Acabo de assistir o documentário de Petra Costa, Democracia em Vertigem, recentemente disponibilizado pela Netflix. Já são quatro os documentários produzidos abordando o golpe de 2016 no país: O Processo(Maria Augusta Ramos), Excelentíssimos(Douglas Duarte), O Muro(Lula Buarque) e Democracia em Vertigem(Petra Costa). Ainda não tive a oportunidade de assistir os demais. O documentário de Petra tem recebido muitos elogios e cogita-se, até mesmo, uma provável indicação para concorrer ao Oscar, na categoria documentários. Analiso o documentário de Petra Costa na condição de cientista político, abstendo-me de fazer outras considerações, certamente mais atinentes ao pessoal do campo cinematográfico, o que não é bem a nossa praia.
Nossa lente é a lente da Ciência Política. Sob esse aspecto, o documentário não traz assim grandes novidades, exceto pelos flagrantes das cenas de selvageria produzidas pelo acirramento dos ânimos políticos daqueles dias sombrios, com reflexos até hoje. Um acirramento, aliás, acintosamente estimulado, quando deveria ser contido, em nome de uma convivência civilizada. Nos referimos aqui à cadeia de eventos sucessivos que culminaram com o golpe de 2016, identificando os atores políticos que participaram dessas tessituras, como a banca financeira internacional, consorciadas com setores da elite política e econômica, alinhavadas com segmentos da grande mídia e do judiciário. Como observa Petra Costa, somos uma república de famílias. Um dia eles se cansam e tomam o poder. Esse "cansaço" ou indisposição de nossa elite com as regras do jogo democrático, Petra Costa, na realidade é uma constante. O país vive de sobressaltos autoritários, com poucos momentos de tranquilidade e normalidade democrática. É uma democracia fadada a não consolidar-se.
Registro aqui uma entrevista concedida por um jurista americano que, bem antes do vazamento recente dos áudios do site The Intercept Brasil, já apontava as falhas clamorosas no processo que condenou o ex-presidente Lula à prisão. São flagrantes, desde então, as falhas na condução do processo que condenou Lula, como apontou sua defesa. O que o site traz de novo é a tessitura da armação dessa trama, consubstanciando aquilo que os juristas imparciais já haviam denunciado. Aliás, ao final da fala, o jurista conclui que a maior garantia de um julgamento justo para um réu é um juiz imparcial. Num país com um mínimo de normalidade democrática e ordenamento jurídico, o mal teria sido evitado desde os grampos ilegais e o posterior vazamento dos mesmos, uma afronta à Constituição.
Um conceituado jurista pernambucano, depois de assistir ao documentário, ficou impressionado com o sofrimento da presidente Dilma Rousseff. De fato, sim. Chora bastante ao lembrar do pavor imposto pelas sessões de tortura às quais foi submetida, o câncer que superou e a morte de nossa democracia. Concluído as eleições presidenciais, com a vitória de Dilma Rousseff, seus algozes já haviam decididos que ela não iria governar. Os vazamentos do site The Intercept Brasil - afirma-se que o material é robusto - nos ajudam a entender um pouco melhor a costura golpista, os interesses em jogo, assim como seus principais artífices. Como observou o jornalista Luis Nasiff, a república caiu juntamente com o avião que conduzia o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, disposto a impedir os excessos.
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