pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 18 de julho de 2014

O escritor brasileiro, João Ubaldo Ribeiro morreu no Rio de Janeiro


Um dos maiores nomes da literatura brasileira, que venceu em 2008 o Prémio Camões, morreu nesta sexta-feira, aos 73 anos.
O escritor fotografado em 2000 ADRIANO MIRANDA



O escritor João Ubaldo Ribeiro morreu nesta sexta-feira, aos 73 anos, na sua casa no Leblon no Rio de Janeiro, divulgou o jornal O Globo onde era cronista. O prémio Camões 2008 sofreu uma embolia pulmonar durante a noite. Autor de uma obra vasta, que engloba as culturas portuguesa, africanas e brasileira e com um alto nível literário, considerava-se discípulo de Jorge Amado. Os romances Sargento Getúlio Viva o Povo Brasileiro são já considerados clássicos. Para o seu editor português, Nelson de Matos, era " um dos mais exímios manipuladores da língua portuguesa".
Neto e sobrinho de portugueses de Fafe, João Ubaldo Ribeiro nasceu na ilha de Itaparica, em 1941, viveu um ano em Lisboa, em 1981, graças a uma bolsa concedida pela Fundação Gulbenkian. Poliglota, estudou e formou-se nos Estados Unidos, Alemanha e França, era mestre em Ciências Políticas e também membro da Academia de Letras do Brasil desde 1993.
Quando lhe foi atribuído o Prémio Camões, o júri, que deliberou por maioria, era presidido por Ruy Espinheira Filho (escritor, jornalista e professor da Universidade Federal da Bahia) e incluía Maria Lúcia Lepecki (professora na Universidade de Lisboa), Maria de Fátima Marinho (professora na Universidade do Porto), Marco Lucchesi (professor na Universidade do Rio de Janeiro), João Melo (poeta e jornalista angolano) e Corsino Fortes (presidente da Associação de Escritores Cabo-Verdianos). Na sua decisão teve em consideração "o alto nível da obra literária de João Ubaldo Ribeiro, especialmente densa das culturas portuguesa, africanas e dos habitantes originais do Brasil", lia-se na acta. 
Depois de uma infância marcada pelos estudos literários orientados pelo pai, João Ubaldo Ribeiro estreia-se aos 16 anos como jornalista no Jornal da Bahia, ainda antes de ingressar no curso de Direito, licenciando-se numa profissão que nunca chegará a exercer. Na universidade, toma parte nos movimentos literários estudantis, mas só em 1963 escreve o seu primeiro romance, Setembro não Faz Sentido (já depois de ter assinado vários contos), livro que seria editado dois anos volvidos, com o patrocínio de Jorge Amado.

Seguem-se Sargento Getúlio (1971), obra que lhe valerá a atenção da crítica e que viria a ser editado nos EUA oito anos depois. Sar­gento Getúlio, que rece­beu o Prémio Jabuti para autor-revelação e que a crítica con­siderou ser herdeiro do mel­hor de Gra­cil­iano Ramos e de Guimarães Rosa, espan­tosa­mente só teve a primeira edição em Por­tu­gal no final de 2010. “É um livro que está aí há uns 40 anos e até hoje é pub­li­cado. Então, em alguma coisa eu acertei”, disse João Ubaldo Ribeiro quando participou na Festa Literária Internacional de Paraty, em 2011.
Essa divertida sessão na Festa Literária Internacional de Paraty foi conduzida por outro escritor brasileiro, Rodrigo Lacerda, que por email, pouco depois de saber a notícia, disse ao PÚBLICO que o autor de O Albatroz Azul era "um dos poucos escritores de talento excepcional" com quem conviveu directamente. "Mas, além do talento, sempre foi um modelo de artista para mim, pois era um homem capaz da mais alta erudição e, ao mesmo tempo, muito simples, que não via a literatura como o território do esnobismo, vício profissional infelizmente muito comum. Generoso com o leitor, portanto."
 "Era talvez o único escritor que, hoje, no Brasil, mantinha viva a tradição barroca, a que na minha opinião melhor explora as riquezas plásticas e sonoras da nossa língua. Se me tornei escritor, foi por causa dele, ao ler Viva o Povo Brasileiro aos 15 anos. Esse ano comemoraríamos os 30 anos de publicação do livro, para o qual eu e o poeta Geraldo Carneiro escrevemos pequenos textos de apresentação (como se precisasse....). A edição comemorativa tinha lançamento marcado para Outubro/Novembro", acrescentou o autor de Outra Vida (editado em Portugal pela Quetzal).
Um dos grandes amigos de João Ubaldo Ribeiro, o escritor brasileiro Rubem Fonseca, prémio Camões 2003, autor de Agosto (ed. Sextante), do Brasil, através da sua filha a jornalista, escritora e editora Bia Fonseca do Lago, fez uma curta declaração ao PÚBLICO: "Estou sofrendo muito, é como se tivesse perdido um irmão." 
João Ubaldo Ribeiro "renovou a literatura brasileira", disse ao jornal O Globoo presidente da Academia Brasileira de Letras, Geraldo Holanda Cavalcanti. E com Sargento Getúlio "inaugurou uma nova etapa do romance brasileiro". Alguns dos seus livros foram sucessos internacionais. Quando lhe foi atribuído o Prémio Camões, o presidente do júri destacou Viva o Povo Brasileiro como o seu "livro principal". Foi publicado em 1984. O romance é passado na ilha natal de Itaparica e percorre quatro séculos da história do Brasil. Numa entrevista que deu ao PÚBLICO, Ubaldo Ribeiro aconselhava quem não conhecesse a sua obra a começar por Viva o Povo Brasileiro – porque, dizia, tem "a ver com a colonização portuguesa, com o inter-relacionamento" dos dois povos e – parodiando os livros tradicionais de História do Brasil – narra ironicamente a luta contra o chamado "opressor português": "Era assim que nós aprendíamos na escola do meu tempo : 'O opressor lusitano foi vencido...'"
Em 1996, foi responsável pela adaptação para o cinema do romance de Jorge Amado Tieta do Agreste, e três anos depois publica A Casa dos Budas Ditosos, que obtém enorme sucesso de vendas e é rapidamente traduzido para várias línguas. Quando A Casa dos Budas Ditosos (sobre a luxúria e escrito no feminino) foi publicado em Portugal, houve uma pequena polémica. Duas cadeias de hipermercados (Continente e Jumbo/Pão de Açúcar) não o quiseram vender. Estávamos em 2000, e o livro acabou por vender na época mais de 13 mil exemplares em cerca de dois meses. 
Em Portugal a sua obra está publicada nas Edições Nelson de Matos. Para o seu editor português, Ubaldo era "um dos mais exímios manipuladores da língua portuguesa". "A sua grande imaginação e criatividade linguística enriqueceu a nossa língua com um vocabulário muito próprio." Nelson contou ao PÚBLICO que na semana passada recebera um email do escritor perguntando-lhe pela sua saúde. "Esta morte foi para mim, portanto, totalmente imprevisível. A surpresa é enorme. Quando um escritor como ele desaparece, uma parte de nós fica mutilada. Restam-nos os seus livros e a vida que ele deixou lá dentro", acrescenta.
O editor lembra também que, quando João Ubaldo viveu em Portugal, ficou amigo dos nossos maiores escritores portugueses, entre eles José Cardoso Pires e Almeida Faria. Este também recorda o amigo ao PÚBLICO: "Nunca ninguém me fez rir tanto como ele."

PSDB é direita pura.

Que o governo do PT deu uma guinada maior ainda, para a direita, é inegável. Mas digamos que o governo Lula/Dilma faz parte, hoje, daquela corrente que podemos chamar de ala direita da social-democracia - a ala esquerda fica por conta do PSOL (é bom lembrar que, foi na Alemanha da República de Weimar, que era social-democrática, que dois grandes intelectuais de esquerda, Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht foram assassinados. Não esquecer que, no momento, a nossa república tende à criminalização dos movimentos sociais), enquanto o PSDB de Aécio nem à social-democrata chega, senão exclusivamente no nome. É direita pura no campo político e ultraliberal na área econômica. Não foi à toa que Bresser Pereira abandonou esse partido cuspindo fogo e declarando com todas as letras: PSDB TRANSFORMOU-SE NA DIREITA BRASILEIRA.

Fernando Magalhães, professor da UFPE, hoje, 18/07, em seu perfil na rede Facebook



Pesquisa Datafolha: Quatro fatores indicam que campanha presidencial será duríssima

Quatro fatores indicam que campanha presidencial será duríssima

publicada sexta-feira, 18/07/2014 às 11:00 e atualizada sexta-feira, 18/07/2014 às 11:56
Do Escrevinhador
Os resultados da pesquisa Datafolha, divulgada no Jornal Nacional, animou apoiadores da presidenta Dilma, que voltam a sonhar com a vitória no primeiro turno. Dilma ficou com 36% das intenções de voto, recuperando pontos em comparação aos últimos levantamentos.
Aécio está com 20%, Eduardo Campos com 8% e Pastor Everaldo com 3%. No entanto, a leitura dos dados da pesquisa com 5.377 eleitores nos dias 15 e 16 de julho não apontam para facilidades para a petista.
O primeiro sinal é o resultado do levantamento sobre o segundo turno. Dilma tem 44% das intenções de voto, contra 30% de Aécio. É um empate técnico, considerando que a margem de erro é de 2%.
O segundo elemento é a rejeição. Mais de 1/3 do público da pesquisa (35%) não admite votar na presidenta, enquanto apenas 17% rejeitam Aécio e, 12%, Eduardo Campos. Ou seja, no decorrer da campanha, ambos vão subir.
O terceiro fator é o nível de conhecimento dos candidatos. Ainda não está disponível o relatório completo da pesquisa, mas a anterior aponta que Dilma é conhecida por 99%.
Aécio é conhecido por 81%, enquanto 64% conhecem Campos, de acordo com pesquisa do Datafolha divulgada no dia 3 de julho.
Esses números indicam que existe uma margem maior para Aécio e Campos crescerem, já que parte do eleitorado não os conhece.
Em relação a Dilma, o desafio será transformar a avaliação regular do governo, em torno de 40%, em votos pela continuidade. A avaliação de bom/ótimo e ruim/péssimo da gestão Dilma está em torno de 30%, que correspondem à intenção de voto e à rejeição de petista. O que está em aberto para as eleições é o voto daqueles que avaliam esse governo como “na média”.
O quarto indicador de precaução é o contingente de indecisos, que está em 14%, que pode pender para qualquer lado, assim como a intenção de voto branco ou nulo, que pode mudar durante a campanha.
O empate entre Dilma e a soma dos rivais na eleição resgatou a esperança de vitória no primeiro turno, no entanto, esses fatores indicam que a disputa está em aberto.
A campanha será duríssima e dificilmente será resolvida em apenas um turno. Basta rememorar que em 2002, 2006 e 2010 a disputa foi resolvida no segundo turno, o que demonstra que o Brasil é um país dividido.

(Publicado originalmente no site O Escrevinhador)

"Prisões 'antecipadas', o ataque mais sério à democracia em 20 anos"

publicado em 17 de julho de 2014 às 20:26

debate criminalização 1
O Neofascismo 
por Ricardo Antunes, Jorge Souto Maior,Maria Lucia Cacciola,Lincoln Secco e Luiz Renato Martins, via er-mail
As prisões “antecipadas” de pessoas que supostamente fariam parte de um protesto (aliás, legítimo) na final da copa do mundo são o ataque mais sério e preocupante à democracia nos últimos 20 anos.
O fascismo já foi uma forma de cesarismo regressivo de base policial. Mas ele pode assumir muitas formas e até mesmo prescindir de uma liderança carismática e do partido único. No caso brasileiro, vivemos numa democracia racionada, o que implica aceitar um teor de fascismo, de entulho ditatorial e de práticas policialescas que só se integram ao sistema legal mediante o malabarismo retórico das “autoridades”.
A violação da língua e a mentira sem o rubor nas  faces são a primeira manifestação fascista. A ela segue-se o “humor negro” que rejeita os miseráveis e os oprimidos. É indigno ler nas redes sociais os comentários contra manifestantes: “Quem mandou ir à manifestação?”. “Mas ele não carregava uma bomba?”. “O sujeito estava até vestido de mulher”. A expressão “humor negro” não deve nos confundir. Ela é o que diz: humor contra os negros.
Uma das pessoas presas recentemente é a professora Camila Jourdan.  Foi presa pela polícia sem nenhum fato que a apontasse como membro de associação criminosa. Sua prisão é apenas um acinte às leis, à Democracia ou apenas à ideia de civilidade. É óbvio que alguns mais atentos dirão que milhares de pessoas são presas injustamente e que são pobres etc. Nada disso nos deve confundir. Os fascistas também usam argumentos de esquerda. Camila foi presa porque representa mais do que ela mesma. Ela luta por todos nós.
Que não se queira concordar com o teor dos protestos que animam os novos movimentos sociais desde junho de 2013 até se pode compreender. Mas que se aceite que haja prisões políticas é plenamente inadmissível.
Comentários sobre “provas”, legalidade e ofensas anônimas em sítios progressistas ou não, apenas revelam o quanto a Ditadura Militar destruiu a cultura política e distorceu as mentes de muitas pessoas de esquerda ou de direita. Mas elas também serão vítimas do Estado Policial e se mantida a conivência no futuro não haverá ninguém para defendê-las.
Diante do fascismo, travestido ou não, inexiste transigência. Os que apoiam a prisão de Fábio, Celso, Camila, Sininho e muitos mais só merecem o repúdio.
Ricardo Antunes, Professor Titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp 
Jorge Souto Maior, Professor Livre Docente da Faculdade de Direito da USP
Maria Lucia Cacciola, Professora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP
Lincoln Secco, Professor Livre Docente da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da  USP
Luiz Renato Martins, Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP

(Publicado originalmente no site Viomundo)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Quem dera que amássemos tanto a educação quanto o futebol.


As manifestações populares de Junho/Julho de 2013 pareciam indicar que o país havia acordado para a necessidade de construir uma nova agenda pública. Logo, os governantes de todos os matizes ideológicos saírem a campo para anunciar que iriam atender as legítimas reivindicações da população. As mobilizações arrefeceram e, de concreto, nada foi feito deste então que pudesse mudar substantivamente o quadro dos indicadores sociais na área de saúde, mobilidade, educação, salvo alguns avanços, como a aprovação do PNE, que garante a ampliação de verbas para o setor de educação. Muito bem formulada uma questão levantada pelo professor Michel Zaidan, em artigo publicado no blog, dias antes do início da Copa do Mundo de Futebol de 2014: Quais as bandeiras que estaríamos levantando? Em nenhum outro momento no país, os brasileiros haviam promovido uma mobilização tão intensa, cuja agenda indicava uma preocupação com as políticas públicas de educação. Mais uma vez, perdemos a Copa e, lamentavelmente, nos desmobilizamos em torno de agenda tão importante para país. Muito mais importante que o futebol. As cenas divulgadas pelas redes sociais no dia de hoje, que mostram alunos da rede pública do município de São José do Egito, no sertão pernambucano, sendo transportados numa carroça puxada por um jumento dão a dimensão do problema.

Prefeito interino de Petrolina exonera todos os secretários de Lóssio

 


Vá entender essa nossa política tupiniquim. Com problemas de saúde, o prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio pediu licença do cargo para submeter-se a tratamento. Candidato a Deputado Estadual nas próximas eleições, o vice, Guilherme Coelho, declarou-se impedido de assumir o cargo. Na linha sucessória, o presidente da Câmara de Vereadores, Osório Siqueira, antes apresentado como sem partido, mas hoje vinculado ao PSB. Seu primeiro ato foi exonerar um dos filhos de Lóssio, que ocupava uma pasta naquela prefeitura. Em solidariedade, todos os demais secretários entregaram o cargo, de imediato, aceita pelo interino. O cara vai passar apenas 60 dias no cargo, afirma que seguirá as diretrizes da gestão anterior e toma uma medida dessas, até certo ponto desrespeitosa com a gestão do peemedebista que se encontra doente.

Políticos querem ressuscitar a figura de Miguel Arraes. Não cola. O velho era único.

 

Arraes, infelizmente, não deixou herdeiros na política. Certamente não era nenhuma unanimidade - conheço alguns colegas que apontam alguns equívocos em sua postura, mas, mesmo esses, não deixam de reconhecer suas qualidades como homem público que honrou com dignidade a função, desenvolveu políticas de inclusão social importantes para parcelas significativas da sociedade pernambucana, defendeu com brio os valores da democracia, além de ser um nacionalista convicto. Volto a repetir, não deixou herdeiros na política, nem mesmo entre a sua nucleação familiar. Confesso meu grande respeito pelo Dr. Miguel Arraes, figura que aprendi a admirar ainda criança, como aquele político que olhava pelos mais humildes. Essa admiração não mudou uma vírgula ao longo dos anos. Em 2006, o "Galeguinho" apresentou-se às urnas como o seu herdeiro, realizando uma campanha modesta, visitando, depois de eleito, a Ilha de Deus, uma zona de exclusão social do Recife. Naquele momento, emblematicamente, passava a ideia de que a "sensibilidade social" seria um dos motes do seu Governo. Logo, levado pelas contingências e ambições pessoais, seguiria outros rumos. Não preciso me alongar muito sobre o assunto. É suficiente observar os indicadores de IDH do Estado, que caíram durante o seu Governo. Agora aparece um "engomadinho", cevado no Campo das Princesas, candidato ao Governo, apresentando-se às urnas como seu "neto", adotando um discurso nos moldes da luta de classes, invocando a figura do bom e mal patrão ou, mais precisamente, entre capital e trabalho. Isso não tem mais cabimento por uma razão simples: Nessas eleições, a rigor, em Pernambuco, por inúmeras razões, esse discurso não cola. Colava numa época em que o Dr. Arraes representava, de fato, o trabalhador rural - com eles identificados até a medula - e o outro lado era representado por usineiros à semelhança de um Múcio Monteiro, hoje um aliado de primeira linha do staff político hegemônico do Palácio do Campo das Princesas. É por essa e outras razões que percebe  a ausência de um discurso político convincente do candidato.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

A violência na Paraíba começa a atingir os políticos. Será que agora muda?


Há alguns fatos surpreendentes sobre a violência no Estado da Paraíba.É como se, surpreendentemente, um Estado - aparentemente calmo - fosse sacudido por uma onde de violência inimaginável, colocando a sua capital - João Pessoa - como uma das cidades mais violentas do Brasil, sobretudo sua periferia, aqui representada pelos bairros de Valentina, Mangabeira, entre outros. Em apenas um anos, os índices de homicídio aumentaram em 286%. Evidentemente que, salvo em casos excepcionais, a violência não explode do dia para a noite. Havia algo de podre naquela aparente tranquilidade. Bairros como Varadouro, na cidade velha, transformaram-se em verdadeiras cracolândia. A Feira de Oitizeiros, realizada aos domingos, continua comercializando armas, como quem comercializa bananas. Algumas pousadas do centro, em razão da decadência, transformaram-se verdadeiros puteiros, desses que o caboclo só conta com um caneco d'água para lavar o pinto depois de usado. Não se pode elencar essas questões como sendo as causas das eclosão da violência naquela Estado., embora, de algum modo, elas possam ser associadas. A situação é bem mais complexa, como a ausência de de políticas públicas permanentes, no sentido de enfrentar os elementos desencadeadores da violência, como os baixos indicadores sociais, entre outros tantos fatores. Mas, discutir as causas da violência no Estado da Paraíba não é nossa proposta, dada a complexidade do assunto. O que nos vem à mente quando se fala no assunto é, na realidade, as suas consequências, como o assalto recente do qual foi vítima o ex-prefeito da capital, Luciano Agra. Agra e família foram assaltados em Santa Rita, ao tomarem uma estrada vicinal, dadas as condições precárias das vias tradicionais. Estava com a filha, o genro e a secretária de meio ambiente da capital. Pouco tempo depois do assalto, teriam sido abordados pelos mesmos bandidos que, ao identificarem as vítimas, os deixaram em paz. Segundo informações obtidas pelo blog, os assaltantes eram jovens, de, no máximo, 18 anos de idade. Informações obtidas com nossos contatos no Estado, dão conta que, hoje, Santa Rita é abrigo dos mais perigosos assaltantes do Estado. Lamentavelmente, um local que deve ser evitado. Infelizmente, é a nossa realidade. A Zona da Mata de Alagoas está entregue à bandidagem e aos grupos de extermínio. É uma aventura conhecer a terra dos quilombos. Cidades como Palmeiras dos Índios, Viçosa, Quebrangulo, União dos Palmares apresentam um alto índice de violência, atingindo, sobretudo, a população de adolescentes negros. Frequento João Pessoa já faz algum tempo. Felizmente, nunca fui vítima desse tipo de abordagem. Não deixarei de frequentá-la, apreciar seus encantos, tomar um chopp na orla de Tambaú, frequentar seu mercado de frutas, sua peixaria, comer aquela tapioca em algum quiosque próximo ao Hotel, almoçar no Mangai, tomar um sorvete de cachaça na Ponta dos Seixas. Até mesmo a região do Brejo Paraibano já não é tão tranquilo, exigindo-se alguns cuidados. Não se pode apreciar aquela culinária regada a carneiro gordo, cuscuz e um café bem forte, em qualquer boteco.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Michel Zaidan: A hora soturna dos ruminantes




                              Em sua obra "Saturno nos Trópicos", o escritor judeu-comunista trata do temperamento (e do estilo) melancólico no Brasil. 0 temperamento saturnino é aquele que rumina os cacos da catástrofe, os rastros da destruição, para ressignificá-los e dá um novo sentido a eles. O tempestade futebolística que se abateu sobre nós, com vários embates e duas derrotas consecutivas, foi muito proveitosa para a FIFA e a CBF que vai receber 44 milhões de prêmio da primeira. A humilhante campanha da Seleção Brasileira na Copa do mundo podia ser objeto de uma ampla reestruturação da organização e gestão do desporto profissional no Brasil. Reforma que deveria caminhar a par da reforma do sistema (e da cultura)  política entre nós. 0 nosso país é um lugar onde a roubalheira organizada compensa, mesmo que milhares de pessoas sofram, passem fome ou chorem. 0 sistema legal funciona como uma fachada, que pune os miseráveis e protege os mais ricos, fortes e poderosos.
                              Passado  o vendaval,  é preciso voltar à realidade e prestar atenção ao que vem se passando à nossa volta: a invasão por terra do Estado de Israel aos territórios ocupados onde vivem os palestinos da faixa de Gaza, em condições sub humanas. Quanto vale a vida de três adolescentes judeus? A vida de 200 palestinos (incluindo crianças, velhos e mulheres) e várias centenas de feridos? Por que ninguém se importa com a vida dessas vítimas indefesas nos territórios já ocupados pelo Estado judeu? - Aplica-se a elas a frase da filósofa judia Hanna Arendt: são pessoas que já não têm lugar no mundo, são supérfluos e descartáveis. Quem ainda se  comove ou se preocupa com a imagem das crianças queimadas, feridas, destroçadas pelo armamento pesado das tropas israelenses? - Acham que a partida final da Copa do Mundo é mais importante do que a sorte dessas vítimas indefesas e inocentes? - O que não se sabe é a censura (ou auto-censura) dos telejornais, agencias de notícias e das próprias redes sociais das denúncias contra os gastos da Copa, as manifestações de rua e o massacre do povo palestino.
                              Se essa é a hora dos ruminantes, como diz o romance de J.J. Veiga, então vamos ruminar criticamente os falsos alicerces da nossa cotidianeidade e incorporar a dor (e a condenação moral) dos que sofrem, seja no Brasil - pelo mau uso dos recursos públicos, pela corrupção do sistema político-esportivo e a repressão ao seu direito de protestar - e fora do nosso país. As crianças, as mulheres e os idosos mortos e feridos pelas tropas de Israel são os nossos mortos também.
PS. Merece  registro as medidas de exceção que estão sendo tomadas pelo estado brasileiro contra os manifestantes e críticos dos gastos da Copa. Há uma estranha jurisprudência adotada pela polícia contra crimes "presumíveis", advinhados pelas autoridades policiais. E onde fica o direito constitucional à presunção de inocência?

(Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

É assim que se faz política na cidade das chaminés

 


É do negócio, meu filho. Normalmente essa é a resposta dos capitalistas em transações que envolvem dinheiro. A frieza do capital não conhece emoções. Outro dia fiz um longo comentário aqui sobre as práticas políticas na minha cidade, Paulista, onde nasci, cresci junto aos rios e matas ainda virgens, de uma infância inesquecível. Nunca transferi meu título de eleitor da cidade. Em todas as eleições, cumpro aquele ritual conhecido, acordo, tomo aquele banho, troco de roupa, pego o título e dirijo-me à cidade para votar. Voto sempre numa zona que fica localizada no antigo politécnico, próximo ao terminal de integração, onde aproveito para matar as saudades das frondosas paineiras preservadas. Em todos esses anos, salvo em relação aos candidatos majoritários que disputavam a Presidência da República ou o Governo do Estado, nunca dei um voto com muita convicção. Na contingência de não anular o voto, indicava aquele que pudesse ser menos ruim para gerir os destinos do município. Nas últimas eleições, disposto a participar ativamente do debate sucessório, abrimos um grupo de discussão no Facebook com esse propósito. Cobramos insistentemente pelos programas de Governo dos candidatos, abrindo links para propostas de educação, saúde, moradia, mobilidade, intervenções urbanas, meio-ambiente etc. Não tornou-se possível darmos continuidade ao debate porque não havia o que debater, ou seja, os postulantes, de todos os quadrantes ideológicos, ignoraram o espaço, aberto num dos mais eficientes e atuais meios de diálogo com o eleitorado, as mídias sociais.São por esses e outros motivos que as coisas nunca mudam. No caso do selecionado brasileiro, por exemplo, há quem esteja sugerindo uma ruptura completa, uma tragédia, do tipo uma não classificação para a Copa de 2018, algo suficiente para varrer de uma vez todos os enclaves de interesses escusos que orientam as decisões sobre a seleção brasileira. No caso de uma cidade com práticas políticas como a nossa, já não sei mais o que propor. Outro dia se especulou uma decisão das autoridades do judiciário eleitoral indicando a cassação do atual prefeito. Pela primeira vez, saí em sua defesa. Trata-se apenas de uma peça da engrenagem enferrujada, corrupta, obsoleta, patrimonialista, clientelista, entranhada na máquina pública do município desde de sempre. Antes que nos condenem, quero afirmar que esse não é um problema exclusivo da minha cidade. Não custa lutar, entretanto, para que ela se torne, de fato, uma cidade, um espaço público, de corte republicano, cuja gestão esteja a serviço do atendimento das demandas do cidadão e não de grupos de interesses. Os últimos episódios são hilariantes. a) Uma firma contratada pela Prefeitura da Cidade para prestar serviços de limpeza pública entregou uma frota de caminhões, apresentados como se fosse uma aquisição da própria edilidade municipal. Houve uma licitação de prestação de serviços públicos. Os caminhões não são da frota da Prefeitura; b) Há muito tempo se reclamava sobre a ausência de fardamentos do alunado da rede municipal de ensino. Um problema que 10 anos de gestão neo-socialista - mesmo com a sua decantada eficiência - não conseguiu equacionar. Estamos entrando no segundo semestre do ano e só agora o problema teria sido resolvido, com algumas entregas simbólicas, realizadas em escolas escolhidas sob medida. Mas o enredo ainda pode ficar pior. O prefeito fez questão de fazer a entrega ladeado de um ex-secretário, hoje vereador, e possível candidato a Deputado Estadual. Mesmo considerando-se a passagem do dito vereador pela Secretaria Municipal de Educação, vejo nisso alguns problemas. Uso da máquina em favor de candidato do seu grupo político; É assim que se faz política na cidade das chaminés. Infelizmente.

 

Francisco Julião, cabra marcado na luta pela terra e pelos direitos do homem do campo.



FRANCISCO JULIÃO, CABRA MARCADO NA LUTA PELA TERRA E PELOS DIREITOS DO HOMEM DO CAMPO.

José Luiz Gomes escreve

                    Há algumas memórias que não se dissipam com o tempo. Algumas referências tornam-se emblemáticas em nossas vidas. Uma delas é aquela figura franzina, de olhar penetrante, cabelos em desalinhos, carismática, quase mítica, de Francisco Julião. Falecido em 1999, está presente em nosso imaginário, sempre que somos acionados pelos conflitos no campo. Começamos a nos interessar pelas Ligas Camponesas nos primeiros anos dos bancos do CFCH, da UFPE, embora estejamos longe de nos colocar-nos como um especialista no assunto. Por falar nas lembranças, nos ocorre agora, nitidamente, uma aula do professor Flávio Brayner, onde ele relatava as precárias condições de vida do homem do campo, um pouco antes da agudeza do conflito com os interesses dos grandes proprietários de terra.
                        O problema, como sempre, não se resume à concentração da terra em grandes latifúndios, mas, sobretudo, em relação aos danos ambientais, econômicos e sociais daí decorrentes. É neste aspecto que o conceito de “reforma agrária” merece uma reflexão bem mais aguda, conforme proposta de alguns autores. Pesquisas recentes continuam apontando os gravíssimos danos sociais proporcionados, ainda, pela cultura canavieira em nosso Estado, sobretudo nos períodos de entressafra, como os altos índices de prostituição infantil na Zona da Mata, o desemprego, alcoolismo, degradação ambiental, a violência contra os jovens (sobretudo, negros), os acachapantes índices de aproveitamento escolar.
                        Brayner, lembrava que, naquela época em que as Ligas foram fundadas, na década de 50, um dos problemas que mais incomodavam e indignavam os camponeses era o ritual do enterro, onde, invariavelmente, era utilizada uma rede. O camponês era jogado numa cova rasa e a rede era reutilizada. Por incrível que possa parecer, essa foi uma das principais preocupações dos líderes camponeses que resolveram fundar a Liga.
                        Personalidade singular na luta pela terra e o reconhecimento dos direitos do homem que nela trabalhava, Francisco Julião envolveu-se em muitas polêmicas, como se poderia supor. O establishment sempre o tratou como um agitador, figura ligada ao revolucionário Fidel Castro. Apesar de suas fotos ao lado do líder da Revolução Cubana, salvo engano em visita oficial à ilha, assim como Fidel, na realidade, Julião nunca foi comunista. Era um líder, ativista dos direitos humanos, um militante político e advogado dos camponeses. Ao lado de Otávio Mangabeira, inclusive, figura entre os autênticos socialistas que fundaram o PSB, hoje um partido que rasgou seu estatuto em função das conveniências políticas de suas lideranças.  
                        Esteve diretamente envolvido com as Ligas Camponesas desde a sua fundação, mas como advogado, como adverte em livros. Na realidade as Ligas foram fundadas por um conjunto de camponeses com militância política e alguma experiência sindical, que o convidaram para ser o advogado da entidade, proposta aceita de pronto. Salvo engano, por essa época, Julião era deputado.
                        Nem comunista e muito menos marxista. Na realidade, um “chardinista”, que seguia a orientação de Teilhard de Chardin, teólogo progressista da Igreja Católica. Ontem, em comentário aqui no blog, alguém contestou uma nota da Comissão Pastoral da Terra, onde sua direção reconhecia a luta do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, falecido recentemente, sempre em favor do homem do campo. Como dizem os matutos, em relação a Francisco Julião isso é nódoa de caju. Não sai. Já em relação a Plínio, por maior que seja o nosso respeito por ele, surgem controvérsias sobre esse envolvimento tão orgânico em ralação à luta pela terra. Em razão disso, uma questão que nos vem à mente: qual a relação da CPT com Francisco Julião, que tinha entre seus suportes teóricos um membro do clero progressista?
                        Pelos idos de 1964, ano do Golpe Civil-Militar, a situação era bastante conturbada no campo. Os militares concentraram muitos esforços aqui Nordeste, sobretudo na região da Zona da Mata, precisamente na cidade de Vitória de Santo Antão, onde se previa o estopim de um possível foco de guerrilha, nos moldes do foquismo guevarista da Sierra Maestra. Na realidade, a “invasão dos cubanos” somente ocorreria 60 anos depois, para cumprirem uma missão social das mais importantes, através do Programa Mais Médicos, do Governo Federal. A população carente daquele município agradece, mas a resistência de uma elite torpe ainda é flagrante, mesmo decorridas seis décadas depois.
                        Através do documentário “Cabra Marcado Para Morrer”, Eduardo Coutinho reconstrói aqueles dias marcados, na realidade, pela estupidez e torpeza de militares que atentaram contra a vida de camponeses que lutavam, tão somente, pelo direito à terra e o reconhecimento de sua condição de cidadania. Esse documentário é sempre exibido em nossas aulas. Alguns camponeses que estiveram diretamente envolvidos com aqueles episódios de 1964 ainda estão vivos. São recatados senhores que entraram na lei de crente e preferem o silêncio.
                        Interrompido durante aqueles anos turbulentos, o documentário de Coutinho apenas seria retomado muitos anos depois. Na realidade, apesar da forte presença dos acontecimentos pernambucanos da época, trata-se de um documentário sobre a vida de João Pedro Teixeira, um líder camponês de Sapé (PB), assassinado a mando do latifúndio. Uma curiosidade que nos ocorre – vamos correndo comprar o livro de Cláudio Aguiar – é: qual a relação de Julião com o líder camponês assassinado? Durante um período de sua vida, fugindo dos seus algozes, João Pedro esteve em Pernambuco, trabalhando no Engenho Massangana, um espaço cultural hoje administrado pela Fundação Joaquim Nabuco.
                        Na condição de governador do Estado da Paraíba, Ricardo Coutinho transformou a antiga residência de João Pedro Teixeira num Museu em sua homenagem. Uma espécie de Museu das Ligas Camponesas. Iniciativa do gênero também foi tomada aqui em Pernambuco em relação ao Engenho Galiléia, mas desconfio que não com o mesmo empenho oficial, o que é um fato profundamente lamentável. Pelo relato dos nossos alunos, o antigo engenho vivia, até recentemente, abandonado pelo poder público.
                        Francisco Julião passou um período de sua vida exilado no México, por imposição de um exílio forçado pelos militares, onde faleceu em 10 de Julho de 1999. Era muito ligado ao ex-governador Miguel Arraes, com quem chegou a fazer traduções quando estiveram presos juntos. Uma filha sua, Anatailde de Paula Crêspo, trabalhou durante muitos anos como pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco. Trocamos muitas idéias pelas redes sociais com um dos seus filhos, o Anatólio Julião, que possui, além de outras qualidades, uma verve de ativista político midiático de primeira linha. Anacleto, outro dos seus filhos, também é um freqüentador assíduo dos jardins da Fundaj. Possivelmente em razão da educação recebida pelo pai, sobressai-se entre eles, observado em pequenos gestos, muita solidariedade e sensibilidade social.  
                        O livro biográfico de Cláudio Aguiar sobre o líder das Ligas Camponeses, o deputado, o escritor, o agitador – “afinal, até remédio se agita antes de ser tomado” – será lançado no dia 16 de Julho, na livraria cultura do Passo Alfândega, às 19:00 horas, uma Quarta-Feira, coincidentemente, uma referência importante na vida de Julião: uma carta escrita para uma de suas netas, Isabela, informando-a que ele estaria voltando do exílio para a sua convivência numa Quarta-Feria. Contamos com a presença de todos. Certamente, algumas das questões invocadas acima, poderão ser respondidas com a narrativa de Cláudio Aguiar.  

P.S: Na realidade, conforme alertou Anatólio Julião - um dos filhos de Francisco Julião - Isabela é sua irmão, também filha de Francisco e não neta, como foi dito no texto.