publicado em 17 de julho de 2014 às 20:26
O Neofascismo
por Ricardo Antunes, Jorge Souto Maior,Maria Lucia Cacciola,Lincoln Secco e Luiz Renato Martins, via er-mail
As prisões “antecipadas” de pessoas que supostamente fariam parte de um protesto (aliás, legítimo) na final da copa do mundo são o ataque mais sério e preocupante à democracia nos últimos 20 anos.
O fascismo já foi uma forma de cesarismo regressivo de base policial. Mas ele pode assumir muitas formas e até mesmo prescindir de uma liderança carismática e do partido único. No caso brasileiro, vivemos numa democracia racionada, o que implica aceitar um teor de fascismo, de entulho ditatorial e de práticas policialescas que só se integram ao sistema legal mediante o malabarismo retórico das “autoridades”.
A violação da língua e a mentira sem o rubor nas faces são a primeira manifestação fascista. A ela segue-se o “humor negro” que rejeita os miseráveis e os oprimidos. É indigno ler nas redes sociais os comentários contra manifestantes: “Quem mandou ir à manifestação?”. “Mas ele não carregava uma bomba?”. “O sujeito estava até vestido de mulher”. A expressão “humor negro” não deve nos confundir. Ela é o que diz: humor contra os negros.
Uma das pessoas presas recentemente é a professora Camila Jourdan. Foi presa pela polícia sem nenhum fato que a apontasse como membro de associação criminosa. Sua prisão é apenas um acinte às leis, à Democracia ou apenas à ideia de civilidade. É óbvio que alguns mais atentos dirão que milhares de pessoas são presas injustamente e que são pobres etc. Nada disso nos deve confundir. Os fascistas também usam argumentos de esquerda. Camila foi presa porque representa mais do que ela mesma. Ela luta por todos nós.
Que não se queira concordar com o teor dos protestos que animam os novos movimentos sociais desde junho de 2013 até se pode compreender. Mas que se aceite que haja prisões políticas é plenamente inadmissível.
Comentários sobre “provas”, legalidade e ofensas anônimas em sítios progressistas ou não, apenas revelam o quanto a Ditadura Militar destruiu a cultura política e distorceu as mentes de muitas pessoas de esquerda ou de direita. Mas elas também serão vítimas do Estado Policial e se mantida a conivência no futuro não haverá ninguém para defendê-las.
Diante do fascismo, travestido ou não, inexiste transigência. Os que apoiam a prisão de Fábio, Celso, Camila, Sininho e muitos mais só merecem o repúdio.
Ricardo Antunes, Professor Titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp
Jorge Souto Maior, Professor Livre Docente da Faculdade de Direito da USP
Maria Lucia Cacciola, Professora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP
Lincoln Secco, Professor Livre Docente da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP
Luiz Renato Martins, Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP
(Publicado originalmente no site Viomundo)
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