pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Editorial: O debate dos economistas para tirar o país do fundo do poço.

 


A economia do país encontra-se bastante fragilizada e,qualquer que seja o resultado das eleições de 2022, o próximo presidente terá um longo trabalho pela frente para superar tais adversidades e retirá-la dos escombros. Além de boa vontade política, a tarefa exige estudos do tema, assim como um amplo diálogo com os especialistas no assunto. Um dos fatores que pesam bastante na reeleição de um presidente é a sua avaliação junto à população e, certamente, quando os indicadores econômicos estão no limbo, isso se reflete diretamente nos índices de sua aprovação. 

É sabido que o país não se encontra num bom momento. E aqui nos concentramos apenas no campo econômico, aquele mais sensível, segundo o economista Roberto Campos, porque se reflete diretamente no bolso. Num país com desigualdades históricas e estruturais, como observamos no editorial de ontem, isso acaba pesando e tornando-se ainda mais "sensível' àqueles estratos sociais marginalizados, como pobres, negros, mulheres. O país, forjado no trabalho escravo, sempre teve essas características. O Brasil ainda possui milhões de analfabetos, em sua maioria mulheres, negras e nordestinas, evidenciando tal DNA do pelourinho profundo - como dizia Anísio Teixeira - o que significa dizer que políticas compensatórias e redistributivas de renda também devem estar na agenda dos nossos governantes. 

Não vamos aqui mencionar os indicadores econômicos de desemprego, inflação de dois dígitos, índices pífios de crescimento econômico, o número de brasileiros que se encontram no estágio de insegurança alimentar, disputando víveres com os garis nos carros de lixo ou nas filas dos açougues à procura de ossos. São coisas que a gente sente na pele - ou nas ruas - onde surgem, a cada dia, novas famílias abandonadas, mendigando ajuda nos sinais de trânsito. O estrago foi grande. É necessário um esforço descomunal para encontrarmos a saída e iniciarmos o percurso que pode nos retirar do fundo do poço. 

Na realidade, o país precisa de uma grande conciliação política, com o propósito de construir os consensos necessários para voltarmos a respirar ares mais civilizados  e humanitários. Mas, no tocante à economia, o jornal Folha de São Paulo deverá estar dando início a uma série de entrevistas com os assessores econômicos dos candidatos às eleições presidenciais de 2022. Uma boa iniciativa, que deve ser acompanhada com muita atenção.  

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O maior segredo de Gilberto Freyre

Editorial: Cautela e canja de galinha (mesmo com pés e pescoços) não fazem mal ao eleitorado brasileiro nas próximas eleições.


Numa entrevista recente ao jornal O Estado de São Paulo, o cientista político pernambucano, Antonio Lavareda, faz algumas considerações acerca das próximas eleições presidenciais e, sem querer - posto que se trata de um analista político bastante comedido e ponderado - acaba sugerindo um possível desfecho dos resultados das eleições presidenciais de 2022 no Brasil, ao fazer uma analogia com os acontecimentos recentes no Chile. Naquele país, um candidato de centro-esquerda, Gabriel Boric, venceu as últimas eleiçoes presidenciais, depois de celebrar acordos com o centro político, com o propósito de derrotar a ultradireita representada pelo candidato José Antonio Kast. 

Depois das eleições, Boric - diplomaticamente e seguindo uma linha moderada - abre-se às conversas e negociações com o propósito de construir um consenso em torno do enfrentamento dos graves problemas que aquele pais enfrenta. Lavareda observa que, diferentemente das eleições de 2018, onde houve uma espécie de impulsão da cruzada contra a corrupção, estimulada por alguns atores identificados com essas práticas na condução dos negócios públicos, as eleições de 2022 serão caracterizadas pela ponderação e cautela por parte dos eleitores, possivelmente ressabriados pelos acontecimentos políticos e econômicos( e também de saúde pública), refletidos na avaliação do Governo do presidente Jair Bolsonaro(PL). 

Essas reflexões do cientista político pernambucano ajuda a entender, igualmente, o porquê da "cautela" de aproximadamente 30% do eleitorado brasileiro, aquele que ainda não se definiu por este ou aquele candidato do escopo polarizado, tampouco se enclinou por algum dos tantos candidatos da chamada terceira via, que, a rigor, talvez não vingue, conforme já afirmamos por aqui. O país não se encontra num bom momento e a referência acima aos pés e pescoços de galinha é bastante pertinente, pois reflete nossos problemas econômicos, com recessão, alta nos preços de alguns produtos - o café talvez seja a referência mais recente - e o número preocupante de desempregados, que, curiosamente, traz, no seu bojo, um componente de gênero e raça. A maioria são mulheres e negras.

Depois dessas eleições, um grande acordo de conciliação nacional se torna absolutamente necessário, para estancar essa sangria anticivilizatória, desumana, antidemocrática e intolerante em que o país mergulhou nos últimos anos. Não teremos uma eleição tranquila, em razão dos níveis de acirramento que estamos vivendo. O Poder Judiciário terá um grande trabalho pela frente, para permitir que as regras do jogo sejam rigorosamente respeitadas, não permitindo o linchamento de pessoas e instituições. Nos primeiros dias do ano abordamos este tema por aqui.     

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Uma primeira semana bem agitada

 


Esta primeira semana do ano começa bem agitada. O presidente Jair Bolsonaro(PL) teve que interromper suas férias em razão de problemas de saúde, possivelmente ainda decorrentes da facada sofrida durante aqueles dias tumultuados das aleições de 2018. Pode vir a sofrer uma outra intervenção cirúrgica, com o propósito de desobstruir o intestino. Em encontro recente para ouvir o mercado sobre a economia brasileira, integrantes das legendas DEM e PSL - que objetivam uma fusão - já sabem que não poderão contar nos seus quadros com 30 parlamentares, que deverão migrar para uma outra legenda, em apoio ao presidente. São fiéis escudeiros do bolsonarismo. 

Curiosa foi a expressão utlizada por Júnior Bosselli, diretor da legenda, ao se referir ao assunto, informando tratar-se, na realidade, de um livramento, uma expressão muito utilizada pelos evangélicos. Na realidade, o União Brasil vive de fazer beicinho, pois sabe tratar-se da noiva mais cobiçada da capital federal. Tem levado todo mundo para a namoradeira, mas se recusa, até o momento, a assumir acordos formais. No momento, o pretendente com maiores chances é o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), notadamente por ser aquele que desponta em melhores condições na terceira via. 

Pelas redes sociais, o pré-candidato presidencial do PDT, Ciro Gomes, desafia o pré-candidato do Podemos, Sérgio Moro, para um debate sobre economia. Evidente que o Sérgio Moro não irá para esse debate, pois, como já afirmamos por aqui, ele ainda não está preparado para debater o Brasi, exceto, talvez, no tocante à sua área específica de atuação: o combate à corrupção. Precisa entender urgentemente que candidato de uma nota só não se viabiliza e que também não vale a pena dar palpites sobre assuntos que não conhece, pois o eleitor mais atento percebe as fragilidades ou superficialidades, abrindo os flancos para candidatos bem-preparados como o Ciro Gomes. 

O candidato do PDT é um estudante aplicado dos problemas brasileiros. Certamente não é este o seu problema com as pesquisas de intenção de voto que o coloca, hoje, numa posição difícil. Desvendar essas reticências dos eleitores, isso fica a cargo dos seus estrategistas de campanha. Aqui em Pernambuco,permanece o impasse no tocante à escolha do nome do candidato situacionista do PSB ao Governo do Estado. Esta complicado bater esse martelo porque o o governador Paulo Câmara(PSB-PE) teria preferência por um nome não muito bem aceito pela cúpula política da legenda.O argumento de que o candidato do governador não seria um socialista raiz é mais furado do que uma tábua de pirulitos. 

Crédito da foto: Antonio Barbosa da Silva.  

domingo, 2 de janeiro de 2022

Editorial: A cruzada do ministro Alexandre de Moraes contra as fake news nas eleições de 2022.



O estatuto da "verdade", meu caríssimo filósofo Michel Foucault, sempre foi algo indutor de grandes controvérsias. Joseph Goebbels, o todo-poderoso Ministro da Propaganda Nazista, costumava afirmar que uma mentira repetida mil vez assume status de verdade absoluta. Li, até recentemente, uma excelente matéria sobre as fake news, onde o autor enfatizava, do ponto de vista da psicanálise lakaniana, as razões pelas quais as pessoas tendem a dar credibilidade a essas informações falsas, sem qualquer fundamentação, consistência ou lastro na realidade. 

Uma das razões é que algumas pessoas gostariam que aquela informação fosse verdade, seja por inveja, seja pela inimizade ou indisposição com o indivíduo, seja por sua condição de adversário político ou, quem sabe, por outras motivações inconscientes, que somente algumas sessões com um bom psicanalista ou psicólogo poderiam desvendar. Se eu não gosto do sujeito, então as calúnias, injúrias e difamações que se dizem contra ele, então devem ser verdade. O assunto  tornou-se tão atual e interessante, que produzimos uma "Separata" sobre o mesmo, texto que pretendemos publicar por aqui, depois de alguns ajustes, abrindo uma nova secção neste blog. 

Pelo andar da carruagem política, teremos uma eleição bastante polarizada em 2022. As forças do atraso e do obscurantismo parecem apostar nesse caos, um terreno onde eles se sentem mais à vontade para atuarem. As eleições de 2018 já ocorreram um pouco neste clima, mas a tendência é que o problema seja agravado nas próximas eleições, sobretudo em razão desse processo de radicalização e polarização política. Fazemos aqui referência ao expediente de utilização da mentira como arma política, que se tornou recorrente nas eleições daquele ano, inspirado no modelo criado por um americano que anda às turras com a justiça. Trata-se de um processo pernicioso, de vulgarização da política. Ao invés de discutirem programas ou plataformas de governo, os adversários passam o tempo todo tentando se explicar sobre as mentiras inventadas e disseminadas através das redes sociais, dos robôs, dos disparos de zaps. Terminam as eleições e eles continuam "devendo" explicações à sociedade.

Teremos alguns meses pela frente até Outubro, mas a tendência será mesmo esta polarização, uma vez que uma terceira via competitiva - que poderia contribuir, quem sabe, para diluir tal acirramento - ainda não passa de uma utopia. Lado a lado, com honrosas exceções dos atores mais ponderados, o cabo de guerra está esticado. O ministro Alexandre de Moraes, relator no STF do inquérito das fake news, já afirmou que não permitirá que tais procedimentos sejam utilizados nas próximas eleições. Cassaria a chapa que se utilizasse desses mecanismos, que atentam acintosamente contra a democracia. 

Não tenho dúvidas sobre as boas intenções do ministro Alexandre de Moraes - que tornou-se uma espécie de guardião dos princípios democráticos no país - mas reconheco que ele terá muito trabalho pela frente, sobretudo num país como o nosso, onde a experiência de democracia é frágil e os padrões de relações não são nada republicanos no que concerne à esfera pública. Escrevemos por aqui um editorial, onde tratamos deste assunto, ou seja, abordando as dificuldades de se aplicar os rigores da lei num país como o nosso, historicamente permissivo. A cruzada democrática e republicana do ministro Alexanadre de Moraes, por outro lado, merece aqui todo o nosso respeito, embora conheçamos as dificuldades que ele deverá enfrentar. 

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 





quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Editorial: Ah! como gostaríamos de trazer notícias boas para os nossos leitores e leitoras em 2022



Infelizmente, pelo andar da carruagem política, não há como trazer notícias boas para os nossos estimados leitores e leitoras em relação ao ano que se aproxima. Tivemos um ano difícil em 2021 e todos os indicadores apontam para um ano igualmente ruim em 2022. Embora o país apresente uma queda significativa no contágio e morte pela Covid-19, a onda recrudesce nos países europeus e nos Estados Unidos, desta vez pela disseminação da cepa conhecida como Ômicron, que contaminou um milhão e meio de pessoas num único dia. É menos letal, a população está relativamente imunizada, mas os hospitais estão abarrotados de casos e medidas emergenciais de restrições tiveram que ser retomadas. Na França, o primeiro-ministro interrompeu as férias, quando o serviço de saúde pública anunciou mais de 100 mil novos casos num único dia. Isso lá na França. 

Há poucos elementos para concluirmos que a economia emitirá sinais de recuperação em 2022. Isso significa recessão, desemprego e inflação alta corroendo salários, penalizando, sobretudo, aqueles estratos sociais mais fragilizados,que já se encontram no limbo, perseguindo carros de transporte de lixo, à procura de alguma coisa para comer. A elite do serviço público prepara uma possível greve para o próximo ano, insatisfeita com o atendimento de recomposição salarial para apenas a categoria dos policiais federais, quando há anos outras categorias civis não são contemporizadas. E olha que estamos nos referindo à elite do serviço público, formada por auditores, técnicos do Banco Central, servidores do judiciário, entre outros. 

O terreno político continua minado e viciado, com seus tais orçamentos secretos - as chamadas emendas do relator - através das quais se distribuem milhões aos deputados sem que seja exigido o mínimo de prestação de conta. Certa estava a ministra do STF, Rosa Weber, quando alertou que tal procedimento, em última análise, é um acinte à própria democracia. Aqui na província pernambucana, na melhor das hipóteses, em 2022, talvez possamos trocar uma oligarquia familiar por outra. Essas oligarquias familiares continuam hegemônicas na condução dos negócios "públicos" do Estado, desde a colonização, interditando padrões de relacionamentos de natureza democrática e republicana entre entes públicos e cidadãos e cidadãs.  

No mais, mesmo em tais circunstâncias, desejamos aos nossos leitores e leitoras que possamos superar tais adversidades em 2022, desejando a todos e a todas o discernimento necessário para fazermos as escolhas políticas corretas; conduzirmos nossas vidas com solidariedade aos nossos irmãos e irmãs; repelirmos de forma veemenente práticas fascistas de intolerância e assédios morais, que se tornaram recorrentes, em razão dos momentos de retrocesso e obscurantismo que passamos a viver. Um forte abraço do editor, com os agradecimentos pela convivência de 2021. Esperamos vocês em 2022! 
    

Charge! Via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O cinema de Ken Louch e a precarização do mundo do trabalho

Quem é e sobre o que escreve o autor brasileiro

 Amanda Massuela

Quem é e sobre o que escreve o autor brasileiro
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A professora Regina Dalcastagnè, doutora em Teoria Literária pela UNICAMP (Divulgação/UNB)

 

O perfil do romancista brasileiro publicado por grandes editoras se manteve o mesmo por pelo menos 43 anos. Ele é homem, branco, de classe média, nascido no eixo Rio-São Paulo. Seus narradores, protagonistas e coadjuvantes são em sua maioria homens, também brancos, de classe média, heterossexuais e moradores de grandes cidades.

A conclusão é resultado de um estudo iniciado em 2003 pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília, sob a coordenação da professora titular de literatura brasileira Regina Dalcastagnè, 50. Dividida em duas etapas – a primeira publicada em 2005 e a segunda com previsão de lançamento até abril de 2018 –, a pesquisa analisou um total de 692 romances escritos por 383 autores em três períodos distintos: de 1965 a 1979, de 1990 a 2004 e de 2005 a 2014. Ainda inéditos, os números anteriores à década de 1990 e posteriores a 2004 são publicados com exclusividade pela CULT.

Apesar de bastante homogêneos, os dados mostram um aumento de 12 pontos percentuais na publicação de romances escritos por mulheres – fato que, por sua vez, não produziu um crescimento significativo na quantidade de personagens femininas. O que salta aos olhos – mas não surpreende – é a falta de mulheres e homens negros tanto na posição de autores (2%) como na de personagens (6%). Mulheres negras aparecem como protagonistas em apenas seis ocasiões, e outras duas como narradoras das histórias. Mulheres brancas, por sua vez, ocuparam essas posições 136 e 44 vezes, respectivamente. Os autores vivem basicamente no Rio de Janeiro (33%), São Paulo (27%) e Rio Grande do Sul (9%)

Estudiosa do romance brasileiro, doutora em Teoria Literária pela UNICAMP e autora de Literatura brasileira contemporânea: um território contestado (2012), entre outros títulos, Dalcastagnè atribui esse desequilíbrio ao próprio campo literário, que produz um ciclo vicioso de publicações homogêneas, escritas do ponto de vista de uma classe média autorreferente e “entediante”. “Quando as grandes editoras publicam livros que tratam sempre dos mesmos temas e trazem um perfil de autor muito parecido, estão dizendo ao leitor o que é considerado literatura e quem pode ser chamado de escritor no Brasil”, critica.

O levantamento foi baseado apenas em lançamentos da Record, Companhia das Letras e Rocco, critério adotado com base em consultas a trinta ficcionistas, críticos e pesquisadores de diferentes estados. O estudo deve originar, ainda, um banco de dados aberto com informações mais detalhadas sobre cada romance analisado pelo grupo. Leia a seguir entrevista de Dalcastagnè à CULT.

Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)

Quase nada mudou em relação ao perfil do autor “típico” brasileiro publicado pelas grandes casas editoriais. O que mais lhe chamou a atenção nessa segunda fase do estudo?

Regina Dalcastagnè  A questão da autoria negra. Se olharmos para o primeiro período, de 1965/1979 a 1990/2004, há uma evolução significativa, por exemplo, no número de mulheres publicando. Mas é impressionante como há uma barreira para a questão da autoria negra. E não é que não haja produção – embora autores negros produzam mais contos, crônicas e poesia do que romance –, mas ainda assim há uma ausência muito gritante, tanto em relação à autoria como em relação às personagens. E não tem como escapar: não é possível tirar a literatura do contexto nacional do racismo e de exploração do trabalho. Não é um problema exclusivamente literário, embora eu ache que seja uma obrigação da literatura colocar o problema em discussão.

Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)

Mesmo quando são publicados, autores e autoras negras costumam ter sua produção deslocada do campo da literatura para o do “registro social”. A falta de legitimidade acadêmica impede a criação de um campo literário efetivamente diverso, seja do ponto de vista da autoria, seja do da temática?

Não é só um problema acadêmico, mas de mercado, do jornalismo, de tudo isso que chamo de “campo literário” – emprestando o conceito de Pierre Bourdieu: jornalistas, universitários, pesquisadores, leitores, bibliotecários, editores. É todo um conjunto de agentes que têm realmente um problema com a autoria negra. E não é uma questão individual, de acusar um editor especificamente, mas estrutural.

É uma exclusão que se retroalimenta dentro do mercado editorial?

Sim. O que essa pesquisa mostra é que quando as grandes editoras publicam livros que tratam sempre dos mesmos temas e trazem um perfil de autor muito parecido – e são esses livros que são resenhados nos jornais, que estão nas livrarias do país inteiro –, elas estão dizendo ao leitor o que é considerado literatura e quem pode ser chamado de escritor no Brasil. A presença dentro das livrarias e dos jornais é um carimbo do que é considerado literatura: se você quiser ser escritor, tem que se parecer com isso. O que é bastante perverso, principalmente quando se pensa na autoria de mulheres, de indígenas, de negros, periféricos ou pobres que estão longe deste circuito e que acreditam que têm algo a dizer, que acreditam que também podem expressar o mundo através da literatura, mas que acabam recusados de algum modo. O que está sendo dito, hoje, é que o que eles podem vir a fazer não é válido.

Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)

É uma questão que passa não só pela diversidade dos autores, mas dos profissionais que comandam o setor livreiro?

A verdade é que precisamos da presença das mulheres, como precisamos da presença de negros nos diferentes espaços sociais, inclusive no mercado editorial brasileiro, porque são essas pessoas que, de maneira geral, vão acabar chamando atenção para essas questões. Você pode pensar que uma mulher, em algum momento, vai se perguntar por que não há autoras mulheres num determinado conjunto de obras. Uma forma de alterar um pouco esse quadro é por meio disso que se pede tanto hoje, representatividade. É bom ter pessoas variadas nos espaços em que as coisas são decididas – porque, afinal de contas, é disso que se trata, decisão. A presença das mulheres no mercado editorial [nessas posições] é muito recente. Às vezes temos a impressão de que são muitas, mas elas não são. Será interessante acompanhar que tipo de modificação elas farão dentro desse mercado a partir de agora.

A literatura brasileira vem reproduzindo padrões de exclusão da própria sociedade?

Exato. Fala-se muito sobre isso no cinema, no jornalismo, na publicidade, mas não na literatura, como se ela estivesse à parte das críticas, como se fosse intocada, uma arte superior. Quando na verdade ela é mais um discurso social, mais um discurso que está aí para ser contestado e debatido. A pesquisa mostra como o perfil dos autores e das personagens é de classe média – e cada vez mais vemos como a classe média é entediante. É tudo muito repetitivo, os enredos, as preocupações, as cidades; muito pouco variado, sem graça. Por que temos tão poucos protagonistas cabeleireiros, manicures, bancários, motoristas de ônibus? Outros universos que não aqueles que já conhecemos, tão batidos. O terrível é que, quando essas personagens aparecem, são sempre colocadas em um papel inferior na narrativa, são subalternas, construídos de forma estereotipada, como se não tivessem outras preocupações que não envolvessem comida, emprego, dinheiro. Sempre me incomodo muito quando alguém diz que a pessoa é “simples” para dizer que ela é pobre. E é essa a ideia que aparece na literatura, uma vez que pessoas pobres são retratadas como personagens simples quando na verdade poderiam ser extremamente complexas. Isso não quer dizer que não haja personagens interessantes em alguns desses livros. Mas a perspectiva geral das obras é de classe média, e fala muito sobre como essas pessoas são vistas ou pouco vistas, porque no Brasil existe esse muro social. Convive-se pouco com pessoas de outras classes, e mesmo quando se convive, não se enxerga quem elas são.

Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)
Fonte Pesquisa Personagens do romance brasileiro contemporâneo (Gráfico Revista CULT)

Há autores que consideram essas preocupações uma espécie de “patrulha” literária.

Isso é triste, porque quando falamos que é importante ler mulheres, ler autoras e autores negros, muitos escritores homens e brancos se sentem ressentidos, como se estivéssemos dizendo que eles não devem ser lidos. É uma autodefesa desnecessária. Há espaço para todo mundo. O que se está dizendo é: vamos incluir outras coisas, ler outras coisas. A sua visão de mundo pode ser ótima e interessante, mas ela precisa compor um mosaico, não pode ser única. Algumas pessoas lidam com isso muito bem enquanto outras se sentem realmente ofendidas, como se estivessem sendo desprezadas. A questão é que se precisamos pensar em uma literatura brasileira, uma literatura que fale de nós, vivendo neste país, neste momento, precisamos pensá-la como um mosaico. Composta por várias perceptivas, vista de ângulos diferentes. Só isso pode enriquecer a nossa produção e dar conta, minimamente, da complexidade da vida contemporânea. Há uma ideia de literatura com “L” maiúsculo, que no final das contas não passa de uma literatura masculina e branca, já que toda a produção que não passa por esse lugar se torna adjetivada: feminina, negra, periférica, marginal. Insisto que temos que pensar em termos de literaturas, sem L maiúsculo, e acabar com essa ideia de literatura “universal” para pensar num conjunto muito mais vivo e pulsante.

O autor brasileiro retratado na pesquisa não quer ou não se sente “autorizado” a escrever ficção sob determinadas perspectivas sociais e de gênero?

As duas coisas. A minha impressão é que as pessoas acabam escrevendo apenas sobre o que conhecem. Então é claro que os homens se sentem mais à vontade para escrever protagonistas masculinos com personagens femininas um pouco mais estereotipadas. E se a gente for parar para pensar, uma vez que existe muito mais literatura sobre homens, talvez até as mulheres quando escrevem tenham mais facilidade para construir protagonistas homens mais consistentes do que os homens para escrever mulheres. A pesquisa mostra que quando a obra é escrita por mulheres, temos quase 50% de personagens homens. Mas talvez, neste contexto de escrever sobre o que se conhece, falte um pouco mais de pesquisa por parte dos autores, e um pouco mais de atenção das editoras à produção do Amazonas, do extremo sul do país, do interior do Nordeste.

A construção dessa literatura como “mosaico” está bastante ligada à questão da autoria, como mostra a pesquisa. Corre-se o risco de confinar mulheres e autoras e autores negros, por exemplo, a certos eixos temáticos?

Sem dúvida. É algo bastante complexo. A inclusão de outros nomes, de outras perspectivas, não implica a produção de um texto superior, autêntico. Eles podem inclusive repetir estereótipos. E me parece importante reforçar sempre que mulheres negras não deveriam ser obrigadas a escrever só sobre mulheres negras, da mesma forma que moradores do Nordeste não são obrigados a escrever sempre sobre essa região. A ideia é que as pessoas não falem só sobre a sua experiência, mas também tragam a sua perspectiva social sobre a experiência do outro. Por que uma mulher negra não poderia escrever um romance sobre mulheres e homens brancos de elite? O problema, hoje, é que aparentemente só homens brancos, de elite, de São Paulo e do Rio de Janeiro podem escrever sobre tudo, e isso é problemático.

A disseminação da agenda feminista e dos movimentos negros, na academia e fora dela, vem alterando o perfil de publicação e de consumo de literatura?

Acho que vem acontecendo. Talvez porque muitas coisas hoje não passem só pelas grandes editoras e por grandes jornais. Também tem a ver com a última década de investimento nas universidades públicas, com a política de cotas. Houve um avanço, há muitos alunos negros no mestrado, no doutorado, na graduação, algo que não existia há vinte anos. Eu entrava na sala de aula do curso de Letras da UnB e só tinha branco. Vemos mais mulheres, negros e pessoas vindas das periferias próximas deste universo de construção do discurso. E isso muda o perfil do interesse na literatura.

(Publicado originalmente no site da revista Cult)


Tijolinho: Permanece o impasse da escolha do nome do candidato do PSB.


Quando comandava os destinos dos socialistas aqui na província, o ex-governador Eduardo Campos regia a orquestra de forma firme, não permitindo que os comandados seguissem outra orientação que não fossem as emanadas a partir de suas decisões. Aliás, aqui no Estado, criou-se uma situação daquilo que tratávamos aqui pelo blog como Eduardismo, ou seja, sua liderança tornou-se hegemâonica aqui na província, o que atendia ao seu projeto presidencial de ter um céu de brigadeiro no Aeroporto Internacional dos Guararapes. 

Diferenças com grandes adversários do passado, a exemplo de Jarbas Vasconcelos(MDB-PE), foram superadas nos convescotes dos almoços de finais de semana, em sua residência de veraneio,na praia do Janga, regadas aos famosos cozidos, tão ironizados pelo avô, Dr. Miguel Arraes no passado. Com a sua morte, conforme seria previsto, as coisas mudaram completamente. Os chamados quadros técnicos até tomaram gosto pela política, mas desejam, ao que parece, imiscuir-se ao máximo daquelas tomadas de decisões complicadas. 

Geraldo Júlio(PSB-PE), atual Secretário de Desenvolvimento Econômico do Governo do Estado, tem afirmado que não deseja ser candidato ao governo, embora,segundo dizem, tem dado sinal verde para uma campanha nas redes sociais em favor de sua indicação. No momento, a indicação do seu nome enfrenta algumas dificuldades. Por outro lado, como comandante natural de sua sucessão, o governador Paulo Câmara(PSB-PE) tem sido cobrado - pressionado talvez fosse o termo mais correto - para bater o martelo sobre essa questão, que, de fato, está parecendo roteiro de novela mexicana. 

Segundo dizem, supostamente, teria preferência pelo seu Secretário da Casa Civil, José Neto, um nome leve, limpo, de bom trânsito político dentro e fora das hostes socialistas, mas que encontra uma concorrência forte entre os socialistas raízes, do grupo político, que desejam indicar o nome. Um outro fator que conta - e muito - é o sinal verde da família do ex-governador, herdeira do seu espólio político. É muito provável que, em Janeiro de 2022, depois das festas de réveillon, portanto, essa expectativa seja quebrada, com a indicação do nome que deve concorrer ao Governo do Estado pelo PSB. É muito pouco provável que um outro nome da aliança seja escolhido, uma vez que os socialistas, para fecharem tais alianças no plano nacional, não abdicam da indicação do cabeça de chapa aqui no Estado.  

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: A coerência do cineasta Ken Loach



Amiúde, comenta-se que, quando a primeira-ministra Margaret Thatcher, a dama das políticas neoliberais,  faleceu, Ken Louch tomou um porre daqueles num dos pubs londrinos. Se é verdade ou não, fica por conta das especulações. O fato concreto é que o grande cineasta - que flerta com a melhor tradição do marxismo inglês - produziu uma obra magnífica para o cinema, com fortes conotações políticas, de uma crítica contundente à precarização imposta ao mercado de trabalho pelas novas conformações assumidas pelo capitalismo. É uma lógica perversa, centrada nos pilares do assédio, demissão e redução dos salários, conforme ele mesmo observa. 

Durante o confinamento imposto pela pandemia, fizemos um curso sobre cinema e, num dos capítulos, sua obra foi discutida. Cinema não é bem a nossa praia, mas o mundo do trabalho é uma de nossas preocupações, como cientista político. Não raro, tratamos destes temas aqui pelo blog. Assim, a produção cinematográfica de Ken Louch acabou contribuindo - de forma bastante positiva - para essas nossas reflexões. Não apenas pelas contingências do curso - mas, sobretudo por prazer e identificação - acabamos assistindo a maioria dos seus filmes.

Li uma série de artigos sobre o cineasta, algumas entrevistas, e, no final, produzimos um ensaio sobre a sua obra, muito elogiado pelo professor, que sugeriu ampliá-lo para um livro sobre o autor de Eu, Daniel Blake. Ler e estudar foi uma das coisas boas desse confinamento. Ontem, recebi o link para imprimir o certificado sobre um curso de especialização sobre a América Latina, realizado de forma remota, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Eu, Daniel Blake é uma espécie de obra-prima do cineasta britânico. Narra as agruras de um cidadão que, depois de acidentado, penetra no submundo da assistência social do Estado, que se tornou uma máquina engendrada para subtrair direitos e "dificultar as coisas" sob a perspectiva das políticas neoliberais. 

Uma das grandes escolas de Ken Louch foi a sua experiência na BBC de Londres, numa época, segundo dizem, que conviveu com o jornalista brasileiro, Wladimir Herzog, morto nos porões da ditatura miitar instaurada com o golpe civil militar de 1964. Herzog fez um estágio na BBC. Mesmo com a idade já avançada, 76 anos, Ken Louch continua ativo, como um militante de grandes causas, como a crescente e ultrajante condição dos trabalhadores modernos, regidos pelas regras de um sistema atroz, que representa um grande retrocesso civilizatório, ao penalizar o respeito à sua dignidade.

É com este trabalhador que o cineasta britânico se identifica. Agora, por ocasião de sua premiação pelo conjunto de sua obra, outorgada pela Museu Nacional de Cinema de Turim, Itália, durante o Festival de Cinema de Turim, recusou o prêmio, argumentando solidariedade aos trabalhadores daquele museu, promotor do evento, que denunciaram as condições infringidas a eles a partir da terceirização dos serviços de manutenção. Seria algo assim incongruente com aquilo que ele discute em suas películas, de forma crítica. Um contrassenso. Louve-se aqui o trabalho e a coerência do grande cineasta britânico.  

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Editorial: Bolsonaro procura um vice terrivelmente evangélico


Hoje, no Brasil, o eleitorado evangélico - principalmente o formado pelas congregações  pentecostais e neopentecostais - podem fazer uma diferença significativa numa eleição presidencial. Segundo estimativas, eles representam 20% do eleitorado e costumam votar "fechado", conforme a orientação dos seus pastores. Essas congregações estão organizadas em partidos, bancadas e com um projeto claro de poder. Uma das suas últimas conquistas foi a indicação do nome do ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, para o Supremo Tribunal Federal, um ministro, segundo eles mesmo definem, "terrivelmente evangélico". Na cerimônia daquela corte de justiça, por ocasião de sua posse, Mendonça, em seu discurso, fez questão de deixar claro sua origem evangélica. 

O candidato do Podemos à Presidência da República, o ex-juiz Sérgio Moro, que tem sua origem política no bolsonarismo, prospecta uma maneira de como atingir esse eleitorado de forma bastante profissional, com interlocutores confiáveis, defesa de teses simpáticas a esses grupos - como a contraposição à liberação do aborto - e coisas assim. Ele sabe que, se conqusitar parte desse eleitorado, consolida-se como opção da terceira via. Lula, que no passado, conseguiu fechar acordos com líderes dessas congregações, hoje lamenta profundamento que, ao longo dos anos, o PT tenha perdido essa interlocução. Sérgio Moro já teria agendado um encontro com o pastor R.R.Soares. 

Algo bastante controverso em relação a esses grupos neopentecostais é que, em sendo cristãos, eles acabem enveredeando em defesa de plataformas incongruentes com os seus princípios, como o flerte com o fascismo, por exemplo. Talvez a luta pelo poder esteja turvando a fé cristã dessa gente. Este é um fenômeno, aliás, que não se limita ao Brasil, mas estende-se pela América Latina. Na Bolívia deu-se um golpe de Estado com a Bíblia na mão, o que resultou, logo em seguida, numa caça às bruxas dirigidas contra as etnias tradicionais daquele país,como os indígenas. O Estado precisa ser laico e republicano. Nunca confessional. Não pode seguir orientação religiosa "A" ou "B". Na década de 40 do século passado, quando setores hegemônicos da Igreja Católica apoiaram a ditadura do Estado Novo, ocorreu uma grande perseguição aos evangélicos e às religiões de matriz africana. Fica a lição histórica, de preferência para que não se repita. 

Trata-se de um poço de contradições perigosas em jogo, mas, infelizmente, este é o estágio em que o país se encontra. Estamos vivendo momentos de discórdias, agressões e ausências de consensos, o que, aliás, igualmente, vai de encontro à doutrina cristã.Preocupado ou não com essas questões, o fato concreto é que, segundo se informa, o presidente Jair Bolsonaro(PL) procura um vice terrivelmente evangélico, como uma forma de superar as primeiras dificuldades com a campanha e chegar ao segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Seus principais interlocutores seriam, claro, pela ordem, o pastor Silas Malafaia e o bispo Edir Macedo. O nome escolhindo, certamente, deverá agregar densidade eleitoral à chapa.  

Charge! Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 26 de dezembro de 2021

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


Editorial: O União Brasil tornou-se a noiva mais cobiçada pelos pré-candidatos presidenciais

 


São curiosas as movimentações políticas do União Brasil, um partido que se formou a partir da fusão do DEM com o PSL. Elas seguem uma diretriz pragmática, pontual, regional, sem nenhum "pudor" ideológico. Difícil dizer qual o partido ou pré-candidato presidencial que já não flertou com esta noiva cobiçada, de dotes políticos nada desprezíveis, como uma capilaridade política nacional, tempo de TV e, sobretudo, uma grande reserva oriunda dos fundos eleitorais. De Jair Bolsonaro(PL-DF) a Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), ambos já entabularam conversas com as raposas políticas dessa nova legenda, encaminhadas principalmente por seu Secretário Nacional, ACM Neto, herdeiro do Carlismo. 

Assim, o União Brasil tornou-se a noiva mais cobiçada de Brasília, de olho nas eleições presidenciais de 2022. Apesar dos bons dotes, o partido não tem um candidato presidencial. Cogitou-se a possibilidade do ex-Minitro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta assumir essa condição, mas isso ainda está no campo das possibilidades, sobretudo em razão das indefinições inerentes à terceira via, que só permitiria a viabilidade de apenas um candidato entre os tantos que já se apresentaram. 

Há uma penca de candidatos que disputam um lugar ao sol por essa via, mas, no momento, aquele que poderia, talvez, quebrar a resistência e reticência desse eleitorado parece mesmo ser o ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública do Governo Bolsonaro, Sérgio Moro(Podemos). Dentre eles, é o único que apresenta dois dígitos nas principais pesquisas de intenção de voto realizadas até o momento e possui uma base oriunda do bolsonarismo. Mantém uma diretriz de campanha voltada para esse eleitorado conservador,mas, como observamos ontem por aqui, precisa estabelecer uma comunicação com o pelourinho profundo da sociedade brasileira, o que, para ele, não seria uma tarefa das mais simples. 

Como disse, são curiosas essas movimentações políticas do União Brasil, que, no Rio de Janeiro, por exemplo, celebra acordos, ao mesmo tempo e consoante interesses específicos, com o pastor Silas Malafaia e Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados. É uma capacidade de ajustamentos que impressiona. Se algum pré-candidato vier a casar-se com esta noiva, terá conviver e aceitar os possíveis "amantes". No momento, o mais próxima de levá-la ao altar é o ex-juiz da Lava jato, Sérgio Moro, que já foi informado sobre as regras do jogo e deverá aceitar um vice indicado pelo partido. 

sábado, 25 de dezembro de 2021

Tijolinho: Miguel Coelho poderá montar o palanque de Sérgio Moro em Pernambuco.



Por enquanto, estamos no terreno das especulações, uma vez que o quadro de candidaturas, alianças e coalizões  presidenciais ainda está bastante indefinido. Um partido como o União Brasil, formado a partir da fusão do DEM e do PSL, por exemplo, flerta com diversos pré-candidatos, oferecendo dotes nada desprezíveis, como a capilaridade política nacional, o tempo de propaganda de TV e, sobretudo, a poupuda grana oriunda do fundo eleitoral. Seria um casamento motivado por interesses, mas, no Brasil, isso seria o de menos. Raposas cevadas, com grande espertise acumulada ao longo dos anos, os caciques da legenda estão barganhando como podem essa aliança política. Até o candidato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) já teria sentado na namoradeira,sob estrita vigilância dos radicais da legenda. Nenhum selinho deve ter pintado.  

Mas, a rigor a rigor, pelo andar da carruagem política, está se desenhando uma possível aliança do União Brasil com o candidato Sérgio Moro, do Podemos, com o partido já dando sujestões de mudunças em sua estratégia de comunicação e negociando a indicação de um possível vice na chapa do ex-juiz da Lava Jato. O nome de maior projeção da legenda seria o seu Secretário Nacional, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e possível candidato ao Governo da Bahia nas eleiçoes de 2022.É muito pouco provável que ele abdique de seu projeto de retomar o poder naquele Estado, berço do carlismo, criado pelo seu avô, Antonio Carlos Magalhães. Outro nome da legenda teria que se apresentar para compor com Sérgio Moro. 

Como temos reafirmado por aqui, a presença ou a ausência de um político no evento do outro pode remeter a determinadas conclusões importantes. Quando esteve aqui no Recife para o lançamemo do seu livro, Sérgio Moro foi prestigiado com a presença do ex-Ministro da Educação do Governo Temer, Mendonça Filho(UB-PE). Em sua retomada das andanças pelo Estado, o pré-candidato do União Brasil ao Governo do Estado, Miguel Coelho, prefeito de Petrolina, esteve ladeado pelo presidente da legenda, Luciano Bivar(UB-PE), cujo nome teria sido lembrado para vice de Moro. Miguel Coelho(UB-PE) tergirversa sobre o seu palanque presidencial, mas, pelo andar da carruagem política, Sérgio Moro é quem estaria  mais próximo de conhecer o bodódromo de Petrolina. O médico Luiz Henrique Mandetta, que poderia vir a ser o candidato do partido à Presidência da República, não toparia esta parada?

Publisher: Among the candidates, Lula is the only one who knows the deep pillory.



A good exercise for researchers - whether in the area of ​​Political Science or not - is to go into the reports of these polling intentions to know their details, far beyond the absolute numbers that indicate the performance of candidates "x" or "y ". Thus, we learn, for example, which social strata are more sympathetic to this or that applicant, their level of education or geographic region, age group, race and even gender issues can be inferred. It's a kind of x-ray of the research, from which, in fact, important conclusions can be drawn.

The most radical groups in the PT, for example, vehemently reject this alliance between Lula and former Toucan governor Geraldo Alckmin (No Party), but it is essential for the PT to reassure the market and manage to establish a link with the electorate more conservative, an important political seam, which contributed, for example, to the victory of the candidate of the left in the Chilean elections, Gabriel Boric. It is known that, if it reaches the Planalto, it will, in a certain way, govern with tied hands, within the strict limits established by our economic and political elite. Fundamental reforms for the country were not implemented during the PT coalition governments. On the other hand, a "pure blood" plate, formed by progressive sectors, would face enormous difficulties to succeed, mainly in the Brazilian political situation.

The PT candidate, no pun intended, also has a foot in the slave quarters, in the deep pillory of poverty and social inequalities in the country. Here is a happy expression of the educator Anísio Teixeira. Among the postulants who are there, Lula is the only one who knows the drama of poverty up close. Poverty that has even worsened in recent years, due to the pandemic, recession, unemployment and loss of income. Although they touch on this wound, like Sérgio Moro (Podemos) and João Dória (PSDB), it sounds artificial, coming from people from the Curitiba forums or from investors on Avenida Paulista. He is different from someone who knows the language of "Beco da Fome" or the Jequitinhonha Valley.

And it is exactly this differential of the PT – in relation to the other candidates – according to writer Thomas Traumann, from Veja magazine, that is making the difference. According to the last two surveys of voting intentions, carried out respectively by IPEC and Datafolha, Lula can settle the bill in the first round. Of course, a lot of water has yet to flow into the river for these upcoming presidential elections. Drawing definitive conclusions, at this point, would be rash, but the PT should maintain the primacy of communication with these poor people, a voter he knows so well, as well as their needs: From placing a child in a public university to that barbecue on the roof, with family and friends over a weekend. It doesn't even have to be rump steak, just a little chicken wing.

Charge! via Folha de São Paulo

 


Editorial: Sérgio Moro não conhece o pelourinho profundo.

 


Não faz muito tempo que publicamos por aqui um editorial, onde o articulista da revista Veja, Thomas Traumann, alertava para a necessidade de que os candidatos presidenciais mantivessem uma estratégia de comunicação que atingisse os estratos mais socialmente fragilizados da sociedade brasileira. Do contrário, enfrentariam alguns problemas em relação às suas performances nas pesquisas, uma vez que se faz necessário, no Brasil, dialogar com a Avenida Paulista e com Cabrobó, se o candidato deseja vencer uma eleição presidencial.

Nas entrelinhas,o articulista sugere que isso poderia justificar, por exemplo, que o candidato do Partido dos Trabalhadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), estivesse, até o momento, liderando todas as pesquisas de intenção de voto. Tomamos o mote como referência e produzimos um editorial por aqui, usando uma imagem do educador Anísio Teixeira sobre o país, onde o baiano - numa referência às desigualdades sociais - cunha uma expressão de grande significado: o Brasil possui um pelourinho profundo, numa referência, naturalmente, às demandas históricas das camadas sociais mais empobrecidas da sociedade brasileira. 

Acabo de ler, neste momento, uma outra matéria, na mesma publicação, acerca da personalidade e da narrativa discursiva adotada pelo ex-ministro da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), que tenta viabilizar-se como opção da terceira via. Há problemas nítidos com a sua imagem e com sua mensagem, dirigidas a segmentos específicos do eleitorado e, possivelmente, ignorada pelos eleitores dos estratos sociais mais fragilizados da nossa sociedade, esse eleitorado que perdeu o emprego; vendeu o carro por não ter condição de acompanhar os aumentos da gasolina; trocaram a costela de boi pelos pés e pescoços de frango; não mais realiza seus churrasquinhos na laje com os amigos e, em alguns casos, dependem do Aúxilo Brasil para adquirirem o básico para a sua sobrevivência. 

Naquele editorial comentávamos que, de fato, Lula conhecia o pelourinho profundo, ao qual se referia o educador Anísio Teixeira. Aliás, para ser mais preciso, Lula vem do pelourinho profundo, pois passou fome, obteve pouca instrução, subiu num pau de arara e coisas assim. Na década de 80 do século passado, quando vinha ao Recife, seguia com o senador Humberto Costa(PT-PE) para Garanhuns, numa Brasília Amarela velha, para visitar os parentes. No caminho, uma parada para comer um capão, acompanhado de feijão verde e suco de umbu. 

Por sua personalidade, por sua origem, nenhuma marqueteiro conseguiria a proeza de transformar Sérgio Moro num candidato de perfil popular. A única favela que ele conhece - e de passagem, registre-se - é uma que fica entre a sua residência e o fórum de Curitiba, onde trabalhava como juiz, conforme observava o articulista Thomas Traumann. Sérgio Moro pode até usar um chapéu de vaqueiro, deixar os paletós bem cortados para usar mangas de camisa, mas vai sempre soar estranho ver o ex-magistrado tomar uma lapada de cachaça com uma coxa de preá como tiragosto, algo tão comum no castigado Sertão Nordestino. Isso só a vida ensina.

Crédio da foto: Divulgação.  

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Editorial: Um editorial de Natal.


É sabido que o país encontra-se num dos seus momentos mais delicados, seja do ponto de vista político\institucional, seja no que concerne aos problemas econômicos e sociais, agravado por uma crise sanitária que ainda está longe de ser superada,embora, em razão da campanha de vacinação em curso, emita indicadores de arrefecimento. Curioso que nem aqui temos um consenso entre os órgãos, as autoridades de saúde e os representantes do Governo Federal,quando se está em discussão, por exemplo, a vacinação de crianças. 

É evidente que não se deveriam criar obstáculos para a vacinação das nossas criancinhas,sobretudo quando se abre as expectativas de ampliação do retorno às aulas presenciais no próximo ano. Definitivamente, perdemos a perspectiva do diálogo, que poderia produzir os consensos fundamentais num regime democrático. Era o sociólogo jamaicano Stuart Hall quem alertava para os problemas decorrentes desses "binômios', onde um dos polos, inevitavelmente, deseja esmagar o outro. Creio que nem o Papai Noel, com sua vestimenta vermelha, deve ter escapado da sanha dos caçadores de "comunistas' neste Natal, um termo que deixou de ser um verbete dos dicionários de Ciência Política e foi parar nos boletins de ocorrências policiais, posto que alguns desejam "criminalizá-lo'. 

Estamos num país cindido pela ideologia política ou, mais precisamente, por um tipo de "patologia política". Como diria o filósofo, dormimos o sono político que produziu o "monstro", que renasceu a partir das mobilizações de rua contrário ao aumento de centavos nas passagens do transporte coletivo e culminou com a ruptura institucional de 2016. O ódio disseminado pelas milícias digitais, aliado aos procedimentos jurídicos irregulares encarregaram-se de completar o serviço, destruindo reputações de pessoas e instituições, quebrando um dos pilares sagrados da convivência democrática, onde pressupõe-se as garantias das prerrogativas legais exaladas pelo Estado Democrático de Direito.  

É assim que vamos terminar 2021, com instituições em conflito, um país dilacerado, sob uma baita crise social e econômica, que já jogou mais de 22 milhões de brasileiros na condição de extrema pobreza, ou de insegurança alimentar, catando restos de alimentos em caminhões de transporte de lixo e coisas assim. Mesmo num período como este - onde o desejável seria as mesas fartas para todas as famílias brasileiras - temos que falar da simbologia do "osso", que deixou uma marca "indelével" como símbolo da crise social que o país enfrenta neste momento. 

Neste contexto, a única coisa que podemos desejar aos amigos e amigas que nos acompanham por aqui é o "discernimento' necessário para superarmos esses impasses em 2022, retomando terrenos democráticos perdidos, recuperando direitos surrupiados por tais políticas de corte neoliberal, o respeito e a tolerância com grupos indígenas, quilombolas, LGBTQIA+ e, principalmente, exigir  a implemrntação de políticas públicas estruturadoras, que superem a crise econômica e permitam  que os brasileiras e brasileiros excluídos voltem a comer três vezes por dia. Um Feliz Natal para os amigos e amigas que nos acompanham por aqui.