pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Eduardo Campos vive sua lua de fel com Aécio Neves


Eduardo Campos vê no espelho o fantasma de gente como Roberto Freire, Guilherme Afif Domingos, Anthony Garotinho, Cristovam Buarque e Heloísa Helena.





Empacado em terceiro lugar nas pesquisas de opinião; relegado pela mídia, igualmente, ao terceiro plano; Eduardo Campos resolveu dar fim à sua lua de mel com Aécio Neves.

Campos deixou de andar de mãos dadas e agora usa os cotovelos contra Aécio para disputar uma vaga no posto de candidato preferencial das oposições para o caso de uma eleição em dois turnos.

Até então, o trabalho de alfinetar os tucanos vinha sendo reservado a Marina Silva e seu grupo, a Rede.

Parecia desavença, mas não era. Campos criticava a gestão Dilma e preservava FHC, Aécio e o PSDB. Marina, por sua vez, não poupava ninguém, nem mesmo Lula, dando um tom mais antipetista à candidatura.

Não é incomum, em campanhas, o candidato a vice servir de metralhadora giratória, fazendo o papel de "policial malvado", enquanto o candidato à Presidência posa de bom moço.

Campanhas eleitorais são curtas e a tarefa de Campos se torna cada vez mais difícil. Pouco conhecido na grande maioria dos estados do país, sem palanques próprios em muitos deles, agora sem mandato, ele se vê diante de um risco, quase uma maldição que já se abateu sobre vários ex-candidatos a presidente.

Ao contrário do que se pode imaginar, uma candidatura presidencial afunda, mais do que projeta a maioria dos políticos.

Campos vê no espelho o fantasma de gente como Roberto Freire, Guilherme Afif Domingos, Anthony Garotinho, Cristovam Buarque e Heloísa Helena, que depois de terem sido candidatos a presidente, nunca mais tiveram a mesma evidência e importância.

Mais do que amargar um terceiro lugar nesta eleição, Campos pode terminar sendo apenas aquele que ajudou Aécio a ir para o segundo turno.

Foi a mesma ajuda, aliás, cumprida por Marina nas eleições de 2010, sem a qual José Serra não teria disputado contra Dilma e proporcionado um espetáculo deprimente de pregação moralista antiaborto e bolinhas de papel.

Campos e Marina passaram, de outubro de 2013 até agora, tentando se colocar como a opção preferencial de uma oposição conservadora que disputa o mesmo programa de Aécio.

O problema é que um programa baseado, fundamentalmente, em ajuste fiscal ao gosto do sistema financeiro internacional (aquele que critica gastos do governo, consumo das famílias e salário mínimo, mas se cala em relação aos juros escorchantes), que disputa adeptos no antipetismo e que usa  como estandarte o be-a-bá do moralismo conservador, a começar pela questão do aborto, é um programa estreito demais para dois candidatos.

O zigue-zague de Campos demonstra que, a essa altura, ele ainda não tem claro qual seu papel nesta campanha. 

Parece disposto a cumprir qualquer tarefa que se mostre mais conveniente ao objetivo de colocar sua foto em um eventual segundo turno, doa em quem doer.

(*) Antonio Lassance é cientista político.
(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)

domingo, 11 de maio de 2014

Dilma estável, e a seleção de Parreira

Dilma estável, e a seleção de Parreira

publicada domingo, 11/05/2014 às 12:46 e atualizada domingo, 11/05/2014 às 12:29

Apesar dos recuos, Dilma controla o jogo, feito o Brasil de Parreira em 94
por Rodrigo Vianna
Começa a se cristalizar, entre analistas e observadores dos fatos políticos, a impressão de que “o pior já passou” para a campanha de Dilma. Não se trata de torcida. Mas de observação da realidade.
Concordo com essa avaliação. Os primeiros quatro meses do ano foram de repique da inflação (que já começa a recuar agora em maio); esse quadro, somado ao bombardeio midiático contra a Petrobras e ao episódio Andre Vargas, jogaram Dilma para as cordas. Apesar dessa conjuntura muito complicada, a presidenta não caiu abaixo dos 37% dos votos. Aécio, apesar de todo esforço dos parceiros midiáticos (aqueles mesmos que, em 2010, torciam o nariz – ops – para o perfil pessoal “complicado” do mineiro), chegou a 20%, e Eduardo patina em 11% – segundo o DataFolha. 
O bombardeio midiático seguirá. Mas o governo petista retomou a iniciativa. E isso se deu depois da entrevista de Lula aos blogueiros e, principalmente, após o pronunciamento de Dilma no Primeiro de Maio (leia aqui – E Dilma falou: tarde, mas não tarde demais). Ali, ficou claro que a dinâmica da campanha obriga Dilma a se mover alguns graus para a “esquerda”, e que ao fazê-lo é capaz de demarcar território e manter intacto o núcleo duro de sua base de apoio (não falo da base parlamentar, mas da base social).
Isso tudo não é surpresa nenhuma. No início de 2013, quando Dilma surfava com mais de 45% de intenções de voto, afirmei aqui neste blog que essa é eleição para dois turnos. Sempre foi. Aécio (com ou sem Petrobras, com ou sem inflação) tem alianças, base social e uma conjuntura a empurrá-lo para pelo menos 20% ou 25% dos votos no primeiro turno. Daí pra cima. Eduardo Campos, da mesma forma, é candidatura para 10% ou 15%.
Isso significa que os dois candidatos da oposição, juntos, terão ao menos 35% dos votos no primeiro turno. Somados aos “nanicos” (pastor Everaldo, Eduardo Jorge do PV, Randolfe do PSOL), os votos da oposição chegariam a pelo menos 40% ou 42%.
Se levarmos em conta que teremos 20% de brancos e nulos, Dilma teria que obter 40% mais um dos votos totais pra vencer. Isso parece improvável.
Se o quadro permanecer estável, ou seja, se não houver nenhuma tragédia durante a Copa (e não falo de a Argentina ganhar do Brasil na final com gol no último minuto – toc, toc, toc), o mais provável é que Dilma ainda caia mais um ou dois pontos até agosto e Aécio suba mais um pouco.
A candidata petista, então, teria o horário eleitoral para oferecer um fogo de barragem ao bombardeio midiático – mostrando que o quadro do país não é maravilhoso (sejamos honestos, está longe de ser maravilhoso), mas que melhoramos muito desde que abandonamos o programa neoliberal puro que aécios, armínios, mervais, marinhos e civitas querem agora trazer de volta. Ou seja: Dilma pode oscilar para 35%, depois voltar a 37% ou 38%… 
Aécio, por sua vez, depois de chegar a 20% no DataFolha, já começou a apanhar da dupla Eduardo-Marina (Aécio é candidatura que “cheira” a derrota, avisou Marina). O que deve impedir o tucano de subir em ritmo mais rápido. Quando começar o horário gratuito, no entanto, Eduardo ficará em péssima condição, e Aécio deve-se consolidar como oponente do lulismo. 
Esse blog admite que superestimou a capacidade de dupla Aécio-Marina. Parecem destinados a acumular forças para 2018, o que já não será pouco.
O segundo turno deve ser ainda mais duro do que em 2010. Mas Dilma segue favorita, porque a comparação com os anos do tucanato servirá para manter a coesão da base social do lulismo.
A presidenta, no entanto, parece ter percebido que não adianta seguir a receita marqueteira para ganhar “sem marola”. Numa eleição tão dura, em que a diferença entre ela e o oponente no final pode ser de apenas 3 ou 4 pontos, será preciso endurecer no discurso.
A direita já endureceu, até o paroxismo. Nas ruas, nos bares e ambientes sociais, o ódio e o antipetismo atingem um ponto sem volta. Muita gente, impressionada com o que diz a classe média, apavora-se e acha que Dilma já perdeu.
Não é verdade. O jogo será duro até o fim. E Aécio até agora nadou de braçada, sem ser questionado. Aloysio “vá a PQP” Nunes mostrou que tucanos tem queixo de vidro. Qualquer sopapo e já se desmancham pelo chão.
Tucanato, Globo, velha mídia judiciário gilmariano e parte do peemedebismo velhaco terão que ser tratados como inimigos – pura e simplesmente. Dilma precisa fazer uma campanha na ofensiva. O segundo mandato, se vier, será de uma oposição ainda mais pesada. Na defensiva, na base do tecnicismo e da marquetagem, Dilma terá dificuldades para ganhar. E, mais que isso, terá dificuldade para governar.
À direita, restará jogar na instabilidade durante a Copa. Mas mesmo essa operação será arriscada. Entre os petistas, consolida-se a certeza de que – se Dilma cair para menos de 35% – Lula volta, terá que voltar.
Engana-se quem pensa que isso é apenas discurso da oposição para “confundir”. Lula sabe que a direita judiciária e midiática (dos mervais e gilmares) quer vê-lo preso. Com o PT fora do poder, o alvo seria Lula.
O ex-presidente vai insistir até o limite com Dilma. Mesmo que seja para ganhar na disputa de pênaltis – com Aécio chutando a ultima cobrança pra fora, feito um Bagio tucano.
Ganhar, com Lula, seria ganhar com Pelé em campo. Mas uma vitória – como a da seleção de Parreira em 94 – também vale a taça.
(Publicado originalmente no site O Escrevinhador)

Novo livro de Michel Zaidan será lançado no próximo dia 16/05



O novo livro do professor Michel Zaidan Filho será lançado no próximo dia 16, às 16:00 horas, no auditório Manoel Correia da Andrade, no CFCH-UFPE, no âmbito do Curso sobre a Escola de Frankfurt, que inicia nesta segunda, 12, onde o professor é um dos palestrantes. O livro reúne uma série de artigos publicados pelo professor , enfocando vários aspectos da gestão eduardiana em Pernambuco, como infraestrutura, choque de gestão, educação, política fiscal, saúde, meio-ambiente, alianças políticas e, principalmente, a urdidura que tornou possível a candidatura do ex-governador à Presidência da República. 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Rubicão da reeleição de Dilma

9 de maio de 2014 | 18:47 Autor: Fernando Brito

seta
Embora a oposição se apresse em dizer o contrário e possa, a alguns, parecer paradoxal, o dia de hoje marca trecho final, em condições bastante razoáveis para Dilma Rousseff, do período eleitoral pré-Copa, o mais difícil para a candidatura da atual presidente à reeleição.
Os principais elementos negativos para ela já foram para a mesa: a inércia política de seu Governo, as dificuldades com a base parlamentar, a  ”ofensiva moralista” encarnada na exploração da Petrobras e, muito  mais importante, o quadrimestre bastante complicado em matéria de inflação, mais aguda por conta da seca e do represamento das tarifas de transporte no ano passado, que começou a retroceder, com a divulgação do IPCA (0,67%, contra uma “aposta” do mercado de 0,8%) e a primeira prévia do IGP-M marcando 0,06% (o índice cheio para o mês é previsto pelos bancos em 0,4%).
Por mais que o terrorismo inflacionário vá seguir, não há como esconder que para a parcela mais pobre da população, onde o INPC reflete melhor a pressão dos preços,  o acumulado em 12 meses é, com seus 5,82%, muito menos aterrorizante que o de abril de 2013, quando somava 7,16%.
Não é o melhor dos mundos, mas também não é um cenário desesperador, como apostava – e não perdeu ainda as esperanças – a turma do “quanto pior, melhor”.
O último fator – a Copa – embora ninguém deva ter a ilusão de que aí não virão manifestações – não dá também sinais de que vá adquirir as proporções de um ano atrás, com a adesão de parcelas significativas da classe média.
Ao contrário, a tendência é a de que o clima da competição e a conclusão de muitas obras a ela ligadas aponte para uma dissolução das reservas que artificialmente se criaram sobre os “danos” que ela traria ao país.
Empolgação à parte,  o conservadorismo brasileiro tem, é certo, algo como 35% dos votos assegurados e, com Aécio consolidado como seu candidato, inclusive com um movimento de pesquisas que definem sua supremacia sobre um Eduardo Campos que começa a ser empurrado para o nada, como já fica claro nas pesquisas.
Contra ele, à medida em que a campanha avance, há o peso de um Lula que se conserva, intocado, com a maioria absoluta de intenções de voto.
Quanto ao jogo das pesquisas, apenas reproduzo o texto da revista Veja sobre uma pesquisa Ibope, menos de um ano antes da eleição que reelegeu Lula em 2006:
ecta“O Ibope divulgou pesquisa que, pela primeira vez, aponta para uma derrota do presidente Lula nas eleições de 2006. Segundo o levantamento, Lula perderia para o tucano José Serra, prefeito de São Paulo, já no primeiro turno das eleições de 2006, com um placar de 37% a 31%. As pesquisas mostram ainda a ascensão rápida do também tucano Geraldo Alckmin, governador de São Paulo. Quando o nome dele aparece como o escolhido pelo PSDB para enfrentar o presidente, Alckmin, que nunca fez campanha nacionalmente nem ocupou cargos federais, perde por apenas quatro pontos – quase dentro da margem de erro estatístico. Os números da pesquisa mostram Lula em uma rampa descendente íngreme na preferência popular – enquanto na rampa oposta, ascendente, estão vindo seus potenciais contendores na campanha do ano que vem. 
Com base nos dados da pesquisa do Ibope e com a ajuda de técnicos do instituto, VEJA transformou as porcentagens em números absolutos e comparou-os aos resultados obtidos nas últimas eleições presidenciais pelos então candidatos Serra e Lula. O resultado é impressionante. Consagrado nas urnas em 2002 com 52 milhões de votos, Lula, três anos depois do pleito, perdeu 20 milhões de eleitores. Isso significa que quase 40% das pessoas que o queriam na Presidência hoje não querem mais. Só na Região Sudeste (que reúne 45% do eleitorado brasileiro), o presidente viu desertarem 10,6 milhões de eleitores desde que assumiu o cargo. O cálculo foi realizado com base nos porcentuais de intenção de voto atribuídos a Lula e Serra em um hipotético segundo turno – ponderados os índices de abstenção registrados nas eleições de 2002 em cada região do país e descontados os votos brancos e nulos. Por essas mesmas contas, Serra ganhou 11 milhões de eleitores em relação à última eleição presidencial. No dia seguinte à divulgação da pesquisa do Ibope, o Datafolha anunciou a sua, com números praticamente idênticos. “
Não é preciso mais do que as pesquisas para que você julgue as pesquisas, não é?
(Publicado originalmente no site Tijolaço)

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Caro senador Aloysio: não perca a cabeça; e os riscos do "vá pra puta que te pariu".

Caro senador Aloysio: não perca a cabeça; e os riscos do “vá pra puta que te pariu”

publicada quarta-feira, 07/05/2014 às 18:02 e atualizada quarta-feira, 07/05/2014 às 18:52

Petista tem que apanhar? A lógica do linchamento...
Lembre-se, caro senador, que esse clima de “pega pra capar” costuma começar com Robespierre cortando cabeças. E depois a cabeça de Robespierre também vai pra guilhotina. Com todo o respeito, não perca a cabeça.
por Rodrigo Vianna
Caro senador, essa “carta” é escrita sem rancor nem ironia. O senhor provavelmente nem me conhece. Escrevo depois de vê-lo agredir verbalmente um blogueiro que tentou entrevistá-lo na última terça-feira, no Congresso. O senhor xingou o rapaz, avançou contra ele, e depois tentou se justificar nas redes sociais, dizendo que ele era um “ex-assessor do PT”. Aqui um tweet do @Aloysio_Nunes: “acha que um senador de oposição pode ser ofendido por um ex-assessor do PT ? Acha que não há câmeras no Senado?”
A mídia ligada ao tucanato rapidamente espalhou a notícia (falsa) de que um senador reagira a “insultos” de um blogueiro ligado ao PT. O nome do blogueiro é Rodrigo Pilha. As imagens, senador, não mostram insultos por parte do blogueiro. Mas um tratamento até respeitoso – apesar de provocativo. Veja mais detalhes aqui.
Parece-me que o PSDB está mal acostumado: protegido pela mídia paulista e mineira, tem queixo de vidro. Não sabe apanhar, perdeu a capacidade de levar uns golpes. Já quer partir pra briga, pedir cabeças, mandar prender. Lamentável.
Senador, preciso dizer que eu costumava ter certo respeito pelo senhor, pela sua história. Respeito, justamente, pela firmeza que o senhor demonstrou nos momentos em que seu partido esteve na defensiva no segundo governo Lula. Enquanto Serra e Alckmin “esconderam” FHC, e renegaram o privatismo, o senhor fez campanha ao Senado com FHC no horário eleitoral em 2010. Defendeu FHC, e foi apoiado por ele. Gosto de gente que atua assim, de peito aberto. Mesmo carregando um fardo pesado.
Além disso, quando era Chefe da Casa Civil de Serra no governo paulista, o senhor alocou recursos para publicar livro importante, sobre desaparecidos políticos – editado por famílias de gente que morreu lutando contra a ditadura.
Muita gente não sabe que o senador Aloysio foi um dia o “camarada Mateus” – guerrilheiro da ALN. Atuou ao lado de Marighella, deu tiros, assaltou. Jamais renegou esse passado. E nem teria porque fazê-lo: lutava contra uma ditadura. O senhor foi mais prestativo do que certos petistas no momento em que famílias de desaparecidos e mortos pela ditadura precisaram de ajuda. De novo, postura corajosa, na medida em que contraria posições de eleitores e da base social tucana em São Paulo – que se deslocou para a direita.
Pois bem. Ao avançar contra o blogueiro no Congresso, o senhor não mostrou coragem. Ao contrário, confundiu bravura com desrespeito e autoritarismo. Foi covarde, até.
Mais que isso: o senhor justificou o ataque ao blogueiro pelo fato de ele ser do PT. Não esperava que o senhor aderisse à lógica justiceira que já incendeia as ruas e a internet. Há um movimento, um desejo latente em certos setores, de “exterminar o PT”. E ele gera um clima violento de parte a parte. “Tucanalha” de um lado. “Petralha” do outro. Onde isso vai nos levar, senador?
De fato, a abordagem do blogueiro Pilha pode ter irritado o senhor. Mas já imaginou se Genoíno ou Dirceu reagissem da mesma forma, quando foram abordados de forma muito mais agressiva por equipe de TV? Imagine se um parlamentar do PT avançasse sobre um jornalista ou humorista, gritando e xingando como o senhor fez? Estaria sujeito a pedido de cassação, por quebra de decoro. Viraria manchete. Sabemos que a mídia tucana não fará isso com o senhor. Mesmo assim, sua imagem (perseguindo aos berros o blogueiro) percorre a internet; e  não é das mais edificantes.
Imagine se o ex-presidente Lula fizesse o mesmo com certos blogueiros da “Veja” que o atacam de forma muito mais virulenta todos os dias? O Lula teria que dar uns sopapos na turma da “Veja”? Mandar a “PQP”? Esfolar? Prender?
Caro senador Aloysio, o senhor errou.
Perder a cabeça é algo normal. Quem sou eu pra dar lição de moral nesse sentido… Quem me conhece sabe que eu também brigo, não aceito desaforo. Então, senador, o mais grave não foi perder a cabeça. Mas tentar justificar o ataque porque afinal, do outro lado, estava um petista.
Senador, isso parece aquela turma que lamenta o linchamento da moça no Guarujá, porque afinal “ela não fez nada”, “não era a pessoa certa”. Ah, se tivesse feito, então podia linchar?
Esse clima de “linchamento”, de “criminalização” política, afeta hoje mais gravemente o PT. Até porque o bombardeio midiático é desproporcionalmente mais intenso quando há um petista envolvido em denúncias. Mas essa história de “vai pra puta que te pariu, seu petista”, pode virar fácil “morte aos tucanos que acabaram com a água de São Paulo”.
Senador, o senhor deveria pedir desculpas ao rapaz. Isso não o diminuiria em nada. Não significaria ceder em um milímetro nos duros embates com o PT. Legítimos, apesar de quase sempre eu estar do outro lado – e não ao seu lado nesses embates.
A sua história, apesar do PSDB ter ido para a direita, não merecia esse momento Toninho Malvadeza. O senhor é melhor que isso. Apesar de todas nossas discordâncias, sei que é.
E acho que o senhor faria bem se respondesse às perguntas que o blogueiro tentou fazer ao ser interrompido pelo “vai pra puta que te pariu”:
- por que o PSDB quer CPI em Brasília, mas não admite CPI em São Paulo para apurar as denúncias graves de “corrupa” no Metrô e nos trens?
- se o senhor acha que não precisa de CPI em São Paulo porque afinal já há outras instâncias (MP, policia etc) a investigar, por que diabos esse raciocínio não vale para a Petrobrás?
- e o que o senhor acha do envolvimento de seu nome nas denúncias em São Paulo? O senhor não deve? Então explique, sem gritar – por favor.
Lembre-se, caro senador, que esse clima de “pega pra capar” costuma começar com Robespierre cortando cabeças. E depois a cabeça de Robespierre também vai pra guilhotina.
Com todo o respeito, não perca a cabeça.
(Publicado originalmente no site O Escrevinhador)


As falácias neoliberais sobre o trabalho

Entre suas propostas de desregulamentação, o neoliberalismo colocou ênfase na flexibilização laboral. Por trás dessas palavras está a precarização do trabalho.

por Emir Sader em 03/05/2014 às 08:17





Emir Sader

Entre suas propostas de desregulamentação, o neoliberalismo colocou forte ênfase na “flexibilização laboral”. Por trás dessa palavra atraente  - assim como a de “informalização” – o que se esconde é a precarizacão das relações de trabalho, é o trabalho sem carteira de trabalho.

Esta foi uma das transformações mais importantes pregadas pelo neoliberalismo. Junto a ela promoveu a invisibilização das temáticas do mundo do trabalho. O aumento do desemprego e do que eles chamam de “desemprego tecnológico”, alegando que a tecnologia dispensa mão de obra, produzindo mais com menos trabalhadores, com aumentos de produtividade.

Se colocaria para o trabalhador a alternativa entre seguir empregado, mas baixando a produtividade e a competitividade da empresa e do próprio país ou sair do mercado para melhorar sua qualificação e retornar depois. Na verdade, não existe o tal “desemprego tecnológico”.

Quando há um aumento de produtividade, significa que se pode produzir a mesma mercadoria em menos tempo, digamos, na metade do tempo. Não se deduz imediatamente daí, que se deve expulsar tralhadores dos seus empregos. Há três alternativas: ou se produz o dobro da mesma mercadoria e se mantem a todos os trabalhadores empregados. Ou se produz a mesma quantidade de mercadorias e se diminui a jornada de trabalho pela metade. Ou então – que é o costume acontecer – se continua produzindo a mesma quantidade de mercadorias e se manda embora a metade dos trabalhadores.

Não é a tecnologia que manda embora aos trabalhadores, não é ela que desemprega. É a luta de classes, é quem se apropria do desenvolvimento tecnológico, que pode servir seja para diminuira a jornada de trabalho ou para aumentar os lucros dos empresários.

Quando foi inventada a luz elétrica, a primeira consequência não foi a melhoria das condições de vida na casa das pessoas, mas a introdução da jornada noturna de trabalho. A culpa não foi do Thomas Edson, mas da apropriação dessa invenção para estender a jornada de trabalho e a super exploração dos trabalhadores.

Desde que se fez a crítica do paradigma da centralidade do trabalho, como uma visão reducionista em relação às outras contradições, se impôs uma tendência oposta, a de fazer do trabalho uma atividade menor, sem transcendência. Exatamente quando mais gente que nunca vive do seu trabalho. De atividades heterogêneas, diversificadas, frequentemente com o mesmo trabalhador em vários empregos ao mesmo tempo. Mas trabalham homens e mulheres, idosos, jovens e crianças, brancos e negros – todos ou quase todos vivem do seu trabalho.

No entanto o tema do trabalho quase desapareceu, inclusive no pensamento social, em que a sociologia do trabalho passou, em poucas décadas, de uns dos ramos mais buscados a um especialidade entre outras. A mídia invisibiliza a atividade que mais ocupa as pessoas no mundo – a atividade laboral. Como se a tecnologia tivesse reduzido o trabalho a uma atividade virtual, sem esforço físico, sem desgaste de energia, sem a super exploração de jornadas de trabalho esgotadoras e intermináveis.

Para completar, tentam sempre fazer do primeiro de maio o Dia do trabalho e não do trabalhador.

Linchamentos são seletivos e atingem mais pobres, defende pesquisadora.

Linchamentos não são aleatórios e atingem mais pobres, defende pesquisadora

Por Redaçãomaio 7, 2014 00:24
Linchamentos não são aleatórios e atingem mais pobres, defende pesquisadora

Para Ariadne Natal, do NEV-USP, pessoas com maior poder aquisitivo gozam de uma rede de proteção mais eficiente. “Tanto que é muito raro identificarmos uma vítima de classe média entre as vítimas de linchamento. E não porque não haja, entre a classe média, quem cometa crimes”
Por Alex Rodrigues, da Agência Brasil
Ao contrário do que aponta o senso comum, linchamentos como o que vitimou a moradora de Guarujá (SP), a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, não podem ser vistos meramente como uma ação irracional. A conclusão é da pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), Ariadne Natal, autora de tese sobre casos de justiçamentos sumários ocorridos na cidade de São Paulo e região metropolitana, entre 1980 e 2009.
“Qualquer pessoa que tenha participado do linchamento da Fabiane vai dizer que tinha certeza de que a dona de casa era o mal encarnado. Que era preciso linchá-la para expiar o mal que atribuíam a ela. Ou seja, estão equivocadas ao acreditarem fazer justiça, mas não estão agindo irracionalmente”, sustentou a pesquisadora, em entrevista à Agência Brasil.
Destacando o fato de que a defesa do uso da violência como solução para os conflitos é prática recorrente na sociedade brasileira, Ariadne Natal defende que o caso da dona de casa deve servir de exemplo. “Exemplo de que a justiça não pode ser feita sumariamente. De que cabe apenas às instituições do Estado fazer justiça. E se essas instituições não estiverem fazendo isso a contento, o que a sociedade tem que fazer é aperfeiçoá-las”.
Após estudar 385 casos de linchamento que foram noticiados pela imprensa, entre 1º de janeiro de 1980 e 31 de dezembro de 2009, a pesquisadora concluiu que os participantes da ação acreditam em suas justificativas e não agem de forma aleatória, ao escolher aqueles que devem ser “justiçados”.
“Não é qualquer pessoa que pode ser desumanizada e, portanto, linchada. As potenciais vítimas de linchamento carregam consigo a marca daquele que pode, em última análise, ser eliminado”, aponta Ariadne, sugerindo que pessoas com maior poder aquisitivo suspeitas de cometer crimes semelhantes ao atribuído à dona de casa agredida, na noite do último sábado (3), gozam de uma rede de proteção mais eficiente. “Tanto que é muito raro identificarmos uma vítima de classe média entre as vítimas de linchamento. E não porque não haja, entre a classe média, quem cometa crimes”.
Ela destaca que a análise das causas de justiçamentos devem levar em conta dinâmicas macrossociais, como a falta de políticas de infraestrutura e habitacionais, que podem levar moradores de determinadas áreas a buscarem mecanismos privados para a resolução dos problemas.
Fabiane morava com o marido e dois filhos no bairro de Morrinhos, localidade que concentra famílias das classes C e D, e possuía alguma espécie de transtorno mental, conforme divulgado pela imprensa. Situação comum a outros casos analisados no estudo de Ariadne Natal. “São pessoas cujas atitudes os outros têm dificuldades para compreender”, aponta a pesquisadora.
“Lógico que nada disso é explicitado. Há diferentes justificativas para os casos de linchamento ao longo do tempo”. Na década de 1980, por exemplo, as motivações dos participantes estavam mais relacionadas a crimes contra a propriedade. Já na década de 1990, houve mais casos ligados a crimes contra a vida e os costumes, como o estupro.
Além disso, a partir da década de 1990, a polícia, quando acionada, passou a atender mais rapidamente esse tipo de ocorrência, reprimindo-a. “Por isso o número de casos de linchamentos que resultaram em morte eram maiores na década de 1980”. Quando a pesquisadora defendeu sua tese, em 2013, ainda não havia informações precisas sobre a primeira década deste século. Mesmo assim, Ariadne afirma que o perfil das vítimas de linchamentos mudou pouco ao longo do tempo. Embora o número de mulheres alvos dessas ações tenha aumentado, a partir dos anos 2000, os homens jovens continuam sendo as vítimas mais recorrentes. E quase a totalidade dos casos ocorre em regiões periféricas.
“O que está relacionado ao acesso que os moradores dessas áreas têm às instituições de Estado. Não só em termo de presença, mas, principalmente, quanto à qualidade dos serviços prestados por essas instituições. A tese da ineficiência do Estado é, portanto, um dos componentes que ajudam a explicar esses crimes. Mas há também a própria dinâmica das relações sociais nesses locais, onde as pessoas se conhecem e as informações transitam com maior facilidade”.
Outro diferencial é que, hoje, os linchamentos são frequentemente filmados e exibidos na imprensa e na internet. Foi o que aconteceu no caso de Fabiane. As cenas das agressões sofridas pela dona de casa vêm chocando o país. “O linchamento é sempre um evento público com caráter de exemplaridade. Faz parte do processo de humilhar a vítima expô-la sendo agredida. Como, hoje, há sempre alguém filmando, o que no passado ficaria restrito a um contexto local ganha uma maior dimensão. Essas imagens são fortes, mas a reação de quem as vê depende muito do filtro da percepção de cada um. Há muitos que, ao verem as imagens de um garoto algemado a um poste, sentiram-se satisfeitos e acharam pouco. A diferença no caso da Fabiane é que essas mesmas pessoas se comovem ao saber que uma pessoa inocente foi morta. Se ela de fato tivesse sequestrado uma criança, a reação seria diferente. E não deveria ser, pois estranho é o linchamento”.
A pesquisadora conclui que “Numa democracia, o que se espera é que as pessoas se mobilizem para melhorar as instituições e não para fazer justiça de forma sumária, sem dar aos suspeitos o direito à defesa. E, com isso, no afã de tentar fazer uma suposta justiça, comete-se grandes injustiças. E mesmo que a vítima tenha de fato cometido algum crime, isso não diminui o aspecto lamentável de um linchamento”.
Foto de capa: Reprodução
(Publicado originalmente na revista Fórum)

O historiador do futuro e o desejo de extinguir "essa raça".

publicado em 6 de maio de 2014 às 18:53


Adeus, PT
por Marco Antonio Villa
O Globo, 06.05.2014
Tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo.
A cinco meses da eleição presidencial é evidente o sentimento de enfado, cansaço, de esgotamento com a forma de governar do Partido dos Trabalhadores. É como se um ciclo estivesse se completando. E terminando melancolicamente.
A construção do amplo arco de alianças que sustenta politicamente o governo Dilma foi, quase todo ele, organizado por Lula no início de 2006, quando conseguiu sobreviver à crise do mensalão e à CPMI dos Correios.
Naquele momento buscou apoio do PMDB — tendo em José Sarney o principal aliado — e de partidos mais à direita. Estabeleceu um condomínio no poder tendo a chave do cofre. E foi pródigo na distribuição de prebendas. Fez do Tesouro uma espécie de caixa 1 do PT. Tudo foi feito — e tudo mesmo — para garantir a sua reeleição.
Parodiando um antigo ministro da ditadura, jogou às favas todo e qualquer escrúpulo. No jogo do vale-tudo não teve nenhuma condescendência com o interesse público.
A petização do Estado teve início no primeiro mandato, mas foi a partir de 2007 que se transformou no objetivo central do partido. Ter uma estrutura permanente de milhares de funcionários petistas foi uma jogada de mestre.
Para isso foram necessários os concursos — que garantem a estabilidade no emprego — e a ampliação do aparelho estatal. Em todos os ministérios, sem exceção, aumentou o número de funcionários. E os admitidos — quase todos eles — eram identificados com o petismo.
Desta forma — e é uma originalidade do petismo —, a tomada do poder (o assalto ao céu, como diria Karl Marx) prescindiu de um processo revolucionário, que seria fadado ao fracasso, como aquele do final da década de 60, início da década de 70 do século XX. E, mais importante, descolou do processo eleitoral, da vontade popular.
Ou seja, independentemente de quem vença a eleição, são eles, os petistas, que moverão as engrenagens do governo. E o farão, óbvio, de acordo com os interesses partidários.
Se no interior do Estado está tudo dominado, a tarefa concomitante foi a de estabelecer um amplo e fiel arco de dependência dos chamados movimentos sociais, ONGs e sindicatos aos interesses petistas.
Abrindo os cofres públicos com generosidade — e que generosidade! — foi estabelecido um segundo escudo, fora do Estado, mas dependente dele. E que, no limite, não sobrevive, especialmente suas lideranças, longe dos recursos transferidos do Erário, sem qualquer controle externo.
O terceiro escudo foi formado na imprensa, na internet, entre artistas e vozes de aluguel, sempre prontas a servir a quem paga mais. Fazem muito barulho, mas não vivem sem as benesses estatais. Mas ao longo do consulado petista ganharam muito dinheiro — e sem fazer esforço. Basta recordar os generosos patrocínios dos bancos e empresas estatais ou até diretamente dos ministérios.
Nunca foi tão lucrativo apoiar um governo. Tem até atriz mais conhecida como garota-propaganda de banco público do que pelo seu trabalho artístico.
Mas tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo. O cenário não tem nenhum paralelo com 2006 ou 2010. O desenho da eleição tende à polarização. E isto, infelizmente, poderá levar à ocorrência de choques e até de atos de violência.
O Tribunal Superior Eleitoral deverá ser muito acionado pelos partidos. E aí mora mais um problema: quem vai presidir as eleições é o ministro Dias Toffoli – como é sabido, de origem petista, foi advogado do partido e assessor do sentenciado José Dirceu.
Se a oposição conseguir enfrentar e vencer todas estas barreiras, não vai ter tarefa fácil quando assumir o governo e encontrar uma máquina estatal sob controle do partido derrotado nas urnas.
As dezenas de milhares de militantes vão — se necessário — criar todo tipo de dificuldades para a implementação do programa escolhido por milhões de brasileiros. Aí — e como o Brasil é um país dos paradoxos — será indispensável ao novo governo a utilização dos DAS (cargos em comissão). Sem eles, não conseguirá governar e frustrará os eleitores.
Teremos então uma transição diferente daquela que levou ao fim da Primeira República, em 1930; à queda de Vargas, em 1945; ou, ainda, da que conduziu ao regime militar, em 1964. Desta vez a mudança se dará pelo voto, o que não é pouco em um país com tradição autoritária. O passado petista — que imagina ser eterno presente — terá de ser enfrentado democraticamente, mas com firmeza, para que seja respeitada a vontade das urnas.
É bom não duvidar do centralismo democrático petista. Não deve ser esquecido que o petismo é o leninismo tropical. Pode aceitar sair do governo, mas dificilmente sairá do aparelho de Estado. Se a ordem de sabotar o eleito em outubro for emitida, os militantes-funcionários vão segui-la cegamente. Claro que devidamente mascarados com slogans ao estilo de “nenhum passo atrás”, de “manter as conquistas”, de impedir o “retorno ao neoliberalismo”. E com uma onda de greves.
A derrota na eleição presidencial não só vai implodir o bloco político criado no início de 2006, como poderá também levar a um racha no PT. Afinal, o papel de Lula como guia genial sempre esteve ligado às vitórias eleitorais e ao controle do aparelho de Estado. Não tendo nem um, nem outro, sua liderança vai ser questionada.
As imposições de “postes”, sempre aceitas obedientemente, serão criticadas. Muitos dos preteridos irão se manifestar, assim como serão recordadas as desastrosas alianças regionais impostas contra a vontade das lideranças locais. E o adeus ao PT também poderá ser o adeus a Lula.
Marco Antonio Villa é historiador
PS do Viomundo: Trata-se, obviamente, de wishful thinking. Do antipetismo doentio e cada vez mais agressivo que toma conta de amplas parcelas da classe média, que não se conforma com a invasão de seu espaço e com o fim da rígida hierarquia social. Para ela, de fato, o mundo está de pernas para o ar. Porém, não se pode negar o óbvio: a falta de coragem do PT para defender seu patrimônio político, inclusive com a criação de meios para fazê-lo, foi o que levou ao estado atual de coisas. A grande mídia demonizou diuturnamente o PT e os efeitos disso se disseminaram muito além dos bairros nobres das grandes metrópoles. Mas não nos esqueçamos das promessas descumpridas, do esgarçamento da coalizão governista e do desgaste natural de 12 anos no poder. Esta combinação pode, de fato, tirar Dilma do poder em outubro.

terça-feira, 6 de maio de 2014

O PSB deixou de ser socialista

Não é a primeira vez que Roberto Amaral entra em rota de colisão com os dirigentes do PSB. Em todos esses casos, sempre por razões programáticas. Faz muito tempo que fica evidente o hiato entre o ideário socialista e a postura pragmática e oportunista de suas lideranças. De socialista na legenda, apenas as teses e programa da agremiação, concebidas ainda na época do Dr, Arraes.Esse programa, agora, é o estopim da discórdia entre seus membros. Para não melindrar o capital, querem fazer mudanças no capítulo referente às questões fundiárias. Que história é essa de socializar a propriedade da terra, perguntam os ruralistas e latifundiários. Sua principal liderança - e candidato presidencial nas eleições de 2014, Eduardo Campos - já fez barba, cabelo e bigode com o capital. Ou, pelo menos, tentou fazê-lo, uma vez que o establishment vem emitindo indicativos de que jogará suas cartas na candidatura do senador Aécio Neves. Salvo engano, Roberto é da velha guarda socialista, político que trocou muitas ideias com Arraes. Outro dia, numa entrevista, Luiza Erundina também havia esboçado um certo desconforto com as "negação" da política proferida pela Rede de Marina Silva. Não vou nem entrar no mérito das divergências entre as duas agremiações, mas, a rigor, certamente, essas posturas de conveniências - para agradar Deus e o Diabo - não podem trazer resultados muito positivos para o candidato da legenda à Presidência da República. Aqui na província, as coisas não são muito diferentes. Outro dia a coalizão acusou um mal-estar com as declarações do candidato que concorre ao Governo do Estado pelo partido, sobre a "herança maldita" do Governo Jarbas Vasconcelos, um aliado de última hora. Reeditada a "União por Pernambuco" - com o concurso dos demos - ele volta atrás, tecendo loas à gestão Jarbas/Mendoncinha.

Mais duas vítimas do "Efeito Raquel Sheherazade".





Mais duas pessoas foram vítimas, por engano, da "justiça com as próprias mãos', uma prática que está se tornando, infelizmente, uma rotina no Brasil, depois da onda gerada pelas declararações de uma jornalista do Sistema Brasileiro de Televisão. Na periferia do Rio Grande do Norte, um pedreiro foi brutalmente espancado ao ser confundido com alguém que havia cometido uma assalto. Usava uma camisa da mesma marca da usada pelo assaltante. No Guarujá, em São Paulo,uma mulher de 33 anos foi espancada até a morte, depois de "identificada" por uma foto postada nas redes sociais, como sendo uma suposta sequestradora de crianças para rituais de magia negra. Fabiana Maria de Jesus foi vítima de um engano. De acordo com as autoridades policiais - e aqui vem mais um agravante - no Guarujá, onde ela residia, sequer há resgistro de queixas contra rapto de crianças. Aqui mesmo pelas redes sociais, quase que diariamente, surgem novos casos. Parece que voltamos à barbárie.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Paulo Freire, o pensador do século XXI

O pensador do século XXI

Por Redaçãofevereiro 8, 2012 21:35 ATUALIZADO
A teoria de conhecimento desenvolvida por Paulo Freire continua sendo referência nos mais diversos países e influencia quase todas as ciências humanas, mesmo dez anos após sua morte
Por Glauco Faria e Nicolau Soares
O educador Carlos Alberto Torres era um estudante de graduação da Universidade da Patagônia pouco antes do golpe militar argentino, em 24 de março de 1976. À época, finalizava um livro sobre Paulo Freire e, munido de três cópias datilografadas, pegou um avião para Buenos Aires e entregou a obra para o editor Júlio Barreiro, que havia se comprometido a publicá-la.
Chegando lá, Júlio o cumprimentou em seu escritório com afeição, pegou o material e disse a Torres: “Vou lê-los com olhos de editor, mas tenho medo de que não poderei publicá-lo na Argentina nestas condições. Talvez nós possamos publicá-lo na Itália”.
A sentença foi um balde de água fria para o jovem educador. Muitas horas tinham sido gastas para produzir o livro em uma velha casa sem eletricidade no povoado de Trevelin, a 26 quilômetros da cidade argentina de Esquel.
Julio perguntou a Torres o que ele fazia na Patagônia e, ao saber que estava ministrando cursos em escolas e em uma universidade usando textos de Freire, Karl Marx e Jean Piaget, o interrompeu com um tom de voz preocupada: “Carlos, você precisa retornar imediatamente, pedir os programas de seus cursos, destruí-los e trocá-los por outros com bibliografias diferentes, que não incluam Piaget, Freire ou Marx. O governo está inspecionando estabelecimentos educacionais e, como estes autores foram banidos, podem haver conseqüências muito graves para aqueles que os ensinarem.”
Mesmo assim, Torres não se impressionou. “Em minha ingenuidade, perguntei a ele por que a situação lhe parecia tão difícil”, conta. Julio abriu a gaveta de sua escrivaninha e tirou de dentro uma revista muito popular na classe média. Havia duas páginas inteiras no meio com uma reportagem falando de Paulo Freire. A página da esquerda continha trechos tirados de Educação como Prática de Liberdade, a da direita passagens de Pedagogia do Oprimido. “Eram algumas das sentenças mais incendiárias dos dois livros, deslocadas totalmente do contexto original”, recorda Torres.
Ao fim da matéria, a sentença que resumia tudo: “a Revolução Argentina foi feita contra este tipo de educação marxista para nossas crianças”. Julio fechou a revista, olhou para Torres diretamente nos olhos e explicou que era preciso ser muito cuidadoso naquele tempo em particular. “Esta conversa mudou minha vida e talvez tenha salvado a mim e à minha família de um futuro de tortura ou morte certa”, conta.
A história acima não ocorreu apenas na Argentina. Ela se refletiu também no Brasil e em diversos países onde o pendor autoritário não permitia que Paulo Freire fosse sequer lido, quanto mais publicado. Não à toa, todos aqueles que comandavam regimes autoritários percebiam nele o potencial revolucionário que de fato sua obra tentava traduzir não somente por um método de ensino, mas utilizando-se de uma nova teoria do conhecimento que subvertia boa parte da tradição filosófica ocidental.
“Estou tentando fazer o Paulo Freire entrar mais na universidade, mostrando que ele era uma pensador rigoroso, não apenas intuitivo, sem rigor científico. Ele contrariou a ontologia aristotélica, toda nossa teoria do ser, a tradição ocidental, que diz que tudo o que existe é uma estrutura”, explica o professor José Eustáquio Romão, estudioso da obra freireana e que também conviveu com Paulo Freire entre 1986 e 1997. “Não existe o ‘ser’, mas sim o ‘está sendo’. Segundo Paulo, todos somos incompletos, já que precisamos uns dos outros; inconclusos, já que estamos em transformação; e inacabados, ou seja, imperfeitos”, argumenta.
Romão explica que o cerne do pensamento freireano está justamente na insatisfação que move o ser humano para o “ser mais”. “Aristóteles dizia que o que diferencia o ser humano dos outros seres é o raciocínio. Paulo Freire olhava pro cachorro dele e dizia ‘não tenho certeza se esse cachorro não pensa. Mas sei o que sou e fico insatisfeito por ser assim, por isso me esforço para não ser o que sou. Já o cachorro não faz esse esforço’”, analisa. “Não é à toa que ele desenvolve uma teoria do ser, que é a pedagogia do oprimido, e a teoria do ser mais, a pedagogia da esperança. O que diferencia o ser humano é a capacidade ter esperança, de ‘esperançar’”, conclui.
Romão conta que a primeira obra que leu de Freire sequer havia sido publicada, era o texto escrito para um concurso de professor na Faculdade de Belas Artes do Recife, publicado após sua morte pelo próprio Romão. Educação e atualidade brasileira tinha, na nota de rodapé 14, uma crítica pontual ao pensamento vigente à época na intelectualidade brasileira.
“Os grandes autores à época, principalmente o pessoal do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, diziam que o Brasil era subdesenvolvido, mas havia chegado a hora da virada, motivada pelo projeto nacional-desenvolvimentista. De acordo com eles, o contexto era favorável à revolução”, elucida Romão. A tese de Paulo Freire era de que, naquele momento, o povo emergia na arena política, uma relativa novidade para um país com a tradição autoritária do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, Freire dizia que a revolução não seria possível, “porque não adiantava o cavalo estar arriado, era preciso montá-lo”, segundo o professor. “Ou seja, era preciso um processo de educação popular, um processo pedagógico. Ele fez algo extremamente marxista, existia a tese, a antítese, mas ainda não a síntese. Os intelectuais tinham parado na antítese. Aquilo era um projeto populista, tinha um limite estrutural nele mesmo.”
Em todo lugar A teoria freireana se estende não apenas por inúmeras áreas do conhecimento humano, mas também por diversos países que têm realidades totalmente diferentes. Foram dezenas de livros publicados em mais de 30 idiomas e outros 40 títulos honoris causa. Seu nome está relacionado a mais de cem instituições em todo o planeta.
Nos Estados Unidos, Paulo Freire é inspiração para educadores, mas também se firmou como referência política, influenciando no campo de atuação da esquerda norte-americana. “Ele sempre foi conhecido aqui como revolucionário em educação de adultos nos anos 1970 e no início dos 1980”, explica Carlos Alberto Torres, o jovem do início do texto, hoje radicado nos EUA. “Entretanto, com sua introdução em programas de treinamento de professores nos Estados Unidos, Freire foi rapidamente colocado como um ‘guru’ da Nova Esquerda nos EUA e também internacionalmente. Seu trabalho transcende o campo da educação e suas teorias são praticadas e aplicadas em diversos setores, particularmente aqueles ligados a políticas culturais”, pontua.
Boa parte do reconhecimento internacional que Freire granjeou decorre de um verdadeiro trabalho militante. Foram centenas de viagens feitas por ele durante toda sua vida e muitos daqueles que hoje divulgam suas teorias e práticas as conheceram por meio do próprio educador. É o caso de Daniel Schugurensky, professor associado do Instituto Ontario para Estudos em Educação da Universidade de Toronto. “Eu era muito interessado nas idéias de Freire desde que era um adolescente porque naquele tempo estava ansioso para encontrar caminhos que contribuíssem para uma mudança social através da educação”, explica. “Aqui, Freire é muito conhecido. Ele passou parte do verão de 1976 ministrando um curso de pós-graduação e desta passagem temos três vídeos nos quais dois educadores de adultos de nosso instituto o entrevistam. No ano seguinte da sua visita a Toronto, um grupo local ligado a sindicatos progressistas começou a realizar uma série de atividades de educação popular”, recorda. Ele ressalta que o legado freireano é significativo em seu país. “Não apenas eu, mas muitos de meus colegas aqui tratamos de aplicar os princípios freireanos a nossa prática pedagógica e política em nossas atividades cotidianas, em nossa relação com nossos estudantes, com nossas comunidades, e em nossa própria organização interna, tratando de ser cada vez mais democráticos e criar estruturas mais democráticas. Também há professores aplicando princípios freireanos em escolas secundárias do Canadá”.
Mas em países onde a realidade é menos rósea do que no Canadá, as teses do educador adquirem um outro tipo de importância. Deena Soliar é uma das dirigentes do Centro Umtapo da África do Sul, um dos muitos países visitados por ele no continente, e conta como as sua teoria chegou ao país. “Ele foi introduzido na África do Sul no início dos anos 1970 por Anne Hope, que conduziu o primeiro treinamento baseado na filosofia de Freire para um grupo de ativistas da Consciência Negra, incluindo Steve Biko. Já estávamos convencidos que conscientização através da educação popular era a chave para os problemas do país e dessa forma um dos pilares fundamentais da fundação da Umtapo foi a filosofia freireana”, explica.
Assim como em outros locais, na África do Sul a área da educação também é um campo em que se travam disputas políticas, com diferentes concepções a respeito do papel da educação. Deena e a Umtapo lutam para promover a educação popular e a aplicação da teoria freireana tem sido fundamental para o sucesso dessa empreitada. “Em 1991, a Umtapo fundou a Associação para Alfabetização e Educação de Adultos, afiliada à Associação Africana por Alfabetização e Educação de Adultos, em oposição a outras entidades dominadas por liberais no país que eram críticas de Freire. Agora temos tentado nos últimos anos estabelecer uma ampla coalizão internacional de educadores populares comprometidos com a filosofia e o método freireanos”, conta. A Umtapo também honrou Freire ao premiá-lo postumamente com o Prêmio Steve Biko da Paz Internacional em 2005 e produziu um manual de treinamento para jovens ativistas comunitários em seu nome.
A cultura da paz também foi influenciada pelo educador pernambucano. Davi Windholz foi um dos fundadores do Instituto Paulo Freire em Israel e começou a trabalhar em bairros pobres utilizando a teoria freireana em programas de desenvolvimento de lideranças sociais. “O programa era patrocinado pela Universidade de Jerusalém, e todo o trabalho baseava-se em formação de grupos de lideranças locais para a melhoria das condições de vida desses bairros”, explica. “Acreditávamos que não tínhamos o direito de ir a
esses bairros com uma postura de ‘donos da verdade’ como vinham os assistentes sociais, em geral. Nós, estudantes, e eles, moradores dos bairros pobres, vivíamos em dois mundos diferentes e sem contato. O diálogo era a única forma de poder unir esses dois mundos e achar um meio que pudesse nos libertar, juntos.”
Em um país onde o equilíbrio social é frágil e os conflitos são inúmeros, trabalhar com a filosofia freireana pode ser uma boa saída. “Apesar de todas as diferenças, o diálogo e a educação libertadora são as únicas formas positivas de influir nos processos sociais e educacionais que promovemos”, acredita Windholz, que hoje trabalha com o projeto AlterNative, que busca promover o poder comunitário e a integração étnica.
Música e alternância Além de estar presente em vários lugares com realidades absolutamente distintas, Paulo Freire também se faz presente em diferentes áreas do conhecimento humano, inclusive na música. A dissertação de mestrado de Estevão Teixeira foi sobre alfabetização musical utilizando a teoria freireana, com a intenção de valorizar a cultura popular e rema contra a educação musical tradicional. “Sou professor em conservatório e percebi que quem tem aula ali, aprende por quinze, vinte anos, e não toca nada sem partitura”, conta. “Os músicos populares são considerados analfabetos musicais e, embora Paulo Freire tenha dito que não basta ler, mas é preciso ler dentro do contexto, existe aí uma dominação simbólica. Sempre houve muita ênfase na música erudita e boa parte dos professores não deixa tocar de ouvido”, critica.
Assim, Teixeira desenvolveu o Teclado Didático para o Ensino da Música (Tedem), que ele define como um “ábaco musical”. Trata-se de um teclado onde as teclas se levantam do plano horizontal, possibilitando uma maior compreensão de todas as estruturas musicais. “É um método que não se volta somente à alfabetização musical, mas voltado à formação da criança”, assegura. Em 2004, Estevão lutou para que fosse aprovada em Juiz de Fora (MG) a Lei Municipal (nº 10.861), com o objetivo de reinserir o ensino da música nas escolas públicas da rede municipal de ensino fundamental.
A teoria freireana chega também ao campo. Na cidade baiana de Jaguaquara, a Escola Rural Taylor Egídio trabalha com 600 alunos num regime de internato, mas com uma proposta de pedagogia de alternância. Enquanto 300 crianças estão na escola, 300 estão em suas casas e são visitadas diariamente. “A idéia da alternância é uma imersão na educação formal sem tirar a criança de sua realidade. Ela transita entre educação formal e a vida de sua casa. O grande objetivo é fortalecer o campo, o saber local. Pretendemos que as crianças voltem para a roça e coloquem em prática nos seus quintais, nas plantações dos pais, o que aprenderam na escola, e que possam ensinar para os pais”, esclarece Sonilda Sampaio Santos Pereira, diretora da escola.
“Na sala de aula, é proposto para os alunos uma construção de conhecimento a partir da realidade de cada uma, do concreto das vidas”, explica Sonilda, ressaltando a interdisciplinariedade presente no cotidiano da escola. “Juntamente com a construção da leitura, especialmente da leitura mundo e da palavra escrita, tratamos também a música. Temos uma banda, trabalhamos a questão da voz, informática, fazemos tarefas com Lego. Mas o eixo de todas as práticas é o campo, que é muito explorado nas aulas de agricultura.”
Mas de fato o que mais impressiona na teoria freireana, além da sua atualidade, é a capacidade de se reinventar, mesmo dez anos após sua morte. Ao contrário de outros intelectuais, à medida que o tempo passa, Paulo Freire é ainda mais reconhecido pela amplitude de sua obra. “Reconhecemos Freire como um dos grandes educadores do século XX e sempre revisamos sua obra e revisitamos suas contribuições à educação para entender os mecanismos de reprodução social e mudança”, conta Daniel Schugurensky. “Ao mesmo tempo, Freire sempre pediu que não o copiássemos, mas que o reinventássemos, e, aqui em Toronto, estamos colaborando com os esforços que estão sendo feitos no Brasil e em outras partes do mundo para reinventar Freire e nos preparar para os desafios do século XXI”, completa.
Reinvenção é o termo que Carlos Alberto Torres também usa para explicar o que se desenvolve hoje na Universidade da Califórnia (UCLA). “O Instituto Paulo Freire na UCLA está desenvolvendo séries de cursos de treinamento profissional para professores do fundamental e do ensino médio em colaboração com o Programa de Educação de Professores da UCLA. O propósito destes cursos é guiar professores por aplicações teóricas e práticas da pedagogia crítica de Paulo Freire em classes urbanas e multiculturais”, aponta. “O objeto deste cursos não é apenas a aplicação de contribuições de Paulo Freire e de seus seguidores, mas sua reinvenção. A idéia é ligar pesquisa, teoria e prática em um caminho único, que vai permitir a educadores jovens e treinados nas universidade a ensinar seus estudantes, muitos deles filhos de imigrantes recentes a entender e navegar nas complexas e muitas vezes violentas comunidades em que eles vivem. De forma crítica e com compaixão ao mesmo”, conclui.
Para José Eustáquio Romão, o grande legado de Paulo Freire pode ter um significado para a área das Ciências Humanas que equivale a de outros grandes pensadores do século XX. “Charles Darwin, Sigmund Freud e Karl Marx tiveram que criar teorias de conhecimento para explicar o que não podiam por conta das circunstâncias históricas, não acharam elementos disponíveis que pudessem auxiliá-los. Creio que a teoria criada por Freire ainda será a grande teoria do século XXI”. Alguém tem dúvidas?
(Publicado originalmente na Revista Fórum)