
sexta-feira, 24 de junho de 2016
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Editorial: O espetáculo midiático da Operação Custo Brasil
Politicamente, nos colocamos à esquerda do PT. Quem acompanha nossas postagens aqui pelo blog sabe que, não raro, estamos apontando os equívocos do partido, seja nas suas concepções teóricas, organizacionais ou mesmo nas suas práticas de governo, que acabaram desfigurando o partido ao longo de sua história, fato comprovado pela crescente "esquizofrenia" de sua burocracia dirigente em relação às bases sociais fundadoras da agremiação. Hoje, alguns atores relevantes da agremiação já esboçam a necessidade de fazer este caminho de volta. Se a esquerda precisa ser reinventada, o PT precisa ser recriado. Por outro lado, não deixamos de enaltecer os acertos do partido, que não foram poucos.
Por outro lado, não dá para acompanhar o espetáculo e as urdiduras que estão por trás dessa Operação Custo Brasil, uma espécie de desdobramento da Operação Lava Jato. Se há irregularidades, elas precisam ser apuradas e os responsáveis punidos, não importa se deste ou daquele partido. Trata-se de um princípio. Agora não deixa de ser escandaloso observar um sujeito como Eduardo Cunha solto e um Paulo Bernardo preso, principalmente nessas circunstâncias: na medida em que se aproximam a votação definitiva sobre o afastamento da presidente Dilma Rousseff no Senado Federal; marcada por mais um espetáculo midiático, como a enorme repercussão desses fatos na edição do Jornal Nacional do dia hoje, 23, assim como a presença de tropas de elite da PF na sede do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo; e o mais grave, a possível irregularidade na "invasão" da residência da senadora Gleisi Hoffmann(PT), sem mandado respaldado pelo STF, uma vez que se trata de uma senadora da república, com foro privilegiado. Assim com ocorreu com a divulgação irregular dos grampos e do mandado de condução coercitiva expedido contra Lula - para protegê-lo, segundo o juiz que o emitiu - a invasão da residência da senadora entra no rol do desrespeito ao ordenamento jurídico do país.
Por vezes somos contingenciados a acompanhar esses noticiários apenas para formarmos nossas opiniões acerca de sua "linha editorial". Alguns escândalos recentes foram solenemente ignorados pelo JN. De volta das férias, Alexandre Garcia foi tratar, em seus comentários, da violência na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Até uma matéria como a erosão da barreira do Cabo Branco, em João Pessoa, ganhou destaque em horário nobre na grade da emissora. Uma matéria "requentada", uma vez que já havíamos visto, por mais de uma vez, nas nossas férias em Jacumã. Só faltaram mesmo as receitas de bolo. Por aqui, em Pernambuco, os chamados "grandes jornais" deixaram de mencionar o nome de um ex-governador que, segundo as investigações da PF, poderia ser um dos beneficiários da Operação Turbulência.
Hoje, não. Como sempre, estava tudo muito bem coordenado. Há imagens, vistas no JN, dos policiais federais chegando à sede do PT, em São Paulo, logo de madrugada. As fotos circulam nas redes sociais como um emblema dos "coxinhas". Aliás, convém registrar aqui a visita de "cortesia" do Ministro da Justiça do governo interino àquele juiz do Paraná, creio que uma semana antes da Operação Custo Brasil. Engana-se quem pensa que essa engrenagem tenha dado alguma trégua. São raposas felpudas, engordadas no arbítrio, com um grau de ardilosidade surpreendente. Aqui e ali fazem uma "média ponderada" apenas para distrair a plateia, como o pedido de prisão da cúpula do PMDB, onde já se sabia que seria recusado.
O jogo pesado da Operação Turbulência - empresário é encontrado morto em Hotel em Olinda
O empresário Paulo César Barros Morato, um dos principais envolvidos nas investigações da Polícia Federal, no âmbito da Operação Turbulência, foi encontrado morto num motel aqui da cidade de Olinda. Na Terça-Feira, quando foi desencadeada a operação, a capital e a região metropolitana do Recife foi palco de uma megaoperação, envolvendo 200 policiais, com dezenas de mandados de busca e condução coercitiva, além de 05 mandatos de prisão preventiva, dos quais 04 deles foram cumpridos, restando um, exatamente o de Paulo César Barros Morato, desde então, dado como foragido pela Polícia Federal.
Pelos cálculos da PF, as irregularidades cometidas por essa quadrilha teriam movimentado a fabulosa quantia de 600 milhões de reais, entre ilícitos como lavagem de dinheiro, desvios de recursos públicos, pagamento de propina e caixa dois de campanha, onde, possivelmente, teria sido beneficiado o ex-governador Eduardo Campos, na campanha que o conduziu ao Palácio do Campo das Princesas, nas eleições de 2010. O esquema era muito bem azeitado, de onde se pode concluir que continuariam agindo, favorecendo o então candidato presidencial, morto numa aeronave que pertenceria a um desses empresários envolvidos. Antes de mais nada gostaríamos de informar que quem chegou a essas conclusões foi a Polícia Federal.
Por enquanto, a morte do empresário está envolta num grande mistério. De acordo com os funcionários, no momento em que a operação se desenrolava - um dos empresários foi detido quando se exercitava numa academia no bairro de Boa Viagem - Paulo César Barros Morato se trancou no hotel, começando a levantar suspeita pelo tempo de permanência, assim como pelo mau cheiro que começou a exalar do quarto onde ele estava hospedado. A Polícia Civil do Estado esteve no local, realizou os procedimentos de praxe e manteve o silêncio sobre o caso.
Editorial: O PT e a Revolução dos Bichos
Como leitura do dia de hoje, destacaria um artigo do
professor Saullo Diniz, publicado no site Pragmatismo Político, intitulado,
“Ascensão e Queda de um Partido Popular”. Devo confessar a vocês que o nosso
primeiro impulso ao escrever este artigo no dia de hoje foi a campanha movida
pelas redes sociais contra o deputado Jair Bolsonaro, depois de suas reiteradas
manifestações públicas de caráter fascista, machista, homofóbica e apologista da ditadura militar, que levaram à sua interpelação pelo STF. Mas creio que os internautas, pelas redes sociais, já deram conta do recado,
levando a hashtag #SomosTodosCotraBolsonaro a ocupar o primeiro lugar no Trend do
microblog Twitter. Bem aqui para nós, está ficando muito chato falar sobre este
cidadão. Não há mais nada o que dizer sobre ele e, talvez por isso, vários
internautas estão se limitando a fazer piadas de mau-gosto sobre temas dos mais sérios, como
a “cultura do estupro”. Profundamente lamentável que alguém encontre inspiração
para fazer gracinha com este assunto nas redes sociais, mas por ali circula de tudo. Quem tiver curiosidade, recomendaria que dessem uma olhadinha no que se publicou sobre o assunto. Há até a fala da esposa de Bolsonaro afirmando que ele é um bom moço, um bom pai de família... gente muito boa!
Uma
das razões que nos levaram a ler o artigo de Saullo Diniz é que ele reflete
sobre o fim de um partido, o PT, simbolicamente, se desejarmos, o fim de uma
era: A Era Petista. Encerra-se, melancolicamente, aquela utopia que movia os movimentos sociais organizados, trabalhadores urbanos e do campo, movimento estudantil, pastorais da Igreja progressista, sindicatos, intelectuais de classe média, todos imbuídos de construir um projeto diferente de se fazer política e tocar a máquina pública. Para sermos mais preciso, quando o PT, de fato, fez a
diferença na gestão da coisa pública, com algumas experiências emblemáticas
como a gestão de cidades como Porto Alegre, por exemplo.
Para reforçar seus argumentos – guardando-se sempre a ressalva entre a fábula e a vida real – Saullo nos recorda de um livro, escrito por George Oswell, ainda na década de 40, onde o autor inglês, satiricamente, faz uma crítica ao processo de ascensão do socialismo, do tipo totalitário, especificamente o stalinismo. Li em trechos biográficos que George Oswell que ele foi um militante socialista na juventude, cerrou fileira na guerra civil espanhola do lado dos socialistas, mas, posteriormente, teria se desencantado com os rumos da experiência do socialismo real na antiga União Soviética, tornando-se um crítico do socialismo. A Revolução dos uma Bichos traduz, nas letras, exatamente, esse seu desencanto pelo socialismo.
Em resumo, o livro conta a história de animais que são explorados por humanos numa fazenda. Em assembleia, os animais, liderados pelos porcos, se rebelam e reorganizam os processos sociais e produtivos indo, gradativamente, reproduzindo as relações sociais de produção a que eles se contrapunham – o capitalismo – além de incorporarem hábitos tipicamente associados a esse modo de produção, como os luxos da burguesia. No final, os porcos se transformaram em humanos exploradores, já não sendo possível distinguir um grupo de outro. Lá pelo final do seu artigo, Saullo lembra da passagem do educador Paulo Feire pela Secretaria de Educação de São Paulo, na gestão de Luíza Erundina. Vale aqui a ressalva de que Paulo, no seu processo educativo, tinha sempre a preocupação de não tornar o oprimido num opressor, numa tendência que parece até natural, em razão dos referenciais simbólicos. A educação, como uma prática libertadora, se contrapõe à essa tendência.
Conceitualmente, a rigor, na Era Petista ocorreu uma "conciliação de classe". Não tivemos uma revolução no Brasil, salvo se quisermos considerar, por exemplo, os milhões de brasileiros que saíram da extrema pobreza nos governos de coalizão petista, assim como a geração de jovens entre 18 e 22 anos, de estratos sociais fragilizados, que conseguiriam entrar numa universidade pública e concluíram seus cursos. 83% dos pais desses jovens não tiveram a oportunidade de realizarem um curso superior, o que representa uma grande revolução no ensino público superior no Brasil. Mas, revolução - daquelas que contrapõe uma classe contra a outra e chega-se a uma ruptura, nós não tivemos. Aliás, conforme já discutimos por aqui, este é o país das alianças. As recentes manobras golpistas refletem exatamente, a inconformação da elite e de setores da classe média contra o andar de baixo da pirâmide social.
Depois de tecer seus comentários sobre a brilhante trajetória do PT, Saullo lamenta o “deslocamento” do partido de suas bases e uma perigosa aproximação com forças políticas bem distante dos seus ideais, como o PMDB. Foram tantas concessões - em nome de uma pseudo governabilidade, - que o partido acabou se transformando em "mais do mesmo". Fez o jogo das raposas e acabou sucumbindo diante de suas espertezas. Deixa-nos uma reflexão de Emecida: quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo.
Para reforçar seus argumentos – guardando-se sempre a ressalva entre a fábula e a vida real – Saullo nos recorda de um livro, escrito por George Oswell, ainda na década de 40, onde o autor inglês, satiricamente, faz uma crítica ao processo de ascensão do socialismo, do tipo totalitário, especificamente o stalinismo. Li em trechos biográficos que George Oswell que ele foi um militante socialista na juventude, cerrou fileira na guerra civil espanhola do lado dos socialistas, mas, posteriormente, teria se desencantado com os rumos da experiência do socialismo real na antiga União Soviética, tornando-se um crítico do socialismo. A Revolução dos uma Bichos traduz, nas letras, exatamente, esse seu desencanto pelo socialismo.
Em resumo, o livro conta a história de animais que são explorados por humanos numa fazenda. Em assembleia, os animais, liderados pelos porcos, se rebelam e reorganizam os processos sociais e produtivos indo, gradativamente, reproduzindo as relações sociais de produção a que eles se contrapunham – o capitalismo – além de incorporarem hábitos tipicamente associados a esse modo de produção, como os luxos da burguesia. No final, os porcos se transformaram em humanos exploradores, já não sendo possível distinguir um grupo de outro. Lá pelo final do seu artigo, Saullo lembra da passagem do educador Paulo Feire pela Secretaria de Educação de São Paulo, na gestão de Luíza Erundina. Vale aqui a ressalva de que Paulo, no seu processo educativo, tinha sempre a preocupação de não tornar o oprimido num opressor, numa tendência que parece até natural, em razão dos referenciais simbólicos. A educação, como uma prática libertadora, se contrapõe à essa tendência.
Conceitualmente, a rigor, na Era Petista ocorreu uma "conciliação de classe". Não tivemos uma revolução no Brasil, salvo se quisermos considerar, por exemplo, os milhões de brasileiros que saíram da extrema pobreza nos governos de coalizão petista, assim como a geração de jovens entre 18 e 22 anos, de estratos sociais fragilizados, que conseguiriam entrar numa universidade pública e concluíram seus cursos. 83% dos pais desses jovens não tiveram a oportunidade de realizarem um curso superior, o que representa uma grande revolução no ensino público superior no Brasil. Mas, revolução - daquelas que contrapõe uma classe contra a outra e chega-se a uma ruptura, nós não tivemos. Aliás, conforme já discutimos por aqui, este é o país das alianças. As recentes manobras golpistas refletem exatamente, a inconformação da elite e de setores da classe média contra o andar de baixo da pirâmide social.
Depois de tecer seus comentários sobre a brilhante trajetória do PT, Saullo lamenta o “deslocamento” do partido de suas bases e uma perigosa aproximação com forças políticas bem distante dos seus ideais, como o PMDB. Foram tantas concessões - em nome de uma pseudo governabilidade, - que o partido acabou se transformando em "mais do mesmo". Fez o jogo das raposas e acabou sucumbindo diante de suas espertezas. Deixa-nos uma reflexão de Emecida: quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: As turbulências que poderão afetar as eleições municipais do Recife.
No
início desta semana, como resultado de uma pesquisa realizada pelo IPESPE sobre
as próximas eleições municipais do Recife, em 2016, publicamos um artigo aqui
no blog onde, no final, concluíamos, a partir das considerações do cientista
político Antonio Lavareda, que, naquelas eleições, tudo seria possível,
inclusive nada, em razão do seu caráter de imprevisibilidade. Há, ali, alguns
indicadores importantes, traduzidos friamente pelos números apresentados. Chama
a nossa atenção, por exemplo, a margem de “insegurança” que ronda o projeto de
reeleição do prefeito Geraldo Júlio, do PSB. Até a data das eleições ele precisaria, de
acordo com Lavareda, melhorar sensivelmente os indicadores de avaliação de sua gestão, se deseja se reeleger.
Não é
uma tarefa impossível. A campanha, inclusive, pode cumprir essa missão. Mas, há pouco mais de 04 meses da campanha surge um fato novo: a Operação Turbulência,
realizada pela Polícia Federal aqui no Estado, onde aponta-se indícios de irregularidades
de toda ordem – até mesmo desvios de recursos públicos – envolvendo agentes
públicos e atores políticos que, de alguma forma, estão diretamente ligados à gestão do socialista. A
questão que se coloca é como isso irá se refletir na campanha, já que está
sendo utilizada contra o gestor, também massacrado pelas redes sociais no dia ontem. A tal "ligação", registre-se, está relacionada ao fato de os atores envolvidos nessa Operação Turbulência, de acordo com a Polícia Federal, pertencerem aos quadros do PSB, partido do prefeito Geraldo Júlio.
Os socialistas
se movimentam como podem, mas há uma convicção entre eles sobre a premente e
fundamental necessidade de reeleger o prefeito Geraldo Júlio, no Recife. Há
muitas coisas em jogo naquelas eleições, como o “batismo” político do grupo
técnico de auxiliares do ex-governador, como é o caso de Geraldo Júlio e Paulo
Câmara. Batizados, esses atores passam a ganhar um novo status no contexto da
correlação de forças internas da agremiação, inclusive entre as “raposas”
políticas matreiramente afastadas de cena durante o reinado do ex-governador
Eduardo Campos. Um tropeço de Geraldo Júlio aqui na capital, por sua vez, também
poderá representar algumas dificuldades sérias para o projeto de reeleição de
Paulo Câmara, em 2018, criando um inferno astral socialista difícil de gerenciar.
Há quem assegure que o partido tem uma forte liderança
aqui no Estado, entre os remanescentes familiares do ex-governador. Seria quem
bate o prego e vira a ponta,quem, na realidade, dá as cartas do jogo entre os socialistas no Estado. Como essa figura atua nos bastidores da política, fazendo questão de
manter uma certa discrição, preferimos acreditar que, na realidade, o partido
ainda sofre uma espécie de orfandade de liderança com a morte do ex-governador.
A “acomodação” do grupo nos executivos estadual e municipal, pode ser um fator
facilitador da construção dessa possível liderança. A perda desses espaços de poder, por sua vez, pode
agravar, ainda mais, a soldagem dessas
divergências ou a construção de algum consenso entre esses atores políticos.Vale
aqui o ditado popular nordestino. Casa onde falta comida, todos brigam e ninguém tem
razão.
Se, para esses atores políticos, no exercício do poder, as coisas são
difíceis, imaginem sem ele. Neste clima, é realmente improvável que algum
analista político arrisque alguma previsão sobre o que deverá ocorrer em
outubro, quando o recifense saírem às ruas para escolher o seu prefeito. Nada sugere
que os graves problemas econômicos que estamos enfrentando sejam superados até
lá. O termômetro político também não tende a arrefecer-se, dada as denúncias
que pesam sobre os atores políticos que usurparam o poder no plano
nacional, em meio às manobras hoje bastante criticada pela sociedade
brasileira, até mesmo entre os “coxinhas” mais consequentes.As vaias dirigidas a Paulinho do Força, durante voo, não nos parecem que tenham sido provocadas por "petistas" ressentidos.
Há, por outro lado, um conjunto de forças
políticas, formadas principalmente entre jovens, mobilizados pelo defesa da
democracia, o que inclui, por tabela, o respeito ao mandato da ex-presidente Dilma Rousseff.
Os gritos de “golpistas” são ensurdecedores. Ecoam, nos shopping center, nas
repartições públicas, nas aeronaves, nos aeroportos, em praça pública. Para
alguns analistas, quiçá, poderiam ser um indício da volta das "Jornadas de
Junho”. Um governo com este perfil, que transformou o país numa republiqueta de
bananas, nas palavras sábias do sociólogo Sérgio Pinheiro, não tem
legitimidade. Nasce – e talvez até se mantenha – pelo uso da força, das urdiduras
escusas. Mas, o signo da ilegitimidade, parece ser mesmo um fardo muito pesado para se carregar.
terça-feira, 21 de junho de 2016
Editorial: Turbulência no mundo político pernambucano. Um acidente de 600 milhões de reais.
Acabo de ler, nas redes sociais, um comentário do cientista político Roberto Numeriano sobre uma campanha político do ex-governador Eduardo Campos. Dizia ele que, ao passar ali pelo bairro da Torre, aqui no Recife, observou nada menos do que 30 carros da marca gol, novinhos em folha, utilizados na campanha do então governador. À época, suas reflexões se referiam, tão somente, ao poderio econômico da campanha do candidato, enquanto outros dispunham de recursos bem mais modestos, o que, infelizmente, acabava se refletindo no resultado final das eleições. Depois da Operação Turbulência, desencadeada pela Polícia Federal, no dia de hoje, em Pernambuco, não paira mais qualquer dúvida sobre o arsenal de irregularidades que envolviam os apoiadores daquela campanha.
A lista das falcatruas é extensa, como já disse, envolvendo empresas de fachada, propinas pagas a políticos e empreiteiras, lavagem de dinheiro, malversação de recursos públicos. Num trabalho minucioso, a PF chegou à fabulosa cifra de 600 milhões de reais movimentados por essa quadrilha, que operava desde 2010. Transações irregulares começaram a levantar a suspeita da Polícia Federal, que iniciou o trabalho de investigações que culminou com a operação de hoje - denominada de Turbulência - numa referência ao jatinho CESSNA Citattion, que transportava o então candidato à Presidência da República, Eduardo Campos, quando de sua morte. Agora fica claro porque havia tantas controversas em relação ao real proprietário daquela aeronave. Ninguém assumia ser o seu dono.
A Operação Turbulência é uma megaoperação, envolvendo 200 policiais federais, com 60 mandados judiciais, sendo 33 de busca de apreensão, 24 de condução coercitiva e 05 de prisão preventiva, essas últimas envolvendo diretamente os possíveis proprietários daquela aeronave, como os empresários João Carlos Lyra e Apolo Santana Vieira. Dos mandatos de prisão preventiva, 04 foram cumpridos e um dos acusados encontra-se foragido. Certa vez chegamos a dizer por aqui que temíamos bastante que este grupo chegasse ao poder. Agora sabe-se porque. Estávamos construindo aqui na província um líder cheio de bravatas contra os mau-costumes de nossa política, mas que, na realidade, estava até mais enlameado por eles do que aqueles que ele tanto criticava. Com o devido respeito, costumávamos afirmar que, diante dos fatos que indicavam tamanhas irregularidades com os negócios públicos, o acidade teria sido "providencial". A bem de nossa frágil república.
Essa oligarquia política que passou a controlar o Estado de Pernambuco é perigosíssima, extremamente danosa aos interesses público. Utiliza-se de métodos fascistas para ameaçar, amedrontar, caluniar e difamar aqueles que se contrapõem aos seus interesses escusos. Os métodos são sórdidos, volto a repetir. Num desses períodos de Páscoa, recebemos a visita de um "coelho" - penso que vocês deduzem de quem estou falando - enfurecido em nossa timiline da rede Facebook, em razão de nossas críticas ao então candidato Eduardo Campos. O professor e cientista político Michel Zaidan quantas vezes não foi atacado por esse grupo, chegando-se ao limite do processo movido contra ele pelo atual governador do Estado, Paulo Câmara(PSB).
E a blogueira, Noélia Brito, então? que sofreu horrores, vítima de inúmeros processos por apontar ou denunciar alguns desses desvios de conduta de agentes públicos. Hoje, como se diz lá pelas bandas do interior, estamos todos de alma lavada. A justiça foi feita. É emblemático que um site de notícias locais tenha sido tão enfático nas cobranças sobre um pronunciamento da família, dos atores políticos ligados ao ex-governador, do partido PSB, através de sua Executiva Estadual e Nacional. Ninguém fala nada. Nem a família, nem o partido, nem o governador do Estado, Paulo Câmara(PSB), que chegou ao poder através do apadrinhamento do ex-governador Eduardo Campos. Com toda a modéstia, o espaço aqui do blog é bastante democrático.
Não deixe de ler também:
O mistério em torno da morte do 5º elemento da Operação Turbulência.
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Editorial: O fantasma das desigualdades sociais volta a nos assustar. Que país é este?
Dois grandes economistas que, nos governos de coalizão petista ocuparam cargos estratégicos no tocante à concepção e implementação de políticas redistributivas de renda, Márcio Pochmann e Marcelo Neri, já advertiam sobre a possibilidade de o país voltar a enfrentar um retrocesso no enfrentamento dos problemas de desigualdades de renda. Mesmo contando com fortes contingenciamentos, a presidente afastada Dilma Rousseff fazia o impossível para não comprometer os recursos dos programas sociais. O governo interino, no entanto, como já se previa, não teve o mesmo pudor em usar a tesoura. Uma verdade, no entanto, precisa ser dita, a economia já vinha muito mal das pernas no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, com altos índices de desemprego e déficit nas contas públicas.
Neste cenário, naturalmente, aquelas políticas que, nos governos de coalizão petista foram responsáveis por tirar milhões de brasileiros da extrema pobreza, certamente, ficariam comprometidas. Comprometidas, creio, ainda mais, se considerarmos as prioridades desse governo interino, até mesmo politicamente, posto que uma das razões que moveram as forças sociais e políticas que tinham como propósito afastar a presidente Dilma Rousseff do poder era exatamente suas preocupações com o andar de baixo da pirâmide social. Assim como também se sabe que, hoje, definitivamente, não era a corrupção o combustível que movia os golpistas.
O que se observa, no momento, é um verdadeiro desmonte dessas políticas, seja induzidas por nossas fragilidades econômicas, seja induzidas pela ausência de "vontade" politica do governo interino com esse problema, que nos acompanha durante séculos, desde nossa formação colonial escravocrata. De acordo com o professor Rodolfo Hoffman, da USP, em matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo, mesmo utilizando uma métrica que não é a mais adequada - a mais adequada seria a do IBGE, que só sai em setembro - já é possível concluir que, a escalada do desemprego vem acelerando a desigualdade de distribuição de renda. A metodologia utilizada pelo pesquisador da USP, para medir essa desigualdade, é orientada pela relação entre "ocupados e "desocupados". Desde o início do mandato da presidente Dilma Rousseff até hoje, ocorreu um aumento de desempregados da ordem de 3%. Pulou de 7,9% para 10,9%.
O Brasil ainda figura entre os países mais desiguais do mundo. Na minha época de graduação, era comum a nossa "concorrência" com os países mais miseráveis do continente africano. Quem não se lembra disso? Tivemos alguns problemas nos governos da coalizão petista, mas um dos grandes legados que ficarão para a sua história foram exatamente as políticas redistributivas de renda, responsáveis por tirar milhões de brasileiros da extrema pobreza. Organismos internacionais idôneos e isentos chegaram a reconhecer esse mérito. Conforme discutimos num dos nossos últimos editoriais, além da questão humanitária, em longo prazo, se mantidas, essas políticas redistributivas de renda e de democratização ao acesso ao ensino superior, no final, daria uma grande contribuição à consolidação de nossa democracia.
Há muita controvérsias entre os estudiosos sobre essa relação entre economia e democracia. Para alguns autores, o desenvolvimento econômico - naturalmente que aliado a outros fatores - é um dos determinantes na construção e consolidação dos regimes democráticos. Outros autores, no entanto, minimizam essa importância. Países ricos, possuidores de grandes reservas de recursos naturais, por exemplo, não caminharam, necessariamente, para a democracia. Muito ao contrário. Sobre os padrões de educação de um país e as possibilidades de construção de regimes democráticos, por sua vez, há uma unanimidade entre eles.
P.S.: do Realpolitik. Não sei se vocês repararam mas, no dia de hoje, os principais jornais da Rede Globo parecem ter dado uma trégua aos problemas de corrupção no governo interino do senhor Michel Temer. Até uma matéria sobre os problemas de erosão na barreira de Cabo Branco, em João Pessoa, entrou na pauta em horário nobre, numa típica manobra conhecida como enchimento de linguiça. A foto acima é da Ilha de Deus, uma localidade aqui do bairro da Imbiribeira, no Recife. O rebento que, por aqui, aos 05 anos, não sabe nadar, pescar e se virar com o cotidiano das condições precárias de vida, não sobrevive. Ouvi isso de um líder comunitário, numa palestra na Fundação Joaquim Nabuco.
Há muita controvérsias entre os estudiosos sobre essa relação entre economia e democracia. Para alguns autores, o desenvolvimento econômico - naturalmente que aliado a outros fatores - é um dos determinantes na construção e consolidação dos regimes democráticos. Outros autores, no entanto, minimizam essa importância. Países ricos, possuidores de grandes reservas de recursos naturais, por exemplo, não caminharam, necessariamente, para a democracia. Muito ao contrário. Sobre os padrões de educação de um país e as possibilidades de construção de regimes democráticos, por sua vez, há uma unanimidade entre eles.
P.S.: do Realpolitik. Não sei se vocês repararam mas, no dia de hoje, os principais jornais da Rede Globo parecem ter dado uma trégua aos problemas de corrupção no governo interino do senhor Michel Temer. Até uma matéria sobre os problemas de erosão na barreira de Cabo Branco, em João Pessoa, entrou na pauta em horário nobre, numa típica manobra conhecida como enchimento de linguiça. A foto acima é da Ilha de Deus, uma localidade aqui do bairro da Imbiribeira, no Recife. O rebento que, por aqui, aos 05 anos, não sabe nadar, pescar e se virar com o cotidiano das condições precárias de vida, não sobrevive. Ouvi isso de um líder comunitário, numa palestra na Fundação Joaquim Nabuco.
O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: Nas eleições do Recife poderá acontecer tudo, inclusive nada.
José Luiz Gomes
Desde as eleições municipais recifenses de 2012 que mantemos o hábito de publicarmos, aqui pelo blog e em outros espaços, nossos artigos de análise de conjuntura sobre o pleito. Outro dia ficamos espantados com o número de artigos já escritos sobre as eleições de 2016, cujas análises foram iniciados bem cedo, antes mesmo da definição de candidaturas. No calor dos debates daquelas eleições de 2012, antecipamos, num artigo que viralizou nas redes sociais, que o senhor Geraldo Júlio(PSB), ganharia aquelas eleições, o que , à época, suscitou muitas insatisfações nas hostes petistas. Gestões foram feitas, sabe-lá por quem, para a retirada do artigo, publicado no site de uma instituição federal aqui do Recife.Hoje, o Jornal Folha de Pernambuco, acaba e publicar a primeira pesquisa de intenção de voto para as eleições municipais do Recife, em 2016.
A pesquisa foi realizada a partir de uma parceria do IPESPE e aquele jornal. O empresário e cientista político Antonio Lavareda, consultor do IPESPE, escreveu um artigo sobre o assunto. Lavareda é considerada uma autoridade nacional sobre o tema, acompanhando campanhas, dando assessoria a governos, debatendo e publicando livros e artigos sobre eleições e pesquisas eleitorais. Pesquisa é a sua especialidade. Concedeu uma longa entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, até recentemente, onde se pronunciou até mesmo sobre as eleições americanas,instigado por uma jornalista presente ao programa. Seu artigo sobre as eleições municipais do Recife, em 2016, é bastante técnico, comedido, limitando-se apenas ao essencial.
É uma artigo sem emoções, uma avaliação fria dos números e como eles se aplicam à realidade presente dessa eleição, que deverá ocorrer daqui a poucos meses. Candidatos competitivos são aqueles que aparecem pontuando em dois dígitos. Os demais terão muita labuta para se tornarem competitivos. No momento, aparecem como candidatos competitivos apenas o atual prefeito, Geraldo Júlio(PSB), que é candidato à reeleição, pontuando com 25% das intenções de voto. Logo em seguida aparece João Paulo(PT), cuja candidatura foi oficializada somente nesta semana, que pontua ali em 23%, rigorosamente empatado tecnicamente com o atual gestor, numa margem de erro que se situa em 3,5.Dependendo de onde se trabalhe essa margem de erro, João Paulo(PT) poderia estar até na frente. Em terceiro lugar vem o nome do tucano Daniel Coelho, com 13% as intenções de voto. O segundo pelotão, dos candidatos ainda não competitivos, é onde aparecem, com ligeiras variações, os nomes de Priscila Krause (DEM), Sílvio Costa Filho (PRB), Edilson Silva(PSOL) e Augusto Costa(PV). Ainda de acordo com Lavareda, os percentuais de aprovação da gestão de Geraldo Júlio,no momento, indicam que ele é "vulnerável".
Uma boa margem de segurança seria uma avaliação que, entre boa e ótima , variasse em torno de 40% e ele está abaixo disso. Um dos fatores determinantes que podem explicar essa dianteira dos candidatos Geraldo Júlio e João Paulo é o recall, ou seja, o conhecimento que os eleitores possuem deles. Ambos carregam, no entanto, altas taxas de rejeição junto ao eleitorado, o que nos permitem incluir aqui mais um fator que indica uma disputa renhida nessas eleições. Convergimos com Lavareda no tocante à influência da conjuntura política nacional e seus reflexos diretos nas eleições do Recife.
Conforme afirmamos em artigos anteriores, talvez em nenhum outro momento da história recente das eleições municipais nas regras do jogo do período pós- redemocratização, teremos um peso nacional tão expressivo numa eleição municipal. "Coxinhas" e "mortadelas" estarão nas ruas se enfrentando sob um clima de muita instabilidade política e, possivelmente, econômica. No mais, se naquelas eleições de 2012, muito antes da apuração das urnas, já afirmávamos que Geraldo Júlio seria o prefeito, no momento, parafraseando uma expressão utilizada pelo próprio Lavareda,numa alusão ao poeta, nas eleições do Recife poderá acontecer de tudo, inclusive nada.
domingo, 19 de junho de 2016
Enquanto a corrupção assombra o Temer, caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment
O impeachment da presidente do Brasil democraticamente eleita, Dilma Rousseff, foi inicialmente conduzido por grandes protestos de cidadãos que demandavam seu afastamento. Embora a mídia dominante do país glorificasse incessantemente (e incitasse) estes protestos de figurino verde-e-amarelo como um movimento orgânico de cidadania, surgiram, recentemente, evidências de que os líderes dos protestos foram secretamente pagos e financiados por partidos da oposição. Ainda assim, não há dúvidas de que milhões de brasileiros participaram nas marchas que reivindicavam a saída de Dilma, afirmando que eram motivados pela indignação com a presidente e com a corrupção de seu partido.
Mas desde o início, havia inúmeras razões para duvidar desta história e perceber que estes manifestantes, na verdade, não eram (em sua maioria) opositores da corrupção, mas simplesmente dedicados a retirar do poder o partido de centro-esquerda que ganhou quatro eleições consecutivas. Como reportado pelos meios de mídia internacionais, pesquisas mostraram que os manifestantes não eram representativos da sociedade brasileira mas, ao invés disso, eram desproporcionalmente brancos e ricos: em outras palavras, as mesmas pessoas que sempre odiaram e votaram contra o PT. Como dito pelo The Guardian, sobre o maior protesto no Rio: “a multidão era predominantemente branca, de classe média e predisposta a apoiar a oposição”. Certamente, muitos dos antigos apoiadores do PT se viraram contra Dilma – com boas razões – e o próprio PT tem estado, de fato, cheio de corrupção. Mas os protestos eram majoritariamente compostos pelos mesmos grupos que sempre se opuseram ao PT.
É esse o motivo pelo qual uma foto – de uma família rica e branca num protesto anti-Dilma seguida por sua babá de fim de semana negra, vestida com o uniforme branco que muitos ricos no Brasil fazem seus empregados usarem – se tornou viral: porque ela captura o que foram estes protestos. E enquanto esses manifestantes corretamente denunciavam os escândalos de corrupção no interior do PT – e há muitos deles – ignoravam amplamente os políticos de direita que se afogavam em escândalos muitos piores que as acusações contra Dilma.
Claramente, essas marchas não eram contra a corrupção, mas contra a democracia: conduzidas por pessoas cujas visões políticas são minoritárias e cujos políticos preferidos perdem quando as eleições determinam quem comanda o Brasil. E, como pretendido, o novo governo tenta agora impor uma agenda de austeridade e privatização que jamais seria ratificado se a população tivesse sua voz ouvida (a própria Dilma impôs medidas de austeridade depois de sua reeleição em 2014, após ter concorrido contra eles).
Depois das enormes notícias de ontem sobre o Brasil, as evidências de que estes protestos foram uma farsa são agora irrefutáveis. Um executivo do petróleo e ex-senador do partido conservador de oposição, o PSDB, Sérgio Machado, declarou em seu acordo de delação premiada que Michel Temer – presidente interino do Brasil que conspirou para remover Dilma – exigiu R$1,5 milhões em propinas para a campanha do candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo (Temer nega a informação). Isso vem se somar a vários outros escândalos de corrupção nos quais Temer está envolvido, bem como sua inelegibilidade se candidatar a qualquer cargo (incluindo o que por ora ocupa) por 8 anos, imposta pelo TRE por conta de violações da lei sobre os gastos de campanha.
E tudo isso independentemente de como dois dos novos ministros de Temer foram forçados a renunciar depois que gravações revelaram que eles estavam conspirando para barrar a investigação na qual eram alvos, incluindo o que era seu ministro anticorrupção e outro – Romero Jucá, um de seus aliados mais próximos em Brasília – que agora foi acusado por Machado de receber milhões em subornos. Em suma, a pessoa cujas elites brasileiras – em nome da “anticorrupção” – instalaram para substituir a presidente democraticamente eleita está sufocando entre diversos e esmagadores escândalos de corrupção.
Mas os efeitos da notícia bombástica de ontem foram muito além de Temer, envolvendo inúmeros outros políticos que estiveram liderando a luta pelo impeachment contra Dilma. Talvez o mais significante seja Aécio Neves, o candidato de centro-direita do PSDB derrotado por Dilma em 2014 e quem, como Senador, é um dos líderes entre os defensores do impeachment. Machado alegou que Aécio – que também já havia estado envolvido em escândalos de corrupção – recebeu e controlou R$ 1 milhão em doações ilegais de campanha. Descrever Aécio como figura central para a visão política dos manifestantes é subestimar sua importância. Por cerca de um ano, eles popularizaram a frase “Não é minha culpa: eu votei no Aécio”; chegaram a fazer camisetas e adesivos que orgulhosamente proclamavam isso.
Evidências de corrupção generalizada entre a classe política brasileira – não só no PT mas muito além dele – continuam a surgir, agora envolvendo aqueles que antidemocraticamente tomaram o poder em nome do combate a ela. Mas desde o impeachment de Dilma, o movimento de protestos desapareceu. Por alguma razão, o pessoal do “Vem Pra Rua” não está mais nas ruas exigindo o impeachment de Temer, ou a remoção de Aécio, ou a prisão de Jucá. Porque será? Para onde eles foram?
Podemos procurar, em vão, em seu website e sua página no Facebook por qualquer denúncia, ou ainda organização de protestos, voltados para a profunda e generalizada corrupção do governo “interino” ou qualquer dos inúmeros políticos que não sejam da esquerda. Eles ainda estão promovendo o que esperam que seja uma marcha massiva no dia 31 de julho, mas que é focada no impeachment de Dilma, e não no de Temer ou de qualquer líder da oposição cuja profunda corrupção já tenha sido provada. Sua suposta indignação com a corrupção parece começar – e terminar – com a Dilma e o PT.
Neste sentido, esse movimento é de fato representativo do próprio impeachment: usou a corrupção como pretexto para os fins antidemocráticos que logrou atingir. Para além de outras questões, qualquer processo que resulte no empoderamento de alguém como Michel Temer, Romero Jucá e Aécio Neves tem muitos objetivos: a luta contra a corrupção nunca foi um deles.
Glen Greenwold, em The Intercept
Editorial: O Big Brother macabro do governo interino. Quem será o próximo a cair? Façam suas apostas!

Amanheci o dia de hoje lembrando de uma crônica do saudoso Rubem Braga, intitulada "Um pé de milho", onde ele informava que o fato mais importante daquela semana teria sido um pé de milho que havia nascido no seu quintal. Nem mesmo a notícia da possibilidade da chegada do homem à lua superaria, em importância, a presença daquele pé de milho, que o transformava num lavrador: Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilho. Confesso que fiquei em dúvida sobre o que destacar para esta crônica política de um domingo. A calorosa recepção da presença da presidente Dilma Rousseff aqui no Recife, com direito aos poemas de Carlos Drummond de Andrade? Ou desmoronamento do edifício conspirador, com pouco mais de um mês, golpeado por sucessivas denúncias de corrupção envolvendo seus operadores?
Como publicamos aqui um esperançoso artigo do professor Michel Zaidan sobre a presença de Dilma Rousseff no Recife, em particular na UFPE, optamos por tratar desse segundo tema. O jornalista Luis Nassif, em artigo reproduzido aqui no blog, observa que a mídia fez o possível para guindar o senhor Michel Temer à condição de um estadista. Um homem elegante e até "bonito", de acordo com o insuspeito jornalista Ricardo Noblat. Começamos a desconfiar que as coisas não iam muito bem entre o governo interino e setores da mídia, depois da série de reportagens do Jornal Folha de São Paulo, com destaque para o teor das delações premiadíssimas do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, envolvendo o núcleo duro do poder, inclusive o próprio Temer, que, segundo ele, teria recebido ,irregularmente, um milhão e meio para a campanha de Gabriel Chalita, nas eleições municipais paulistas de 2012. Mas aí o Nogueira nos alertou que poderia se tratar, apenas, de um reposicionamento mercadológico do jornal dos Frias. Sua experiência no campo jornalístico, aliado aos movimentos confusos daquele órgão de imprensa, nos convenceram.
Michel Temer esperneou, mas sabe que não há como contestar o senhor Sérgio Machado. Tanto ele como o senador Aécio Neves(PSDB) tentaram desqualificá-lo, mas ficaram apenas nas bravatas que nem eles mesmo acreditam. Volto a afirmar que "no meio da putaria" - perdão pelo termo leitores - O Sérgio Machado fez tudo direitinho. Dizem que o oligarca Sarney teria sido grampeado por ele no leito de um hospital, onde se submetia a tratamento, numa visita de "solidariedade". Sérgio dispõe de áudios comprometedores com o presidente interino, imaginem, gravados na Base da Força Aérea, em Brasília. Com um homem deste, não há como ficar jogando para plateia aqueles adjetivos conhecidos: denúncias irresponsáveis, caluniosas, criminosas. Com Sérgio Machado isso não vai funcionar.
Nesta semana, dois outros órgãos de imprensa muito identificados com o apoio aos usurpadores, Veja e O Globo, trouxeram matérias contra integrantes do governo interino, o que nos levam a conceber alguma outra possibilidade - para muito além de um simples "reposicionamento" de mercado. A revista, inclusive, tornou-se uma espécie de leitura semanal obrigatória dos "coxinhas". Creio até que ela já teria encontrado esse reposicionamento mercadológico, a julgar por sua circulação em tradicionais redutos "coxinhas" aqui do Recife. A revista capricha na tinta e trata o caso de corrupção envolvendo o ministro do governo interino, Eliseu Padilha, como uma corrupção de "quadrilha". O Globo, por sua vez, investe contra a denúncia de uma suposta propina recebida pelo Ministro da Educação, Mendonça Filho, ainda no bojo da delação premiada do senhor Sérgio Machado, envolvendo a quantia de cem mil reais.
A grande questão que se coloca agora para o público é sobre quem será o próximo ministro a cair desse governo interino: Eliseu Padilha ou Mendonça Filho? Estamos diante de um Big Brother macabro, como disse antes, porque está em jogo o interesse público, assim como os alicerces já frágeis de nossa experiência democrática. Pouco mais de um mês e o governo interino já perdeu as condições de continuar governando. Vejam em que enrascada nos meteram, nessa aventura insensata, inconsequente, que mergulhou o país num impasse institucional de consequências imprevisíveis, apenas para atender os interesses imediatos da "banca", de uma elite insensível e de uma classe média preconceituosa.
A charge que ilustra este editorial é do músico e chargista Renato Aroeira.
O xadrez do pacto com Temer ou com Dilma
O aprofundamento das crises política e econômica torna mais próximo o momento do pacto. Sempre é temerário apostar no bom senso político nacional.
Mas o bom senso é meramente questão de preço. Em países modernos, chega-se ao bom senso a preços módicos. No Brasil do impeachment, a um preço caro. Mas o aprofundamento da crise já se tornou o excessivamente caro. Dentro de algum tempo induzirá o país ao pacto.
A grande dúvida é sobre quem conduzirá a travessia.
1. Não há maneira de vestir Michel Temer com a aura de estadista.
Desde que teve início o processo do impeachment, os grupos de mídia empenharam-se em uma tarefa hercúlea: dentro da dramaturgia que cerca a sociedade do espetáculo, tratar de conferir ao interino Michel Temer a aura de estadista.
Embora antigo na política, o personagem Temer era quase desconhecido da opinião pública, podendo, assim, ser um livro em branco no qual jornais e seus jornalistas, de forma combinada, pudessem escrever o perfil de um grande homem.
O entusiasmo precoce provocou elogios surpreendentes, como o do blogueiro Ricardo Noblat, confirmando a máxima de San Thiago Dantas, de que “o poder é afrodisíaco”:
“Uma coisa eu jamais observara: como Temer é um senhor elegante. Quase diria bonito. A senhora dele, também”.
A roteirização da política consistia em supervalorizar positivamente os pequenos gestos de Temer e negativamente os da oposição.
Esse papel coube a Jorge Bastos Moreno, brilhante colunista de O Globo.
Por ocasião da demissão do Ministro do Turismo Henrique Alves, velho companheiro de Temer, Moreno saudou a prontidão com que o interino defenestrou o Henriquinho (como é tratado no círculo íntimo do Palácio, ao qual pertence Moreno), cuja atuação era de conhecimento de Temer e de Moreno há décadas.
Ontem, com a fúria de um Catilina, Moreno desancou sem dó a insensibilidade de parlamentares da oposição, por ousarem manter uma conversa descontraída no ambiente austero de... uma festa junina.
Conhecidos os detalhes sórdidos da delação de Machado, esperava-se que nessa noite os políticos se recolhessem, envergonhados, mais cedo para a casa.
Pelo contrário. Foram para a festa de São João, por si só uma piada pronta, da senadora Kátia Abreu.
Entre as pérolas captadas na mesa da diretoria, presidida por Renan, destaco esta:
— Vanessa está sendo massacrada nas redes porque apareceu retocando a maquiagem com um pó da marca Shiseido — denunciou Lindbergh.
— Oxe, o pó custa R$ 260. Será possível que não posso comprar um pó de R$ 260?
— perguntou a senadora.
E Renan, que não se maquia com pó, certamente, embora mantenha a cara sempre lustrada:
— Vocês não passam de comunistas de boutique.
É compreensível a confusão de Moreno. Afinal, nos dois casos há a presença insofismável das quadrilhas.
Em poucas semanas, no entanto, Temer construiu uma imagem tão negativa que nem os melhores roteiristas de O Globo conseguirão mais vender o peixe do Temer Bom.
No mundo real, o Temer Bom é só para consumo caseiro e dos amigos. Tem duas filhas adultas admiráveis e cultiva amigos do naipe de Celso Antônio Bandeira de Mello e Antônio Mariz de Oliveira. E só. Seu passado distante atenua mas não o absolve.
O Temer Mau é o da política, aliado e influenciado por vestais da qualidade de Eduardo Cunha, Eliseu Padilha, Gedel Vieira de Lima e Moreira Franco, os quatro porquinhos e o lobo mau querendo devorar o Chapeuzinho Vermelho da democracia e a cesta do orçamento público. E também é o amigo do Henriquinho (apud Moreno), do Mendoncinha políticos que, apesar de tratados no diminutivo, são dotados de uma voracidade pantagruélica.
Ocorre que quem governa o país é o Temer Mau, e não o Temer elegante, quase bonito, que encantou Noblat.
A diferença entre o estilo cordato do Dr. Jekill e o perfil truculento de Mr. Hyde é de tal magnitude que, antes do impeachment, pessoas próximas a Dilma atribuíam o oportunismo do vice à má influência de Eduardo Cunha. Ou seja, um senhor de 85 anos sofrendo da síndrome da má influência.
Como o Brasil é o país da intimidade benevolente, mesmo figuras públicas referenciais fecham os olhos aos malfeitos, quando cometidos por amigos. Ainda assim, Celso Antônio Bandeira de Mello e Antônio Mariz de Oliveira devem ao país a chamada pressão positiva sobre o amigo. Não permitam que a amizade os diminua perante uma legião de admiradores.
Já os grupos de mídia decidiram promover uma cirurgia nos xipófagos que habitam a alma de Temer.
O Temer Bom passou a ser o da área econômica, que veta reajustes do Bolsa Família, planeja arrebentar as verbas da saúde e da educação, mantém as taxas de juros em patamares elevados mesmo o mercado prevendo inflação no centro da meta em 2017. Este é o Temer Bom.
Pega, separar os dois? Não pega.
O padrão Temer ficou muito exposto à opinião pública.
Consiste em trazer para o governo seus aliados, o que de pior a política brasileira gerou no período democrático, dentro de um acordo tácito. Temer e cada Ministro sabem o que ambos fizeram. Se as falcatruas se tornarem públicas, o Ministro sai e o Jorge Bastos Moreno apregoa que Temer é diferente, porque não vacila em demitir Ministros cuja presença no governo tornou-se inviável por razões alheias à vontade de Temer. É isso?
Some-se a isso a Lava Jato que prossegue a todo vapor e que já assestou sua mira na JBS – uma das grandes financiadoras dos partidos políticos e, até pouco tempo atrás, presidida por Henrique Meirelles, do suposto grupo dos homens bons de Temer.
Juntando tudo isso, chega-se ao busílis da questão: com o processo de radicalização do impeachment, a ampliação da radicalização perpetrada pelos quatro porquinhos, pelo seu passado e pelo seu presente, Temer teria condições de ser o mediador desse pacto?
É evidente que não. O Temer Bom só se sustenta com a aliança que o Temer Mau monta com as facções que dominam a Câmara. Quando o Temer Bom planeja direcionar o orçamento inteiro para o mercado (através dos juros da dívida pública), os aliados do Temer Mau não permitem.
A não ser que se acredite que as Forças Armadas irão se lançar contra as manifestações, nenhum pacto frutificará nem com o Temer Mau, nem com o Temer Bom.
Não sendo Temer, como poderia ser conduzida a transição?
2. A alternativa a Michel Temer
Posto que o interino é inviável, o que restaria? A volta da titular?
Depende.
A inabilitação de Temer cria um vácuo. Mais um pouco e todos se darão conta do jogo de perde-perde na qual o país vai afundando. E aí se terá que buscar alternativas de pacto de fato, que pacifique o país, que varra do mapa a velha política e abra espaço para o novo.
O primeiro passo é extirpar da vida nacional a mancha de um impeachment sem fundamento constitucional. É condição essencial para o restabelecimento dos postulados democráticos.
Por outro lado, não se pode tapar o sol com a peneira e imaginar que bastaria a queda do impeachment para Dilma recuperar as condições de governabilidade.
E aí tomo a liberdade de enxergar duas Dilmas, como figura pública.
A Dilma presidente queimou sua oportunidade no início de 2013, quando cedeu ao mercado e voltou a aumentar a Selic. Dali em diante, seu governo caminhou como um barco adernando. Não há a menor possibilidade de viabilizar um terceiro mandato.
A Dilma deposta, no entanto, assumiu uma dimensão pública inimaginável em Dilma pré-impeachment. Tornou-se amada pelos movimentos sociais. No auge do poder, a crista empinada era sinal de arrogância; deposta, tornou-se prova de grandeza, de coragem, de destemor.
É essa Dilma que emerge das trevas– da sessão que votou o impeachment – que poderá ser a condutora da transição. Mesmo porque é praticamente a única grande figura política não maculada pelos borrifos da Lava Jato.
É hora de deixar um pouco de lado a presença nas manifestações públicas e buscar as lideranças da sociedade civil para começar a se pensar no grande pacto.
Há dois desafios políticos e um econômico, tendo que ser administrados simultaneamente.
Os políticos são uma Constituinte para discutir a reforma política, seguida de eleições gerais.
O econômico é a pactuação de um conjunto de medidas visando blindar a economia dos solavancos da política. Com o agravamento da crise, haverá condições de empresários, trabalhadores e movimentos sociais começarem a sentar para conversar, especialmente se Dilma apresentar um conjunto racional de propostas de transição.
Para trabalhar junto aos setores produtivos, ela terá ao seu lado duas figuras significativas das chamadas forças produtivas – Armando Monteiro e Kátia Abreu. Junto ao sistema bancário, há duas lideranças expressivas e de bom senso, Roberto Setúbal, do Itaú, e Luiz Trabucco, do Bradesco. Os movimentos sociais e sindicatos já estão com ela.
Havendo isenção na condução da transição, poderá ampliar o círculo de apoio.
Restarão as incógnitas: o Congresso pós-Eduardo Cunha, a Procuradoria Geral da República e a Lava Jato, o Senado com ou sem Renan Calheiros (obviamente, com Renan haverá maior espaço para o bom senso).
Luis Nassif, publicado originalmente no Jornal GGN
sábado, 18 de junho de 2016
Protesto na estreia de "Aquários" foi simbólico e eterno
Saí do Brasil com presidenta afastada sob gritos contra a corrupção. Voltei com o óbvio escancarado: impeachment era um plano pra estancar a Lava Jato
por Maeve Jinkings — publicado 17/06/2016 15h29, última modificação 18/06/2016 03h40
Valery Hache / AFP

A equipe e o elenco de Aquarius protestam em Cannes, em 17 de maio
Estava em Nova York há alguns dias para a estreia local do filme Boi Neon quando finalmente eu e Sônia Braga conseguimos nos encontrar pra passar o dia juntas.
Naquela tarde primaveril caminhamos pelo High Line Park de ponta a ponta até que precisei entrar numa loja de departamentos pra fazer xixi, e estava em plena ação quando Sônia recebe o bendito email de nosso coprodutor francês.
Emocionada, Sônia não podia esperar pra me dar a notícia e me procurava pelas cabines colocando a cabeça embaixo das portas: “In competition! In competition!”.
Já a esperava fora do banheiro, e confesso que a primeira coisa que me veio à mente quando a avistei com o punho elevado pronunciando essas palavras foi “Disputávamos o xixi mais rápido?"
Quando finalmente notei o celular em sua mão e compreendi que se tratava da première deAquarius no Festival de Cannes, um tsunami despencou sobre mim. Comovidas, terminamos o dia no restaurante da Grand Central Station brindando diante de uma foto da equipe do filme e trocando mensagens coletivas pelo celular.
Daí em diante mergulhei numa corrente de acontecimentos e emoções do qual emerjo semanas depois em meio a registros afetivos em smartphones. E a memória em looping, fragmentada, fora da cronologia. Fazer arte tem uma aura de emergência difícil de descrever. Gosto das palavras de Wim Wenders quando diz que a força misteriosa do cinema vem do fato de que filmes sobrevivem a todos nós, o que torna tudo uma questão de vida e morte.
E diante da eternidade nada é mais importante do que buscar a alma do momento presente, falar além desse tempo/espaço para gerações futuras, quando já não estaremos aqui. Talvez isso explique a paixão que mobilizou mais de 30 pessoas, entre equipe e amigos do filme, a tirar dinheiro de seus próprios bolsos pra pagar passagem, hospedagem, comida, tudo pra estar juntos na première mundial de Aquarius. Tivemos apoio da Ancine para duas passagens aéreas, porém os gastos na Riviera Francesa vão muito além disso.
Enquanto corríamos de um lado pro outro escolhendo vestidos e smokings para o festival, assistimos perplexos a uma série de acontecimentos políticos no Brasil dignos de uma narrativa de ficção. E o roteiro parecia confuso.
Saí do Brasil com uma presidenta da República sendo afastada de seu cargo sob gritos de “chega de corrupção”. Voltei vinte dias depois com áudios vazados na imprensa escancarando o óbvio: o impeachment foi um plano pra estancar a Lava Jato e livrar políticos da cadeia. Segundo eles próprios, a presidenta deixa a investigação correr solta demais.
Há exatamente um mês estreávamos Aquarius no maior festival de cinema do mundo, em competição, sob a sombra de um Ministério da Cultura extinto pelo governo interino. Foi uma experiência pessoal e profissional de proporções avassaladoras, mas nada me tocou tanto como assistir ao filme que fizemos e me dar conta de sua assustadora sincronicidade com o Brasil de hoje.
Tal paralelo não foi proposital. O roteiro de Kleber Mendonça é uma antena poderosa captando a sensibilidade de uma sociedade dividida que despreza sua memória em nome da manutenção de privilégios de uma minoria.
E se artistas são como radares de subjetividades, não me surpreende que hoje a cultura represente uma ameaça para certos setores da sociedade a ponto de alguns defenderem o fim do seu subsídio, ainda que isso movimente a economia e represente apenas 0,6% da renuncia fiscal pela Lei Rouanet.
Mas a personagem de Sônia Braga em Aquarius é, acima de tudo, uma brava resistente. E se a câmera tem o poder de captar o além tempo, para mim nada faz mais sentido do que minha memória em repetição constante recordando o instante em que, sobre o tapete vermelho, levantamos um papel A4 pra dizer que vivemos um golpe.
Foi um pequeno e simbólico gesto, mas a julgar pela atual juventude nas escolas que nos ensina como se apropriar dos espaços e multiplicar vozes, certamente esse gesto é eterno.
*Maeve Jinkings, atriz de Aquarius, venceu dois candangos de Melhor Atriz no Festival de Brasília: em 2013, pelo longa Amor, Plástico e Barulho, e em 2014, pelo curta Estátua! A artista também venceu o prêmio de Melhor Atriz no BRAFFTV 2014 - Festival de Cinema Brasileiro em Toronto por Amor, Plástico e Barulho.
João Paulo está de volta ao jogo nas eleições do Recife
João Paulo Lima e Silva, ex-prefeito do Recife por dois mandatos, volta disputar uma eleição depois de alguns tropeços na disputa dos votos dos eleitores em eleições passadas. Sempre se disse - e ele deve ter consciência disso - trata-se uma jogada de alto risco. Uma possível derrota no projeto de voltar ao comando do Palácio Antonio Farias poderá representar uma aposentadoria de sua carreira política. O fator positivo é que o partido, finalmente, parece ter construído um consenso sobre o assunto, envolvendo um intenso diálogo com o ex-prefeito João da Costa, com o qual havia algumas arestas, além da necessidade das costuras internas. A única trincheira partidária que ainda esboçava uma resistência ao nome de João Paulo era o diretório municipal da agremiação, comandado por Oscar Barreto, um dos nomes que, num passado recente, foi apontado como "queijo do reino", por suas ligações com o grupo do ex-governador Eduardo Campos.
É muito difícil predizer como a população reagirá ao PT nas próximas eleições municipais. A imagem do partido foi bastante arranhada com os ataques sucessivos da grande mídia, envolvendo seus membros na Operação Lava Jato. Embora alguns dos seus filiados estejam presos e cumprindo pena, criou-se um clima onde o PT passou a ser tratado como uma "organização criminosa" que se apropriou indevidamente do patrimônio público. Hoje os escândalos denunciados apontam a presença de atores políticos dos mais distintos quadrantes partidários, o que poderia minimizar a tendência à criminalização única do PT. O governo interino, por exemplo, perde um ministro a cada semana, envolvido em denúncias de malversação de recursos públicos. As declarações de Sérgio Machado, por exemplo, atingem o núcleo duro do governo provisório, o que leva alguns analistas a sugerirem que este governo cairá de podre.
Nestas eleições municipais - talvez como em nenhuma outra - haverá uma forte influência da conjuntura nacional na quadra local. Os candidatos do PT tendem a pegar carona no movimento organizado que pede a volta da ex-presidente Dilma Rousseff e o "Fora, Temer". A população, sobretudo os mais jovens, parecem ter acordado do sono político que pode destruir a nossa experiência democrática. Em suas falas, a presidente Dilma Rousseff indica que vem sentido esse feeling que exala das ruas, dos movimentos sociais, das repartições públicas, da sociedade civil. O "Volta, Dilma", portanto, embute uma preocupação maior de movimentos da população brasileira em defesa do respeito às regras do jogo da democracia. A questão é saber se os candidatos do PT saberão capitalizar bem esse movimento.
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