Oliveira divide a obra do autor em três fases: a
fase epistemica-arqueológica, a fase genealógica e a fase tardia da
hermenêutica do sujeito. Ele faz remontar o início da segunda ainda à
primeira, com o famoso livro livro A História da Loucura, na época
clássica. E não considera a biopolítica e o biopoder, como uma nova fase
depois da sociedade disciplinar. Talvez, como fase extensiva ou
complementar a esta última, já que ela aparece mencionada na Microfísica
do Poder e no primeiro volume da História da Sexualidade. A fase
genealógica é a que merece mais sua atenção.
Gostaria de fazer aqui algumas observações. A
influência reconhecida por ele de Nietzsche sobre seu pensamento. E a
última fase, que - para alguns - não seria a hermenêutica do sujeito.
Mas a biopolítica e o biopoder. Sobre Nietzsche, a pouca atenção dada à
herança retórica, neonominalista e relativista do filósofo alemão,
presente sobretudo em seu conceito de "discurso", como uma espécie de
infra-estrutura substutiva (algo já presente nas famosas "epistemes" de As
Palavras e As Coisas. De modo semelhante, a influência darwinista na
biologização das relações de poder, tal como aparece no livro: A Genealogia da Moral. Creio que ambos os aspectos guardam ou trazem
sérias implicações para a compreensão da política, da moral e do conhecimento humanos.
Segundo, a não conexão atual e contemporânea
entre o conceito (nietzschiano) de biopoder e o neoliberalismo
triunfante, como forma de governabilidade social. A tese aparece com
destaque nos últimos trabalhos de Foucault e foi usada por dois autores
franceses, no livro: A Nova Razão do Mundo. Os livros do autor estudado
chegam a ser citados por Luciano, mas não estudados nessa perspectiva
teórica e política. Senti falta, também, de um maior aprofundamento na
hermenêutica do sujeito ou estilística da existência, mais ainda do uso
canhestro que é feito pela historiografia brasileira desse conceito na
história da escravidão africana no Brasil, por autores como: Silvia Lara e
Bob Slenes na UNICAMP. Considero uma "forçação de barra", como ele
criticou apropriadamente em seu livro, tratando-se outras transposições inadequadas da obra de Foucault para o
contexto brasileiro. Os nossos foucaudianos tupiniquins não aceitam essa
fase da estilística da existência. Ficam só com as outras duas: a fase
arqueológica e , sobretudo, a genealógica.
É perfeitamente compreensível a ênfase de
Oliveira na fase genealógica (Vigiar e Punir, O Nascimento da Clínica,
Vontade de Saber), mais historicizada e sujeita ao critério empírico da
prova ou dos fatos. E portanto sujeita oa critério popperiano da
falsificação. Mas é em razão de seus estudos sobre a violência e os
direitos humanos que talvez a obra de Foucault passou ser importante
para ele.
Mas é igualmente importantever as implicações
macrohistóricas, éticas e políticas extraida da obra do autor frances
pela esquerda libertária ultra-gauchista. Isto porque elas aõ muit
sérias e merecem igual atenção. Acredito que sua interessante distinção
entre o sujeito empírico e o sujeito epistemológica (a propósito do
aparente paradoxo entre o niilista e o militante dos direitos humanos)
não é suficiente para dar conta das implicações problemáticas de certas
passagens da obra, por mais benevolentes e simpáticas que sejam as
críticas de Luciano Oliveira a Michel Foucault.
É digna de elogio a postura crítica do
livro, incluindo vastas passagens da bibliografia de analistase
biógrafos de filósofo frances, mas eu teria dado bem mais realce a
hermeneutica do sujeito e suas consequencias éticas e políticas para o
uso contemporaneo de sua obra no mundo e no Brasil. Faz muito tempo que
Foucault deixou de ser visto como um dos pensadores estruturalistas
frances.
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