pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Um ranking do autoritarismo
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sábado, 1 de junho de 2019

Editorial: Um ranking do autoritarismo


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Faz algum tempo que não leio algum artigo alentador sobre a atual conjuntura política do país. Também pudera. O país vive um dos seus momentos políticos mais delicados, envolto numa crise institucional, política e social sem precedentes, agravada pela militarização do aparelho de Estado, uma combinação que pode tornar-se explosiva, numa situação aguda de gestão dessa crise. Nas últimas semanas, discutimos por aqui o quadro grave em que se encontra nossas instituições democráticas, apontando suas fragilidades.  Sabíamos, portanto, que o quadro era grave, mas, hoje pela manhã, li um artigo publicado pela revista Piauí, em sua edição de Março, escrito por Celso Rocha de Barros, onde ele tece uma avaliação bastante pessimista acerca de um outro indicador, aquele que indica o atual estágio de nossa depressão autoritária. 

Como já informamos por aqui, essa depressão autoritária é algo que se apresenta numa escala global, como uma crise da democracia liberal de um modo mais geral, com reflexos, naturalmente, aqui no país, como um rearranjo das forças conservadoras.Mas, o que chama a atenção é o grau de retrocesso autoritário enfrentado por diversos países, nessa onda que varre o planeta, também como reflexo do arranjo da economia capitalista ou, mais precisamente, de sua cada vez mais precária relação com as instituições da democracia liberal. Nesta escala, segundo os bons analistas da Ciência Política, o pais teve um retrocesso grotesco, ocupando o primeiro lugar da lista, ou seja, é o país onde esse retrocesso autoritário mais evoluiu dessa galeria, com indicadores observados cotidianamente pelos leitores mais perspicazes. Um dos indicadores apontados no texto - com o nosso endosso - é o absoluto desrespeito pelas posições dos organismos internacionais sobre o que ocorre no país.

Isso talvez se explique pelo nosso permanente estágio de vulnerabilidade democrática, como discutimos nos editoriais anteriores. Nossa democracia nunca consolidou-se, sempre foi de baixa intensidade, pelas razões ali apontadas. Hoje se fala em possíveis pactos ou soluções políticas que possam representar uma salvaguarda dos resíduos que ainda restaram desse tsunami autocrático, iniciado ali pelo ano 2013, culminando no golpe institucional de 2016. Como informo no início deste editorial, as notícias da área econômica também não são alvissareiras, o que contribui para agravar ainda mais a crise social. Desta vez, sem os amortecedores políticos, que permitiriam ao governantes saírem da inércia, da paralisia administrativa provocada pelas dificuldades de negociações com o parlamento, num ambiente de governança não ideal - com o presidencialismo de coalizão isso seria improvável - mas possível. 

Notícia boa, leitores, apesar do momento delicado, é que percebo que há alguns espaços onde os analistas sociais estão se debruçando sobre esses temas nevrálgicos, assumindo posturas mais consequentes, como, por exemplo, apontar os erros e acertos dos governos anteriores, como o governo de coalizão petista e a era tucana. Os tucanos, como observou Celso Rocha de Barros, neste mesmo artigo já citado, democratizou o PFL, um grupo político cevado nos estertores da ditadura instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Foram arranjos institucionais que, bem ou mal, garantiram a governança e, de alguma forma, interditaram os assédios autoritários e os sobressaltos na condução da politica econômica, ao manter o processo inflacionário sob controle. Um ganho e tanto, convenhamos. Hoje, os tucanos se afastaram do jogo, praticamente entregando a legenda a um ator político identificado com o status quo do grupo que assumiu o poder, o governador de São Paulo, João Dória Júnior. 




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