pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A depressão na pós-graduação é um tabu, diz pesquisador da UFRN

Marcelle Souza
Do UOL, em São Paulo
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  • Wallacy Medeiros
    Sérgio Arthuro é médico e neurocientista
    Sérgio Arthuro é médico e neurocientista
O pesquisador Sérgio Arthuro leu um artigo na revista Nature e decidiu escrever um texto sobre depressão na pós-graduação. Em pouco tempo, a publicação ganhou repercussão nas redes sociais – até o último dia 10 já tinha quase 40 mil compartilhamentos no Facebook. E foi aí que ele percebeu a dimensão do problema. "Esse tema é um tabu!", disse em entrevista ao UOL.
Arthuro é médico, neurocientista e faz pós-doutorado no Instituto do Cérebro e no Laboratório do Sono do Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
"Apenas escrevi um texto baseado em um artigo, mas acredito que teve uma enorme repercussão porque muita gente passou por esse problema e, apesar disso, ninguém fala sobre o tema. Infelizmente aqui no Brasil não se estuda, pesquisa ou discute isso", disse. Arturo diz que não é especialista no tema e resolveu escrever, sem pretensão científica, inspirado nos anos de experiência no meio acadêmico.
De acordo com a pesquisa "Under a cloud: Depression is rife among graduate students and postdocs. Universities are working to get them the help they need", publicada na Revista Nature em 2012, os principais sinais de depressão são: inabilidade de assistir às aulas ou de fazer pesquisa, dificuldade de concentração, diminuição da motivação, aumento da irritabilidade, mudança no apetite, dificuldades de interação social e problemas no sono.
A pesquisa ainda aponta que não há números precisos sobre a quantidade de estudantes de pós-graduação com depressão, especialmente porque a maior parte não procura ajuda. Estudos indicam que as taxas de depressão dobraram entre estudantes da graduação nos Estados Unidos nos últimos 15 anos e a incidência de comportamento suicidas triplicou no período. Na Inglaterra, estudantes criaram a página Students Against Depression (Estudantes contra a Depressão), que reúne histórias de quem já passou pelo problema e dicas de como procurar tratamento.
"Acredito que os estudantes são atingidos, porque eles são o elo mais frágil da corrente. Se um orientador quiser parar de orientar um estudante, não vai acontecer nada com ele, que vai continuar ganhando o mesmo salário e tendo o emprego garantido. Já para o estudante, perder um mestrado ou um doutorado pode ser uma perda para o resto da vida profissional", diz.
O pesquisador afirma que o orientador tem um papel fundamental para ajudar ou piorar a situação dos pós-graduandos com problemas. "Acho que o orientador deveria deixar muito claro, no começo do trabalho (mestrado e doutorado), o que ele quer do estudante e o que ele pode dar para o estudante, e os dois têm que entrar em um acordo. O problema é que a relação é muito assimétrica".
Segundo Arthuro, são as três principais causas para a ocorrência de depressão na pós-graduação:
  1. O próprio nome "defesa" no caso do doutorado: "Tem coisa mais agressiva que isso? Defesa pressupõe ataque, é isso mesmo que queremos? Algumas pessoas vão dizer que os ataques são às ideias e não às pessoas. Acho que isso acontece apenas no mundo ideal, porque na prática o limite entre as ideias e as pessoas que tiveram as ideias é muito tênue. Mas pior é nos países de língua espanhola, pois lá a banca é chamada de 'tribunal'".
  2. Avaliações pouco frequentes: "Em vários casos, principalmente no começo do projeto, as avaliações são pouco frequentes, o que faz com que o desespero fique todo para o final. No meu caso, os últimos meses antes da 'defesa' foram os piores da minha vida, pois tive bastante insônia, vontade de desistir de tudo etc. Pior também foi ouvir das pessoas que poderiam me ajudar que aquilo era 'normal' e que 'fazia parte do processo'… Isso não aconteceu apenas comigo, mas com vários colegas de pós-graduação. Acho que para fazer ciência bem feita, como todo trabalho, tem que ser prazeroso, e acredito que avaliações mais frequentes podem evitar o estresse ao final do trabalho."
  3. Prazos pouco flexíveis: "Cada vez mais me é claro que a ciência não é linear, e previsões geralmente são equivocadas. Dessa forma, acredito que não deveria haver nem mestrado nem doutorado com prazo fixo. O pós-graduando deveria ter bolsa por 5 anos para desenvolver sua pesquisa, e a cada ano elaboraria um relatório sobre suas atividades e resultados. Uma comissão deveria julgar esse relatório para ver se o estudante merece continuar".
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Humor: Estudantes fazem piada sobre vida acadêmica e pós-graduação20 fotos

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No Facebook, estudantes fazem memes sobre a rotina da vida acadêmica e os perrengues da pós-graduação Reprodução/Facebook Pós-graduação da Depressão

Giro UOL

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Michel Zaidan Filho: Operação catilinárias







Os telejornais noticiaram, em cadeia nacional, uma nova fase da Operação-Lava Jato. Nela, foram emitidos - com a autorização da Justiça federal - 50 mandatos de busca e apreensão de documentos e aparelhos - que possam conter provas contra os investigados por essa mega-operação da Polícia Federal. Coube ao nosso Estado, 4 mandatos de busca e apreensão. No noticiário, não se menciona os nomes que foram objeto da investigação policial. Adivinhem quem são? - Como os jornalões impressos de Pernambuco não vão falar a respeito, adiantamos aqui que foi o alvo da investigação: o empresário ALDO GUEDES, seu estabelecimento comercial (na Avenida Imbiribeira) e sua fazenda ( Esperança), da Fazenda (Nossa Senhora de Nazaré) do ex-governador, no brejo pernambucano. Quem é o senhor ALDO GUEDES E QUAL A SUA LIGAÇÃO com a citada operação da Justiça Federal? - Nada mais, nada menos do o sócio do ex-governador do PSB e neto de Miguel Arraes, EDUARDO HENRIQUE DE ACCIOLY CAMPOS. Ex-presidente da empresa estatal Copergás e dono do jatinho-fantasma que explodiu no ar, vitimando o ex-governador e outras pessoas.Este cidadão é acusado de ter recebido 20 milhões de propina, na Operação Lava Jato.

É possível que a imprensa comprada e vendida (a sabe-se lá, que interesses) não diga uma só palavra sobre isso, para não atrapalhar os planos eleitorais, políticos do Partido familiar do ex-governador de Pernambuco. É possível. Afinal, um dos jornalões impressos já foi comprado por testas-de-ferro do PSB, a mandado de um conhecido empresário de Petróleo e Gás, do nosso Estado. Os outros, por conveniência  e leniência, poderão seguir o mesmo caminho, preservando - mais uma vez - as figuras "impolutas" da política pernambucana. Mas o fato é que a oligarquia de nosso Estado não pode escapar das responsabilidades  criminais e civis das atividades ligadas à refinaria Abreu e Lima, sobretudo sua participação no propinoduto da Petrobrás e a irrigação não do sertão de Pernambuco, mas das contas das campanhas eleitorais em nosso Estado. E isso deve ser apenas a ponta do Iceberg. Pernambuco tornou-se, ultimamente, o palco - não das lutas irredentoras  do nativismo, a independência ou a república - mas de escândalos atrás de escândalos: o da venda dos imóveis do cais José Estelita, a construção Arena Pernambuco, o polo da Hemobrás, a refinaria Abreu e Lima, a transposição do Rio São Francisco e vai por aí...
Em algum momento, os agentes públicos-privados envolvidos (e beneficiados) com esses mega-escândalos terão que prestar declarações à sociedade e à Justiça, sobre a sua participação nessas atividades criminosas. Nada deve desviar o foco da sociedade em relação à essas responsabilidades penais. Até porque vários estão aí, vivos e bolindo, querendo disputar cargos e mandatos. Não podem e nem devem ficar impunes. Têm de ser investigados, denunciados, processados e punidos exemplarmente, na forma da lei. Pernambuco não está fora das garras da Justiça e seus representantes devem muitas explicações ao povo, aos contribuintes e aos eleitores.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

A ressaca do movimento pró-impeachment


A ressaca do movimento pró-impeachment

PUBLICADO EM 15/12/2015 ÀS 10:42 POR  EM NOTÍCIAS

José Luiz Gomes da Silva,
cientista político da UFPE
A presidente Dilma Rousseff completou idade nova no dia de ontem, 14 de dezembro. Certamente, o melhor presente para ela serão os relatórios dos assessores do Planalto sobre as manifestações pró-impeachment, ocorrida no dia de domingo. Em todo o Brasil, essas manifestações resultaram num grande fiasco. Cumpre, agora, fazermos alguns comentários que se aproximem da realidade, tentando entender o que teria ocorrido, motivando o arrefecimento desse movimento. Os organizadores do movimento – por razões óbvias – estão emudecidos ou tentando manipular a realidade. Um jornaleco, comprometido com o movimento, até divulgou uma foto com as manifestações anteriores, como se fossem as ocorridas no dia de ontem. Eles são muito arrogantes para fazerem uma auto-crítica.
Um outro fato a ser observado foi a cobertura tendenciosa da mídia golpista, fazendo uma “ginástica” no discurso, que até poderia interessar aos estudiosos do assunto. Logo cedo, a emissora do plim plim, dava seus flash, informando que a multidão estava chegando aos locais de concentração. Na realidade, essa multidão nunca chegou, mas o objetivo era claro. Levar as pessoas às ruas. Governadores tucanos também deram uma força ao movimento, como no caso de São Paulo, onde houve uma antecipação da abertura dos portões do metrô. Nada disso funcionou. O movimento é cada mais circunscrito, se fechando aos grupos mais radicais, identificados com práticas fascistas ou regimes políticos fechados. Está havendo uma espécie de “depuração”. Os mais consequentes parecem se afastar dessa aventura, de consequências imprevisíveis para a saúde de nossas já frágeis instituições democráticas.
Antecipo que o rito do impeachment está previsto na nossa Constituição, não sendo, necessariamente, algo que atente contra os interesses republicanos. Ao contrário, é um instrumento que atua em sua defesa, apeando do poder governantes que não se pautam pelos princípios que regem a gestão da máquina pública. Por ser previsto, ele se orienta por um conjunto de fatores que justificam sua aplicação. Juristas e até a OAB já se pronunciaram sobre a fragilidade jurídica desse pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, justificado pelas tais pedaladas fiscais, uma prática corriqueira no nosso mundo político. Até um dos atores mais interessados nesse desfecho, o vice-presidente Michel Temer(PMDB), também era chegado a umas pedaladas. É só consultar o Ciro Gomes(PDT).
Politicamente, o que viria depois de um impeachment da presidente Dilma Rousseff não seria um paraíso de normalidade política e econômica. Ao contrário, a tendência é que a turbulência aumente sensivelmente. Não seria fácil esse “arranjo” político de conciliação nacional, liderado pelo PMDB, com seus atores políticos mais sujos do que pau de galinheiro quando o assunto é corrupção da máquina pública. A crise econômica e política deve agravar-se em 2016, com migo ou sem migo, como diria um grande craque alvirrubro, da década de 70, Dedeu. Equívocos foram cometidos e esse agravamento é contingencial. Nada nos informa que um superministro – como se prevê que José Serra poderia tornar-se – conseguiria o milagre de reverter essa situação. Lembro agora que, quando houve a corte de 69,9 bilhões nas contas públicas, Joaquim Levi não compareceu ao evento, externando sua insatisfação com a tesoura. Desejava muito mais. Dilma tentou poupar dos cortes alguns programas sociais tidos como estratégicos para o petismo.
O argumento de que houve pouco tempo para mobilizar a turma do pró-impeachment é furado, uma vez que eles estão mobilizados desde sempre. Nas redes sociais, nas ruas, desancando e “cassando” petistas nos restaurantes, saguões de aeroportos, livrarias, logradouros públicos e até nas repartições federais, hoje recheadas de “coxinhas”. Há um clima de recrudescimento da intolerância no Brasil, dirigidos a alguns grupos sociais específicos, o que sugere que o fascismo já está entre nós.
Neste período do ano, as pessoas estariam mais preocupadas com as festividades natalinas, ou seja, a galinha gorda é prioritária. Dissemos galinha gorda, porque, diante da crise, certamente, o tradicional queijo do reino e o peru poderão estar ausente de algumas mesas. Se esse é um argumento para o arrefecimento, sugiro aos organizadores marcarem a próxima mobilização para o dia 31 de dezembro, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Certamente, uma multidão deverá comparecer ao evento.
O improvável impeachment ficou com a cara de Eduardo Cunha e Temer, como sugere o jornalista Gilberto Dimenstein, em sua página na rede Facebook. Esses caras não inspiram a menor confiança. Na realidade, são políticos que deveriam estar fora da vida pública a bastante tempo. O que nós precisamos é aperfeiçoar o nosso sistema político, evitando que figuras dessa estirpe jamais ascendem ao exercício de algum cargo público. Tirar Dilma para entregar o poder a essa corja é uma tremenda “roubada”. Não existe um fato juridicamente forte para tirar a presidente, emenda Dimenstein.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A ressaca do movimento pró-impeachment






José Luiz Gomes

A presidente Dilma Rousseff completa idade nova no dia de hoje, 14 de dezembro. Certamente, o melhor presente para ela serão os relatórios dos assessores do Planalto sobre as manifestações pró-impeachment, ocorrida no dia de ontem. Em todo o Brasil, essas manifestações resultaram num grande fiasco. Cumpre, agora, fazermos alguns comentários que se aproximem da realidade, tentando entender o que teria ocorrido, motivando o arrefecimento desse movimento. Os organizadores do movimento - por razões óbvias - estão emudecidos ou tentando manipular a realidade. Um jornaleco, comprometido com o movimento, até divulgou uma foto com as manifestações anteriores, como se fossem as ocorridas no dia de ontem. Eles são muito arrogantes para fazerem uma auto-crítica.

Um outro fato a ser observado foi a cobertura tendenciosa da mídia golpista, fazendo uma "ginástica" no discurso, que até poderia interessar aos estudiosos do assunto. Logo cedo, a emissora do plim plim, dava seus flashes, informando que a multidão estava chegando aos locais de concentração. Na realidade, essa multidão nunca chegou, mas o objetivo era claro. Levar as pessoas às ruas. Governadores tucanos também deram uma força ao movimento, como no caso de São Paulo, onde houve uma antecipação da abertura dos portões do metrô. Nada disso funcionou. O movimento é cada vez mais circunscrito, se fechando aos grupos mais radicais, identificados com práticas fascistas ou regimes políticos fechados. Está havendo uma espécie de "depuração". Os mais consequentes parecem se afastar dessa aventura, de consequências imprevisíveis para a saúde de nossas já frágeis instituições democráticas.

Antecipo que o rito do impeachment está previsto na nossa Constituição, não sendo, necessariamente, algo que atente contra os interesses republicanos. Ao contrário, é um instrumento que atua em sua defesa, apeando do poder governantes que não se pautam pelos princípios que regem a gestão da máquina pública. Por ser previsto, ele se orienta por um conjunto de fatores que justificam sua aplicação. Juristas e até a OAB já se pronunciaram sobre a fragilidade jurídica desse pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, justificado pelas tais pedaladas fiscais, uma prática corriqueira no nosso mundo político. Até um dos atores mais interessados nesse desfecho, o vice-presidente Michel Temer(PMDB), também era chegado a umas pedaladas. É só consultar o Ciro Gomes(PDT). 

Politicamente, o que viria depois de um impeachment da presidente Dilma Rousseff não seria um paraíso de normalidade política e econômica. Ao contrário, a tendência é que a turbulência aumente sensivelmente. Não seria fácil esse "arranjo" político de conciliação nacional, liderado pelo PMDB, com seus atores políticos mais sujos do que pau de galinheiro quando o assunto é corrupção da máquina pública. A crise econômica e política deve agravar-se em 2016, com migo ou sem migo, como diria um grande craque alvirrubro, da década de 70, Dedeu. Equívocos foram cometidos e esse agravamento é contingencial. Nada nos informa que um superministro - como se prevê que José Serra poderia tornar-se - conseguiria o milagre de reverter esta situação. Lembro agora que, quando houve o corte de 69,9 bilhões nas contas públicas, Joaquim Levi não compareceu ao evento, externando sua insatisfação com a tesoura. Desejava muito mais. Dilma tentou poupar dos cortes alguns programas sociais tidos como estratégicos para o petismo. 

O argumento de que houve pouco tempo para mobilizar a turma do pró-impeachment é furado, uma vez que eles estão mobilizados desde sempre. Nas redes sociais, nas ruas, desancando e "cassando" petistas nos restaurantes, saguões de aeroportos, livrarias, logradouros públicos e até nas repartições federais, hoje recheadas de "coxinhas". Há um clima de recrudescimento da intolerância no Brasil, dirigidos a alguns grupos sociais específicos, o que sugere que o fascismo já está entre nós. 

Neste período do ano, as pessoas estariam mais preocupadas com as festividades natalinas, ou seja, a galinha gorda é prioritária. Dissemos galinha gorda, porque, diante da crise, certamente, o tradicional queijo do reino e o peru poderão estar ausente de algumas mesas. Se esse é um argumento para o arrefecimento, sugiro aos organizadores marcarem a próxima mobilização para o dia 31 de dezembro, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Certamente, uma multidão deverá comparecer ao evento.

O improvável impeachment ficou com a cara de Eduardo Cunha e Temer, como sugere o jornalista Gilberto Dimenstein, em sua página na rede Facebook. Esses caras não inspiram a menor confiança. Na realidade, são políticos que deveriam estar fora da vida pública há bastante tempo. O que nós precisamos é aperfeiçoar o nosso sistema político, evitando que figuras dessa estirpe jamais ascendem ao exercício de algum cargo público. Tirar Dilma para entregar o poder a essa corja é uma tremenda "roubada". Não existe um fato juridicamente forte para tirar a presidente, emenda Dimenstein. 






domingo, 13 de dezembro de 2015

Crônicas do cotidiano: Graciliano Ramos no Museu do Homem do Nordeste



José Luiz Gomes da Silva


Há alguns anos atrás, o Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, recebeu uma exposição itinerante sobre o escritor alagoano, Graciliano Ramos. Ainda no auditório Benício Dias - hoje Cinema do Museu - ocorreu um encontro com os curadores da exposição. Neste encontro, acusamos aos curadores a ausência do homem público Graciliano Ramos naquela exposição. As explicações, em parte, nos convenceram sobre os "recortes" necessários em qualquer projeto daquela natureza, ainda mais em razão do caráter itinerante daquela exposição, exigências impostas pelos patrocinadores etc. 

Na realidade - penso que eles compreenderam isso - o homem público Graciano Ramos antecede ao escritor. Graciliano foi lançado como escritor através dos relatórios burocráticos que produziu quando foi prefeito de Palmeiras dos Índios, uma cidade da zona canavieira do Estado de Alagoas. O escritor é natural de Quebrangulo, localizada nas proximidades da cidade onde foi prefeito. Até recentemente, numa postagem aqui no blog a respeito dos desmandos dos gestores com dinheiro público, lembramos que, já nesses relatórios, Graciliano denunciava as falcatruas cometidas nas gestões que o antecederam. 

Há um momento, nesses relatórios, onde o velho Graça informa à população que, na construção do cemitério local, havia mortos muito vivos, numa alusão ao superfaturamento da obra. Graciliano sempre foi um escritor muito rigoroso com a escrita. Naqueles relatórios, um editor conseguiu observar que, muito mais de que um honrado homem público, estávamos diante de um escritor promissor. O premiado escritor pernambucano, Raimundo Carrero, o utiliza bastante em suas oficinas de escrita criativa. Pelo menos dois livros de Graciliano são dedicados ao ofício de escrever.

Aliás, tudo que se refere a Graciliano Ramos nos interessam bastante. Temos por ele uma grade admiração, seja como escritor, seja como homem público. Quem o leu, sabe do esmero com que ele usa a escrita. Como prefeito, honrou a função como poucos. Um homem com um notável espírito público, na verdadeira acepção da palavra. Jamais admitiu um parente sem o instituto republicano do concurso público e multou o próprio pai, que mantinha animais soltos nas ruas. Um dos primeiros livros que li de Graciliano Ramos foi "Infância", onde há alguns relatos sobre como tomou gosto pela literatura - através de um amigo que abriu sua biblioteca para ele - e as agruras da puberdade, onde era obrigado pelo pai a tomar banho em rios infestados de cobras, aqui em Pernambuco, salvo algum engano, na cidade de Buíque. 

Nos bastidores do "campo literário", para usarmos um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu, comenta-se que, numa referência jocosa a José Lins do Rego, o velho Graça teria dito: "mas se até José Lins era escritor..." Justamente José Lins, que, na sua posse na Academia Brasileira de Letras, num ato raro, "desancou" o seu antecessor na cadeira, afirmando tratar-se de um "escritor" sem livros. Mas, o que, de fato, nos impressionou nisso tudo - e isso vem sendo trabalhado por Raimundo Carrero, nesta última oficina - é o conjunto da produção de Graciliano Ramos sobre o ato de escrever. Corri para ter acesso às obras Linhas Tortas e Conversas com Graciliano, ambas da editora Record, onde o escritor narra suas impressões sobre o ato de escrever. Há alguns anos atrás, o escritor Raimundo Carrero lançou uma publicação que é uma espécie de reflexão também sobre o ato de escrever. Hoje esse livro estaria esgotado, mas consegui um dos últimos exemplares. Nos tem sido muito útil, sobretudo para aquele "encontro consigo mesmo".

Para aqueles que desejam saber um pouco mais sobre Graciliano, não poderia deixar de recomendar a leitura do livro do professor titular da UFRN, Durval Muniz, um livro hoje clássico, A Invenção do Nordeste e Outras Artes, onde há uma análise especifica sobre a o obra do escritor. Esta análise, por razões históricas e sociológicas - posto que o livro tem objetivos acadêmicos - vai muito além dos aspectos literários que caracterizam a obra do autor de Vidas Secas







Fracassam as manifestações pró-impeachment



Existem alguns gatos pingados nas ruas, protestando contra o Governo Dilma Rousseff. Por mais que a mídia "engajada" dê uma força, a realidade é bem outra. Os protestos e pedidos de impeachment da presidente resultaram num tremendo fracasso em todo o Brasil. No Recife, a concentração do Marco Zero não reuniu 100 pessoas, liderados por aquelas figuras asquerosas de sempre. Não vou citá-los porque se trata de figurinhas bem conhecidas da população recifense. Tem aquele Deputado Federal peemedebista que foi governador do Estado e prefeito do Recife; o primeiro-irmão de um ex-governador do Estado, candidato à Prefeitura de Olinda; Os Raus. Os tucanos.

Como afirmamos, figurinhas bem carimbadas. As datas escolhidas pelos "coxinhas" para essas manifestações de rua são, ao mesmo tempo, emblemáticas e sugerem o viés dessas mobilizações. Hoje se passam 47 anos do  famigerado AI-5, uma verdadeira mordaça para o país, de consequências bem conhecidas, como censura à imprensa, perseguições e desaparecimentos de pessoas que se insurgiram contra a privação das liberdades e direitos individuais e coletivos, assim como a supressão dos mecanismos da democracia representativa que, embora frágeis, ainda assim, permite-nos criticá-los e propor seus aperfeiçoamento. 

Hoje, publicamos aqui no blog, uma longa entrevista com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, cassado depois de uma reportagem profundamente equivocada da Revista Veja. Mesmo os checadores da publicação descobrindo a tempo o equívoco, para evitar os prejuízos da publicação, lançaram a revista às bancas, destruindo a reputação do então deputado Ibsen Pinheiro. Aconteceram outros casos - como o do então ministro da Saúde, Alcenir Guerra - literalmente "massacrado" pela mídia. Depois se descobriu que se tratava de um inocente. Mas, o caso de Ibsen, para mim, tornou-se emblemático. Desde então, passei a manter contato com ele, que sempre teve a gentileza de responder as nossas mensagens. Ibsen é jornalista e advogado, hoje vivendo na cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul. Nas eleições passadas, tentou - sem sucesso - uma cadeira de Deputado Estadual. 


Um dia, perguntei a ele porque ele não havia processado a revista Veja. Ele nos respondeu: "Prezado José Luiz, obrigado por sua solidariedade. Não cogitei de uma ação judicial de reparação pela convicção de que o sofrimento que me foi imposto não deve ser precificado. Me considero, aliás, compensados pela reparação, judicial, pública e eleitoral, especialmente quando lembro de outras vítimas, atuais ou históricas, que só tiveram reparação no obituário , ou nem isso. Me basta o reconhecimento de pessoas como tu e como os milhares que me confortaram com seus votos nas campanhas que fiz no retorno. Muito obrigado e grande abraço." Ibsen Pinheiro.

Em termos políticos, a entrevista de Ibsen Pinheiro nos dá a dimensão do que está ocorrendo com esses mobilizações na tentativa de apear do poder - sem razões políticas ou jurídicas - uma presidente legitimamente eleita pelas urnas, dentro do jogo da democracia representativa. Talvez seja por isso que os mais consequentes e sensatos resolveram ficar em casa, neste domingo, lendo um bom livro. Os horrores que se seguiram ao AI-5 são suficientes para baixarmos a poeira, tomarmos consciência da real dimensão dessa onda golpista. Na atual quadra política, não há luz no fim do túnel. Não tenho dúvida de o PT cometeu alguns graves equívocos políticos e na condução da política econômica.

Mesmo tendo acertado em suas políticas públicas redistributivas de renda, que tirou milhões da extrema pobreza, não nego que tenhamos cometido alguns erros. Talvez um bom exemplo disso seja a onda de créditos para isso e para aquilo, quando a infraestrutura sanitária do país continuou precária, permitindo as epidemias do transmitidas pelo mosquito Aedis Aegypti. O ajuste fiscal, por outro lado,  é uma condição que se impõe a qualquer governo. Qualquer governo. A administração da máquina pública em todos os níveis, tornou-se um grande gargalo. 

É preciso que se reconheça, entretanto, que regras democráticas significam riscos e incertezas. Se apostamos equivocadamente - como eles tentam sugerir, posto que não me arrependo em nenhum momento em ter votado em Dilma - num segundo mandato para a presidente Dilma Rousseff, é igualmente importante compreender que ele se encerra em 2018, onde esse "amontoado" de conspiradores terão a oportunidade de informar ao país os problemas, pedindo o voto dos eleitores descontentes. Falamos em "amontoado" porque eles só se unem num ponto: na ideia fixa de apear a presidente do poder. No mais, a tribo congrega de um tudo, inclusive grupos de ultra-direita, propugnadores de regimes políticos fechados, de práticas fascistas. 

Temos todas as razões para desconfiar dessa gente. Precisamos de mais atores políticos com a coragem do nosso governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB, que convocou a população para defender o Governo da Presidente Dilma Rousseff, reeditando a "Campanha da Legalidade" dos idos dos anos 60, liderada pelo ex-governador Leonel Brizola.  




quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: Geraldo Júlio ainda suspira, pelos números da primeira pesquisa de intenção de voto.


José Luiz Gomes

Os recifenses foram agraciados, no último domingo, com a primeira pesquisa de intenção de voto para a Prefeitura da Cidade do Recife, nas eleições municipais de 2016. A pesquisa foi encomendada pelo Jornal do Commércio e realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN). Sempre que essas pesquisas são publicadas, logo aparecem as denúncias de manipulação dos dados - construídos a partir dos grandes interesses em jogo - envolvendo o poder econômico; a máquina pública; os próprios institutos; assim como setores da mídia, explicitamente comprometidos com este ou aquele grupo político. Aliás, mais explicitamente impossível, uma vez que, no nosso Estado esses interesses estão irremediavelmente imbricados. Acionistas de jornais possuem institutos de pesquisa, ao passo que atores organicamente vinculados a partidos são proprietários de jornais.  

A  engrenagem é perversa, subvertendo os reais indicadores que essas pesquisas deveriam externar, ou seja, a opinião do cidadão sobre a gestão da polis. Neste contexto, os dados apresentados apenas revelam as intenções dos seus operadores, com propósitos nada republicanos. Por isso mesmo é que esses institutos, salvo honrosas exceções, estão com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato. Na Paraíba, cuja realidade conheço mais de perto, essas pesquisas tornaram-se casos de polícia. No Estado, não apenas as pesquisas, mas os próprios institutos são comprados. 

Naquele Estado, existem uma série de problemas, inclusive uma espécie de "terceirização", onde os "grandes" contratam institutos pequenos, sem a menor experiência, para realizarem os trabalhos locais, resultando o trabalho em graves equívocos metodológicos. Até nome de candidato já foi "esquecido" das folhas de tabulação. Não colocaria todo mundo nessa "vala comum", mas os procedimentos desses institutos - que se repetem a cada ano - justificam a rejeição do público em acompanhar esses dados como se eles, de fato, traduzissem uma realidade.Cumpre também observar que os nossos comentários não se dirigem, especificamente, à pesquisa realizada pelo IPMN, realizada, creio, cumprindo todos os trâmites metodológicos e legais.  

A pesquisa do IPMN procurou averiguar a intenção de voto dos recifenses, caso as eleições municipais de 2016 fossem hoje. Aproveitaram o momento para inferir como anda o humor dos recifenses no que concerne à avaliação da gestão municipal, do Governo Estadual, assim como da presidente Dilma Rousseff. A pesquisa foi publicada neste domingo, dia 06/12, pelo jornal contratante. No momento, há apenas uma candidatura definida, a do atual gestor da cidade Geraldo Júlio, do PSB, candidatíssimo a mais um mandato. Os outros nomes são apenas especulações. Por enquanto. Em todo caso, pontuaram nessa pesquisa do IPMN os nomes do ex-prefeito João Paulo(PT), do Deputado Federal Daniel Coelho (PSDB), da Deputada Estadual Priscila Krause(DEM) e do também deputado do PSOL, Edilson Silva. 

Seria muito cômodo se tomássemos aqui apenas aqueles números que nos conviesse, fazendo uma análise de conveniência. Não vamos fazer isso. Há alguns aspectos que respeitamos profundamente nessas pesquisas, quando procedidas com isenção, obedecendo os critérios de corte científico, sem as manipulações grosseiras. Por outro lado, os "buracos" são tão evidentes que não precisam de nossas observações. Alguns indicadores das últimas eleições, por exemplo, podem sugerir que os institutos foram "enganados' pelos eleitores, dada as discrepâncias desses resultados quando as urnas foram apuradas. Os institutos erraram feio no volume de votos em branco ou nulos. Há um consenso de que os métodos precisam ser urgentemente revistos, minimizando a possibilidade de ocorrência desses "buracos". 

Vamos seguir, portanto, nossa intuição, a despeito dos números apresentados pelo IPMN. Se as eleições fossem hoje, Geraldo Júlio(PSB) ainda seria reeleito prefeito do Recife. Aparece com 25% das intenções de voto. 29% da população considera sua gestão entre boa(22%) e ótima(7%). Há, aqui, um equilíbrio entre os percentuais da avaliação de sua gestão, assim como aqueles eleitores que sugerem votar nele à reeleição. Acredito que, muito dificilmente, diante dos fatos, ele conseguirá manter ou mesmo avançar no quesito avaliação. A máquina pública, em todos os níveis, enfrenta enormes dificuldades de financiamento. Geraldo Júlio(PSB) foi eleito na esteira de um projeto que pretendia alçar a candidatura do ex-governador Eduardo Campos à presidência da República. Era o homem que cuidaria do Recife sob a sua tutela.

Era uma época em que os recursos federais ajudavam bastante as administrações do Estado e da capital. Geraldo, então, apareceu como um gerente, um técnico, um tocador de obras que iria mudar a face do Recife, resolvendo alguns dos seus problemas estruturais. Por inúmeras razões, isso não tornou-se possível. Há problemas de toda a ordem. O número de moradias entregues à população, quando cotejado com o prometido até o final da gestão, é irrisório. A gestão da educação é outro grande gargalo e, como se não bastasse, agora surgiu a epidemia das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Eegypti. Para completar o enredo, o prefeito da cidade, cujo quadro dessas enfermidades é gravíssimo, ausentou-se de um encontro com as autoridades de saúde do Estado e do Governo Federal para tratar dessa questão. Um equívoco político, patrocinado para marcar "posição", talvez. Que "posição" mesmo? 

Teria feito melhor se ajudasse a presidente Dilma acerca da denominação correta dessas doenças, uma vez que a mandatária ficou toda enrolada ao tratar do assunto. Aqui para nós, esse tal de "chicocunha" é complicado mesmo, presidente. Nem os próprios médicos se entendem acerca do tamanho do cérebro que indica que o recém-nascido foi acometido pela microcefalia. É bom que os assessores do prefeito saibam que isso causou alguns danos políticos à sua imagem. Se eles acompanham as redes sociais como parece, devem ter percebido.

Para o bem ou para o mal, o "balizamento" político dessas figuras públicas era o ex-governador Eduardo Campos. Sua morte representou um vácuo difícil de ser preenchido. Já disse outras vezes aqui e volto a repetir, que a "Pedagogia da Autonomia", de Paulo Freire, certamente, não era o livro de cabeceira do ex-governador. Tanto Geraldo Júlio quanto Paulo Câmara demonstram claramente que estão sem rumo. Talvez um bom exemplo seja essa polêmica gerada em torno do possível posicionamento do governador Paulo Câmara, contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Hoje, dia 10 de dezembro, ele voltou a falar sobre o assunto, numa entrevista a uma rádio local. 

Se ele fosse um político mais "nítido", quiçá, esse seu posicionamento não gerasse tanta polêmica. O problema talvez seja mesmo essa esfinge que se esconde por trás de um burocrata alçado à condição de governador de Estado, apenas para cumprir uma missão executiva que atendia aos interesses do ex-governador Eduardo Campos. E só. Com a morte prematura do líder, eles batem cabeça. A cozinha das finanças do Palácio do Campo das Princesas não deu aos dois técnicos aquele traquejo político necessário ao exercício do mandato. Os índices de avaliação de ambos, principalmente Paulo Câmara(PSB), são preocupantes. 

Que nos perdoe o senhor Jarbas Vasconcelos - que vê nele um potencial político - por enquanto, Paulo não demonstra o menor pendor para o ramo. É difícil dizer como estaremos - ou se estaremos - em outubro de 2016. O quadro político e econômico é bastante confuso. Estamos mergulhados numa das maiores crises política e econômica de nossa história, com a economia em frangalhos e uma presidente com uma corda no pescoço.

Já que estamos no período natalino, vale uma menção às sagradas escrituras, onde Cristo afirma que odeia os indiferentes. Paulo tem um passado político tão desconhecido que, mesmo ao tomar posições, ele não transmite confiança. Permanece aquela sensação de  "indiferença" e "irrelevância" que o caracteriza. A impressão que se passa é a de que O ex-governador Eduardo Campos não desejava ninguém que pudesse "criar problemas" para ele mais adiante. Agia como se fosse eterno. 

Perdoe-nos pelo digressão, mais, voltando às eleições do Recife, o próprio IPMN informa que dois atores políticos podem fazer a "diferença" nas eleições do Recife: O Deputado Federal Daniel Coelho(PSDB) e a Deputada Estadual Priscila Krause(DEM). Isso faz lembrar uma eleição passada, onde o pai de Daniel, João Coelho disputou a cadeira de prefeito do Recife pelo PDT, do então governador Leonel Brizola. Uma campanha muito bonita, que contou, inclusive, com a presença do ex-governador do Rio Grande do Sul. Brizola espalhou seu carisma pelas ruas do Recife, em carro aberto, distribuindo rosas vermelhas, o símbolo da agremiação. A performance de João Coelho, pelo então PDT, foi uma das melhores. Parafraseando Humberto Costa, numa referência a uma outra eleição em que ele disputou o Palácio Antonio Farias, se as eleições tivessem mais duas semanas, ele seria o prefeito.  

Há setores tucanos que exercem uma forte oposição ao prefeito do Recife e propõem uma candidatura própria nas eleições de 2016. Essa tese é endossada, inclusive, por grãos-tucanos de projeção nacional. Por outro lado, setores da legenda integram a administração municipal. Por enquanto, eles batem boca, esperando o desfecho da crise política nacional que, certamente, terá reflexos no pleito municipal de 2016. Priscila também se movimenta muito bem, exercendo um mandato bem-avaliado, como prevíamos. Não nos afinamos com as suas ideias, mas devemos admitir que se trata de uma parlamentar bastante atuante. Não sabemos se será candidata a prefeita nas eleições de 2016, mas os seus movimentos indicam que ela tem pretensões. O prefeito usa a estratégia de evitar candidaturas. Vamos ver por quanto tempo. 

Quem também aparece muito bem na fita é o ex-prefeito do Recife, por dois mandatos, João Paulo(PT), hoje na presidência da SUDENE. Trata-se de uma pesquisa onde os números afagam os ânimos da militância petista. Para João, no entanto, a despeito dos resultados alvissareiros, isso representará inúmeras sessões com o seu astrólogo. Afastado das disputas eleitorais depois de algumas refregas, uma candidatura mal-sucedida aqui poderia encerrar sua carreira politica de forma melancólica. "Naqueles tempos", João Paulo costumava frequentar o antigo Ginásio Pernambucano, ali na Rua da Aurora. Amigo de um dos professores daquele centro de ensino, não raro, o encontrava por lá, proseando com os professores. Quanto tempo não,João? 

   

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Michel Zaidan Filho: Quem confia no PMDB?




O Vice-Presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta a Presidente Dilma se descomprometendo com a defesa de seu mandato e alegando que ela jamais confiou em si e em seu Partido, o PMDB. Convenhamos: qualquer desculpa serve, quando a decisão de fazer ou não fazer algo, já está tomada (há muito tempo). Quem não sabe que o principal beneficiado com o eventual impedimento da titular do cargo será exatamente o Vice-Presidente, o mesmo Michel Temer? - Ou seja, a questão da ruptura de Temer (malfadadamente, sírio-libanês, como Maluf)  era uma questão de tempo ("timming", como dizem por aí). Já estava tomada. Cogitava-se que o desembarque do PMDB do governo era para novembro. Foi adiada para o ano que vem. Agora, foi antecipada em função das "chicanas" do suspeito e investigado Presidente da Câmara dos Deputados, o evangélico Eduardo Cunha. 

O constitucionalista Michel Temer, casado com uma ex-miss, é uma espécie de Esfinge, cujos os desígnios íntimos são imperscrutáveis. Só ele mesmo deve saber quais são. Mas, como uma raposa de quintal, dissimula como ninguém: diz gosto, odiando; apoio, desapoiando, conspiro, defendendo e por aí vai. Ou seja, Temer é um profissional da dissimulação. E que age e atua exclusivamente em razão de suas conveniências políticas mediatas e imediatas. Enxergou na possibilidade da admissibilidade do "impeachment" da Presidente da República a chance de se tornar Presidente, sem ter de concorrer às eleições. Foi confabular com a ala oposicionista de seu partido e os chefes "impolutos" da oposição à Dilma: figuras caricatas de estadistas e pró-homens da República: o playboy de Minas Gerais, o filho da oligarquia do agreste de Pernambuco, o pelego da Força Sindical e o gangster-Presidente da Câmara dos Deputados. Certamente, deve já ter vendido a alma ao demônio, para exercer um mandato-tampão e não se candidatar às eleições presidenciais em 2018. Pode se confiar num acordo desses? 
Por outro, o que é o PMBD? - Um partido-ônibus?, Um partido-guarda-chuvas? - Uma frente política? - Ou um amontoado de chefes políticos locais, que não obedecem a nenhum comando, a nenhuma liderança nacional, sem programa, identidade partidária ou princípios republicanos? - O Partido do Movimento Democrático Brasileiro morreu com o doutor Ulisses Guimarães. E cumpriu (bem) sua tarefa de conduzir a redemocratização do Brasil. Permanece como uma assombração, fazendo coisas ruins. Chantageando, vendendo apoio em troca de ministérios, nomeações e verbas. É representado por um punhado de políticos que, com raríssimas exceções, não merecem o menor respeito ou confiança para participar de "um bolão" da Caixa Econômica. 

Como se pode confiar num Partido que tem como grandes expressões nacionais: Jarbas Vasconcelos (que saiu do partido, inúmeras vezes, quando lhe convinha), José Sarney, o presidente da ARENA, Romero Jucá, tantas vezes investigado por crimes cometidos contra a República, Renan Calheiros, que até a cabeleira é falsa. E o pior de todos, a raposa dissimulada do Michel Temer, que se aliou ao PT, por mero cálculo político- de que seria beneficiado em qualquer das hipóteses: apoiando a Dilma ou se opondo ao seu mandato, ou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo?
O sistema partidário brasileiro há muito tempo vem sendo questionado pela sua incapacidade de dar aquilo que promete: equilíbrio, governabilidade, sustentação parlamentar, eficácia legislativa, representatividade popular. Este sistema entrou num alto grau de desagregação política. Não produz mais nada, a não ser o caos, o contra-exemplo de uma elite parlamentar preocupada com o interesse público. Não sabe (e como poderia saber?) que com isso, contribui e muito para a descrença, o pessimismo, a desesperança da população em relação a classe política brasileira.  E alimenta aquele pensamento perigoso de que quanto pior, melhor. Melhor para quem, PMDB?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

domingo, 6 de dezembro de 2015

Editorial: Estamos com você, Dilma Rousseff.



Na realidade, o país está metido numa grande encrenca. Há graves problemas com a condução da política econômica, assim como na gestão da máquina pública, sem falar no enredo nebuloso das investigações de corrupção envolvendo atores relevantes da atual quadra política do poder. Ainda é imprevisível o desfecho desse pedido de impeachment acatado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Há uma longa batalha política/jurídica pela frente, a exigir, inclusive, uma grande capacidade de articulação política do Planalto. Segundo analistas, o time escalado pelo Planalto para cuidar desse assunto, salvo pelo nome do ex-governador baiano, Jaques Wagner, não é dos melhores. Infelizmente, Dilma Rousseff nunca acertou a mão nessa área. Não seria desta vez.

Há alguns analistas informando que a situação está sob controle, que a presidente Dilma Rousseff tem maioria parlamentar para barrar o processo. Torço por Dilma, mas, sinceramente, aqui não se pode vacilar. De passagem aqui por Recife, no dia de ontem, ela chamou seu vice, Michel Temer, às responsabilidades. Confia nele como pessoa, como político e como constitucionalista. Salvo algum engano, o homem é doutor. Não apenas sua biografia, mas os seus procedimentos nos sugerem que a presidente está profundamente equivocada. 

Em reiteradas declarações, o ex-governador e e ex-ministro Ciro Gomes tem afirmado que ele está por trás dessa "armação golpista", como enfatiza o João Santana, marqueteiro oficial do Planalto. Noves fora outras considerações, marketing é marketing. Na realidade, Ciro, ele está por trás, pelo meio e pela frente. Há rumores que indicam que ele foi consultado antes da deflagração do processo. Depois disso, sob argumentos fajutos, omitiu-se de engajar-se na defesa da presidente Dilma. Como se isso não fosse suficiente, entabulou conversas com tucanos de alta plumagem no sentido de viabilizar o afastamento da presidente Dilma, além de ter realizado uma visita de "cortesia" ao Estadão, um jornal cujo editor, na década de 60, pregava abertamente um golpe de Estado no Brasil. 

Como se sabe, movidos não pelos princípios republicanos ou legalistas, mas pelos interesses pessoas, havia alguns tucanos contrários ao golpe. O objetivo deles seria as eleições presidenciais de 2018. A disputa, dentro das regras do jogo democrática, seria interessante para atores como Geraldo Alckmin. Para ele, Temer já teria assegurado que cumpriria apenas um mandado tampão e não seria candidato em 2018. Segundo essa manobra entre os tucanos, há, inclusive, a possibilidade de José Serra assumir o Ministério da Fazenda. O jornal O Globo, da família Marinho, surpreendentemente, publicou um longo editorial em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff. Hoje, domingo, no entanto, traz uma longa matéria informando que o PMDB já entregou a cabeça da presidente aos seus algozes dentro e fora do partido. 

Não se pode confiar no PMDB. Ciro já disse que se trata de uma quadrilha de assaltantes do erário. Nossa grande preocupação é que o país está em frangalhos políticos e mergulhados numa grave recessão econômica. A máquina pública, repito, em todos os níveis, encontra-se com enormes dificuldades de financiamento. Voltamos ao pibinho e a inflação ameaça atingir os dois dígitos.A despeito do suspiro dos seus integrantes na Comissão de Ética da Câmara - que não sucumbiram às chantagens de Eduardo Cunha - tudo leva a crer que o PT já cometeu suicídio político. 

Essa aliança conservadora para chegar ao poder foi fatal para os princípios que o partido propugnava. O enredo político do financiamento de campanhas; distribuição dos nacos de poder; aprovação de projetos nas casas legislativas trata-se de uma centrífuga que envolve, necessariamente, algum grau de corrupção. Não que estejamos defendendo esse jogo, mas apenas compreendendo sua lógica interna, ditada pelo presidencialismo de coalizão. Um sistema político e representativo apodrecido. 

Vamos lutar com todas as forças pela preservação do mandato da presidente Dilma Rousseff, conquistado legitimamente pelas urnas. Uma questão de consciência e identidade política com o projeto que, a despeito dos problemas apresentados, tirou milhões de brasileiros da extrema pobreza. Não vejo razões políticas nem jurídicas para tirá-la do poder através de um impeachment. Quem vai nos dizer que o PT não tem moral? esses calhordas aí? esses corruptos contumazes? essa gente que não está preocupada nenhum pouco com o destino do país, mas movidas por interesses pessoais ou de grupelhos? Estou com você, Dilma. Vamos às ruas defender o seu mandato contra esses golpistas de sempre. A democracia política não é condição suficiente para promover a justiça social, mas ela é, necessariamente, fundamental. Não é com essa gente que pretende assumir o poder através desses expedientes que vamos continuar avançando na construção de uma nação, seja do ponto de vista do aperfeiçoamento dos instrumentos da democracia política, seja do ponto de vista do combate às profundas injustiças sociais. Claro que advogamos uma depuração do sistema político, mas não é essa gente que pretende patrociná-la. 

Os editores da revista Veja parece que tiveram um orgasmo na redação. Dedicaram várias páginas ao assunto.Não seria surpresa, se considerarmos a linha editorial da publicação. Logo eles irão brochar. Assim como ocorreu com o projeto de Alckmin sobre a reestruturação do sistema escolar público de São Paulo - que foi revogado após uma grande mobilização da estudantada - o impeachment da presidente Dilma Rousseff também não passará. Vamos às ruas, rapaziada!