Logo mais, às 17:00 horas, um dos atores mais emblemáticos do PT, José Dirceu, deverá apresentar-se à sede da Polícia Federal, em Brasília, onde, em cumprimento a uma determinação judicial, deverá voltar a cumprir pena em regime fechado. Aos 72 anos e com possíveis novas condenações pela frente, embora no Brasil não exista formalmente a prisão perpétua, este deverá ser o destino de uma liderança estudantil que, em décadas anteriores, esteve à frente de grupos armados que se insurgiram contra a ditadura militar no país. Baixada a poeira, com o então processo de redemocratização em curso, guindou seu partido, o PT, para a via da luta institucional, o que significou um dos principais suportes para a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Na presidência, Lula fez de Dirceu um dos principais nomes do seu Governo, tornando-o ministro da Casa Civil.
A opção pela via institucional não foi algo assim muito simples de ser consolidado no interior da agremiação petista. Como se sabe, entre os grupos formadores do PT, haviam alguns deles de tendência política bastante radical, oriundos da luta armada contra o regime militar. Os “debates” foram tão intensos, que culminaram com a expulsão de duas dessas tendências partidárias, que acabaram formando novos partidos políticos de esquerda, como é o caso da Convergência Socialista, que fundou o PSTU, após ser expulsa do PT. Grupos “radicais” ainda existem no partido e são responsáveis diretos pela preservação da “organicidade” do PT, em contraponto ao processo de oligarquização que se tornaria evidente desde então, onde os morubixabas acabam ditando o que deve ser feito, passando por cima das instâncias partidárias deliberativas.
A via institucional, a quem, no passado, pode ser creditado o fato de o PT ter chegado ao poder, por outro lado, hoje, no país do golpe institucional de 2016, tem sido a ruína do grêmio partidário e dos seus líderes, algo que estava nas tessituras primárias daqueles que urdiram contra a normalidade democrática. Dez entre dez analistas políticos já afirmaram por aqui que esta não é a estratégia correta de se enfrentar um regime de exceção. Pelo andar da carruagem política - e jurídica - as derrotas serão sucessivas. O cerco aperta-se agora contra a atual presidente da legenda, a senadora Gleisi Hoffman. Por vezes, vejo-me perguntando como anda a “cabeça” da jararaca, lá na prisão da Polícia Federal do Paraná, sofrendo reveses sistemáticos, do alto dos seus 72 anos, sob um processo de desmonte psicológico inevitável? A última investida foi o corte dos seus benefícios como ex-presidente da República.
Tenho afirmado por aqui que estamos metido numa grande encruzilhada política. Trata-se de uma enrascada de nó-cego, onde o status quo golpista não tem um candidato competitivo para salvar as aparências da “não democracia” nas próximas eleições presidenciais; a economia vai muito mal das pernas, numa evidência de que os novos donos do poder não tinham assim uma varinha de condão com a solução para os problemas econômicos do Governo Dilma; altos índices de violência no campo e na cidade, inclusive em Estado sob intervenção, onde algumas modalidades de delitos e crimes contra a vida até aumentaram; o desemprego estrutural, que está levando milhões de brasileiros ao “desencanto”, de acordo com a “grande mídia” que apoiou as tessituras antidemocráticas; o avanço das teses fascistas, como a proposta de Escola Sem Partido que representa um grande retrocesso obscurantista para a educação brasileira.
Com a jararaca fora do páreo - encarcerado e possivelmente inelegível, consoante a jurisprudência golpista - despontam à liderança nas pesquisas de intenção de voto candidatos com a plataforma de um Jair Bolsonaro(PSC) ou uma Marina Silva(Rede), representantes de segmentos retrógrados da política brasileira. Ficamos, como bem observou o cientista político Michel Zaidan Filho, entre a cruz e a espada. O recrudescimento do militarismo ou o obscurantismo religioso, que faz avançar, por exemplo, propostas indecorosas como as presentes em projetos como o Escola Sem Partido, conforme já mencionamos, onde serão abolidas a livre cátedra ou a autonomia acadêmica. De fato, como observou o editor do Le Monde Diplomatique Brasil, Sílvio Caccia Bava, nossos sonhos não cabem nessas urnas. Essas opções representariam um retrocesso ainda maior para o país.
Advogo aqui a tese de que devemos lutar contra a prisão de Lula, assim como pelo seu direito de candidatar-se às eleições presidenciais de 2018. Isso nos parece um ponto fora de discussão, antes que os petistas nos condenem, afirmando que pensar diferente é apoiar o trama do golpe de 2016. Mas advogo, igualmente, que é necessário se trabalhar com o realismo político que tem infringido duras derrotas ao compo da esquerda progressista. Neste contexto, torna-se urgente redefinir as estratégias de enfrentamento. Vejo com bons olhos as recentes conversas mantidas entre o candidato Ciro Gomes(PDT) e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad,(PT) que podem, juntos, formarem uma chapa para concorrer às próxima eleição presidencial, caso ela ocorra.
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