Eduardo Campos vê no espelho o fantasma de gente como Roberto Freire, Guilherme Afif Domingos, Anthony Garotinho, Cristovam Buarque e Heloísa Helena. |
Empacado em terceiro lugar nas pesquisas de opinião; relegado pela mídia, igualmente, ao terceiro plano; Eduardo Campos resolveu dar fim à sua lua de mel com Aécio Neves.
Campos deixou de andar de mãos dadas e agora usa os cotovelos contra Aécio para disputar uma vaga no posto de candidato preferencial das oposições para o caso de uma eleição em dois turnos.
Até então, o trabalho de alfinetar os tucanos vinha sendo reservado a Marina Silva e seu grupo, a Rede.
Parecia desavença, mas não era. Campos criticava a gestão Dilma e preservava FHC, Aécio e o PSDB. Marina, por sua vez, não poupava ninguém, nem mesmo Lula, dando um tom mais antipetista à candidatura.
Não é incomum, em campanhas, o candidato a vice servir de metralhadora giratória, fazendo o papel de "policial malvado", enquanto o candidato à Presidência posa de bom moço.
Campanhas eleitorais são curtas e a tarefa de Campos se torna cada vez mais difícil. Pouco conhecido na grande maioria dos estados do país, sem palanques próprios em muitos deles, agora sem mandato, ele se vê diante de um risco, quase uma maldição que já se abateu sobre vários ex-candidatos a presidente.
Ao contrário do que se pode imaginar, uma candidatura presidencial afunda, mais do que projeta a maioria dos políticos.
Campos vê no espelho o fantasma de gente como Roberto Freire, Guilherme Afif Domingos, Anthony Garotinho, Cristovam Buarque e Heloísa Helena, que depois de terem sido candidatos a presidente, nunca mais tiveram a mesma evidência e importância.
Mais do que amargar um terceiro lugar nesta eleição, Campos pode terminar sendo apenas aquele que ajudou Aécio a ir para o segundo turno.
Foi a mesma ajuda, aliás, cumprida por Marina nas eleições de 2010, sem a qual José Serra não teria disputado contra Dilma e proporcionado um espetáculo deprimente de pregação moralista antiaborto e bolinhas de papel.
Campos e Marina passaram, de outubro de 2013 até agora, tentando se colocar como a opção preferencial de uma oposição conservadora que disputa o mesmo programa de Aécio.
O problema é que um programa baseado, fundamentalmente, em ajuste fiscal ao gosto do sistema financeiro internacional (aquele que critica gastos do governo, consumo das famílias e salário mínimo, mas se cala em relação aos juros escorchantes), que disputa adeptos no antipetismo e que usa como estandarte o be-a-bá do moralismo conservador, a começar pela questão do aborto, é um programa estreito demais para dois candidatos.
O zigue-zague de Campos demonstra que, a essa altura, ele ainda não tem claro qual seu papel nesta campanha.
Parece disposto a cumprir qualquer tarefa que se mostre mais conveniente ao objetivo de colocar sua foto em um eventual segundo turno, doa em quem doer.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)
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