pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: CPMI das Fake News
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sábado, 15 de fevereiro de 2020

Editorial: CPMI das Fake News




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Recentemente li um excelente artigo da filósofo Marcia Tiburi tratando das características do nosso incipiente projeto fascista. Como diria o teatrólogo Bertolt Brecht, o fascismo é uma cadela que está sempre no cio, com seus dispositivos prontos para serem acionados a qualquer momento. Marcia, no entanto, se referia a uma espécie de fascismo de um “novo tipo", caracterizado, entre outras coisas, pela velocidade com que suas teses são disseminadas junto à população, através dos instrumentos tecnológicos hoje disponíveis. Imaginem os leitores esse arsenal tecnológico de hoje disponível à época do Ministério da Propaganda Nazista, comandado pelo atarrancado Joseph Goebbels.

Acompanhei estarrecido a tentativa de censura a alguns autores clássicos da literatura brasileira - fato ocorrido em Rondônia - como Machado de Assis, Euclides de Cunha e até o insuspeito Franz Kafka, cujos livros estão empilhados na cabeceira da cama deste editor. Penso que se trata da primeira tentativa de censura ao maior escritor brasileiro, fundador da Academia Brasileira de Letras. Quanto ao livro “Os Sertões”, outro clássico de nossa literatura, trata-se de um texto, inclusive, que sofre severos reparos das inteligências do campo progressista, uma vez que foi escrito por um jornalista financiado por um jornal conservador e que se encontrava do lado "direito" da trincheira dos combatentes ao levante de Canudos, do Antonio Conselheiro. O livro de Euclides, por sinal, é usado em escolas militares. Li Machado ainda na adolescência, por recomendação de um professor de língua portuguesa, com quem debatemos seus textos. Um pouco depois, no CAC, da UFPE, inevitavelmente voltávamos à discussão sobre se Capitu, de fato, teria traído o Bentinho. Mas isso já são águas passadas. Privo os leitores das polêmicas suscitadas pelo texto machadiano. O que se condena aqui - de forma veementemente - é esta tentativa deliberada de censura, um precedente gravíssimo, que coloca nossa já fragilidade democracia na UTI, respirando com a ajuda de aparelhos.

Registro aqui o fato de que a filósofo Marcia Tiburi se encontrar fora do país, depois de sofrer violentos ataques difamatórios à sua honra, perpetrados pelas milícias digitais desses tempos bicudos que o país atravessa. Vocês podem calcular as infâmias dirigidas à então candidata a um cargo eletivo pelo Partido dos Trabalhadores num Estado como o Rio de Janeiro, onde a necropolítica ou o capitalismo gore estão irremediavelmente consolidados. Evito os detalhes porque eles são escabrosos, indignos de um mundo minimamente civilizado. Impublicáveis.

Este editor mantinha contato regular com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, o gaúcho Ibsen Pinheiro, falecido recentemente. Acompanhei a via crucis deste cidadão - quando ainda ocupava o cargo de deputado federal - ao ser acusado injustamente de corrupção por uma revista de circulação nacional. À época, Ibsen foi vítima de uma espécie de “linchamento moral”, tendo perdido não apenas o cargo, mas a tranquilidade pessoal, em razão das injúrias a ele atribuída. Por razões naturais, incomodava-me bastante o drama vivido por Ibsen. Um pouco antes da revista sair às bancas, um checador observou que estava sendo cometida uma grande injustiça, mas seus editores calcularam os prejuízos materiais - e não morais infringidos ao cidadão Ibsen - e optaram por manter a matéria. Ibsen nunca processou a revista, tendo escrito uma longa mensagem para este editor explicando os motivos. Alguns trechos foram publicados aqui pelo blog. A revista, por sua vez, sequer soltou uma notinha reconhecendo o grave equívoco. Ibsen ainda tentaria uma volta à vida pública, mas sem a capilaridade de outrora, pela sua cidade de nascimento, São Borjas, no Rio Grande do Sul. Quando de sua morte, nenhum veículo de comunicação observou este fato. Fazemos justiça por aqui.

Tanto o caso da filósofa Marcia Tiburi quanto o caso de Ibsen Pinheiro ilustram bem os danos produzidos pela disseminação de notícias falsas, através da redes sociais, por expedientes hoje conhecidos  como milícias digitais. Este mecanismo contribuiu de forma decisiva para a eleição de alguns candidatos no último pleito, sendo, portanto, passível de uma rigorosa investigação pelos órgãos de fiscalização eleitoral, quiçá com a anulação de um pleito marcado por mentiras transformadas em verdade absolutas. Importante, igualmente, que esta CPI possa ter acesso irrestrito aos perfis e aos canais de veiculação dessas fake news, coibindo em definitivo essas práticas, com punição severa aos detratores profissionais, financiadas por empresas inescrupulosas, que pagaram os "disparos" de mentiras pelas redes sociais. Num país decente, sob regime democrático e ainda com as garantias de um Estado Democrático de Direito, um pleito "bichado" como este seria anulado. A questão é que, infelizmente, nós não vivemos num país decente.

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