Acabo de saber, através de uma postagem nas redes sociais, que o
ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, desistiu de
candidatar-se à Presidência da República nas eleições de 2018. Melhor assim,
diriam alguns, notadamente aqueles que conhecem o pavio curto do ex-ministro do
STF. Nesta galeria, possivelmente entrariam aqueles que endossam as palavras do
cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, que o aponta como um dos
principais artífices do golpe institucional de 2016, ele que embasou a tese
do domínio do fato para condenar os petistas no escândalo do mensalão,
escancarando as porteiras da insegurança jurídica que tomaria conta do país desde então. Pontuaria aqui, ainda,
aqueles que o veem encarnando uma personalidade de perfil eminentemente
conservadora. Uma pesquisa recente apontou que o maior estrago produzido por um Joaquim Barbosa candidato seria em relação às pré-candidaturas de Jair Bolsonaro(PSC) e Marina Silva(Rede), o
que confirma essa tese. Mas, aqueles leitores que desejaram ler nossas
considerações sobre tal candidatura, recomendo a leitura do editorial publicado
aqui, no dia 02 de Maio.
Hoje, no entanto, gostaria de enfocar um tema dos mais
preocupantes: o recrudescimento do golpe de 2016, sobretudo num aspecto
emblemático ocorrido recentemente, como o caso dos sem-terra torturados no
Estado do Pará, ato cometido por pistoleiros contratados a soldo por grileiros
e grandes latifundiários locais. O caso do aumento exponencial do aumento da
violência no campo é, sem dúvida, um dos parâmetros mais objetivos para
inferirmos sobre a precariedade da saúde do Estado Democrático de Direito no país, e,
consequentemente, sobre a saúde das nossas instituições da democracia. A
bancada ruralista(do boi ) e a bancada escravocrata( aqui denominada de
bancada da berlinda, numa alusão a este instrumento de tortura) tiveram uma participação das mais decisivas nas tessituras
que culminaram na efetivação do golpe de Estado contra a ex-presidente Dilma
Rousseff. Portanto, o que ocorre neste "terreno" é fundamental para entendermos seus desdobramentos.
Logo em seguida ao golpe, o que se viu foi uma agenda regressiva, que se
caracterizou pela supressão de direitos e garantias individuais e coletivas;o afrouxamento na legislação que
identificava a existência de trabalho escravo; omissão na divulgação da
famosa lista suja do trabalho escravo, que apontava empresas, fazendas e latifundiários que exploravam o
trabalho escravo; corte de verba aos órgãos fiscalizadores; suspensão ( e
revisão) das demarcações de terras de comunidades indígenas e quilombolas; o
aumento expressivo de casos de assassinatos de camponeses e lideranças
indígenas e quilombolas. Ao passo em que recrudesce a violência no campo,
diminui os índices de esclarecimentos e punição dos culpados. Nunca se matou
tanto, nunca se puniu tão pouco. Há aqui quase que uma licença para matar.
Desta última vez, de acordo com denúncia da pastoral da terra do Pará, homens
encapuzados e muito bem armados, entraram num acampamento de sem-terra na região
do Rio Araguaia e cometeram todo tipo de atrocidades e torturas, espancando homens e
mulheres (havia uma grávida) e crianças, cujas mães tiveram que acompanhar seu
sofrimento, com tiros disparados pelos pistoleiros próximos ao seus ouvidos.
Estabeleço aqui uma categoria recorrente em todos esses golpes de um
novo tipo, ou seja, o aumento expressivo da violência no campo, fato que não
ocorre apenas no Brasil, mas em Honduras e, em certa medida, também no Uruguai,
como consequência da expansão do agrobusiness, que não respeita o
meio-ambiente, pessoas e minorias como indígenas e quilombolas. O capital dita todas as regras, consoante um Estado leniente aos seus interesses. Se discute no
parlamento uma espécie de permissibilidade do uso de agrotóxicos em lavouras,
uma medida que significa um salvo-conduto para todo tipo de prática danosa à
saúde humana. Trata-se de um grande retrocesso - mais um - de acordo com os
representantes do Greenpeace.
Se no campo a situação encontra-se dessa maneira, os perímetros urbanos
também não ficam atrás, haja vista a execução - com dezenas de tiros - de cinco
jovens, numa comuindade do Rio de Janeiro, sem nenhuma motivação aparante.
Registro aqui, igualmente, a prisão coletivas de 134 jovens, que logo depois
foram liberados pela justiça, uma vez que não pesavam sobre eles quaisquer
indícios do cometimento de algum delito. Com o golpe institucuional de 2016, o
país mergulhou numa espiral nevrálgica, de consequências imprevísveis, cujo o
endurecimento do sistema - ou o enrijecimento do poder político, como
observava o filósofo Sloveno Zizek - seria uma das possibilidades mais reais.
A tríade é perversa: economia combalida, crise política e institucional e o status quo golpista fragilizado, sem um nome competitivo para salvar as aparências nas eleições presidenciais de 2018. Parece mesmo que Zizek está certo. Infelizmente.
P.S.: do Contexto Político: O flagrante acima foi obtido pelo repórter fotográfico Guilherme Santos, do Jornal Sul 21, no exato momento em que membros da comitiva de Lula são atacados por um fazendeiro, de relho em punho. Nada mais emblemático no país da chibata, como observou o professor Durval Muniz.
P.S.: do Contexto Político: O flagrante acima foi obtido pelo repórter fotográfico Guilherme Santos, do Jornal Sul 21, no exato momento em que membros da comitiva de Lula são atacados por um fazendeiro, de relho em punho. Nada mais emblemático no país da chibata, como observou o professor Durval Muniz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário