pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Você tem fome de que? ( O empobrecimento da linguagem nos regimes autoritários)
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domingo, 28 de julho de 2019

Editorial: Você tem fome de que? ( O empobrecimento da linguagem nos regimes autoritários)

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    Nesta semana, publicamos o segundo texto de uma série que objetiva discutir as categorias dos regimes autoritários, consoante uma apropriação original do livro 1984, do escritor inglês George Oswell, a partir de uma leitura do filósofo francês Michel Onfrey, discussão apresentada pelo jurista Rubens Casara, em artigo publicado no site da revista Cult. Ainda absorto com o texto da semana passada, nesta mesma linha de raciocínio, refleti bastante sobre um outro livro emblemático, do escritor americano, Ray Bradburry, 451, onde é demonstrado como os regimes fascistas perseguem os intelectuais, prendendo-os e queimando seus livros em praça pública. Em Ray Bradburry fica evidente o anti-intelectualismo característico dos regimes fechados de governo ou, para ser mais preciso e atual, as ditaduras de um novo tipo.

    Hoje, no entanto, depois de uma autocensura imposta a um editorial contundente que já havia escrito - vamos tratar do empobrecimento ou dessimbolização da linguagem, ou seja, a perda de sentido de valores como "liberdade", "igualdade", "fraternidade", "verdade", "ética". Nos últimos dias, então, tivemos muito pano para as mangas. A semana foi pródiga nesses exemplos. George Oswell observa, afirma Rubens Casara, que nesses momentos de obscurantismo, quando o regime político vai se fechando, há uma espécie de eufeminização da linguagem, ou seja, coisas tidas antes como absurdas vão se tornando corriqueiras, triviais. Num país de miseráveis, onde seria uma excrescência desconhecer os milhões de famintos, pode-se, por exemplo, negar a existência da fome. Os nordestinos podem ser reduzidos a paraíbas, assim como a preocupação com o meio ambiente, reduzida a uma questão de veganos. Uma portaria que depõe contra os princípios de convivência democrática e da liberdade de expressão ganha o número fatídico da besta ferra do apocalipse: 666.

    Não se constitui uma tarefa complexa entender as razões pelas quais os atores políticos identificados com projetos autoritários odeiam tanto os intelectuais. A razão mais óbvia é que os intelectuais, em princípio, são menos infensos a projetos políticos desta natureza, esboçando maiores resistências à sua consolidação. De qualquer forma, recomenda-se a prudência necessária, no entanto, quando se trata dos intelectuais brasileiros, cuja origem é notadamente a classe média e a elite, com os valores e vieses daí decorrentes. Em todo  caso, anpassant, a principal razão parece ser mesmo o esboço da reação desse grupo social aos projetos autoritários. 

    Coincidentemente, atores políticos identificados com projetos autoritários são pessoas com sérios recalques e frustrações pessoais, não raro com a academia. A investida e o projeto de desmonte da estrutura pública universitária brasileira, assim como a queima de livros na obra de Ray Bradburry parecem evidenciar a assertiva acima, ou seja, o ódio ao conhecimento. Na próxima semana, daremos prosseguimento a essas reflexões, tratando da abolição da verdade ou o seu relativismo. Embora comprovadamente verdadeiros, o conteúdo dos áudios perdem em importância em relação aos métodos utilizados para obtê-los. 



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