Há algum tempo visito com regularidade do Estado do Ceará, atraído por
sua gastronomia, seus encantos naturais, sem deixar de registrar aqui a
hospitalidade de sua gente. Na última incursão àquele Estado, lembrei bastante
de uma crônica do Luiz Fernando Veríssimo intitulado: Tudo que vicia começa com
“C”. Só agora me dei conta que Ceará também começa com “C” e, portanto, assim
como sugere o cronista, também deve viciar. Até então, nosso lista incluía o
suco de caju, a cajuína dele derivada, a castanha, o camarão, o carneiro, a
galinha caipira, encontrada com muita facilidade naquela região que te leva à
Vila de Jericoacorara. Se por um acaso o leitor(a) já leu a crônica do filho de
Érico Veríssimo, sabe que a lista é robusta: Cigarro, cerveja, café, cocaína,
crack, cannabis...
Não raro, o Estado do Ceará é sacudido por turbulências na esfera da
segurança pública. Até recentemente o governador Camilo Santana festejava os
êxitos obtidos contra as facções do crime organizado, que havia implantado um
clima de terror no Estado, ordenando ataques ao comércio, às instituições
públicas, incendiando coletivos, entre outras ações abjetas. Adotou-se à
política de não ceder às suas exigências, transferindo suas lideranças do
Estado, num esforço de queda de braço entre o aparelho de Estado e o crime
organizado. No final, o Estado logrou êxito em suas medidas, aplicando a lei
contra os apenados e contendo as ações de represária. Era bom saber que a
situação estava minimamente sob controle, uma vez que manter sob estrito controle
um sistema carcenário com as características do nosso é uma grande utopia. Este
é um assunto que já tratamos por aqui em outras ocasiões, permitindo-nos o
compromisso de voltar a abordá-lo com mais calma.
Nós da área de Ciência Política possuímos o hábito de juntar as peças
para tentar extrair alguma previsão a partir dos fatos observados. Neste
sentido, havia um colega tão radical que desprezava o trabalho dos jornalistas
e historiadores porque esses profissionais exerciam seus trabalhos sempre nos
pós-facto, ou seja, construíam suas narrativas sempre depois que os fatos
ocorriam. Em respeito aos colegas, informo que este escriba não seria tão
radical a este ponto. Três fatos no entanto corroboram com uma perspectiva
bastante preocupante em relação à sua saúde de nossa já bastante fragilizada
instituição da democracia: um presidente que se acerca cada vez mais dos
militares; militares de perfil golpista que se pronunciam claramente contra a
instituição congressual, um dos pilares dos três poderes, fundamental para o
funcionamente do regime democrático, já que impede o desequilíbrio de forças
que pode levar a derrocada do regime democrático e, finalmente, ações de grupos
armados sublevados impondo o terror à população, como ocorre no Estado do Ceará,
numa ação concatenada com outros estados da federação, hoje tendo ranquamwnrte
de preferência aqueles governados pelas forças de oposição. A esses três fatos
poderiamos acrescentar ainda, a greve dos petroleiros, com a possível adesão
dos caminhoneiros. Somados, esses movimentos poderiam produzir o caos da
desordem pública, abrindo o precedente para medidas autoritárias.
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