Sociólogo Luciano Oliveira
O meu 'livrinho sobre Michel Foucault '(0 aquário e o Samurai) é apenas "uma leitura", como anuncio no subtítulo da obra
E, como toda leitura, pessoal e, claro, parcial - porque uma
leitura total não existe, já que todo leitor é também um sujeito
parcial...
Aproveito também para agradecer idênticas afeição e atenção que
você sempre dispensou aos meus escritos, Michel. Sua atitude generosa
não é moeda corrente no nosso meio.
Mas voltando à sua leitura do meu livrinho, sim, é
verdade que privilegio a fase genealógica, por razões que você detecta
muito bem ao se referir a uma "falsificação" popperiana a que a
submeto.
No caso, a partir de uma experiência de vida sob o regime militar,
um período em que os direitos humanos eram espezinhados da maneira mais
torpe nos porões do regime.
Desde que li "Vigiar e Punir" pela primeira vez (foi Joaquim Falcão
que, em 1980, pôs o livro na minha mão, veja só!), Foucault é um autor
que leio com admiração e um pé atrás.
O mínimo que se pode dizer é que ele, enquanto "sujeito epistemológico", não dá muito valor ao chamado estado de direito.
Mas o danado é que, enquanto "sujeito empírico", dava.
Como todos nós, aliás...
O chamado estado de direito não é tudo a que pessoas como eu e você aspiram, mas sem ele...
Lembro, incidentalmente, que no presente momento infeliz que
estamos vivendo é tal estado que, pelo menos ainda, nos protege dos
piores delírios dessa tralha que chegou ao poder no Brasil em 28 de
outubro de 2018, uma data que ficará para a nossa história.
Sim, é verdade, não dou maior importância às conexões possíveis
entre a noção de biopoder e o darwinismo social do neoliberalismo.
Até porque, lembro (e isso digo no meu livrinho) que o Foucault
posterior à teorização sobre o biopoder (o Foucault de "A Vontade de
Saber", publicado logo depois de "Vigiar e Punir") vai paulatinamente se
afastando dessas questões sombrias e se direcionando para a
hermenêutica do sujeito, ou, como preferem outros (inclusive eu), para a
estilística da existência, período terminal da sua vida em que ele faz
as pazes com a melhor herança do iluminismo e, por incrível que pareça,
com... Sócrates!
Sinto-me perdido nesse mundo.
Nele, se a questão do trabalho é cada vez mais
dramática, não sei mais como reconhecer os novos sujeitos dessa nova luta de classes (só desinformados ou pessoas de má-fé acham que ela acabou) em que não há mais "classes"...
É um mundo de "redes", "tribos", "identidades", o diabo a quatro.
Eu, que fui formado (acho que como você...) lendo autores como
Erich Fromm (nunca me esqueci da leitura de "Meu Encontro com Marx e
Freud"), acho um mundo feio, feio, feio, sobre o qual tenho a impressão
de que não tenho mais nada de relevante a dizer.
Abração afetuoso,
É bom encontrarmos reflexões de grande estirpe produzidas por dois grandes mestres. Refiro-me a Michel Zaidan e Luciano Oliveira.
ResponderExcluirÉ Você, Hely sempre foi um atento observador da nisso vida cultural. É um grande polemista de veia profética e republicana.
ResponderExcluirBondade sua!
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