Com o tempo, a gente acaba aprendendo a conviver com as circunstâncias de viver num Estado onde as oligarquias políticas não são afeitas às críticas, embora se apresentem como defensoras da liberdade de expressão, o que significa, necessariamente, a produção de dissensos - em tese algo permitido apenas nos regimes democráticos - daí a necessidade de sua defesa ferrenha. Mas, como vaticinava o filósofo alemão Friedrich Nietziche, "toda palavra é uma farsa e todo discurso é uma fraude." Infelizmente, porém, nosso processo de colonização produziu oligarquias infensas à convivência democrática, incapazes de conviver com as críticas ou resolvê-las através da dialética, do argumento e não da força, da perseguição.
Alguns analistas sociais advogam, inclusive, que o filósofo francês, Michel Foucault, deu a devida importância a esta observação de Nietziche, em momentos específicos de sua excepcional produção teórica. Seu biógrafo, Didier Eribon, concordaria com esta premissa. Num período mais ativo do blog, ficamos surpresos com a sanha engendrada contra este blogueiro, pelo simples fato de emitirmos nossas opiniões sobre a cena política local e nacional, sempre pautado pela defesa de princípios republicanos, defendendo ardorosamente os esteios ou pilotis do edifício de nossas instituições democráticas, mesmo conhecendo suas fragilidades históricas.
Ao longo desses anos, longe desses expedientes terem sido superados. Seria mais conveniente entendermos pelo seu agravamento, posto que, hoje, basta defender a engenharia institucional da nossa democracia para tornar-se vítima das hordas digitais que espalham fake news com o propósito de promover assassinatos de imagem dos seus adversários políticos. Não precisa nem se contrapor frontalmente a essa gente, mas, simplesmente, defender a democracia dos seus algozes. Ser um democrata é o quanto basta para incomodar quem tem pendores autoritários. E olha que eles estão assanhados, em razão da proximidade do dia 07 de setembro, onde estão prometendo uma grande mobilização em Brasília. Esta semana não haverá sessão da CPI da Covid-19 e a rede hoteleira está com lotação esgotada na capital federal.
As páginas amarelas da revista Veja desta semana traz uma entrevista com o governador Paulo Câmara(PSB-PE), onde ele analisa o cenário político do país, demonstrando uma profunda identidade com o projeto da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), nas eleições presidenciais de 2022. Admite o equívoco pelo fato de o PSB ter apoiado o impeachment da presidente Dilma Rousseff(PT-MG), em 2016, admitindo que o país desceu a ladeira do retrocesso político desde então. Tudo isso nós já sabíamos, mas não deixa de ser relevante o fato de que um Governador de Estado e vice-presidente nacional da legenda socialista tenha chegado a esta mesma conclusão - de alguma forma concordando com este blogueiro - no sentido de que o precedente do golpe institucional trouxe prejuízos incomensuráveis à nossa saúde democrática.
Li a entrevista com o propósito de talvez encontrar algumas pistas para entender melhor o processo de "fadiga de material" provocado pelos 16 anos de exercício do poder pelos socialistas no Palácio do Campo das Princesas. Esta constatação não se resume apenas aos atores políticos da oposição, mas até mesmo entre atores políticos identificados historicamente com o mainstream, como é o caso de um empresário conhecido, que se pronunciou sobre o assunto até recentemente. Possivelmente, este fardo pesado estaria respingando no padrão de relação entre o atual governador, Paulo Câmara(PSB-PE), e o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Júlio(PSB-PE), supostamente ungido como candidato ao Governo do Estado nas eleições de 2022. Hoje, a relação entre ambos não seria das melhores, conforme a imprensa tem noticiado.
Ambos possuem uma trajetória política bastante parecida, ou seja, são quadros técnicos que assumiram status político depois de ungidos pelo ex-governador Eduardo Campos, por serem de sua absoluta confiança. Confiança que, aliás, possivelmente, não seria absoluta no staff político que o acompanhava. A afinidade entre ambos já foi absoluta, principalmente em razão da necessidade de se ajudarem mutualmente para enfrentar a orfandade política deixado pelo ex-governador. Durante a entrevista, o governador Paulo Câmara(PSB-PE) é incisivo em suas críticas ao Governo do presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido), apontando ser a sua retirada do poder o principal objetivo da oposição nas eleições presidenciais de 2022.
E, por falar no presidente Jair Bolsonaro, ontem ele desembarcou aqui o Recife, onde cumpriu agenda política e administrativa. Ambos estiveram juntos, numa cerimônia oficial, por ocasião da transferência de comando do IV Exército, no bairro do Curado, onde os cumprimentos se limitaram às meras formalidades. Para este humilde observador da cena política, duas questões precisam ser melhor entendidas no que concerne à visita do presidente Bolsonaro ao Estado de Pernambuco: A razão pela qual Santa Cruz do Capibaribe tornou-se uma cidade bolsonarista raiz - emprestando seu apoio ao presidente nos dois turnos das últimas eleições presidenciais passadas - e; a segunda questão diz respeito à montagem do seu palanque aqui no Estado.
Um homem do povo - sem o amparo das pesquisas, mas guiado apenas pela intuição - observou para este blogueiro que Santa Cruz do Capibaribe é uma cidade onde existe uma expressiva concentração de comerciantes de outros Estados da Federação, inclusive de São Paulo, que podem exercer um poder indutor no componente do voto naquela cidade. Fica aqui a dica para os pesquisadores incluírem essa variável nos seus levantamentos.
Sobre o palanque, o próprio presidente deu algumas pistas a este respeito, ao convidar seu amigo e ministro do turismo, Gilson Machado, para acompanhá-lo na garupa da moto, o que ele já havia admitido tratar-se de uma honraria. Como o martelo ainda não foi batido sobre este assunto, o pré-candidato que mais se aproxima deste projeto, a princípio, é o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira(PSC), que o recepcionou no Aeroporto dos Guararapes. A família Ferreira mantém os canais bastante azeitados com o Governo Federal e a identidade ideológica de ser um grupo político que tem berço nas igrejas evangélicas, um dos núcleos duros do bolsonarismo.
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