pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Caminhoneiros: Uma agenda política de arrepiar
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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Editorial: Caminhoneiros: Uma agenda política de arrepiar

 
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Num momento de instabilidade política como o que estamos vivendo, uma paralisação como esta dos caminhoneiros pode trazer sérias consequências para a saúde já debilitada de nossa democracia. As consequências naturais já estão sendo sentidas por todos os brasileiros, que passaram a conviver com o desabastecimento de alimentos; caos no transporte público; aumento de preços e ausência de combustíveis nos postos de gasolina. Nos referimos aqui a um outro tipo de consequência, esta ainda mais grave, como o emparedamento em que foi posto um governo já bastante fragilizado e ilegítimo, pela categoria dos caminhoneiros. Na opinião de algumas autoridades do Governo, talvez pelo cartel dos donos de transportadoras, o que tipificaria o movimento não como uma greve, mas um lock out, termo de origem americano para identificar uma paralisação promovida por empresários ou empregadores. Como observou o jornalista Josias de Souza, Temer pagou o resgate, mas continua refém, acossado, sem autoridade, vítima de mais chantagens. Para completar o enredo, quem acompanhou o noticiário da emissora do plim plim no dia de hoje,  28/05, percebeu claramente que a turma intensificou o "Fora, Temer".  

Diante do quadro caótico, o senhor Michel Temer convocou seu staff de segurança pública e institucional e anunciou que adotará medidas mais duras para desobstruir as rodovias, o que significa, de imediato, o uso de forças policiais. Mesmo com a pauta atendida até o limite da absoluta capitulação, parte da categoria permanece irredutível, não autorizando a volta da normalidade, permitindo o fluxo normal do transporte rodoviário. 70% do transporte de cargas no país ainda é realizado pela via rodoviária, o que, em si, já implica numa grande insegurança. Se os caras param, o caos se instaura. As consequências já estão sendo sentida por todos os brasileiros, seja nos postos de gasolina, nos supermercados, na indústria, que paralisa suas atividades em razão da ausência de insumos.  
 
Ainda há algumas incógnitas e preocupações substantivas em relação a este movimento grevista - se ficar configurando o locaute, o termo "movimento grevista" talvez não seja o mais adequado. Convocado por Temer, o Exército foi recebido com aplausos entre os manifestantes, com saudações que pedem uma intervenção militar já. A emissora do plim plim, que nunca demonstrou, digamos assim, algum pendor republicano - tampouco democrático - por sua vez, é profundamente rejeitada pelo movimento. Quando não através de hostilidades explícitas - que eles naturalmente não mostram - através de  faixas espalhadas por todos os bloqueios. Evidente que a política de preços adotada pela Petrobras precisa ser urgentemente repensada. Talvez os caminhoneiros sintam o problema mais de perto, mas, a rigor, nenhum brasileiro que utiliza transporte particular suporta mais esse abuso. 
 
Mesmo com a finanças públicas em frangalhos, o Governo acabou capitulando-se diante do drama criado pelo paralisação dos caminhoneiros. Pegou no tranco, depois de subestimar as inúmeras correspondências enviadas por suas lideranças alertando sobre o agravamento do problema. Depois, assumiu um ônus extremamente alto, não se sabendo de onde arranjará recursos, uma vez que já se encontra no limbo, acumulando déficits sobre déficits. A renúncia do pis, cofins representam um rombo descomunal nas contas públicas. Para alguns analistas, mesmo não formalmente, a Petrobras, na gestão Pedro Parente, entrou num processo de privatização, priorizando os rentistas e alinhavando-se com os interesses de petrolíferas internacionais, pouco se importando com o brasileiro comum, aquele que transporta a economia do país através das estradas.
 
Hoje, o que mais intriga - e preocupa, além do quilo de tomate por R$ 20,00 - é a profunda dificuldade de comunicação entre o Governo Michel Temer(PMDB)  - ou que o que restou dele, sem as mínimas condições políticas de sustentabilidade - e setores da categoria, que insistem que a agenda negociada em Brasília não atendem os seus interesses. Insistem que a paralisação será mantida, o que suscita e existência de uma agenda política bem mais explosiva do que as reivindicações de natureza econômica. Não se pode negar o caráter político de nenhuma greve. Esta, em particular, assim como ocorreu em 1973, no Chile - que precipitou o golpe contra o então presidente Salvador Allende - traz alguns elementos, como disse antes, preocupantes. Bastante preocupantes... 
 
  


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