Estava relendo recentemente o romance A Festa do Bode, do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura. Num determinado momento do texto, o escritor peruano consegue, num lampejo de criatividade, colocar os poemas de amor do poeta comunista Pablo Neruda entre os livros de cabeceira do tirano Rafael Leónidas Trujillo Molina, um ditador sanguinário que aterrorizou a República Dominicana durante três décadas. Coisa de Prêmio Nobel de Literatura, uma vez que o chefe de inteligência de Trujillo, andava com um caderninho de anotações onde estavam listadas as torturas que eram adotadas em cada país. Uma espécie de dicionário das torturas. Um gosto de leitura de pervertidos.
Na literatura, essas viagens são perfeitamente possíveis. Na política, no entanto, convém permanecer de atenções redobradas em relação aos blefes. Com o desmonte da celeridade da votação da PEC da anistia na Comissão de Constituição e Justiça - uma espécie de pedido de vistas proposto por Arthur Lira, sob o argumento de ampliar essa discussão e corrigir alguns eventuais usos políticos da proposta inicial - o Presidente da Câmara dos Deputados mata dois coelhos com uma cajadada só. Agrada ao Planalto, que não vê com bons olhos essa anistia aos participantes do 08 de janeiro, assim como faz sinalizações ao PL do presidente Jair Bolsonaro, que passaria a contar com a hipótese de tornar-se elegível para 2026.
Segundo alguns analistas, o PT esperneia em público, mas, no fundo, até torceria por uma anistia ao ex-presidente, uma vez que seria retomada aquela polarização política das eleições de 2022, onde o "medo" do retrocesso poderia favorecer a legenda. Todos os demais pré-candidatos ao Planalto nas eleições de 2026 costuram um perfil menos radical em relação ao de Jair Bolsonaro. Setores conservadores sinalizam que temem a radicalidade e a incapacidade de "incorporar" do bolsonarismo ou de Jair Bolsonaro em particular.
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