pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Editorial: Deputado pede anulação da votação contra Cunha no Conselho de Ética.








O Brasil tem umas coisas engraçadas e trágicas ao mesmo tempo. Os chargistas, possivelmente, são os profissionais que melhor traduzem essa nossa realidade, através dos seus traços. Já publicamos por aqui algumas charges fantásticas sobre os conselhos e comissões de ética formados no Brasil, não raro, constituídos por atores pinçados de um universo naturalmente comprometido, com um currículo mais sujo do que pau de galinheiro. Depois, em função das contingências, exige-se o improvável desses atores: que eles ajam consoante princípios éticos, movidos pela isenção de julgamento e pautados pelo espírito público. Que nos perdoem os leitores, mas estamos aqui diante de uma missão impossível. 

No dia de hoje, havíamos programado tratar da accountability de um determinado partido que governa o Estado de Pernambuco e que já estamos enojados de acompanhar, quase que diariamente, denúncias de malversação de recursos públicos por parte dos seus membros. É algo que impressiona a engrenagem montada por essa agremiação política com o propósito de gerir o bem público com objetivos de auferir vantagens pessoais para os seus membros. A imoralidade salta aos olhos. Como é que um gestor público pode ser sócio de uma empresa que tem negócios com a máquina pública? Como é possível que os órgãos de fiscalização permitam uma excrescência dessas? Outros tantos, através de emendas parlamentares, realizam shows particulares em suas fazendas com recursos da EMPETUR? Vejam o estágio a que chegamos aqui na província. Não faltarão oportunidade de voltarmos a tratar deste assunto.

Por enquanto, vocês foram salvos pelo Eduardo Cunha. Agradeçam a ele. Por falar em salvação, parece ser esta a missão dos companheiros do deputado na Câmara Federal ou, mais precisamente, a dos seus operadores no Conselho de Ética daquela Casa. Desta vez a manobra é no sentido de anular a votação que pede o afastamento do Deputado Federal Eduardo Cunha(PMDB), sob o argumento de que o ilustre parlamentar teria sido "traído" por aliados. É um dos argumentos mais estapafúrdios que já ouvi. Demonstra um absoluto desprezo pelas "regras do jogo", o que não seria surpresa quando se trata dessa trupe que o acompanha. Já se disse aqui que o Eduardo Cunha já teria cumprido o seu papel nessa engrenagem do golpe institucional estando, portanto, na condição de "descarte".

O problema é como descartá-lo, posto que se trata de um ator com informações privilegiadíssimas sobre toda a engrenagem e os atores envolvidos. O medo ao cara é tanto que até as portas do Palácio Jaburu foram abertas para recebê-lo secretamente, altas horas da noite. Logo em seguida, manobras na Câmara dos Deputados deram a entender que o establishment ainda tentaria salvar seu pescoço, temendo por sua reação quando se encontrasse abandonado. Volto a fazer uma pergunta que já fiz aqui pelo blog: não sei como eles vão se "ajeitar" com o Deputado Eduardo Cunha. Trata-se um ator político com um padrão de rejeição popular tão acentuado que não interessa nem aos golpistas, mas sabe muito e pode criar vários problemas para o núcleo duro da engrenagem. 

Há uma forte reação dos parlamentares em não aceitar mais essa manobra perpetrada com o propósito de protelar, mais uma vez, o afastamento do senhor Eduardo Cunha do parlamento. Vamos torcer que, nesta correlação de forças, os parlamentares que se opõem às manobras possam reverter mais este ardil. 
  

Drops político para reflexão: Para George Sanguinetti, morte de Paulo César Morato foi queima de arquivo







Contribuição ao esclarecimento da morte de Paulo Cesar Morato. Elementos que fundamentam o homicídio, a queima de arquivo.
Observo o levantamento fotográfico, parte da perícia de local, realizada no quarto do motel Tititi, em Olinda, PE, onde o corpo foi encontrado. Há dois copos, encontrados no banheiro e uma garrafa de água. Como houve " falha de comunicação" do Delegado com o setor de Perícia e os peritos papiloscopistas não foram convocados, para realizar a coleta das digitais; foram impedidos de colher estes vestígios, tão importantes para afirmar e identificar pessoa ou pessoas presentes,quando da morte..

Agora o inacreditável: o acondicionamento dos copos e da garrafa, transportado para o setor de Perícia, foi feito de modo irregular, relapso, envolvidos em sacos plástico; não permitiu, segundo divulgado, que fosse identificado digitais, traços ou fragmentos. Como justificativa ou desculpa, o fato de haver sido acondicionado em sacos plásticos. 
Tem conhecimento, os Peritos que a metodologia da coleta, acondicionamento e armazenamento de vestígios, determina preservar a integridade do material que será examinado, utilizando caixas de papelão, armações de madeira para acondicionamento de garrafas, copos, vidros em geral. Agora o mais importante: no nosso laboratório, pedimos a colaboradores, que segurassem copos e garrafas; em seguida agimos, como reprodução simulada, envolvemos todos com sacos plásticos e algumas horas após, examinamos em busca de digitais. Encontramos impressões digitais latentes, traços, fragmentos, com técnica simples em todos os copos e garrafas. 
Volto a afirmar o manuseio do cadáver. A ausência de secreções hemorrágicas em redor da boca e nariz, de vômitos na fronha, roupa de cama, o facies, a posição, a limpeza cirúrgica indicam que o cadáver foi manuseado, preparado para ser encontrado.
Investiguem o homicídio. A queima de arquivo.

 Médico legista George Sanguinett, em sua timiline da rede Facebook.

Le Monde Diplomatique: Bancadas da cidadania


Claudius
por Silvio Caccia Bava
Houve um tempo em que se definia a democracia como o governo do povo, pelo povo e para o povo. Os tempos mudaram e a globalização impôs uma nova realidade: as grandes corporações, especialmente as financeiras, controlam as decisões de governo. Elas escrevem as leis e pagam os políticos para que eles façam o que elas querem. Temos assim uma democracia das grandes corporações, pelas grandes corporações, para as grandes corporações.¹
O fato de as decisões públicas estarem cada vez mais alinhadas com os interesses econômicos, e não com as expectativas da população, gera um descrédito crescente, praticamente em todos os países ocidentais, com relação aos partidos políticos, aos parlamentos e aos poderes de maneira geral. 
Dados da Transparência Internacional apontam que o povo vê os partidos políticos como as instituições em que menos acreditam, identificando-os como corruptos ou extremamente corruptos. É a opinião de 70% da população da França, 80% da Espanha, 90% da Grécia. 
As pessoas se sentem excluídas. Os cidadãos perderam o sentimento de que participam dos governos. Reduziu-se a democracia a eleições que, de quatro em quatro anos, passam um cheque em branco para candidatos que, em sua ampla maioria, não representam seus interesses. 
Esse cenário internacional também se expressa no Brasil. As mais recentes pesquisas de opinião sobre esse tema revelam que 78% da população está com a confiança abalada em relação aos políticos em geral; 77%, em relação aos partidos políticos; e 60%, em relação ao Congresso Nacional.² O prestígio dos partidos políticos despencou para 5%; o do Congresso Nacional, para 22%.³ É o sistema político como um todo que entra em colapso. 
Não podemos aceitar esse controle da democracia pelas grandes corporações, que criminaliza os atos de resistência democrática e restringe as liberdades cada vez mais. E as pesquisas demonstram que os partidos políticos, todos eles, não estão merecendo a confiança do eleitor. É nesse cenário que irão ocorrer as eleições municipais deste ano. 
Quais opções então se colocam para o cidadão e a cidadã que defendem a democracia e os direitos sociais? Muitos estão propensos a se abster, a não votar. Se uma abstenção, por exemplo, de 40% deixasse vagas 40% das cadeiras da Câmara Municipal, esse protesto teria seu peso. Mas não é assim. O resultado dessa abstenção é piorar ainda mais o parlamento municipal, que irá de toda forma eleger os mais votados. 
A crise política nacional afeta de muitas maneiras a atual conjuntura. Um de seus efeitos é praticamente ignorar as eleições municipais, que terão lugar em menos de noventa dias. Com o foco no impeachment e na Lava Jato, a grande imprensa ignora tudo o mais. Mas é preciso destacar que esta será a primeira eleição do século XXI em que as empresas estão proibidas de financiar seus candidatos. As campanhas terão de ser feitas nas ruas e dependerão muito das associações, coletivos, movimentos e sindicatos, que articulam a sociedade civil. 
Trata-se de uma oportunidade para que a cidadania se reaproprie do espaço da política e venha a constituir, independentemente dos partidos políticos, suas bancadas de vereadores alinhadas com a defesa dos direitos e da democracia. 
Enquanto não se realiza uma constituinte independente pela reforma política, é preciso pensar em outras estratégias para enfrentar estas eleições. Uma possibilidade é deixar de considerar os partidos políticos e votar em candidatos e candidatas que tenham uma história de compromissos com os direitos sociais, com os coletivos de defesa da cidadania, com os movimentos sociais, com a democracia. E, assim como existem as bancadas de interesses corporativos no Congresso Nacional – do agronegócio, dos bancos, da bala etc., distribuídas por vários partidos políticos –, teremos as bancadas da cidadania recrutando também vereadores eleitos por vários partidos. 
As bancadas da cidadania são importantes nesta conjuntura porque as eleições se dão em um momento em que o governo federal golpista se propõe a cortar profundamente o orçamento das políticas sociais e a facilitar a transferência para o mercado de muitas das políticas públicas a cargo das prefeituras. É o caso do Sistema Único de Saúde, o SUS, que se mantém até hoje como o maior sistema público de atendimento do mundo porque é a população mobilizada nos municípios que o defende. É o caso do serviço público de água e esgoto, um dos alvos prediletos da privatização. 
O povo não aguenta mais a mercantilização da vida, a transformação de todos os serviços e equipamentos de que necessita para viver nas cidades em mercadorias. Junho de 2013 foi uma manifestação contra essa mercantilização dos serviços e contra a prática de preços abusivos. 

O direito à cidade é cada vez mais importante para garantir o bem-estar da população. As bancadas da cidadania poderão ser uma inovação de grande impacto. Elas serão a expressão parlamentar local, articuladas aos movimentos sociais, da luta pelos direitos e pela democracia.
 


Silvio Caccia Bava
Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil

terça-feira, 5 de julho de 2016

Editorial: Em vídeo, Marilena Chauí afirma que Moro foi treinado pelo FBI





Uma das notícias que mais repercutem no dia de hoje é a divulgação de um vídeo da filósofa Marilena Chauí, que denuncia uma espécie de complô, onde um dos principais atores envolvido é o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. Neste vídeo, Marilena afirma que Moro recebeu um treinamento que é característico do que o FBI fez no Macarthismo ( política de perseguição anticomunista adotada pelos EUA nos anos 50), centrado na intimidação e delação, com o propósito de desestabilizar politicamente o país, para obter a hegemonia americana sobre o pré-sal. A Lava Jato é o prelúdio da destruição da soberania brasileira para o século 21 e 22. Antes de mais nada, se os leitores nos permitem a divagação, depois da morte misteriosa do 5º elemento da Operação Turbulência, aqui no Recife, juntamente com as observações da filósofa, roteiros para bons filmes ou romances policiais no Brasil é o que não faltam.

Primeiro, gostaria de informar que sempre levei muito a sério a professora Marilena Chauí e jamais embarcaríamos nessa onda orquestrada pela direita coxinha no sentido de "desacreditá-la", tratando suas declarações como fantasiosas, inconsequentes, movidas pelo entusiasmo de militante petista, sem qualquer fundamentação na realidade. Quem desejar saber mais sobre o que andam afirmando sobre ela é só dá uma olhadinha no trend do Microblog Twitter onde ela ocupa um lugar de destaque, em franca ascendência. Não fosse por uma juventude que ocupa aquele espaço para extravasar suas emoções diversas, a filósofa, certamente, ocuparia o topo da lista. 

O que os seus críticas afirmam é que Marilena Chauí estaria delirando, fazendo afirmações descabidas e fantasiosas. Não creio. Primeiro pela responsabilidade intelectual da professora de filosofia da USP, uma persona que ocupa talvez o maior capital simbólico no campo da filosofia no Brasil. Ela não colocaria esse capital simbólico em jogo apenas para, como ocorre com alguns Olavos e Vilas, ocupar um espaço na mídia, que ela teria como obtê-lo de outra forma. Suas ligações com o PT também são conhecidas, mas isso também não a levaria a turvar seu pensamento, movida pela ideologia ou identificação partidária. E, por outro lado, mesmo correndo o risco de também ser tratado aqui como louco, devo dizer a vocês que concordo com ela.  

Na década de 50, o escritor americano Ernest Hemingway, depois de uma passagem por Cuba, passou a ser vigiado constantemente pelo aparelho de segurança dos Estados Unidos, embora, nesse período, tenha abastecido os americanos com informações importantes. Mesmo assim, os americanos não confiavam muito nele, em razão de suas confessáveis simpatias pelo comunismo. Quando comentava a esse respeito, as pessoas diziam que ele estava com alguma paranoia, típica de pessoas com distúrbios mentais. Ernest morreu, os anos se passaram e, logo depois, através de fontes do próprio serviço secreto, veio a confirmação de que, de fato, Ernest foi alvo das investigações do macarthismo, pelas razões expostas acima. Paranoicos mesmos eram os partidários do senador Joseph McCarthy, que perseguiram e puniram pessoas inocentes pela simples razão de pensarem diferente. Muitas atrocidades foram cometidas no período. Bastava eles desconfiarem de alguém e este alguém estava com a imagem destruída e os canais de trabalho obstruídos, como ocorreu com muitos atores e atrizes americanos.  

O que Marilena destrincha são alguns aspectos bem conhecidos da engrenagem golpistas em curso no Brasil, apontando alguns dos seus agentes e possíveis interesses em jogo. Alguém tem alguma dúvida sobre seus "patrocinadores"? Que a "banca internacional" está por trás disso? Sobre a identidade dos seus cumpinchas ou operadores locais? Seu propósito de privatizar o patrimônio e a soberania nacional? Essa engrenagem golpista mói de uma maneira muito bem urdida. A "cruzada contra a corrupção" constitui-se apenas num "apelo popular", além de ser descaradamente "seletiva" - bem ao estilo do macartismo, como afirma a filósofa - atingindo atores políticos notadamente do Partido dos Trabalhadores. 

A questão é de natureza política. Nem mesmo com a perícia de técnicos do Senado Federal confirmando que Dilma Rousseff não poderia ser responsabilizada pelas decantadas "pedaladas fiscais", o ânimo dos operadores não diminuiu nenhum pouco. A cabeça da presidente Dilma Rousseff, muito provavelmente, será entregue pelo Câmara Alta. Quem afirma que Marilena está louca ou é inconsequente ou deveria reavaliar suas posições. 


George Sanguinettti entra no caso da morte da menina Beatriz.




Hoje o editor do blog recebeu a informação de que o médico legista alagoano, George Sanguinetti, deverá, oficialmente, entrar no caso da morte da menina Beatriz Angélica Mota, de apenas 07 anos de idade, assassinada com requintes de crueldade, durante uma festa realizada no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, na cidade de Petrolina, Sertão do São Francisco. Beatriz foi encontrada morta com 42 facadas, numa sala de material esportivo desativada daquela unidade de ensino. Decorridos 06 meses depois, o crime permanece não solucionado, envolvido em inúmeras polêmicas e suscitando muita inquietação da população local, que chegou a organizar inúmeros protestos pedindo a sua elucidação e punição dos culpados pela barbárie. 

Há indicadores que comprometem uma possível solução do crime. Pouco tempo depois, a cena do crime ficaria totalmente comprometida. Os trabalhos periciais também não puderam ser realizados em condições propícias, uma vez que a Polícia Civil precisou recorrer a um perito do Recife, posto que não havia aquele profissional atuando na delegacia local. 05 funcionários ouvidos pelo delegado entraram em contradição, mas é só isso. Não há elementos para apontá-los como possíveis participantes do homicídio. Antes do crime, 03 chaves haviam sumido, mas nenhuma dela era do depósito onde foi encontrada a menina Beatriz. Há um promotor que sugere que o crime poderia ser de natureza religiosa, dadas as condições da morte, e pela festa, realizada numa instituição católica. Há a suspeita de que o crime teria sido milimetricamente premeditado, o que pode dificultar o seu esclarecimento.

Ocorreram muitos apelos pelas redes sociais para que o médico legista alagoano Goerge Sanguinetti entrasse neste caso. A Polícia Civil do Estado mostrava-se reticente ao apelo de sua participação no caso. Finalmente cederam e ele entra oficialmente nas investigações da morte de Beatriz, de forma discreta, evitando as polêmicas que sempre o acompanharam, depois de suas conclusões sobre a morte de PC Farias. Decorrido mais de seis meses do assassinato - e com o comprometimento dos trabalhos técnicos - acredita-se que será muito difícil que ele possa apresentar algum fato novo sobre a morte daquela criança. Em todo o caso, vamos aguardar, pois trata-se de um excelente profissional. Acreditamos muito no trabalho dele. Ficamos por aqui torcendo que ele seja bem-sucedido porque é um absurdo que os autores desse homicídio fiquem impunes. 


P.S.: Do Realpolik: Como amigo -ainda que virtual - do médico legista George Sanguinetti, observei em sua timiline as suas primeiras considerações sobre o assunto. Se ele autorizar, publicaremos por aqui. 

Beatriz morta por vingança. Querer atribuir que foi para magia negra é uma fantasia. O brutal assassinato era direcionado para Beatriz. Foi premeditado. Não foi confundida com outra criança que deveria ser morta. Por que o autor ou autores tem ganho da Polícia, que anda em círculos? Polícia deficiente ou crime perfeito? E mais retrato falado, este após seis meses. O Colégio também foi vítima.

E querem imputar o Colégio como responsável? Por que fez reformas posteriores ao crime hediondo, mas a Polícia não havia interditado o local e cercanias, após remoção do cadáver. Não proibiu ou orientou ao Colégio para não realizar reformas. O que tem haver problema fiscal , de impostos do Colégio com a morte? Tirar licença, comunicar as autoridades que vai fazer um evento escolar, interno, não é exigência legal. Usar senhas ou não, nada contribui ou contribuiu para a morte de Beatriz. Interditar uma ponte de grande fluxo de veículos, que liga duas importantes cidades, em nada vai contribuir para o esclarecimento. O Colégio também foi vítima. Uma instituição respeitada, com muito serviço prestado a Petrolina e adjacências, foi atingido por um assassinato no seu interior. E a força-tarefa do Ministério Público? Vem sanar as tarefas não realizadas pela Polícia? Aguardo com confiança ação do Ministério Público.
Em Criminalística, os processos técnicos empregados pela Polícia devem permitir responder as célebres indagações fundamentais do heptâmetro de Quintiliano; onde ocorreu o fato, quando ocorreu; qual foi o meio empregado; de que forma este meio foi utilizado; qual a arma utilizada e por quem? 
As respostas mais importantes não foram encontradas pela autoridade policial. Onde ocorreu o fato? No início teria sido morta do quarto desativado de guarda de material esportivo. De repente, divulga a autoridade que foi morta em outro local e o corpo conduzido para onde foi encontrado. Só não encontrou em que outro local ocorreu o crime hediondo. Não responde também, por quem? Tempo teve, são decorridos mais de seis meses. E trabalham dia e noite, conforme noticiado. 


Médico legista George Sanguinetti 




segunda-feira, 4 de julho de 2016

Editorial: A saia-justa de Fernando Henrique Cardoso na entrevista concedida à TV Al Jazzera




Os adversários do PT estão fazendo a festa pelas redes sociais, depois de mais uma fase da Operação Lava Jato, denominada de Operação Abismo, onde um dos principais envolvidos é um ex-tesoureiro da agremiação, Paulo Ferreira. Por princípio, não defendo quem se envolve em malversação de recursos públicos, mas não deixa de ser interessante essa espécie de investigações ou  indignação "seletiva", uma vez que o nosso ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha(PMDB), pelo números de provas acumulados contra ele, já deveria estar preso, cumprindo pena. Creio que, até o final da tarde, a Operação Abismo deve estar ocupando o primeiro lugar na Trend do microblog twitter, estimulada pelos coxinhas. 

Mas, gostaria de comentar com vocês, hoje, um outro assunto. Trata-se de uma entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a um repórter da TV Al Jazeera, onde, por mais de uma vez, o jornalista o colocou contra a parede ao tratar de assuntos emblemáticos do país, como o golpe institucional orquestrado contra a presidente afastada Dilma Rousseff. Esses caras estão sempre se metendo em saias-justas quando precisam se posicionar sobre o tema. Afinal, a manobra urdida contra a presidente afastada Dilma Rousseff, foi movida por interesses políticos e ideológicas, sem base jurídica e liderada por corruptos que convenceram os incautos a acompanhá-los nessa aventura que mergulhou o país num grande impasse institucional, de consequências imprevisíveis, posto que é muito difícil construir algum pacto - mesmo que em defesa da democracia - nessas circunstâncias. 

O danado é que a entrevista da TV Al Jazeera versava exatamente sobre o golpe ocorrido no país, uma vez que a mídia internacional já formou sua opinião a este respeito. Num dado momento, o repórter questionou a "motivação" das pedaladas fiscais, uma vez que perícias realizadas isentavam a presidente dessa responsabilidade. A esse respeito, Fernando Henrique Cardoso saiu-se com o argumento de que a presidente Dilma Rousseff teria cometido uma manipulação do orçamento fiscal. O repórter retomou a conversa observando que, neste caso, ele teria cometido o mesmo equívoco quando governou o país. Um contra-argumento que ficou sem resposta. 

A coisa esquentou mais ainda quando o repórter entrou no mérito do pau de galinheiro dos golpistas, notadamente os nomes do PMDB envolvidos nos rumorosos casos de corrupção da máquina pública. Neste caso, FHC foi até sincero, admitindo que os caros se aproveitaram de um apelo popular - o suposto combate à corrupção - para tomarem o poder. É preciso que se diga, entretanto, que os tucanos fizeram parte dessa engrenagem, apoiando essas urdiduras desde o começo, dando o sinal verde para os peemedebistas e integrando o governo interino. Não é a primeira vez que, quando emparedado, o senhor FHC entra nessas contradições. 

E, assim, de contradição em contradição, de manifestações de repúdio e manifestações de repúdio, de desaprovação e desaprovação, os golpistas vão se segurando - não se sabe até quando - nessa corda bamba. Estão caindo no ridículo por todo o Brasil, quando não partindo para as agressões, como o daquela senhora que foi violentamente agredida por partidários do Deputado Federal Jair Bolsonaro, em Brasília, até recentemente. O lamentável de tudo isso é que chegamos a um estágio de muita intolerância, praticamente polarizando a sociedade entre dois grandes grupos: os golpistas e os legalistas. Infelizmente, essa era uma das possibilidades possíveis.   

Quem matou Paulo Cesar Morato? Chamem o Francis Ford Coppola.




O corpo do senhor Paulo César Morato, o PC pernambucano, finalmente foi liberado pelo IML aos seus familiares, que realizaram seu funeral no dia de ontem, na cidade de Barreiros, zona da Mata Sul do Estado. Neste sábado, dia 02, a delegada encarregada de elucidar o caso, Gleide Ângelo, juntamento com um corpo técnico de peritos, realizaram uma última perícia no local de sua morte - o Motel Tititi, em Olinda - com o objetivo de descartaram completamente qualquer outra possibilidade como causa de sua morte que não o suicídio. Fizeram uma espécie de perícia topográfica do local, observando dimensões físicas, posicionamento das câmaras de segurança, altura dos muros etc. Tudo isso com o propósito de descartar a presença de mais alguém no quarto onde ocorreu a morte de Paulo César. 

Tenho acompanhado este caso aqui pela blogosfera, pela imprensa e pelas redes sociais. Pelas redes sociais, abrimos um link muito importante, um espaço que congrega médicos legistas, delegados e peritos, o que nos proporcionou lúcidos esclarecimentos sobre este caso. Louve-se o trabalho dos profissionais da Polícia de Pernambuco no sentido de elucidar este caso, mas, infelizmente, ocorreram falhas durante todo o processo o que, em última análise, vão deixar margem para as teorias conspiratórias em torno da morte do 5º elemento da Operação Turbulência. Certamente vão alegar que haveria outras tantas possibilidades de alguém adentrar aquele quarto, sem ser flagrado pelas câmaras de segurança ou até mesmo com a conivência de terceiros. Um suposto assassino poderia ter entrado antes, tranquilamente, ao lado de uma garota de programa, por exemplo, sem levantar qualquer suspeição, combinando encontrá-lo ali.

De acordo com informações publicadas nas redes sociais, a perícia nos copos onde supostamente estava o veneno ingerido por Paulo César ficaram comprometidas em razão de seu armazenamento inadequado. A perícia no Jeep também não foi realizada, creio que em razão da ordem para interromper os trabalhos, uma determinação que sempre levantou enormes polêmicas neste caso. O fato é que, em razão de uma série de "falhas", o caso Paulo César Morato irá suscitar, sempre, muitas dúvidas na opinião pública. Paulo César Morato sabia demais. Era um arquivo vivo - se desejarem um HD - com todos os dados da engrenagem da Operação Turbulência, que envolve muitos peixes graúdos da cena política e empresarial pernambucana. Como disse antes, "falhas' não seriam permitidas num caso como este. 

Este caso também contribuiu para evidenciar alguns problemas concretos no aparato de segurança pública do Estado. As notas publicadas pelo Sinpol e pela Adeppe dão a dimensão do problema. A impressão que se passa é que ninguém se entende por ali. Até mesmo a existência de uma Secretaria de Defesa Social chegou a ser questionada, em nota, pela Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco. Há brigas de egos, de espaço, corporativas, de toda ordem, o que, no final, acaba se refletindo na condução dos trabalhos e nos resultados alcançados. O grau de divisão está bastante acentuado. Até mesmo no interior da Polícia Científica parece haver alguma divisão. Algo precisa ser feito.

Se, em momentos anteriores, poder-se-ia convidar o médico legista George Sanguinetti para acompanhar os trabalhos periciais deste caso, hoje, talvez seja o caso de convidar o cineasta americano Francis Ford Coppola, diretor de O Poderoso Chefão, uma vez que o caso daria um bom roteiro de um filme policial. Possui todos os ingredientes - alguns até cômicos, como os humildes pescadores-empresários das praias do litoral sul do Estado, mostrados pelo jornal Folha de Pernambuco - até o corpinho muito bem arrumado de Paulo César Morato, algo incompatível com quem ingere chumbinho, que, naturalmente, se contorce em função das convulsões, hemorragias e dores horríveis provocados pelos seus efeitos. Até onde se sabe, não haveria - nos lençóis e nos travesseiros - evidências de uma morte por chumbinho. Mesmo um dos peritos tendo recomendado que os "pombinhos" não poderiam usar aquele espaço para sem-vergonhices, a recomendação não teria sido acatada, tendo-se limpo e aberto o quarto para as "rapidinhas" que, nestes tempos de crise, devem estar em alta. 

Para entender mais sobre o caso, não deixe de ler:

Ainda sobre a morte de Paulo César Morato, o PC pernambucano   


O Brasil de Skidmore

Skidmore debruçou-se sobre a história do Brasil numa reconstituição da 'questão racial' que reavalia as ideias e as posições dos principais intelectuais.


Ricardo Musse
Elyeser Szturm
Thomas E. Skidmore (1932-2016) foi, certamente, entre os pesquisadores norte-americanos que se dedicaram à história do Brasil, o que mais encontrou leitores em nosso país. Isso se explica, em parte, por sua predileção pela história política contemporânea. Mas convém não subestimar seu senso de oportunidade e sobretudo sua confissão de que escreveu voltado para o público brasileiro.
 
Inicialmente, Skidmore cursou ciência política e filosofia em Denison. Com a pretensão de se dedicar à vida acadêmica, obteve uma bolsa na universidade inglesa de Oxford, especializando-se em filosofia política e econômica. Em 1956, ingressou em Harvard, onde redigiu uma tese de doutorado sobre a política alemã após o fim da era Bismarck (o governo do chanceler Caprivi), e onde, em 1960, se tornou professor.
 
O impacto da Revolução Cubana provocou uma reformulação do sistema escolar norte-americano na área de humanidades, similar ao ocorrido pouco antes nas ciências exatas com a dianteira da União Soviética na corrida espacial. Em Harvard, uma doação da família Bliss reforçou o Departamento de estudos latino-americanos. Skidmore aceitou a tarefa de revigorar a área de história, cuja cadeira estava vaga desde 1956.
 
Financiado por uma bolsa de pós-doutorado, Skidmore aprendeu português, fez uma viagem em que conheceu todas as regiões do Brasil, por fim, estabeleceu-se, com a família no Rio de Janeiro entre outubro de 1963 e abril de 1964. Embora sua primeira ideia fosse estudar o período após a proclamação da República, a condição de observador ocular privilegiado da armação e consumação do golpe de 1964 empurrou-o para a história contemporânea.

 
Brasil: de Getúlio a Castelo (1969), seu primeiro livro publicado aqui, obteve enorme repercussão. A abrangência, o enfoque na política, numa época de forte presença da censura (e, logo, de autocensura), tornou Skidmore protagonista de uma polêmica sobre as fontes de financiamento, os interesses e os objetivos dos “brasilianistas”. O acesso a informações então pouco difundidas, o procedimento (comum na historiografia norte-americana) de utilizar entrevistas como fonte de pesquisa, despertou suspeitas descabidas que só foram dirimidas completamente quando Skidmore assinou, em 1975, um abaixo-assinado contra a tortura praticada pelos militares.
 
No livro seguinte, Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro (1976), Skidmore retorna ao período sobre o qual começou suas pesquisas, desenvolvendo capacidades e interesses despertados desde a graduação. Além da história política, acompanhada num arco que se estende desde o início da campanha abolicionista até o fim da Primeira Guerra Mundial, debruça-se sobre a história social numa reconstituição da “questão racial” que desmente a tese (disseminada pela obra de Gilberto Freyre) da democracia racial brasileira e também sobre a história cultural, na medida em que não se exime de investigar as ideias e as posições dos principais intelectuais do período.
 
Sua obra seguiu nesse diapasão, tratando ora exclusivamente de história política, ora mesclando-a com a história social e cultural. Na primeira vertente, destaca-se Brasil: de Castelo a Tancredo(1988), na outra linhagem O Brasil visto de fora (1994). Como a publicação desse último passou quase desapercebida, convém abordá-lo com mais vagar.
 
Nada mais inadequado no caso de Thomas Skidmore do que tentar compreendê-lo pela métrica (de origem freudiana, ainda que esgarçada pelo mau uso), que permite destacar em certos intelectuais preocupações e questões que dizem respeito mais à realidade de seu país do que à nação sobre a qual pesquisam.
 
Mesmo quando recorre a fatos da sociedade norte-americana – como, por exemplo, à segregação racial vigente antes do Ato de direitos civis (1964) – para destacar a falsidade da tese, difundida mundialmente no pós-guerra, da “democracia racial” brasileira, tal contraposição se dá nos marcos, explicitados e justificados pelo autor, de uma história comparativa. Além disso, sua atenção a temas, métodos de estudos e bibliografia aqui prevalecentes, faz com que o título da coletânea de artigos, O Brasil visto de fora, indique antes uma postura teórica do que uma posição geográfica ou algo afim à sua condição de estrangeiro.
 
Longe da mescla de subjetivismo e diletantismo, predominante em relatos de viagem, os escritos de Skidmore obedecem às exigências tradicionais do saber científico: busca de neutralidade e objetividade, manutenção de certa distância, de exterioridade em relação ao objeto de estudo.
 
A camisa de força das regras acadêmicas não deixa, por um lado, de confinar seus textos ao espaço rarefeito dos papers, impedindo-o sequer de perceber a novidade formal, o caráter ensaístico dos livros que analisa, e também o leva, noutro registro, a um rigorismo extremo que não hesita em censurar em Gilberto Freyre sua heterodoxia temática e metodológica. Por outro lado, a preocupação em avaliar de forma isenta a história brasileira tende a impeli-lo a posições críticas ante os dogmas intelectuais locais.
 
O livro compõe-se de três partes que congregam artigos que podem ser classificados segundo especialidades acadêmicas distintas: o primeiro bloco trata da questão da identidade nacional sob o prisma da história cultural (ou das ideias); o segundo enfoca a questão racial pelo ângulo da história social; e o último confronta Brasil e Argentina após 1945, no registro da história política-econômica comparada.
 
A primeira parte estabelece um quadro da indagação acerca da identidade brasileira a partir das atitudes intelectuais com relação aos Estados Unidos, priorizando um elenco de pensadores não muito valorizados hoje, mas com importantes repercussões em seu tempo: Monteiro Lobato, Vianna Moog, Moniz Bandeira etc.
 
A relevância desse inventário torna-se patente não só por ressaltar que os Estados Unidos, a partir de 1889, passam a ser encarados como fator decisivo na construção da nação brasileira, seja como presença ativa ou como modelo almejado; mas também por mostrar de que modo as hipóteses acerca da especificidade da sociedade brasileira devem muito a um confronto comparativo com a ideia aqui predominante sobre como se desenvolve a sociedade norte-americana. No universo restrito da seleção de Skidmore – enfraquecido pelas ausências, entre outros, de Sérgio Buarque de Holanda e Celso Furtado (cuja Formação Econômica do Brasil tem, aliás, como um de seus eixos principais a comparação da colonização brasileira com a norte-americana) – destacam-se dois nomes: Gilberto Freyre e Eduardo Prado.
 
Segundo Skidmore, Freyre adota a “ascensão e queda da família patriarcal” como chave para a compreensão da história brasileira. Apesar de ter criado um modo próprio de escrever e concebê-la, inspirado nas técnicas da antropologia social, os resultados da obra de Freyre foram enfraquecidos tanto por conta de sua heterodoxia (sua tentativa inicial de interpretar a história da família em termos de história social desemboca numa interpretação da história social brasileira restrita ao âmbito da família), como pela apreciação positiva que concede à questão racial. Sua celebração da singularidade brasileira, especula Skidmore, teria origem na vivência de Freyre da segregação racial no sul dos Estados Unidos.
 
Eduardo Prado, um militante católico, monarquista e antiamericano da passagem do século foi mais consciente. Pouco afetado pelas ideias positivistas então predominantes, Prado desvia a questão da identidade nacional da esfera cultural, tomando-a em sua dimensão política, o que torna o seu nacionalismo, aos olhos de Skidmore, mais frutífero e inteligente.
 
Embora uma das preocupações do autor seja substituir, na discussão acerca das relações raciais no Brasil, a avaliação subjetiva, as opiniões pautadas na evidência anedótica e não quantitativa, pela análise objetiva de dados institucionais – o que permite demonstrar com clareza que “raça” é uma variável significativa na determinação das oportunidades de vida dos brasileiros –, Skidmore também destaca o debate acerca do caráter nacional brasileiro.
 
Afinal, reconhece ele, uma longa série de ensaios brasileiros aborda, ainda que de modo dissimulado, as relações raciais ocultando, em grande medida, a complexidade do sistema de classificação racial vigente no Brasil, constituindo uma ideologia bastante reveladora da autoimagem da elite local. O ideal operativo dessa camada desde 1920, a crença numa “democracia racial” e no “branqueamento”, deriva de uma “racionalização” da impossibilidade prática de impor a endogamia e a segregação, devido à baixa presença, no período colonial, de europeus, processo esse que forjou uma percepção enganadora da situação racial brasileira.
 
Skidmore, comparando o dinamismo dos sistemas de perpetuação racial, não hesita em questionar um dos mitos mais caros da autoimagem brasileira: a situação dos negros no Brasil, segundo ele, seria ainda hoje, tanto em termos jurídicos como sociais, muito pior que a dos negros norte-americanos.
 
A terceira parte investiga as possibilidades e os limites da formulação de políticas nacionais próprias em duas situações ao mesmo tempo semelhantes e distintas, os governos de Vargas e de Perón. A mudança de tom, de enfoque e até mesmo de bibliografia (as fontes, outrora majoritariamente brasileiras, são substituídas por textos em inglês de especialistas estrangeiros ou brasileiros) refletem uma alteração significativa – também presente na produção universitária brasileira – da visão acadêmica norte-americana do Brasil. Este deixa de ser considerado como exceção (a única nação de língua portuguesa numa América espanhola), passando a ser compreendido cada vez mais como parcela de um bloco cujas partes possuem, pelo menos no campo político e econômico, inegáveis similitudes.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIEBER, Judy. “História do Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000”. In: BARBOSA, Rubens Antônio et alii (org.) O Brasil dos brasilianistas.São Paulo, Paz e Terra, 2002.BOM MEIHY, José Carlos Sebe. A colônia brasilianista. História oral de vida acadêmica. São Paulo, Nova Stella, 1990.SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Castelo a Tancredo (1964-1985). São Paulo, Paz e Terra, 1988.SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castelo (1930- 1964). São Paulo, Paz e Terra, 1969.SKIDMORE, Thomas E. O Brasil visto de fora. São Paulo, Paz e Terra, 1994.SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. São Paulo, Paz e Terra, 1976.
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Elyeser Szturm é artista plástico. Professor da UnB e doutor em artes visuais pela Université de Paris VIII. Ganhou o Prêmio de viagem ao exterior do XVI Salão Nacional da Funarte e o VII Salão da Bahia. Participou da Bienal 50 Anos, da 25a. Bienal de São Paulo, das mostras Território Expandido 3 e Faxinal das Artes, entre outras. A partir de hoje, passa a ilustrar a coluna mensal de Ricardo Musse, no Blog da Boitempo.
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Ricardo Musse é professor no departamento de sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo. Doutor em filosofia pela USP (1998) e mestre em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992). Atualmente, integra o Laboratório de Estudos Marxistas da USP (LEMARX-USP) e colabora para a revista Margem Esquerda: ensaios marxistas, publicação da Boitempo Editorial. Colabora para o Blog da Boitempomensalmente, às sextas.

domingo, 3 de julho de 2016

Editorial: Augusto de Campos enquadra Ferreira Gullar


Até recentemente, o poeta Ferreira Gullar escreveu um artigo no jornal Folha de São Paulo com duras críticas ao Partido dos Trabalhadores, insinuando que o partido espalhava a notícia de que o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff seria um golpe e, na sua opinião, isso trata-se de uma grande mentira. Em seguida, ele tece aquele rosário de argumentos furados, informando que o pedido foi assassinado por um cara como Hélio Bicudo, com o respaldo de Janaína Paschoal, Miguel Reale Jr. 

Por falar em Janaína Paschoal - os leitores nos permitam essa divagação - acabo de ser informado que a ilustra senhora, depois das agressões verbas sofrida por militantes petista, num aeroporto de Brasília, recebeu a oferta de ser acompanhada pelo ator Alexandre Frota, assim como aqueles pitbulls de academia dispostos a tudo para protegê-la. Bem ao seu estilo, o Nogueira concluiu que a indústria pornô deve estar mesmo em crise. Não poderia deixar de fazer esta divagação, por entender que este fato, somados a outros - como aquela agressão física promovida por um partidário do Deputado Jair Bolsonaro(PSC-RJ) a uma senhora, também Brasília - nos colocaram numa encruzilhada perigosa, de consequências imprevisíveis. O ovo da serpente fascista já eclodiu. Não aprovamos nenhuma coisa nem outra. 

Mas, voltemos ao Ferreira Gullar, que é a finalidade deste editorial de hoje. Quanto ao fato de este cidadão não nutrir a menor simpatia pelo PT, a gente entende e aceita numa boa, porque somos democrata e, por consequência, tolerante. Ele se perde, no entanto, quando insiste em afirmar que o pedido de impeachment é legítimo, com fundamentação jurídica aceitável. Não é. A presidente Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade algum, nem mesmo as infundadas pedaladas fiscais, a julgar pelas conclusões de uma perícia encaminhada pelo próprio Senado Federal. Nem assim houve um "arrefecimento" da sanha golpista dos seus algozes, evidenciando, por "a" mais "b", de que se trata de uma questão político-ideológica. Os golpista resolveram apear Dilma Rousseff do poder e pronto.

Todos os "campos" - para usarmos aqui um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu - possui suas regras próprias, seja na admissibilidade, permanência e projeção dos seus membros. Aqueles atores que não cumprem as "regras" impostas pelo "campo", muito dificilmente permanece entre eles, ou se projetam, ampliando seu capital simbólico. Isso é próprio de qualquer "campo". No caso do Brasil, talvez em função de nossa atipicidade histórica, possuímos um templo do campo literário - a Academia Brasileira de Letras - com algumas características peculiares. Ali não estão apenas os poetas e escritores consagrados, mas políticos, militares, cirurgiões plásticos et caterva. Não deixa de ser algo curioso observar que bons escritores e poetas já foram preteridos ali em nome dessa dinâmica particular. 

Comenta-se que o poeta Ferreira Gullar teria alertado o também poeta Augusto de Campos sobre o fato de que, em razão dos seus posicionamentos políticos, ele poderia deixar de receber da Academia Brasileira de Letras um prêmio no valor de 300 mil reais. A resposta de Augusto de Campos veio à altura da proposta indecente recebida. Publico aqui para vocês, pela absoluta impossibilidade de acrescentar sequer uma vírgula nas ponderações de Augusto de Campos, que aproveita a deixa para desancar os métodos daquela academia, que reúne uns velhinhos inofensivos para tomarem chazinhos no final da tarde.

"Para piorar, o Acadêmico Ferreira Gullar acena-me com um prêmio de R$ 300 mil da Academia Brasileira de Letras, que eu deixaria de levar, apesar do seu "placet", por ter criticado a entidade. Ora, somos mesmo pessoas completamente diferentes. Como somos poetas diferentes. Isso, sim, é um insulto. Jamais aceitaria qualquer prêmio, de que valor fosse, vindo dessa instituição, que considero inútil, caduca e até nociva, pelo mau exemplo que dá a cultura brasileira, acolhendo gente que nada tem a ver com literatura –velhos políticos, governantes, empresários e jornalistas conservadores– uma confraria de mediocridades que se chamam despudoradamente de "imortais", envergando fardões, espadas, colares e medalhas. Com raríssimas exceções. Nego-lhes autoridade para conferir prêmios e prebendas. E encerro com as palavras de um poema instrutivo e fácil de entender: NÃO ME VENDO / NÃO SE VENDA / NÃO SE VENDE."

sábado, 2 de julho de 2016

Drops político para reflexão: George Sanguinetti: A causa jurídica da morte de Paulo Cesar Morato.


A causa jurídica da morte de Paulo Cesar Morato. Vestígios discordantes para a possibilidade de suicídio. Ausência de evidências de envenenamento no travesseiro, leito. Manuseio do corpo? Morte em outro local?
Causa jurídica de morte é toda e qualquer morte violenta, interessando no presente caso esclarecer se foi homicídio ou suicídio. O envenenamento é comum em caso de suicídio e menos frequente no caso de homicídio. Entretanto, devido às circunstâncias, quando procurado para ser ouvido pela Polícia Federal, em caso de desvios de dinheiro, que envolvia políticos e outras pessoas de relevo social, com prisão preventiva decretada, contribuem para ser necessária uma completa investigação da possibilidade de homicídio. Seu silêncio interessava, era um arquivo vivo e a possibilidade de uma delação premiada, Paulo Cesar era uma ameaça.

O laudo do IML, com o exame das vísceras, mostrando as lesões internas pelo chumbinho e a própria identificação no estômago, permitiu relatar como causa da morte, a intoxicação exógena (envenenamento). Agora o mais importante é estabelecer a causa jurídica da morte, se ingeriu voluntariamente (suicídio) ou se foi administrado por terceiros através de alimento, água, ou mesmo coagido a ingerir contra sua vontade.
O laudo necroscópico (cadavérico) esclareceu a intoxicação exógena; agora a etiologia jurídica (como ocorreu o envenenamento) será definida de conformidade com as investigações no relatório final do delegado condutor do inquérito, na apreciação do Ministério Público e Juiz.
Quanto à forte possibilidade do homicídio, ao examinar as fotografias do laudo pericial de local, observei que ao redor da boca e do nariz não há presença de material muco-sanguinolento, há ausência de vômitos na parte superior do lençol e travesseiro, ausência de evidências de que tenha sofrido fortes convulsões, uma contratura muscular generalizada sempre presente nos envenenados por chumbinho. O corpo muito arrumado, tudo limpo, não é compatível com a fase terminal de agonia na qual foi encontrado. Havia outra pessoa ou pessoas no quarto? A morte foi em local diverso? O fato de não ser concedida autorização aos peritos papiloscopistas (que procurariam impressões digitais) para entrar no quarto, trouxe prejuízos à elucidação do caso. A perícia de local foi comprometida. Por quê? Para quê? O veneficium ocorre por motivo passional ou por motivo de obtenção de lucro (como, por exemplo, o silêncio definitivo de uma possível testemunha que sabia demais).

George Sanguinetti em sua timiline da rede Facebook

Crônicas do cotidiano: Durmo com Kafka, amanheço com Borges. Nunca sozinho.





José Luiz Gomes

Há um livro que tenho imenso carinho por ele. Um carinho muito especial, bem acima do carinho devotado aos demais. Trata-se de um livro do escritor tcheco, Franz Kafka. É precisamente o seu diário, uma raridade adquirida ainda nos tempos das batidas de maracujá, do Tarcísio, na Livro Sete, sempre aos sábados, numa mesa ao centro. O livro já se encontra envelhecido, amarelado, exalando aquele cheirinho gostoso que os e-books não conseguem transmitir. Não preciso dizer para vocês que gosto mesmo é das traças, das páginas rasgadas, das letras envelhecidas. Nada mais abominável do que ficar com aquela setinha para cima e para baixo, numa relação fria, sem a menor intimidade. Afinal, sou um homem de "pegada".  

Embora toda a obra do escritor tcheco mantenha algum traço autobiográfico - notadamente aspectos relacionados à alienação ou torturas físicas e psicológicas -esse diário, em especial, vai fundo na alma, creio que até mais do que a Carta ao Pai. Há, ali, alguns trechos manchados de tinta pelas minhas constantes marcações, como aquela sua impagável narrativa sobre um período em que trabalhou numa estação ferroviária e, não raro, recebia a visita de um rato, pelas fendas da parede de sua guarita. Um roedor se esguichando, se esguichando, procurando sabe-se lá o que, talvez algum resto de comida ou, simplesmente, a sua companhia naquelas noites solitárias e frias. Kafka é uma fonte inesgotável de inspiração. A primeira estante que procurava quando chegava a Livro Sete, ali na 07 de setembro, hoje uma rua bastante descaracterizada. Uma pena mesmo. Nem a "galega" por quem me apaixonei - que trabalhava no caixa - tive outra oportunidade de encontrá-la.

Por essa época, minha praia era a literatura. Fazia Letras no CAC/UFPE, lia bastante, conversava com homens de letras, como o sisudo Gilvan Lemos, que também frequentava as rodas organizadas espontaneamente por Tarcísio, em torno de sua batida de maracujá. Uma celebridade de São Bento do Una, depois que um conto seu ganhou o primeiro lugar num concurso literário da revista Alterosa, de Minas Gerais. Ah, como ele se orgulhava dessa proeza. Não lembro ter lido uma única entrevista dele onde este assunto não é mencionado. Depois, com vários livros publicados, tornou-se um escritor reconhecido nacionalmente. Mas, esse primeiro "impulso" ele jamais esqueceria. Como diria Jorge Luis Borges, essas misérias são os bens que o precipitado tempo nos deixa. Espelhos rotos. 

Uma fase em que eram mais comuns os "cadernos literários". O Diário de Pernambuco mantinha um, assinado pelo poeta César Leal. Era um suplemento literário muito bom, comparável aos melhores publicados no Brasil naquele momento. As contingências me obrigaram a se desfazer de uma coleção que guardava até recentemente. Em literatura, um escritor leva ao outro. Ao folhear uma de minhas agendas antigas, eis que me deparo com a citação de um escritor que é tido pelos críticos literários como um precursor de Franz Kafka. Incrível como os estilos são semelhantes. 

César Leal considerava Borges um dos escritores mais representativos deste século.Fiz um caminho tortuoso para chegar até ao Labirinto de Jorge Luis Borges, que nos foi apresentado através de um amigo poeta. Mas, como disse, um escritor leva ao outro. Na estante de Borges, eis que encontro, como referências do poeta, um Césares Rafael, um Macedônio Fernandes. Estávamos, então, em boa companhia com o intelectual argentino, que passou parte de sua vida enfurnado numa biblioteca. Que castigo! Afinal, "Que outros se fartem das palavras que escreveram. A mim me orgulham os que tenho lido." 




Drops político para reflexão: A "sapatada" de Augusto de Campos em Ferreira Gullar


"Para piorar, o Acadêmico Ferreira Gullar acena-me com um prêmio de R$ 300 mil da Academia Brasileira de Letras, que eu deixaria de levar, apesar do seu "placet", por ter criticado a entidade. Ora, somos mesmo pessoas completamente diferentes. Como somos poetas diferentes. Isso, sim, é um insulto. Jamais aceitaria qualquer prêmio, de que valor fosse, vindo dessa instituição, que considero inútil, caduca e até nociva, pelo mau exemplo que dá a cultura brasileira, acolhendo gente que nada tem a ver com literatura –velhos políticos, governantes, empresários e jornalistas conservadores– uma confraria de mediocridades que se chamam despudoradamente de "imortais", envergando fardões, espadas, colares e medalhas. Com raríssimas exceções. Nego-lhes autoridade para conferir prêmios e prebendas. E encerro com as palavras de um poema instrutivo e fácil de entender: NÃO ME VENDO / NÃO SE VENDA / NÃO SE VENDE."

Editorial: Ainda sobre a morte de Paulo César Morato, o PC pernambucano.





Durante a semana, a Polícia Científica do Estado de Pernambuco, através de uma coletiva com a imprensa, anunciou a causa da morte de Paulo César Morato, uma espécie de testa de ferro de uma quadrilha que, segundo estimativa da Polícia Federal, através de inúmeros expedientes ilícitos, pode ter desviado algo em torno de R$ 600 milhões dos cofres públicos, através de operações fraudulentas envolvendo estatais como a Petrobras e as obras de transposição do Rio São Francisco. Cabia a Paulo César o 5º mandado de prisão, mas ele fugiu e, depois, foi encontrado morto num motel aqui da cidade de Olinda, em condições que ainda suscitam muitas polêmicas.

A operação da Polícia Federal foi denominada de Operação Turbulência, em razão de os seus operadores estarem diretamente ligados à compra do jatinho que servia ao então candidato à Presidência da República, Eduardo Campos. Suspeita-se, igualmente, que essas operações fraudulentas tenha financiado possível caixa dois de campanha do ex-governador, inclusive a de 2010, quando ele foi reeleito para dirigir os destinos do Estado de Pernambuco. No Brasil, a linha que separa a esfera pública da esfera privada é muito tênue. O Estado de Pernambuco é governado hoje por uma oligarquia política ligada ao ex-governador, acrescentando alguns ingredientes a mais sobre o processo de averiguação da verdadeira causa morte do senhor Paulo César Morato. Como disse antes, para que essas especulações não fossem alimentadas, a Polícia Estado não poderia cometer qualquer erro durante o processo investigativo, mas eles foram cometidos. Infelizmente. 

Até mesmo durante o anúncio do resultado dos exames a que Paulo César Morato foi submetido, segundo um jornal local, teria ocorrido algumas "falhas de comunicação". O pouco tempo utilizado pelos peritos, bem como um possível pedido de interrupção dos trabalhos, acenderam as chamas da teoria conspiratória no imaginário popular, sugerindo que Paulo César, assim como ocorreu com o Paulo César Farias, do Caso Collor, tenha sido morto como "queima de arquivo". O nome "turbulência", dado pela Polícia Federal a esta operação, não poderia ser mais feliz. Ela passou a se aplicar, também, ao trabalho conduzido pelos agentes públicos no que concerne à investigação da morte de Paulo César. Há uma profunda "divisão" ou "disputa" entre eles sobre a condução dos trabalhos. Isso não poderia dar um bom resultado.

No dia de hoje, 02, a Polícia Científica do Estado voltou ao local do crime, o Motel Tititi, com o propósito de dar prosseguimento aos trabalhos periciais, quando, pelo bom senso e pelas opiniões de peritos ouvidos, já não existem qualquer possibilidade de que esses trabalhos possam contribuir para elucidar os fatos. Os exames mostraram que Paulo César Morato morreu como consequência de ter ingerido o famoso "chumbinho", um veneno muito utilizado para matar ratos. Em que circunstâncias ele teria ingerido o veneno é que é o mistério. Teria teria ingerido o veneno espontaneamente, ou seja, cometido suicídio, ou teria sido obrigado a fazê-lo, o que caracterizaria um homicídio? Há bastante pessoas interessadas em sua morte e, naquele momento, tudo leva a crer que ele empreendia uma fuga. 

A questão agora é que a cena do crime foi totalmente adulterada. Não seria possível colher alguma digital de alguém que pudesse, naquele momento, estar no quarto com ele. Um fato comprometedor, igualmente, apesar das recomendações em contrário, foi a liberação do quarto para os amantes passarem "manteiga no pão" apenas algumas horas depois do ocorrido. As digitais que os peritos poderão encontrar por lá podem até servir para outras finalidades. Para esclarecer a morte de Paulo César Morato, possivelmente não.  

Precisa ler também:

A polêmica em torno da morte de Paulo César Morato, o PC pernambucano

P.S.: Do Realpolitik: A delegada encarregada do caso, Gleide Ângelo, informou que os trabalhos periciais de hoje, dia 02, estão relacionados aos registros "físicos" do local onde ocorreu o fato. Como os atores do aparelho de segurança do Estado estão divididos, em nota, o Sinpol, o Sindicato dos Policiais Civis do Estado, pede a cabeça do Secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, argumentando sobre as "trapalhadas" envolvidas neste caso. Depois de mais essa etapa no processo de apuração dessa morte, publico a seguir os comentários do Dr. George Sanguinetti sobre o assunto, onde aparece várias "lacunas", algumas delas pouco explicadas, e, pior, talvez nunca venham a ser mesmo esclarecidas, em razão de uma série de contingências voluntárias  ou involuntárias. Durante esse processo, tornei-me amigo do Dr. George Sanguinetti pelas redes sociais, o que tem nos ajudado muito entender melhor este caso.




A causa jurídica da morte de Paulo Cesar Morato. Vestígios discordantes para a possibilidade de suicídio. Ausência de evidências de envenenamento no travesseiro, leito. Manuseio do corpo? Morte em outro local?


Causa jurídica de morte é toda e qualquer morte violenta, interessando no presente caso esclarecer se foi homicídio ou suicídio. O envenenamento é comum em caso de suicídio e menos frequente no caso de homicídio. Entretanto, devido às circunstâncias, quando procurado para ser ouvido pela Polícia Federal, em caso de desvios de dinheiro, que envolvia políticos e outras pessoas de relevo social, com prisão preventiva decretada, contribuem para ser necessária uma completa investigação da possibilidade de homicídio. Seu silêncio interessava, era um arquivo vivo e a possibilidade de uma delação premiada, Paulo Cesar era uma ameaça.
O laudo do IML, com o exame das vísceras, mostrando as lesões internas pelo chumbinho e a própria identificação no estômago, permitiu relatar como causa da morte, a intoxicação exógena (envenenamento). Agora o mais importante é estabelecer a causa jurídica da morte, se ingeriu voluntariamente (suicídio) ou se foi administrado por terceiros através de alimento, água, ou mesmo coagido a ingerir contra sua vontade.
O laudo necroscópico (cadavérico) esclareceu a intoxicação exógena; agora a etiologia jurídica (como ocorreu o envenenamento) será definida de conformidade com as investigações no relatório final do delegado condutor do inquérito, na apreciação do Ministério Público e Juiz.
Quanto à forte possibilidade do homicídio, ao examinar as fotografias do laudo pericial de local, observei que ao redor da boca e do nariz não há presença de material muco-sanguinolento, há ausência de vômitos na parte superior do lençol e travesseiro, ausência de evidências de que tenha sofrido fortes convulsões, uma contratura muscular generalizada sempre presente nos envenenados por chumbinho. O corpo muito arrumado, tudo limpo, não é compatível com a fase terminal de agonia na qual foi encontrado. Havia outra pessoa ou pessoas no quarto? A morte foi em local diverso? O fato de não ser concedida autorização aos peritos papiloscopistas (que procurariam impressões digitais) para entrar no quarto, trouxe prejuízos à elucidação do caso. A perícia de local foi comprometida. Por quê? Para quê? O veneficium ocorre por motivo passional ou por motivo de obtenção de lucro (como, por exemplo, o silêncio definitivo de uma possível testemunha que sabia demais).

Heraldo Selva(PSB) é o cabeça de chapa em Jaboatão dos Guararapes.




Depois de um longo processo de negociações, envolvendo o governador Paulo Câmara(PSB) e o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes(PSDB), hoje, dia 01, finalmente foi batido o martelo na definição do nome que deverá disputar as próximas eleições municipais de 2016, com o apoio das duas legendas. A missão cabe ao atual vice-prefeito, Heraldo Selva(PSB), primo da ex-primeira dama do Estado, Renata Campos. Coube ao prefeito Elias Gomes indicar o nome de Conceição Bezerra(PSDB), que chegou a figurar numa lista tríplice do prefeito entre aqueles nomes de sua preferência para encabeçar uma chapa, de preferência com o apoio dos socialistas, para concorrer na condição de vice. O problema é que um possível nome de consenso entre as duas legendas, Evandro Avelar(PSDB), foi convocado pelo governador para ocupar o cargo de vice-presidente do complexo SUAPE, gerando um impasse para Elias Gomes(PSDB), que nunca negou a vontade de construir uma aliança com os socialistas. 

Segundo comenta-se nos bastidores, a construção desse consenso implicaria em possíveis vantagens pessoais para o gestor Elias Gomes, como o aval de uma candidatura ao Senado, em 2018, quando duas vagas estarão em disputa. Convém ao senhor Elias Gomes ficar atento aos acordos firmados na política e que não são cumpridos. Se, pelo lado do PSDB, havia mais de um nome que poderia contar com o aval do prefeito Elias Gomes para a disputa, do lado dos socialistas também havia outros tantos que desejavam entrar na corrida para gerir os destinos do município. A decisão sobre o nome de Heraldo Selva, ao que tudo indica, pode ser o resultado da posição daquela eminência parda que age nos bastidores, mas que dá as cartas nas decisões tomadas pelos socialistas aqui na província. 

Várias decisões tomadas pelo núcleo socialista aqui no Estado, segundo dizem, tiveram a palavra final dessa eminência parda que ninguém sabe se em algum momento pretende atuar na linha de frente da política. É essa eminência parda quem bate o prego e vira a ponta, segundo dizem, o que reforça a tese da oligarquização da política pernambucana, uma perspectiva que apenas pode ser freada com a soberania popular, que depositará seu voto nas urnas, nas eleições municipais de 2016. A princípio, tudo ficou muito bem arrumado. Evandro em SUAPE, Conceição na vice, Mirtes Cordeiro, como um nome certo para a ALEPE, e Elias Gomes como candidato ao Senado Federal em 2018. Falta apenas combinar com o eleitorado.