Editorial: Um movimento de rebeldia no União Brasil?

Crédito da Foto: Folha\UOL

Quando o ex-Ministro do Turismo, Celso Sabino, foi instado a se posicionar sobre uma tendência de afastamento do União Brasil do Governo Lula 3, antes de tomar a decisão da última semana, naturalmente, sugeriu que não eram todos os membros da legenda  que desejavam desembarcar do Governo, sugerindo, eventualmente, um movimento dissidente. No final, ele acabou aquiescendo à determinação da direção da legenda, pedindo apenas para ficar mais alguns dias no Governo, prorrogando o sofrimento do líder petista, que se encontra num dilema sobre quem indicar para substituí-lo. Hoje, 01, especulou-se até sobre o nome do Presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab, que reclama de uma participação maior do seu partido no Governo. 

Hoje ficamos sabendo dos ecos da posição de Celso Sabino, traduzida num movimento entre os parlamentares do União Brasil no sentido de debandarem da legenda por discordarem da decisão de cúpula, que indica a oposição a Lula. Alegam que Antônio Rueda segue apenas as determinações que estão sendo encetadas pelo baiano ACM Neto, algo que precisaria ser discutida de forma mais efetiva pelos membros da legenda. Embora haja quem discorde, o que seria até natural, vamos ser francos num ponto. A tendência  é mesmo do afastamento da legenda do Governo Lula 3. Pode até haver algum movimento interno em contrário, mas, em princípio, sugere-se que não seja tão expressivo. 

ACM Neto é um ator relevante na legenda e, certamente, suas tomadas de decisões pesam nas diretrizes do partido. O fato de estabelecer uma aliança interna com Antônio Rueda também não se constitui em nenhum problema. Estiveram juntos, por exemplo, para apear Luciano Bivar do comando do partido, que hoje costura uma federação com o Progressistas, comandado pelo senador Ciro Nogueira, um antipetista notório. Quando afirmamos que a saída do Governo Lula 3 é um caminho sem volta, em muito isso tem a ver com os posicionamentos - e principalmente os movimentos - do senador Ciro Nogueira. 

Editorial: União Brasil desembarca do Governo Lula

Esta decisão já havia sido tomada desde o momento em que o União Brasil e o Progressistas decidiram formalizar a Federação União Progressista. O plano das intenções é uma coisa, mas, concretamente, o apego às benesses e à capilaridade política proporcionada pelo exercício do cargo colocaram muitos atores em dúvida sobre o assunto, a exemplo do Ministro do Turismo, Celso Sabino, que hoje, 19, manteve um diálogo com o presidente Lula tratando deste assunto espinhoso. A relação esfriou de vez nas últimas 24 horas, depois que saiu pela imprensa informações sobre investigações da Polícia Federal envolvendo o presidente da federação, Antonio Rueda, que considerou que as informações faz parte de um plano de desgaste de sua imagem, algo urdido, possivelmente, por seus adversários políticos. 

Nos velhos tempos, convém sempre ressaltar, a lealdade do presidente do União Brasil ao Governo Lula 3. Este fato era enaltecido pelos próprio núcleo duro do Planalto. São as contingências políticas impostas pela nova Federação, mas, mesmo antes disso, o União Brasil já se mostrava bastante infiel ao Governo. Era o partido mais infiel da chamada base aliada. É sempre bom considerar o que ocorre na capital federal e observar como isso se reflete entre os entes federados. É um bom indicador para considerarmos a aderência desses movimentos ou tendências. Na Paraíba, por exemplo, um dos atores mais representativos do União Brasil, o senador Efraim de Moares, desembarcou, fez uma aliança com o PL, e recomendou aos seus aliados que deixassem seus cargos. Foi coerente. 

A solução para Celso Sabino é entregar o cargo e se manter na federação ou deixar a legenda, acomodando-se numa outra legenda. A solução para o Planalto, por outro lado, é encontrar uma solução caseira, ou seja, entre os fiéis aliados de longas datas. Em princípio, nada mudou no cenário de alianças políticas mesmo diante do estancamento da sangria da impopularidade de Lula, que deve concorrer a mais um mandato. Lula, inclusive, tem liderado o pelotão de pretendentes ao Planalto mesmo navegando nessas águas turvas.