresas privadas e de abuso do poder
econômico puseram a nu o processo de formação dessa nova oligarquia política, traduzida
finalmente na ampla e rica coligação eleitoral encabeçada pelo ex-prefeito da
cidade do Recife Roberto Magalhães. As agressivas estadualizações da campanha
com o engajamento explicita da figura do governador em favor de Magalhães foi,
entre outras causas, uma das principais razoes da derrota do ex-prefeito,
abrindo um novo capitulo na Historia política do Estado, com o inicio das
administrações petistas nos grandes colégios eleitorais de Pernambuco.
À aliança neoconservadora do PFL com o PMDB, ora dominante em nosso
Estado, contrasta vivamente com o quadro de uma economia diversificada, apoiada
em atividades competitivas e diretamente atreladas ao mercado externo, como: a
fruticultura; o turismo; os pólos tecnológicos metropolitanos; a indústria de
lazer e alimentação, etc. economia moderna mas altamente concentradora de
renda, porque baseada na renuncia fiscal e na precarização das relações de
trabalho.
Na realidade, dada a ausência de um projeto de desenvolvimento regional
integrado, que contemple políticas compensatórias para setores e regiões mais
pobres ou deprimidas, o Governo de Pernambuco vem aderindo à agenda liberal,
adotada por FHC. O que se traduz em inverter o fluxo dos recursos públicos,
agora, em direção às chamadas atividades competitivas, destinando à filantropia
e ao chamado terceiro setor o atendimento das imensas carências sociais de
grande parte da população. Os últimos lances da atual administração foram a
utilização dos recursos obtidos com a privatização da CELPE na duplicação da
BR232 e a posição dúbia assumida em face da extinção da Sudene, o que só
comprova as consequências problemáticas daquela aliança para os verdadeiros
interesses do Estado e da região.
Um relato como esse mereceria,
naturalmente, uma complementação com uma análise sobre o que sucedeu em
Pernambuco com o casamento entre o PT e PSB, a separação entre as duas siglas e
a reaproximação que se anuncia com as proximidades da campanha eleitoral deste
ano.
A impressão que
vai se formando na cabeça dos eleitores é da
existência de um pragmatismo
exacerbado entre um pequeno número de atores políticos e famílias tradicionais
que procuram uns aos outros, em épocas como essas, para celebrar acordos e,
depois, o distinto público é chamado apenas para homologar, através do voto,
tais acordos. A política de Pernambuco, desde a aliança de Jarbas Vasconcelos
com Marco Maciel, para a derrota da família Arraes, inaugurou uma espécie de
“método pragmático” de compor alianças políticas, que transformou a política em mera atividade estratégica,
desprovida de toda e qualquer pretensão de validade ética ou mesmo ideológica.
Os eleitores estão sendo chamado a convalidar acordos e tratativas, de que não
participaram, e onde têm muito pouco a ganhar. Nunca – como hoje - o chamado espaço público foi transformado em
antessalas e gabinetes para entendimentos e articulações não necessariamente
republicanos, mas a serviço da reprodução das oligarquias políticas da região.
Afinal, qual seria a diferença (se é que há) entre Paulo Câmara, Armando Monteiro,
Fernando Bezerra Coelho? - Quem souber,
por favor, diga.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPED-UFPE.
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