pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Michel Zaidan Filho: "IMPEACHMENT"


 


                        A  repórter do "Jornal do Comércio", em programa radiofônico, me perguntou pelo significado da palavra inglesa "impeachment". Segundo ela, esta palavra aparece com frequência nas redes sociais, associada ao rumoroso caso da PETROBRAS e a atual Presidenta da  República. Perguntou ainda a repórter sobre as consequências para o país de um processo de "Impeachment".
0 "impeachment" que traduzido para o nosso vernáculo significa "impedimento" é um instituto jurídico-político que está na Constituição Federal. Trata-se do processo de afastamento ou impedimento legal  do detentor de cargo público, no executivo, de continuar no poder, em face de crime de responsabilidade, improbidade administrativa ou contra a moralidade pública. Ou seja, o dirigente ou mandatário acusado de algum desses crimes pode ser afastado legalmente de suas funções, depois do chamado devido processo legal, que prevê a ampla defesa e o direito ao contraditório. Só quem pode abrir o processo de "impeachment" é o presidente da Câmara dos  Deputados, depois de ouvido o Conselho de Ética da Casa.

                        Dizia o ex-presidente da República, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso que o "impeachment" é como a bomba atômica.  Existe na Constituição, mas não é para ser usado. Esta firmação foi feita durante a crise do Governo Collor, em que o ex-presidente foi cogitado para ser ministro das relações exteriores. A ideia do uso desse instituto com a finalidade eminentemente dissuasória tem a ver com a possibilidade de uma crise institucional provocada por um eventual "vácuo de poder". Mas, nesse caso, o vice-presidente assumiria, automaticamente  o cargo, evitando a vacância do poder. E não o ex-governador derrotado nas últimas eleições, Aécio  Neves. Num regime presidencialista imperial, como o nosso, o afastamento de um presidente eleito democraticamente pelo povo pode ser uma coisa traumática e o regime não possui amortecedores para a absorção dessa crise, podendo levar a um golpe de Estado.

                        De todo jeito, não está na ordem dia nem na agenda política da Câmara dos Deputados essa possibilidade de se abrir um processo de impedimento contra a atual Presidenta da República. Quem o disse foi o Presidente da Casa e o chefe da oposição, Aécio Neves. Não se questiona a legitimidade da escolha popular - pela maioria dos votos, da Presidente Dilma. Há um processo aberto pela Polícia Federal e a Justiça Federal contra aqueles que desviaram ou receberam propinas indevidas, nos contratos de licitação  com grandes empreiteiras nacionais para construção de mega obras da PETROBRAS. O que se sabe é que as autoridades policiais e judiciais vêm colhendo e produzindo provas contra os implicados, resgatando e bloqueando ativos móveis e imóveis dos mesmos, e deve denunciá-los junto ao Poder Judiciário Federal.  Quanto mais autonomia e liberdade tiverem esses Poderes para fazer o seu trabalho, não há porque se voltar contra a Presidenta da República, que já conta com muita dificuldade para enfrentar os graves problemas econômicos e de infraestrutura do país. Uma segunda etapa desse processo deve alcançar os políticos e os partidos que se beneficiaram do propinoduto da PETROBRAS, entre os quais estão os falecidos Sérgio Guerra e Eduardo Campos, de Pernambuco. Depois da folia, o mundo pode se acabar....

                        Os que defendem, ou por má fé ou desinformação, um processo de "impeachment" contra a atual Presidente da República podem ser taxados de golpistas, ou seja, aqueles que não aceitam as regras do jogo democrático. Como dizia Adam Przeworski, amas a incerteza e serás um democrata. A democracia não é um jogo de carta marcada, com o resultado fixado previamente ao início da partida. É um regime de incerteza. E quem não se dispõe a jogar o jogo e aceitar seus resultados, é melhor ficar de fora. Não se pode é aceitar jogar o jogo e não gostando do resultado, alegar que houve fraude e por isso o vencedor é ilegítimo e não merece ganhar. Isto tem um nome: GOLPISMO e se opõe por inteiro ao consenso democrático das instituições políticas. Pelo visto, uns não passam de democratas de ocasião. Só são democratas quando lhe convém. Pseudo democratas ou democratas de fancaria.

                       Creio que a maioria insofismável da população brasileira que deu a vitória eleitoral a atual Presidenta da República não vá aceitar de braços cruzados esse golpe perpetrado pelos falsos democratas que andam por aí, espalhando boatos e intrigas nas redes sociais. Quem  semeia ventos, colhe tempestade!


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Michel Zaidan Filho: Política criminal ou criminosa


 
  
                                             Com a divulgação, pelos veículos de comunicação de massa, da morte de mais três detentos ou apenados no complexo prisional de Itamaracá, fica a pergunta que não quer calar: existe uma política criminal, digna desse nome, neste governo? - Aliás, a pergunta poderia se estender à política de saúde, transporte público, educação etc. Mas como a face mais visível do descalabro administrativo é a segurança pública e a política carcerária, somos obrigados a perguntar ao apadrinhado do ex-governador falecido: existe algo que possa se chamar de "política criminal" no Estado de Pernambuco?
                                             Em primeiro lugar, é possível se falar em política criminal? O que é uma política criminal? quais são os seus objetivos? A que ela se destina? -   Desde a Metafísica dos Costumes, Kant distingue a função retributiva da pena, das funções preventivas e reabilitadoras. Segundo o filósofo alemão, a função retributiva é a mais importante, pois a pena não deve ser instrumento para outro fim, e sim um fim em si mesma: restaurar o que foi danificado pelo castigo, o mal infligido à vitima. Neste ponto, Kant adota a posição taliônica: dente por dente, olho por olho. A função retributiva deve restaurar ou compensar o que foi subtraído ou atingido pelo criminoso. Baseado o pressuposto ético da liberdade, autonomia e dignidade humana, o filósofo admite a pena como um correlato à perda ou prejuízo da liberdade e da dignidade humana. Os criminalistas e juristas contemporâneos preferiram adotar as duas outras funções como mais importantes, tendendo a adotar a perspectiva utilitarista da pena e do castigo: causar menos dor e mais prazer ao maior número de pessoas possível.
                                            Em segundo lugar, há o problema do fundamento moral (ou ontológico) da pena e do castigo. Quem é o responsável ou o titular da ação criminosa? - 0 indivíduo, o Estado ou a sociedade? - Se for o indivíduo, a posição kantiana está certa. Se for possível transferir a responsabilidade penal para o Estado ou a sociedade, temos o que se chama de abolicionismo penal. Mas existe também uma posição mais frequente que é a do terrorismo penal, aquela que defende que os indivíduos já nascem maus e devem pagar pela sua natureza criminosa ou potencialmente criminosa. Os que defendem essa visão são também a favor da antecipação da maioridade penal e da pena de morte, ou do emprego de biotecnologias para consertar o caráter  originariamente criminoso das pessoas.
                                           A questão é que o modelo de sociedade adotada (seus valores, sua forma de reconhecimento social) pode ser, ele mesmo, criminógeno, ou seja, estimular e incentivar práticas criminosas. E o próprio aparelho de segurança  do Estado contribuir muito para a violência. A propósito, é possível compatibilizar  o princípio da dignidade humana com o universo carcerário, a cultura prisional ou o tratamento dispensado aos apenados pelo Estado? - Se não for possível, temos de admitir que é uma enorme hipocrisia discutir "politica criminal", talvez a palavra correta fosse "política criminosa", política de extermínio lento, silencioso e continuado dos presos, já que a função da pena seria apenas taliônica, nem prevenir nem reabilitar. Punir, punir e punir.
                                           Essas considerações, inspiradas numa leitura de uma tese de doutorado em filosofia do direito penal, vieram a tona a propósito do massacre ou genocídio que vem ocorrendo no sistema prisional de Pernambuco, com a omissão ou a concordância dos agentes públicos encarregados da custódio, do cumprimento da pena e a liberdade dos presos. As sucessivas rebeliões nos vários presídios do Estado, a superlotação carcerária, o atraso da aplicação da lei das execuções penais, a falta de pessoa,l tudo isso  leva a crer que os detentos de Pernambuco foram condenados a morte pelo Estado e só aguardam a  execução da sentença, pelas mãos dos próprios apenados ou pela tropa de choque, para qualquer fim-de-semana. Seria mais honesto, ficar com a constatação desalentadora do sociólogo-jurista Luciano de Oliveira, quando diz que os miseráveis já não têm lugar na sociedade e que podem ser eliminados sem pena e sem dó. É o que ele chama de neofascismo. A política criminal do Estado de Pernambuco é neofascista, apesar de existir - na aparência - uma secretária da (in)justiça e dos (não)direitos humanos(?). E das declarações rotineiras e sem o menor sentido do atual secretário da pasta.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Políticos e da Democracia - NEEPD/UFPE

Durval Muniz Jr.: Fernando Henrique Cardoso na Lava Jato?


 
Parece que a Guantânamo do Dr. Moro, que as batidas na mesa com raiva e com as mãos espalmadas com nove dedos (um escondido para fazer o depoente lembrar e dizer algo contra Lula, o homem de nove dedos nas mãos, sem que as gravações registre a interpelação tendenciosa do juiz) não estão surtindo o efeito esperado. Hoje mais um executivo das empreiteiras envolvidas na montagem de um cartel para realizar contratos com sobrepreço com a Petrobras, dividir entre si obras em troca de pagamento de propinas a alguns dirigentes da empresa, afirmou que o cartel foi montado na era FHC, que as propinas correm soltas desde lá, que a roubalheira começou graças a inoxidável lei elaborada por Gilmar Mendes, a época Advogado Geral da União (acreditem!), que dispensava a Petrobras de fazer licitações, quando a empresa foi dirigida pelo genro de FHC (isso não é nepotismo, nem é imoral, ele é um cara de pau ilibado, um santarrão de pau oco) e pelo memorável sr. Carlos Renó (e é a eficiente e honesta Graça Foster que não presta). E agora, o que os partidários do impeachment vão dizer, é possível fazer um impeachment regressivo e atingir o mais hipócrita dos ex-presidentes, que fez um governo onde a bandalheira campeou, encheu os bolsos de todo mundo, inclusive dos barões da mídia que hoje o protege e ataca com toda hipocrisia e farisaísmo as praticas que eles próprios estão nelas atolados há décadas (porque a Globo não explica sua empresa fantasma em paraíso fiscal e seus bilhões de reais sonegados em impostos ou que foram parar nos bolsos de Ricardo Teixeira e João Havelange?).

Durval Muniz Jr. é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.



Nota do Editor: Alguns caciques tucanos, caso de FHC e Aécio Neves, deixaram de ser mais enfáticos nessa tese de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O senador Aécio Neves chegou a afirmar que não haveria condições jurídicas ou políticas para um processo dessa natureza. Por outro lado, o senador tucano pelo Estado da Paraíba, ocupou a tribuna do Senado para fazer um discurso inflamado, pedindo o impeachment da presidente Dilma. Penso, como afirmou o jornalista Elio Gaspari, que os tucanos não sairão ilesos da Operação Lava Jato. Essa pode ser a razão do arrefecimento de ânimos. 

Renato Janine Ribeiro: Impeachment é golpe?


 


Não é. Tanto que está previsto na Constituição.
Mas impeachment não é brincadeira. No presidencialismo, os chefes do Poder Executivo têm mandato fixo. É o contrário do parlamentarismo, onde o primeiro-ministro pode ser destituído pelo Parlamento sem maiores dramas (e mesmo assim ficam lá anos a fio, às vezes muito impopulares, manipulando datas de eleição). No presidencialismo, não se pode destituir o presidente só porque seu governo se tornou impopular ou ele realiza uma má gestão. É preciso que tenha cometido um crime, um crime específico, que não é um crime contra pessoas privadas, mas contra a res publica, contra a própria essência do Estado que ele representa e chefia.
Há gente que sabe disso mas está manipulando as palavras. Um site, outro dia, dizia que por não ter aumentado o preço da gasolina um ou dois anos atrás Dilma poderia sofrer impeachment (porque teria gerado prejuízos na Petrobras, expondo a empresa a uma perda de valor). Olha, até pode ter sido uma pena isso, mas não é crime de responsabilidade. Como FHC haver terminado o governo com o orçamento sem poder ser executado, em crise séria, não era razão para impeachment.
Dilma pode sofrer impeachment? Qualquer presidente pode – se houver razões para tanto. Basicamente, se ela tiver cometido um crime contra a res publica. Se por exemplo for provado que ordenou que fossem cometidos crimes de corrupção. Agora, não adianta ficar brincando disso sem provas. Nem sequer sabemos quais políticos serão acusados na Lava a Jato. Então, brincar com isso nem sei se chega a ser golpe. É infantilidade.
E é importante lembrar. Não podemos quebrar a ordem constitucional. Custou muito caro ao Brasil chegar à democracia. Daqui a um mês, completaremos trinta anos de regime democrático. Quebrar isso só para tirar do poder quem você não gosta, e colocar lá um candidato que perdeu as eleições, significa ódio à democracia.
Em 1964, os civis que cometeram traição à Pátria, participando do golpe, pensavam que os militares fariam o trabalho sujo, tirariam de cena os civis que tinham votos, e depois dariam o poder de bandeja à UDN. Deu no que deu. As “vivandeiras”, como o ditador Castelo Branco apropriadamente chamou as lideranças udenistas, perderam a parada. É bom – como lembra Andréa Pachá – não acreditar que gasolina apaga fogo.

Renato Janine é Filósofo e professor de Ética e Filosofia Política da USP 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Os reformadores empresariais da educação tomam conta do MEC.

 
 

Ainda é relativamente cedo para dizer para onde caminham as políticas públicas de educação no país no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff que, a rigor, ainda nem começou, envolto numa agenda profundamente negativa nesse início de mandato. Mas, os colegas já demonstram algumas preocupações com alguns nomes que estão sendo indicados para ocuparem postos-chaves naquele órgão, como o do pesquisador Manuel Palácios, que deve assumir a Secretaria de Educação Básica do MEC, responsável, entre outras coisas, pela definição dos desenhos curriculares do ensino básico. Além do próprio Cid Gomes, o INEP já tem um nome identificado com os reformadores empresariais da educação. Palácios é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. 

Aqui em Pernambuco tínhamos um termômetro bastante seguro para entender a dinâmica e o caráter das políticas públicas que seriam implementadas no setor, nas gestões municipal e estadual. Quando um governante era eleito, alguns professores do Centro de Educação da UFPE eram convidados para assumirem postos de comando na concepção e implementação dessas políticas. Dependendo do departamento de sua origem, já se sabia qual era a tendência, se mais próxima do tecnicismo do mercado ou mais identificadas com as políticas de corte mais inclusivo, voltada para o atendimento de demandas sociais. Pelos nomes convidados até agora há quem assegure que o MEC passará por uma profunda mudança, com uma tendência maior a consolidar uma leitura, digamos assim, mais empresarial da educação. 

Para alguns, essa "polarização" não ajuda muito, porque esconde uma série de sutilezas do fenômeno educacional. O próprio currículo dos cursos de pedagogia deveriam ser repensados, mediante à conclusão, por exemplo, que a ênfase demasiada nos temas envolvendo a organização política e social da sociedade, impedem que sejam trabalhados algumas questões do cotidiano de sala de aula, tais como ensinar matemática, língua portuguesa, o que, no final, segundo esses observadores, acaba por contribuir para a queda na qualidade do ensino. Há, por outro lado, uma série de contra-argumentos, bastante consubstanciados, que se contrapõem a essa tese. Passaríamos horas discutindo essa questão. Não é este o caso. Gostaríamos de informar, no entanto, que o MEC parece desejar imprimir uma nova diretriz às suas políticas, dando uma guinada mais conservadora, privilegiando os reformadores empresariais da educação.  

Logo após a posse de Cid Gomes - que não deverá ser um bom ministro da área - foi anunciado o corte de 600 milhões de verbas do órgão. Num país com profundas desigualdades de oportunidades educacionais, educação sempre foi tratada como uma área estratégica para o PT. Embora algumas linhas de ações do ministério possam ser festejadas, estamos longe de atingir o eldorado. Educação, neste país, deve ser tratada como uma política estratégica de Estado. Ou será que os gestores do MEC imaginam que já incluíram o bastante? Mais de 60% do alunos do ensino médio das escolas públicas não fecha o ciclo na idade adequada. Nas escolas privadas, esse índice não chega nem a 20%. 

Como afirmamos ontem, não sabemos mais o que é estratégico para o Partido dos Trabalhadores. Acossado pelo correlação de forças em Brasília, estratégico passou a ser salvar a própria pele e manter-se no poder.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: O significado da saída de Marcelo Neri da Secretaria de Assuntos Estratégicos.





Ainda intriga a saída do economista Marcelo Neri da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. No dia 05 de fevereiro foi anunciada a sua saída do órgão, tendo sido indicado para substitui-lo naquela secretaria, com status de ministério, o primeiro ministro do órgão, Roberto Mangabeira Unger. Poderíamos aqui escrever uma longa matéria sobre o assunto, sobretudo pelo fato de ter discutido com nossos alunos algumas teses de Marcelo Neri, um profundo conhecedor das questões relativas às desigualdades sociais no país. Talvez a nossa surpresa se dê exatamente por isso, ou seja, Marcelo Neri, em razão dos seus conhecimentos técnicos e comprometimento político, era um ator importante nas ações estratégicas do Partido dos trabalhadores. 

Antes de assumir a SAE, Marcelo já havia dirigido o IPEA, em substituição ao economista Márcio Pochmann, que deixou o órgão para candidatar-se à Prefeitura de Campinas. Logo depois, teria se submetido a um concurso do órgão, onde passou em primeiro lugar entre 340 concorrentes. Tem uma cadeira cativa de professor na Fundação Getúlio Vargas, onde ministra aulas para alunos de graduação, mestrado e doutorado, além de acompanhá-los nas orientações. Quando foram anunciados os nomes que ocupariam a Esplanada dos Ministérios no segundo governo Dilma, ele foi confirmado no órgão. Eis que, de repente, deixa a secretaria. Acossado por uma série de circunstâncias políticas desfavoráveis é difícil dizer, hoje, o que seria estratégico para o Partido dos Trabalhadores. 

Educação era uma área estratégica, mas foi entregue ao senhor Cid Gomes, atendendo, sobretudo, a um critério meramente de acomodação política. Logo em seguida, foi anunciado o corte de 600 milhões daquela órgão. A tesoura neoliberal não parou por aí e já se anuncia possíveis comprometimentos de algumas políticas sociais, assim como investidas contra os direitos dos trabalhadores. É neste contexto que, talvez, se possa entender a indisposição do Planalto com o economista Marcelo Neri, possivelmente a maior autoridade acadêmica brasileira sobre a nova classe média, até então um segmento social considerado estratégico para o PT. Como afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro, Roberto Mangabeira Unger é um intelectual de prestígio internacional, mas sua passagem por aquela órgão careceu de criatividade.

Antes de qualquer outra coisa, a saída de Neri da SAE priva o serviço público de um excelente quadro técnico com profunda sensibilidade social, imprescindível para, até então, um Governo que se propôs a diminuir as profundas desigualdades sociais da sociedade brasileira. Cada vez fica mais difícil de entender essa guinada do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, trocando figurinhas com seus algozes, gente que não tem nenhum compromisso com essas mudanças e abandando fiéis escudeiros como Marcelo Neri.Gostaria muito de saber a quem ela vai recorrer quando esses urubus voando de costa vierem para cima da carniça, como se prenuncia. 


Charge!Aroeira via O Dia

Marcelo Manzano: Os estragos no corpo e alma do PT

publicado em 9 de fevereiro de 2015 às 11:42
Posse da Dilma
09/02/2015 08:01
O PT e o mar
por Marcelo Manzano*, no Brasil Debate
Assim como os ataques dos tubarões estraçalharam o peixe de Santiago, o pescador protagonista do livro “O velho e o mar”, de E. Hemingway, o exercício do poder produziu estragos irreparáveis sobre o corpo e a alma do PT. Mas será que ele caminha para o seu fim?
Desde que Lula assumiu o mais alto cargo político do Brasil em 2003, são incontáveis as manifestações anunciando o fim do Partido dos Trabalhadores. O primeiro ato dessa procissão talvez tenha sido protagonizado pela turma que migrou para o PSOL.
O saudoso Plínio de Arruda Sampaio, em “entrevista explosiva” à revista Caros Amigos de maio de 2005, já tratava de jogar luz sobre a “crise terminal” do PT. De lá para cá, a despeito de o PT ter realizado uma transformação social sem precedentes no País e ter conseguido vencer mais três eleições seguidas para a Presidência, a obsessão com o fim do PT só faz crescer.
E tem pra todo gosto. Da extrema esquerda ao Instituto Millenium, de petistas históricos a jejunos, de sindicalistas a ilustres acadêmicos, fervilham palpites e maus agouros a respeito do tempo de vida do partido.
Entre os argumentos, o mais frequente, espécie de denominador comum entre todos os críticos – inclusive dentro do partido – é o de que “o PT já não é mais aquele”. Já não teria o vigor nem a ousadia que tão bem empunhou na campanha das Diretas, no inesquecível processo eleitoral de 1989, na defesa intransigente de utopias de um difuso socialismo democrático.
Será? De fato, o desgaste que o PT vem sofrendo lhe tira o lustro e traz dúvidas quanto à sua capacidade de continuar avançando como partido. Talvez tenha cometido erros que transformem a sigla em um fardo excessivamente pesado para se carregar nos próximos pleitos eleitorais. O tempo dirá.
Entretanto, é preciso tomar cuidado e separar a análise da viabilidade política da sigla nas próximas eleições da análise do significado da experiência do PT como vetor de um projeto de esquerda para o País.
Tal qual o velho pescador Santiago, protagonista do livro “O velho e o mar” de E. Hemingway, o PT se aventurou pelo mar bravo do sistema eleitoral brasileiro e, em busca de realizar seu sonho de longa data – a construção de um país mais justo, soberano e igualitário – fisgou o seu Marlin-azul: a Presidência do País.
Peixe grande, canoa pequena, a viagem desde então se transformou em intensa luta pela sobrevivência e trouxe à tona as ameaças inescapáveis que recaem sobre aqueles que ambicionam avançar para além da linha do horizonte. Assim como os ataques dos tubarões estraçalharam o peixe do valente Santiago, o exercício do poder produziu estragos irreparáveis sobre o corpo e a alma do PT.
Mas, quando finalmente é avistado da costa, o peixe está lá, estampado na canoa do velho: na forma de um esqueleto enorme, a lição de que parte do sonho era inalcançável, mas também que o cerne de osso, esticado de uma extremidade à outra, é a peça de resistência que dá sentido à luta.
O PT errou, muito – como, aliás, erraram todos os outros partidos de esquerda ao redor desse mundão capitalista em que estamos metidos. Mas errou não porque abriu mão dos sonhos de outrora. Errou principalmente por ter acreditado ser possível, a um só tempo, jogar o jogo sujo do sistema eleitoral brasileiro, enfrentar os interesses rentistas que há tantas décadas nos governam e garantir os avanços das instituições republicanas que emergiram com a Constituição de 1988. A equação não fecha.
Contudo, a despeito de ter sido seriamente avariado no percurso, há motivos para dizer que o PT de hoje, talvez apenas uma carcaça do vigoroso partido dos anos oitenta, é melhor do que aquele.
O PT sabe hoje que não se constrói um país com arroubos voluntaristas, com uma cesta de boas causas, com um catado de princípios valorosos. O PT – e parte importante da esquerda brasileira – aprendeu na marra que não se consegue avançar em um país capitalista da periferia se não houver um Estado que seja o protagonista do desenvolvimento econômico, isto é, que lidere a acumulação capitalista e, ao mesmo tempo, imponha limites aos interesses privatistas.
Aliás, vale recordar, o PT dos oitenta, das “Diretas Já”, da encantadora melodia do “Lula-lá”, dava de ombros para o tema do “desenvolvimento” – olhava torto, por exemplo, para debates sobre os rumos da nossa indústria, desconfiava dos empréstimos subsidiados do BNDES ao capital e acendia velas para a austeridade fiscal.
Com a estrela na testa, restringia-se à defesa valorosa dos direitos dos trabalhadores, dos sem terra, das minorias e dos desvalidos. Aquele PT foi, sim, fundamental no processo constituinte e na sua longa jornada regulatória: mas às bandeiras meritórias de então foi acrescido o cerne, o eixo estruturante que até 2003 passava ao largo do ideário petista.
Hoje, graças ao choque de realidade de ser governo, tanto o PT quanto a esquerda brasileira estão em outro patamar. Graças às contradições enfrentadas pelos governos de Lula e Dilma, sabe-se, por exemplo, como a defesa dos empregos e dos salários, exige uma musculatura do Estado e de outras instituições públicas que vai muito além da intransigente defesa dos direitos da pessoa humana ou da inocente prática do orçamento participativo.
Dizem os críticos – externos e internos – que o PT, na medida em que galgou a hierarquia política do País, permitiu-se enrijecer; que seus quadros se encantaram com os vícios do poder e da grana; enfim, que o projeto de transformação social do País foi reduzido a um projeto de poder.
Sim, em parte isso de fato aconteceu – o que não é novidade alguma em se tratando de seres humanos, sejam eles franceses, japoneses ou menonitas. Mas é verdade também que muito se fez para avançar no sentido do pleno emprego e da melhora sistemática da renda dos assalariados e dos mais pobres. Isso foi conquistado – e não é pouco: basta olhar ao redor do planeta.
Em última instância, portanto, esse é o esqueleto que mantivemos preso ao barco, e é ele que nos permite perceber, por um lado, o quão pouco sabíamos antes de nos lançarmos ao mar e, por outro, o quanto tivemos que enfrentar para conquistar avanços civilizatórios fundamentais para o povo deste País.

*É economista, Pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho e Professor de Economia da Faculdades de Campinas – Facamp

(Publicado originalmente no site Viomundo)

domingo, 8 de fevereiro de 2015

BBB: Decadência da Cultura Brasileira, por Luis Fernando Veríssimo







DECADÊNCIA DA CULTURA BRASILEIRA
VALE MUITO A PENA LER...
Por Luis Fernando Veríssimo 


Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo.
Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros… todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE.
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, Ongs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a “entender o comportamento humano”. Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores).
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa…, ir ao cinema…. , estudar… , ouvir boa música…, cuidar das flores e jardins… , telefonar para um amigo… ,•visitar os avós… , pescar…, brincar com as crianças… , namorar… ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

Segundo testemunha, vítimas da chacina do cabula, na Bahia, estavam desarmadas

Segundo testemunha, vítimas da chacina do Cabula, na Bahia, estavam desarmadas

fevereiro 8, 2015 15:11
Segundo testemunha, vítimas da chacina do Cabula, na Bahia, estavam desarmadas


“Foram muitos, muitos tiros de uma só vez nos rapazes”, diz morador do local onde jovens foram baleados por policiais militares; governador da Bahia afirmou que, por ora, nenhuma medida será tomada, pois não há “indícios que teve atuação fora da lei”
Por Redação
Um morador do bairro Cabula, em Salvador (BA), onde doze jovens foram mortos por policiais militares na madrugada da última sexta-feira (6), afirmou que as vítimas estavam desarmadas e rendidas no momento da execução. O homem, que não quis se identificar, falou ao jornal Correio, da capital baiana.
“Foram muitos, muitos tiros de uma só vez nos rapazes que estavam desarmados”, afirmou. De acordo com ele, os disparos foram feitos em um campo de barro, rodeado por uma mata fechada. Um grupo de rapazes teria descido da viatura já sob a mira das armas dos PMs, e foi colocado de frente para o matagal e de costas para os policiais. “Todos estavam com as mãos para cima, outros com a mão na cabeça. Foi quando um PM obrigou um dos rapazes a sair com eles. Antes, o garoto foi quebrado na porrada”, completou o homem.
“De repente, ouvi rajadas. Me abaixei. Quando ouvi que não tinha mais nada, todos os rapazes estavam no chão”, contou a testemunha. Outros residentes da área confirmam as informações. “Os meninos estavam todos reunidos no campo, quando foram cercados pelas viaturas. Espancaram todos”, relatou uma mulher. “A polícia não tem o direito de fazer o que fez. A polícia é paga para proteger e não matar aleatoriamente”, declarou outra.
Entenda o caso
Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, a ação ocorreu por volta das 4h de sexta-feira, na Estrada das Barreiras. Policiais da Rondesp (Rondas Especiais) teriam recebido a denúncia, vinda do Serviço de Inteligência da polícia, de que um grupo planejava assaltar uma agência bancária na região. Nove agentes, divididos em três viaturas, foram incumbidos de atender à ocorrência. Quando chegaram ao local, teriam encontrado seis homens e uma Saveiro branca próximos à unidade da Caixa Econômica Federal.
A versão da PM é a de que o grupo, ao perceber a chegada das viaturas, disparou em direção a elas. Em resposta, os policiais teriam iniciado o tiroteio. Os homens fugiram e adentraram um matagal, onde se encontravam outros integrantes da quadrilha, em um total de trinta pessoas.
A ação deixou, ao todo, 16 pessoas baleadas. Entre elas, dez chegaram sem vida ao hospital, uma morreu ainda no local do crime e a última faleceu ao entrar no centro cirúrgico. Até o momento, a polícia identificou apenas sete mortos: Adriano Souza Guimarães, de 21 anos; Caíque Basto dos Santos, de 16; Everson Pereira dos Santos, de 26; Bruno Pires do Nascimento, de 19; Ricardo Vilas Boas Sila, de 27; Natanael de Jesus Costa, de 17; e João Luiz Pereira Rodrigues, de 21. Famílias ouvidas pelo jornal Correio no hospital confirmaram também a morte de Vitor Amorim de Araújo e Tiago Gomes das Virgens, ambos de 19 anos. Dos quatro sobreviventes, três permanecem internados e um já recebeu alta e foi detido. Entre os PMs, um sargento foi atingido de raspão na cabeça, mas passa bem.
No Cabula, o clima é de medo. Familiares das vítimas afirmam já sofrer ameaças por parte dos policiais. Há rumores de que alguns deles, à paisana, estiveram presentes no enterro dos rapazes, realizado no último sábado (7).
Resposta do governador: nada será feito por enquanto
Na manhã da sexta-feira, o governador recém-empossado da Bahia, Rui Costa (PT), disse que, a princípio, nenhum dos policiais envolvidos na ação será afastado, já que não há “indícios que teve atuação fora da lei nesse caso”.
Costa comparou a atuação da PM à de um jogador de futebol. “É como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, para fazer o gol. Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado”, declarou. “Nós defendemos, assim como um bom artilheiro, acertar mais do que errar. E vocês terão sempre um governador disposto a não medir esforços, a defender desde o praça ao oficial, a todos que agirem com a energia necessária, mas dentro da lei.”
Em entrevista ao portal da Ponte Jornalismo, Átila Roque, diretor da Anistia Internacional do Brasil, rebateu o governador. “Quando uma operação policial que termina com doze mortos é vista como normal, isso demonstra a falência do sistema de segurança pública”, argumentou. A ONG pediu ao governo da Bahia uma “investigação minuciosa, independente e célere” do caso.
Ainda de acordo com a reportagem da Ponte, o “Reaja ou será mort@”, articulação de movimentos e comunidades de negros e negras da Bahia, também encaminhou à SSP do estado um pedido de reunião com a participação da Anistia Internacional e de Justiça Global até a próxima terça-feira (10).
(Foto de capa: Reprodução/Youtube)
(Publicado originalmente na Revista Fórum)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: 35 anos depois, o PT enfrenta sua pior crise.


Nesses 35 anos do Partido dos Trabalhadores, completados apenas no próximo dia 10 de fevereiro, bem que gostaríamos de estar fazendo aqui outros comentários. A conjuntura política, no entanto, nos coloca na contingência de refletir sobre o impasse em que o partido se envolveu depois de 12 anos no exercício do poder, um período considerado demasiadamente extenso para os setores conservadores da sociedade brasileira. Os avanços sociais obtidas com políticas públicas redistributivas de renda e de corte inclusivos são inegáveis. Nem um outro partido fez tanto pelos estratos mais fragilizados da sociedade brasileira, devolvendo a milhões o direito do exercício da cidadania. Um legado que, certamente, pode estar na raiz do incômodo e da intolerância de nossas elites com o PT, como observava o economista Marcio Pochmann, um pouco antes das eleições presidenciais de 2014. Não se constitui nenhum segredo para ninguém quais os reais objetivos políticos da Operação Lava Jato. Foi urdida nos mínimos detalhes para criar embaraços políticos e jurídicos para atingir o PT e, de quebra, envolver Dilma no enredo, quiçá criando as condições necessárias para que ela não cumpra a totalidade do seu mandato. Infelizmente, os atores que estão por trás desse engendramento estão bastante articulados, ocupando espaços estratégicos, as condições estão "amadurecidas" e o PT demorou a reagir. Quando se estuda um golpe, sempre é importante deter-se nas suas "condições". O aparato político e jurídico parecem estar devidamente armados. Não se sabe como as ruas reagiriam a um pedido de impeachment de Dilma, mas a "opinião pública" vem sendo bombardeada sistematicamente pela "agenda negativa' desse início de Governo, além do clamor popular contra a corrupção -apenas petista - orquestrado pelas organizações do plim plim. Aliás, para ser mais preciso, o segundo mandato de Dilma ainda não ainda começou. Os urubus voando de costa não permitiram. Hoje, depois dos fartos depoimentos obtidos com a delação premiada, parece não restar mais nenhuma dúvida sobre o envolvimento de pessoas ligadas ao partido nos esquemas de corrupção da estatal. Se, por um lado, é verdade que eles estão blindando os tucanos e outras tribos - bem mais enrascados do que o PT - por outro lado, as explicações de João Vaccaria para encontros reservados em hotéis com operadores do esquema atentam contra o bom-senso. Evidente que não se tratavam de encontros sociais, como ele chegou a sugerir. Nessas três décadas de existência, o partido talvez enfrente e o pior momento de sua história. Acuado pela direita, arestado com os movimentos sociais. Como sempre, Lula voltou à boca do palco para indicar os rumos do partido daqui para frente. Vamos torcer que em tempo hábil.

Eduardo Loureiro: Dúvidas profundas sobre o futuro do petismo


publicado em 6 de fevereiro de 2015 às 14:18
dilma1
3 X 5 = 15?
5 de fevereiro de 2015
Por Eduardo Loureiro, no Página 13, via e-mail
Em 2003, Lula assumia a Presidência da República. Juntamente com as expectativas para um governo melhor, vinham os primeiros baldes de água gelada: anúncio da contra-reforma da Previdência, aumento dos juros e do superávit primário – e consequente redução dos níveis de renda e emprego.
Em 2005, houve eleição para Presidente da Câmara. Disputaram Luis Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães, pelo PT; Severino Cavalcanti e Jair Bolsonaro, pelo PP; e Luís Carlos Aleluia, pelo então PFL (atual DEM). A divisão entre as candidaturas petistas foi fatal. O desrespeito de Virgílio Guimarães pela escolha da bancada petista fez com que uma oportunidade para derrotar o governo petista fosse aberta. Severino Cavalcanti, numa aliança entre a oposição e o fisiologismo, foi ao segundo turno contra Greenhalgh e se elegeu presidente da Câmara.
Mais tarde, em junho daquele mesmo ano (a eleição à Câmara ocorrera em fevereiro), Roberto Jefferson denuncia um esquema de caixa 2 de campanha, que ele mesmo batizou de “mensalão”. O resto, é história.
Voltemos aos tempos atuais: em 2015, temos um ministro da Fazenda fiel aos mandamentos macroeconômicos ortodoxos e ao famoso “tripé da estabilidade”: câmbio flutuante, juros altos e superávit primário. Como resultado, aumento de 1,2% do superávit primário – não houve cortes orçamentários no ano passado para pagamentos de juros – e elevação da taxa SELIC em 0,5%.
No último domingo, 1º de fevereiro, o candidato à Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecido por seu fisiologismo e vínculo com o empresariado, foi eleito em primeiro turno, contra Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG). Uma cisão na frágil base – calcada somente no institucionalismo – do governo Dilma II.
Um famoso filósofo prussiano escreveu, certa vez, que a história acontece a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Não sei bem se podemos falar em repetição, uma vez que os problemas citados, em maior e menor grau, são recorrentes nos governos petistas, nos mais diversos níveis, desde 1995. Mas não se pode negar as sinistras semelhanças de 2003 e 2005 com 2015, bem como a imprevisível e explosiva mistura entre desorientação política e economia em compasso recessivo.
Além do mais, é importante ressaltar que a bancada petista de 2015 é menor e menos coesa politicamente que a de 2003 – embora a Reforma da Previdência tenha trazido importantes dissensos entre 2003 e 2005, incluindo diversas desfiliações. Além disso, Eduardo Cunha é mais articulado e possui maior sustentação empresarial que Severino Cavalcanti, e conquista a Presidência da Câmara de maneira mais folgada, na bancada mais reacionária desde 1964.
Também diferente de 2005, o país não apresenta crescimento econômico, tampouco melhora nas condições de emprego e renda da população (mesmo que ainda tímidas se comparadas ao período que se iniciaria em 2007). Além disso, já no começo de 2015, vive bombardeio semelhante da imprensa ao que se viu no processo pós- junho/2005.
Ou altera-se o rumo desta prosa, ou, dificilmente, teremos um desfecho diferente.
Cabe lembrar: em 2005, a militância foi fundamental para evitar que o processo de desgaste levasse Lula ao impeachment ou o PT e partidos aliados à derrota em 2006. A mesma militância que, de forma quase espontânea, elegeu Dilma em 2014, na eleição mais apertada do Brasil depois do fim do regime militar.
Boa parte desta militância já se manifestou profundamente decepcionada com os primeiros atos do governo Dilma, como a nomeação de seu ministério, as retiradas de direitos dos trabalhadores e as medidas econômicas contracionistas, interessantes somente ao mercado financeiro.
Estaria esta mesma militância disposta a receber mais um golpe, em troca de um futuro que se apresenta cada vez mais tenebroso? Ou a decepção – que leva a defecções à esquerda – e o oportunismo – à direita – serão a tônica do petismo daqui por diante?
Eduardo Loureiro é militante do PT e dirigente nacional da Articulação de Esquerda

35 anos do PT: Um bom debate sobre o seu futuro

TARSO GENRO
O "golpismo" midiático substitui, num outro contexto, o velho golpe militar: os militares não estão mais para aventuras contra a democracia. Ele cria instabilidade e quer convencer a classe média, principalmente, que as coisas não se solucionam pelos métodos democráticos. Depois, se conseguirem, ferram imediatamente os próprios setores médios, além dos trabalhadores, para promoverem a "austeridade".
Nenhum golpe melhorou a vida dos setores médios ou dos trabalhadores. Não tem saída que não seja solucionar as crises dentro da democracia. A desmoralização da política e dos partidos ajuda a corrupção: faz decair o debate político e permite que a mídia instrumentalize os controles.
A ação direta de partido contra partido, nos atos partidários, é prenúncio de fascismo. Isso gera violência entre diferentes partidos. Devemos, dirigentes partidários, recomendar contra isso, pois pode fazer desandar a democracia e gerar violência. É isso que o golpismo quer!
Incriminação de grupo político, sem definir responsabilidades e provas de autoria, é nazi-fascismo puro. Lembrem-se de Gushiken, Orlando Silva... É o que a mídia está fazendo de novo. PT deve acessar os processos e verificar provas reais, se existem, contra Vaccari e aí tomar medidas.

LUIZ EDUARDO SOARES.
Nesta sexta-feira, dia 6 de fevereiro, a conjuntura política alcançou o ápice da crise, porque o PT, institucionalmente, definiu como golpe a identificação de vínculo entre o partido e a corrupção na Petrobrás. Assumir esta postura significa situar-se no pólo oposto à investigação dirigida pelo judiciário. A aposta foi radical. Se for confirmado o vínculo, o partido cai inteiro no descrédito e na irreversível desmoralização, atraindo para si a culpa dos operadores e se inviabilizando, politicamente. Por que se ousaria um lance assim arriscado e extremo? Só há uma resposta plausível: as lideranças já conhecem os próximos capítulos do roteiro, já sabem que as relações promíscuas com os atos criminosos exibirão enraizamentos profundos, que comprometerão o conjunto do partido. Por isso, terão percebido que não resta alternativa ao tudo ou nada que adotaram. Só restou ao partido tentar politizar os fatos criminais para vacinar a opinião pública quanto ao que virá. Mas o país não é o mesmo depois do julgamento do mensalão. A velha retórica não funciona. O que pode salvar Dilma --um ministério assombrosamente medíocre e fisiológico, que envergonha o país-- não salvará o PT. E agora, Dilma? Não dá mais pra falar em herança maldita. Estão aí a recessão, a inflação, o desemprego, os cortes nos direitos dos trabalhadores, a crise de energia, e o espetáculo da hipocrisia, da pusilanimidade, da mediocridade. E o (des)governo está só começando. O PT precisa urgentemente de um bode expiatório, um inimigo pra agregar a galera e dar ânimo nesse ambiente decadente e ruinoso. Vai ser difícil colar em Sérgio Moro este papel. Quando se olha pra trás e rememora a campanha repulsiva de Dilma, o estômago embrulha comparando aquela vilania, tantas calúnias e mentiras, com a realidade do que ela faz. Que os deuses da história nos protejam. E São Pedro não nos desampare.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

MEC: A cereja do bolo

Para coroar a indicação de Cid Gomes para o Ministério da Educação somente a agora divulgada nomeação de Manuel Palácios para a Secretaria de Educação Básica do MEC. A nomeação deve ser publicada nos próximos dias no “Diário Oficial” da União. O docente substituirá Maria Beatriz Luce, atual titular da secretaria. A área é responsável pela construção da Base Nacional Comum curricular para a educação básica.
Os reformadores empresariais da educação ocupam, com esta indicação,  mais uma posição no MEC. Além do próprio Cid Gomes, o INEP já era ocupado por um simpatizante desta vertente. Juntos, certamente, levarão adiante a política dos reformadores.
Palácios é graduado em Engenharia de Telecomunicações pelo IME (Instituto Militar de Engenharia), e possui mestrado e doutorado em Ciências Sociais pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio). Sua trajetória acadêmica, no entanto, é focada na área de educação. Seu currículo inclui, por exemplo, pesquisas sobre criação de indicadores de qualidade da educação básica e gestão escolar.
Em 2013, foi orientador de mestrado profissional da atual vice-governadora do Ceará, Izolda Cela (Pros), ex-secretária de Educação do Estado na gestão de Cid Gomes e que também foi Secretária de Educação em Sobral (CE) quando Cid Gomes foi Prefeito.
Manuel é um dos coordenadores gerais do CAED na Universidade Federal de Juiz de Fora, responsável por prestação de serviço na área de avaliação educacional em vários estados e municípios. Tem portanto transito livre na indústria educacional.
Luiz Carlos de Freitas

Impresso em crise: A cabeça da serpente.

IMPRESSOS EM CRISE

A cabeça da serpente

Por Jota Alcides em 03/02/2015 na edição 836
 
A crise dos jornais no mundo inteiro é a pior em mais de 400 anos de história. Grandes e tradicionais jornais, nos países desenvolvidos e nos emergentes, ou estão fechando ou estão sendo vendidos. Causa principal: explosão da internet, já alcançando 3 bilhões (2014) de pessoas no mundo.
Desde a expansão da internet nos anos 1990, a receita dos jornais nos EUA só tem caído. Em 2012 foi a mais baixa dos últimos 50 anos, segundo recente revelação da mídia, 15% mais baixa do que a receita de 1956.
Nem o Japão, sempre apontado como imune à crise dos jornais, escapa. Suas tiragens permanecem enormes – o Yomiuri Shimbun, maior diário japonês, vende 10 milhões de exemplares diários matinais e 3,6 milhões vespertinos (mais do que todos os jornais brasileiros juntos). A circulação no Japão caiu somente 6,3% na última década, ainda pequena se comparada com os 10,6% nos Estados Unidos. Entretanto, os jornais japoneses começam a sentir os efeitos mais fortes da internet na queda de publicidade: faturaram, em 2009, 565,5 bilhões de ienes (US$ 6,2 bilhões), contra 858,4 bilhões de ienes em 1998, segundo a revista britânica The Economist.
Nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na América do Sul o diagnóstico é o mesmo: a internet está derrubando a circulação e a publicidade dos jornais. Com essas duas fontes de receita em queda, agrava-se a crise.
Jovens mais distantes
No Brasil, já se foram, extintos, grandes e tradicionais títulos do mercado impresso:Jornal do BrasilTribuna da ImprensaDiário Popular e Jornal da Tarde. O Globo demitiu mais de 100 profissionais nãos últimos meses, o Estadão está demitindo, o Estado de Minas está demitindo e o Diário de Pernambuco, mais antigo jornal em circulação na América Latina, um patrimônio histórico dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, acaba de ser vendido.
É uma crise tão grave que os donos de jornais no Brasil e no mundo estão atordoados, não sabem o que fazer. Quando a internet explodiu, muitos jornais aproveitaram para fazer marketing de avanço tecnológico. Alguns, como o Jornal do Brasil, chegaram a anunciar orgulhosamente suas edições na internet. Mal sabiam que estavam alimentando uma gigantesca, poderosa e insaciável serpente.
Como agora sabem disso, os jornais da Alemanha fazem alguns ensaios diferentes. Há 30 anos, o diário Abendzeitung, de Munique, tinha 300 mil leitores. Hoje, sua circulação é de apenas 107 mil exemplares. Em Berlim, Hamburgo e Munique os jornais perderam cerca de 30% de seus leitores durante a última década. Na Alemanha e em todo o mundo, além da internet, dos altos custos de produção e da queda de publicidade, os jornais ainda enfrentam outro problema: os jovens estão cada vez mais distantes dos jornais e mais próximos da internet, e os mais velhos, tradicionais assinantes de jornais, estão morrendo sem substitutos. O que fazer?
Conteúdo da internet
Alguns jornais da Alemanha, como o Süddeutsche, estão agora fazendo o contrário do que fizeram muitos jornais no mundo: separando suas edições impressa e online. A equipe impressa produz o jornal diário, que fecha às 17 horas e precisa ser capaz de atrair os leitores até o dia seguinte; e a equipe online produz o jornal em tempo real. É o primeiro ensaio para evitar que a edição online canibalize a edição impressa.
Durante os primeiros anos de explosão da internet, os donos de jornais acreditaram que deveriam colocar seu conteúdo gratuitamente nos próprios sites porque isso acabaria atraindo mais leitores e compradores de seus produtos impressos. Sabem hoje que isso resultou numa grande falácia.
Mas sabem também, hoje, que os jornais são os principais alimentadores de conteúdo da internet. Então, pergunta-se: o que acontecerá se todos os jornais do mundo saírem da internet? Não apenas um, ou dois, ou três, mas todos, no mundo todo, unidos pelo instituto de sobrevivência e articulados pela Associação Mundial de Jornais.
É uma solução radical e ousada, mas é a única salvação dos jornais para manter viva a história iniciada por Relation, o primeiro jornal impresso da história mundial, exatamente em 1605 na franco-germânica Estrasburgo, conhecida como uma das capitais da Europa. Tirar o conteúdo de todos os jornais da internet é degolar a cabeça da serpente.
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Jota Alcides é jornalista e escritor

(Publicado originalmente no Observatório da Imprensa)