pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Editorial: Audiências com o Comando Vermelho.



Já faz algum tempo que as redes sociais se transformaram num ambiente onde as mentiras estão prevalecendo sobre as verdades. Tudo é uma questão de "narrativa". Se se espalha uma mentira sobre um inimigo ou um desafeto, então é verdade. Se a verdade é sobre um aliado, então é mentira. Tudo perigosamente relativisado.  O dano social e institucional é tão dantesco e pernicioso que espalhar fake news, em tais ambientes patológicos, se transformou numa prática banal. Parafraseando as reflexões da filósofa Hannad Arendt, ocorre uma espécie de banalização da mentira. 

Se você é petista, acredita em mentiras sobre Jair Bolsonaro e, pior, as dissemina. Se você é bolsonarista, nem mesmo as verdades sobre o presidente Lula prevalecem. São distorcidas. Em certa medida, as hordas petistas também cometem seus equívocos. Mais recentemente, após alguns atropelos diplomáticos, o Governo Lula, finalmente, conseguiu a liberação dos brasileiros que estavam na zona de conflito de Gaza. Como o ex-presidente Jair Bolsonaro havia retomado seus contatos com representantes do Estado de Israel, com quem mantinha excelentes relações durante o seu Governo, logo as hordas bolsonaristas começaram a alardear a mentira de que teria sido por interferência de Bolsonaro a decisão de facilitar a liberação dos brasileiros que estavam em Gaza. O próprio Bolsonaro, salvo melhor juízo, teria alimentado tal narrativa. 

As hordas bolsonaristas não perderam a oportunidade. Até indicação de Prêmio Nobel da Paz para o capitão andou ocupando o trendig topics twitter. Agora é um campeonato sobre quem mais recebeu integrantes ou pessoas ligadas ao crime organizado em seus gabinetes, depois que se constatou que uma senhora que, supostamente, seria chefe de facção do crime organizado no Estado do Amazonas foi fotografada no Ministério da Justiça. Logo começaram a espalhar a fake news de que o Ministro da Justiça, Flávio Dino, a teria recebido. O Ministro, em suas redes sociais, repeliu veementemente tal informação falsa.

Há rumores de que, de fato, a senhora teria sido recebida num desses gabinetes de Brasília, de acordo com um desses grandes jornais paulistas. Isso poderia ter sido uma falha, inclusive, dos nossos serviços de inteligência. Reeteramos por aqui que estamos vivendo um momento institucional bastante delicado. Não há diálogo, não existe espírito público. A Oposição resolveu apostar no quanto pior melhor. Até adesivaços com "Fora Lula" já estão se espalhando pelo país.   

Editorial: Lula volta a centrar esforços eleitorais no cinturão paulista.

O chamado "cinturão paulista' é uma zona eleitoral que, desde algum tempo, está no radar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Logo após a ressaca política produzida pelo escândalo do mensalão, quando lideranças de proa da legenda petista foram defenestradas do cenário político e da condição de sucessores "naturais" do morubixaba, Lula ponderou sobre a necessidade de juntar os cacos do capital político que ainda restava ao partido, com novas lideranças - que tratávamos por aqui à época de "menudos" - no escopo de atuação numa zona leitoral preferencial, o chamado cinturão paulista, que reúne, além da capital, um conjunto de cidades com mais de um milhão de eleitores. 

Este "cinturão paulista" é fundamental em qualquer estratégia presidencial. Esta foi, inclusive, uma das primeiras preocupações do ex-governador Eduardo Campos, anos atrás, ao iniciar seu períplo rumo ao Palácio do Planalto. Como se sabe, Eduardo Campos morreu prematuramente num acidente de avião. Um desses "menudos" bem-sucedidos é o atual Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apontado como um dos possíveis sucessores de Lula. Apesar das rusgas produzidas pelas divergências concernentes à meta fiscal, a escolha de tal cinturão como prioridade entre as estratégias para as eleições municipais de 2024, pode indicar a tendência de escolha do nome de Fernando Haddad como o "ungido".  

O PT criou um grupo de trabalho para se dedicar às próximas eleições municipais, comandado pelo senador Humberto Costa. Por enquanto, ainda estão afinando o violino. Neste sentido, conforme afirmamos antes, o PL sai na frente, no escopo de uma estratégia que prevê a eleição de mil prefeitos pelo país afora. Há um ano das eleições, ainda são escassas as pesquisas de intenção de voto, exceto em São Paulo, onde o candidato do PSOL, Guilherme Boulos lidera a corrida pelo Edifícil Matarazzo. Em todo caso, pelo infográfico publicado pelo jornal O Globo, os candidatos do PL nas capitais já estão com a faca entre os dentes.  

Editorial: Mais um eventual escândalo envolvendo emendas parlamentares.

 


O Ministério Público da Paraíba investiga um eventual escândalo envolvendo os chamados desvios de finalidades das famigeradas emendas parlamentares. Num conluio que envolveria um hospital privado do município de Campina Grande, deputados federais e secretários de saúde, teriam participado de uma destinação irregular de verbas públicas para equipar um hospital pertencente à Fundação Pedro Américo. Estima-se que o montante atinja a cifra de R$ 280 milhões em emendas. Três ex-secretários de saúde teriam abandonado a vida pública para se dedicarem à iniciativa privada, motivados, naturalmente, por algum incentivo de natureza nada republicano. 

O orçamento secreto é uma dessas excrescências com as quais temos que conviver, em razão da correlação de forças imposta pelo presidencialismo de coalizão. Depõe contra as próprias instituições democráticas, conforme observou uma ministra do Supremo Tribunal Federal, ao analisar a sua insconstitucionalidade. Ao longo do tempo, a coisa avacalhou-se mais ainda, com a criação das emendas PIX, que faculta ainda mais a liberdade ao Poder Legislativo de conceder tais emendas, independentemente dos humores do Poder Executivo. Tal expediente, inclusive, tem agravado os problemas de governabilidade. 

Não é a primeira vez que escândalos dessa natureza ocorrem, tampouco será a última. Se já tínhamos problemas quando havia uma fiscalização rigorosa de órgãos públicos sobre a aplicação desses recursos, imagina quando a coisa corre solta, negociada às escondidas, intramuros, onde a viúva, hoje, entra apenas para pagar a fatura, uma vez que os arranjos podem ser conduzidos pelo próprio Poder Legislativo. Assim, vamos esticando a corda até o limite. Espírito ou interesse público passa ao largo das motivações de boa parte dos parlamentares, garroteando as condições mínimas de governabilidade. Até ministros indicados pelo Governo Lula já foram pegos no emprego indevido de tais verbas e o morubixaba ficou de mãos atadas para não melindrar o partido que o havia indicado.    

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 12 de novembro de 2023

Editorial: 95 novos cursos de medicina foram autorizados para a iniciativa privada.




O Ministério da Educação liberou o funcionamento de noventa e cinco novos cursos de medicina para universidades particulares. Não sei se podemos concluir, diante desses novos fatos, que o terceito Governo Lula tenta imprimir uma nova diretriz consoante à sua política de criação ou expansão de novas oportunidades de acesso ao ensino superior, antes concentrados em expansão da própria rede de instituições federais, crianção de novas unidades, expansão das vagas e até mesmo a interiorização da oferta de cursos, inclusive de medicina, pelo país. Tal política implementada nos governos anteriores do petista fizeram uma grande diferença para o país, ao ampliar, significativamente, nosso índice de democracia substantiva, inclusive agregando componentes social, de raça e gênero.  

Na época do Governo de Fernando Henrique Cardoso houve uma radicalização no que concerne à concessão de abertura de vagas para a iniciativa privada, enquanto a estrutura das universidade públicas eram sucateadas. Logo surgiram os problemas. Cursos de qualidade duvidosa, empresários da educação ligados ao então governo amealhando lucros exorbitantes com o negócio da educação,  um caminhão de irregularidades. Em relação a essas recentes autorizações de 95 cursos de medicina, mesmo que por vias distintas, vamos esbarrar em problemas semelhantes. 

São cursos caros, que devem ser bancados com verbas do tesouro, através de programas como o FIES, que não serão pagos pelos alunos, depois de concluído o curso, produzindo um pesado ônus para o Estado, mas que deve fazer a festa dos empresários da educação. Ainda é cedo para se concluir que o Terceiro Governo Lula está tentando trilhar o mesmo caminho. De qualquer forma, preocupa. 

Editorial: Alexandre Padilha reconhece as dificuldades.


Acompanhar os trabalhos do Legislativo contribuem enormente para aprofundarmos nossos conhecimentos em alguns temas; formar uma perspectiva acerca da conjuntura política do país e, em nosso caso em particular, aferir a temperatura ou o humor entre Governo e Oposição. Audiências públicas e CPI's passaram a integrar a nossa agenda diária com mais frequência. Foi exatamente no acompanhamento desses trabalhos que chegamos à conclusão de que o período de tolerância que a Oposição havia dado ao Governo, depois de onze meses, havia chegado ao fim. Estimulada pelo seu líder maior, Jair Bolsonaro, que deu o start, eles entenderam que havia chegado o momento de colocar a faca nos dentes contra o Governo Lula. 

Isso significa que o Governo terá um final de ano complicado e um início de ano legislativo, em 2024, ainda mais difícil. Cessão de cargos na máquina, liberação de emendas - um velho receituário de outros tempos - já não produzem os mesmos efeitos. O cara assume o ministério e isso não segnifica que os parlamentares do seu partido votem a favor do Governo, em projetos importantes, como a Reforma Tributária, onde o Governo, por muito pouco, não enfrentou um revés. Agora existe uma emenda Pix, que torna o Legislativo bem mais independente do Poder Executivo para a liberação de verbas. No Legislativo mesmo eles se arranjam e mandam a conta para o Governo ou, mais precisamente, para a viúva. 

O bloco de oposição já está nas ruas para as eleições de 2024 e a Oposição surfa num momento delicado vivido pelo Governo Lula. Principalmente nas grandes capitais do país, os nomes do bolsonarismo que disputarão os cargos de prefeitos já estão praticamente definidos, conforme o infográfico públicado aqui pelo blog a partir de matéria do jornal O Globo. No dia de ontem, o Diretório Executivo do PL do Ceará sinalizou pela homologação do nome do Deputado Federal André Fernandes(PL-CE). Concretamente, à exceção de São Paulo, outros nomes governistas que disputarão as prefeituras de capitais nas eleições de 2024 são ilustres desconhecidos. A Oposição larga na frente.  

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 11 de novembro de 2023

Editorial: O capitão voltou.

Crédito da Foto: Reprodução

Realmente interessante as movimentações do ex-presidente Jair Bolsonaro nos últimos dias. Bolsonaro, por alguma razão, parece ter chegado à conclusão de que este é o melhor momento para voltar à ribalta. Articulou para que o Governo fosse derrotado na votação da reforma tributária. Perdeu por pouco. Seus pares alardearam que ele teria sido o responsável pelas negociações com o Governo de Israel, no sentido de liberar os brasileiros em zona de conflito. Embora haja um profundo equívoco aqui, narrativas sempre produzem seus efeitos. Deu até campanha pelo prêmio Nobel da Paz. A oposição parlamentar ao Governo Lula nunca esteve com os dentes tão afiados como agora, mesmo diante de um processo de cooptação em curso. Bolsonaro percebeu que este seria o momento certo para os testes de rua.  

Há um terço de representantes  no Senado Federal que são fiéis escudeiros do bolsonarismo, capaz de produzir estragos ao Governo Lula. Eles irão utilizar tal capital político para atanazarem o Governo como for possível. Quando afirmamos por aqui que o Governo Lula enfrenta um momento delicado, tal variável não pode deixar de ser considerada. Até recentemente, a grande discussão sobre a indicação de Lula para o STF dizia respeito à questão de gênero e coisas assim. Hoje, ele precisa considerar a possibilidade de ter algum nome vetado pelo Senado Federal. Não acreditamos, por exemplo, que um Flávio Dino passaria pela sabatina. Aproveitando a onda favorável, Bolsonaro parece ter pego a sua prancha e anda se deslocando pelo país, sendo muito bem recebido pelos seus fiéis apoiadores. 

Hoje, 11\11, esteve no Espírito Santo, onde provocou tumultos pelos locais por onde passou. Embora desconheçamos a sua agenda, tudo indica que estamos diante de uma cruzada que deve se estender até às eleições municipais de 2024, quando deve ser intensificada. Em relação aos seus apoiadores, o bolsonarismo não tem muito o que reclamar. Pelas pesquisas de Institutos como o Paraná Pesquisas, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro pode escolher o estado pelo qual deseja ser senadora da República. 

Editorial: Delação de Mauro Cid envolve Carlos Bolsonaro com o Gabinete do Ódio.



O clã Bolsonaro não tem dado muita importância aos depoimentos do ex-ajudante de ordens da Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid. Mas, a cada novo depoimento de Mauro Cid à Polícia Federal estão vindo à tona os estertotes da república do ancien régime. Ontem, por exemplo, circulou a informação de que o ex-presidente, não necessariamente, era um dos mais entusiasmados por uma ruptura institucional. No dia de hoje, as redes sociais foram tomadas pela revelação de parte de depoimento recente, onde o militar Mauro Cid, desta vez trata do Gabinete do Ódio. 

Além de admitir a sua existência, o ex-ajudante de ordens, de acordo com o que está sendo divulgado pela imprensa, sugere que tal gabinete seria comandado pelo filho de Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, personagem sempre vinculado às redes sociais do ex-presidente. Aliás, quando venceu a eleição presidencial, o ex-presidente fez questão de agradecer ao filho o trabalho desenvolvido, fundamental para a sua vitória nas urnas. Vamos aguardar os novos depoimentos e as novas revelações do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. Não sabemos que termos essa colaboração premiada foi estabelecida, mas o fato é que o ex-auxiliar da Presidência da República não tem medido esforços em colaborar. 

A Polícia Federal é reconhecida por sua espertise em conduzir esses inquéritos. Quando o pessoal conclui um desses inquéritos, não costumam deixar fios soltos, constituindo-se os mesmos, praticamente, numa sentença de condenação aos implicados. como já nos referimos por aqui, o "rolo" é grande. Envolve desde aquelas transações de caráter pouco republicanas com as bijouterias de milhões de dólares até a tentativa de uma ruptura institucional. Ficamos por aqui intrigados sobre como o teor desses depoimentos chegam à imprensa com tanta facilidade. Quem puder explicar, esteja à vontade. 

Editorial: Em reunião ministerial, Lula dá um "pito" na equipe.


Em reunião ministerial recente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu - numa lingugem figurada, mas de grande força semântica - aquilo que se conhece popularmente como um "pito" em sua equipe, principalmente com aqueles que estão fazendo pouco, embora com os cofres cheios, de orçamento poupudos. Como já estamos quase no final de ano, possivelmente a materialização de algumas políticas públicas terão que esperar para o próximo ano. Passados onze meses de Governo, conforme enfatizamos em algumas postagens, o terceiro Governo Lula enfrenta dificuldades visíveis, nas "entregas", na condução da política econômica e no terreno das articulações políticas com o Legislativo, que estabeleceu como diretriz a adoção de uma política de beligerância com o Governo. 

Em outro momento, também por aqui, inferimos acerca das condições sob as quais a Oposição resolveu adotar uma postura de radicalização contra o Governo. Já estamos próximos a quarenta ministérios e, alguns ministros, apenas nesses momentos de reuniões coletivas, consegue uma audiência com o morubixaba petista. Um desses casos é o do pernambucano, Sílvio Costa Filho, indicado recentemente para o Ministérios de Portos e Aeroportos. A indicação de Sílvio Costa Filho ao cargo, como se sabe, desagradou profundamente o PSB, que integra a base aliada do Governo. Estamos aqui diante de uma continha complicada, uma vez que, além das arestas com sua base, nada garante que o partido de Sílvio Costa, o Republicanos, emprestará apoio ao Governo. 

Não estamos aqui na torcida do quanto pior melhor, como parece ser o caso de um ex-candidato à Presidência da República nas últimas eleições, que já jogou a toalha, informando que estamos lascados. Queremos acreditar que ainda haja algum jeito de reversão desse quadro, num contexto de contas equilibradas, crescimento em alta, inflação sob controle e investimentos efetivos em políticas sociais, traduzidos numa melhoria sensível de nossa democracia substantiva, como tem sido a cara dos Governos da Coalizão Petista.        

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Editorial : O recado de Ruy Castro a Lula.

 


Repercute bastante nas redes sociais um texto produzido com a inteligência de Ruy Castro, repleto de ironias aos bolsonaristas radicais - sempre costuma fazer por aqui tal distinção, uma vez que a estufa bolsonarista na sociedade brasileira não necessariamente pode ser enquadrada, em sua totalidade, como radical -  onde ele faz algumas advertências ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No geral, as preocupações do escritor se inserem no escopo das preocupações daquela base política mais identificada com o presidente Lula, também conhecida como base ideológica ou núcleo duro ligado ao petismo. É interessante como ele conseque identificar-se ou conhecer o anseio exato de tal seguimento. Provavelmente, isso deve-se à intuição inerente ao seu ofício de escritor. 

Depois de responder aos bolsonaristas radicais sobre suas eventuais ligações com os mandatários da República - Ruy era amigo de Juscelino e tomou muitas cachaças com Jânio - o escritor minimiza sua relação com Lula, advertindo que vai ficar de olho sobre o rumo do Governo daqui para frente, de olho em qualquer deslize, como licitações para compra de próteses penianas pelos militares, por exemplo. Ele, assim como nós, vamos nos sentir decepcionados se o Governo Lula entregar ministérios como o da Saúde, da Educação e do Meio Ambiente aos prepostos do Centrão. 

Meu caro Ruy Castro, está dado o recado. Por outro lado, estamos apreensivos com o andar da carruagem política, conforme enfatizamos, ainda nesta manhã, através de postagens. Dez meses depois, começamos a entrar num espiral complicada, com orçamento estourado, meta fiscal difícil de ser equacionada, articulações políticas complicadas com o Poder Legislativo, economia com alguns problemas e praticamente o fim da lua-de-mel com a base mais ideológica. O Governo já não atende ao pleito dos servidores públicos nem em pautas que não estão relacionadas às recomposições salarais.  

Editorial: O iluminado depoimento de Clarice Ferraz no Senado Federal.



Antes do processo de privatização a que foi submetida, a antiga CELPE - Companhia de Eletricidade do Estado de Pernambuco - tinha um excelente serviço de plantão. Profissionais atenciosos, de reconhecida qualificação técnica, que atendiam bem às necessidades da população. Não posso avaliar como as coisas funcionam atualmente, mas duvido muito que seja nos mesmos níveis de antes, onde havia respeito ao consumidor, eficiência e qualidade técnica. Pois bem. Essa introdução é para observar que há seis dias alguns bairros de São Paulo sofrem com a ausência de eletricidade nos seus lares. O problema ocorreu um pouco antes do ENEM, suscitando, inclusive, a amplificação dos danos advindos do problema. 

No dia de ontem, a professora Clarice Ferraz, do Instituto Ilumina, destrinchou a caixa-preta do problema, apontando o enredo nefasto comum a tais processos de  privatizações, como o aumento das tarifas; racionalização dos serviços; rodízio e redução do quadro funcional; gestão de resultados focada nos lucros, sem o menor compromisso com a qualidade dos serviços prestados ao consumidor. Este é um enredo, aliás, muito antigo. Uma das primeiras providências dessas operadoras do sistema, depois dos serviços privatizados, é o enxugamento do quadro funcional, objetivando o aumento de suas taxas de lucro operacionais. Fazem isso sem qualquer critério e, não raro, empregam funcionários pouco qualificados e sem a espertise acumulada durante anos atuando no sistema, gerando erormes dificuldades de operacionalização. 

Neste caso específico de São Paulo configuram-se, absurdamente, todas as teorias envolvendo essa questão. A explicação para o problema não ter sido solucionado diz respeito exatamente à ausência de recursos técnicos e humanos existentes. Em seu iluminado depoimento, Clarice Ferraz observou, inclusive, o caso da Eletrobras, segundo ela, gerida por um executivo do setor bancário. Vamos reestatizar logo isso, Lula? 

Editorial: Repito as palavras de G. Dias: "Vamos ter problemas".

 


Esta frase, dita pelo general Gonçalves Dias, um pouco antes da ocorrência dos episódios antidemocráticos do dia 08 de janeiro, provocou inúmeros problemas, inclusive para o próprio general, que, por muito pouco, não foi envolvido nas teias de indiciamento da CPMI dos Atos Antidemocráticos. Por obra e graça do pessoal do Governo, registre-se.  Se dependesse da Oposição, o general teria sido literalmente trucidado. O país parece ter atingido um padrão de comportamento bastante complicado, irreposponsável, conduzido por essa onda de enfrentamentos entre Governo e Oposição.  

Pela manhã, estávamos dando uma olhadinnha nas redes sociais à procura de um assunto mais interessane para comentarmos por aqui e acabamos por não encontrar. O que se encontra são as eventuais armações dos serviços de inteligência internacionais, que já tirou do sério o próprio Ministro da Justiça, Flávio Dino; a bomba do sócio de um dos membros do clã Bolsonaro, que ameaça contar tudo que sabe; assim como uma possível "conspiração' sionista para derrubar o Governo Lula. Imaginem!. 

Não chegaríamos ao limite de aventar ou especular sobre uma manobra dessa magnitude, mas, convenhamos, onde já se viu um representante dimplomático sediado no país estabelecer relações paralelas com o governo anterior? Há alguma coisa de errado por aqui também. Salvo melhor juízo, existe até mesmo uma representação de um parlamentar da base governista pedindo sua expulsão do país. A conversa deste cidadão, seja de que nível for, precisa ter, necessariamente, como interlocutores os membros do atual Governo. 

Alguém precisa ver o vídeo da volta "triunfal' do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional. Na outra ponta, só aumentam as indisposições entre os Três Poderes. Membro da mais alta Corte do país ja antecipou que a PEC que se propõe a impor limites às decisões do STF é inconstitucional e será revertida. Depois de dez meses de Governo, as coisas começam a ficar complicadas para Luiz Inácio Lula da Silva. Tem dificuldades em agendas importantes e o azeite das articulações políticas continuam a esbarrar na trincheira oposicionista montada no Legislativo.

O próprio Governo não se entende sobre a meta fiscal. Há corte substantivos no orçamento previsto para educação, pesquisa científica e políticas públicas para minorias, o que produz uma ranhura identitária no Governo. Com a faca nos dentes para enfrentar a Oposição; um décifit público estratosférico e com dificuldade de atender às demandas de sua base de sustentação mais fidedigna, não aqui algum exagero em concluir, como fez o general Gonçalves Dias, que vamos ter problemas.    

Charge! Cláudio Mor via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Editorial: A perda de prestígio da diplomacia brasileira.



A diplomacia brasileira sempre gozou de grande prestígio internacional. O Instituto Rio Branco é considerado a melhor escola de formação de diplomatas do mundo. Infelizmente, quase nada sobreviveu ou foi preservado pelo tsunami protofascista que o país enfrentou nos últimos anos. No Governo Bolsonaro, as escolhas de nomes para ocuparem cargos relevantes naquele órgão atenderam a critérios nada republicanos, desagradando, inclusive, os próprios servidores de carreira do órgão. As políticas de relações internacionais, por sua vez, atenderam aos critérios mais esdrúxulos, consoante o humor do governante de turno, perdendo-se um enorme capital acumulado ao longo dos anos, desde o Barão do Rio Branco. 

Quando assumiu o terceiro Governo, uma das maiores preocupações do Governo Lula foi tentar recuperar esse protagonismo brasileiro no campo das relações internacionais. Mesmo assim, o desarranjo ou os prejuízos institucionais produzidos parecem ter sido de uma dimensão gigantesca, sugerindo que vai levar tempo para termos de volta o Brasil ocupando os espaço de antes no tabuleiro das relações internacionais. Faltou, inclusive, assessoria e humildade a Lula. Ele acabou se metendo em enrascadas que não tem solução, como advertia o historiador inglês Eric Hobsbawm. Mais recentemente, os primeiros pronunciamentos sobre o conflito no Oriente Médio também produziram ruídos, provocando consequências como o eventual "atraso' na liberação de brasileiros em zonas de conflito, assim como as provocações da exibição de filmes com as atrocidades cometidas por membros do Hamas. 

No Ministério das Relações Exteriores há um ministro efetivo, além de um assessor especial, o que já se configura num problema. É aquela velha história: o governo Lula não pode errar em algumas áreas estratégicas. As relações internacionais é uma delas. Já existe pleito da Oposição para uma explicação sobre a não existência de representante diplomático do país no Catar, quando pululam indicações de assessores para representações diplomáticas em países como a França, por exemplo. Mesmo com a prega de percevejos. 

Editorial: Comissões do Legislativo pedem explicações ao ministro Camilo Santana.



Seria quase inevitável, diante desse clima de beligerância existente entre Governo e Oposição, que o "convite' deixasse de ser formulado ao Ministro da Educação, Camilo Santana. Na realidade, se depender do ímpeto da Oposição, o ministro seria preferencialmente intimado e não convidado. Camilo Santana deve comparecer a duas comissões, numa delas com participação conjunta entre parlamentares do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, as comissões de Educação e a de Agricultura. 

Confesso aos leitores que ainda não estamos inteirados sobre o grande problema suscitado pelos parlamentares, mas envolve a formulação de uma questão que a oposição considerou ofensiva ao agronegócio. A bancada do agro foi uma das mais exaltadas no pedido de convocação, daí o ministro ser convidado a comparecer às duas comissões. O melindre é grande. Numa audiência relativamente recente no Legislativo, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, passou um longo período de sua exposição dando explicações sobre o termo "ogro", utilizado por ela num dos seus pronunciamentos. 

A ministra precisou fazer uma grande ginástica metafórica para se explicar sobre o uso do termo, no sentido de convencer os parlamentares da bancada do agro, inclusive uma ex-Ministra do Governo Bolsonaro. O curioso nesta história toda é que se insinua, inclusive, que muitos integrantes ainda do Governo Jair Bolsonaro tenham participado da formulação das questões das provas do ENEM deste ano. A bem da verdade, a Oposição procura cabelo em ovos para provocar o Governo. Os atores políticos, de ambos os lados, por sua vez, não fazem a menor questão de serenar os ânimos.   

Editorial: Intrigas no mundo da espionagem.


Os biógrafos asseguram que Georges Simenon escrevia um romance policial em apenas treze dias. Não deixa de ser uma performance excepcional. Tinha o hábito de sentar numa praça, construir todo o enredo na cabeça e voltar ao escritório apenas para, literalmente, "despejá-lo no papel. Na época em que ele escrevia, ainda não existia o advento das redes sociais. Se Simenon estivesse entre nós, bastaria ao escritor belga -  com talento para a escrita revelado desde a adoleslência, quando ainda morava na Bélgica, antes de se mudar para o aprazível Montemartre, em Paris  - tirar um pouco do seu tempo para ler o que se publica hoje pelas redes sociais envolvendo o Mossad - o Serviço Secreto de Israel - a Polícia Federal e a Central de Inteligência Americana. 

As referências são relativas a uma ação conjunta, realizada entre tais serviços de inteligência,no sentido de desbaratar uma suposta célula do grupo Hezbollah, que atuaria no país, com o propósito de preparar atentados contra judeus aqui residentes. Existe a suspeita de que o grupo estaria reproduzindo tal modus operandi para outras nações, revivendo aqueles  dias sombrios que se sucederam ao 11 de setembro. A hipótese não seria improvável, uma vez que já vimos esse filme antes. 

Há muito tempo que existe a suspeita, entre os serviços de inteligência israelense e americano, de que tais grupos estariam atuando no Brasil a partir da Tríplice Aliança, ou seja, na área fronteiriça entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai. Através dos subterrâneos de transações financeiras típicas da daquela região, por ali, tais grupos estariam encontrando as condições ideais de amealhar recursos para financiar as suas operações sem levantar suspeitas. 

Como estamos vivendo num momento de muita polarização política no país, logo surgiram especulações em torno do assunto. Tal informação não teria sido "plantada" pelo Mossad? Há de se suspeitar dessa relaçao entre o Mossad e a Polícia Federal - principalmente aquela da era bolonarista - em razão do fornecimento de equipamentos para o rastreamento de celulares no país. Como o Mossad, que não foi capaz de prever sequer os ataques do grupo Hamas em seu território, conseguiu acompanhar a movimentação dos integrantes do grupo Hezbollar no Brasil? Há teorias conspiratórias para tudo. 

Ao londo dos anos, com a espertise acumlada em inúmeras operações, inclusive em territórios conflagrados, o Mossad tornou-se um dos serviços de inteligência mais eficientes do mundo. Por algum motivo, não conseguiu antecipar-se aos últimos ataques do Hamas contra o Estado Judeu. No passado, outras falhas operacionais também podem ser creditadas ao serviço de inteligência israelense, como o um erro de execução contra um suposto terrorista do Setembro Negro. Mataram o cara errado e ainda permitiram a prisão dos agentes envolvidos. Falhas acontecem.   

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Editorial: Ninguém perdoa o "conje".



Críticas ao ENEM são bem-vindas. Até recentemente, fizemos algumas por aqui. Mas, o humor das hordas petistas pelas redes sociais já anda no limite com os comentários de um certo juiz, que hoje se encontra no Parlamento. As pessoas estão sempre na expectativa de que ele cometa o próximo deslize gramatical, com o objetivo de malhar o Judas. Como se diz por aí, resolveram pegar no seu pé. Ele, por outro lado, também não faz muito esforço no sentido de não oferecer motivos para essas malhações. 

Um ministro da Suprema Corte, durante uma entrevista, fez um alerta bastante interessante sobre os processos ou concursos de seleção de juízes no país. O magistrado observou que não sabe como alguns deles foram selecionados. Recentemente, o tal juiz fez um comentário afirmando que o "ENEN" (assim mesmo!) foi mal elaborado. Depois que percebeu o erro, tentou corrigir, mas aí já era tarde demais, pois a turma da lacração já tinha o print. 

Outro dia ele também se embaralhou na definição das microrregiões do estado do Ceará, provocando as mesmas reações das hordas petistas. Não tem sido nada fácil a vida do ex-magistrado. Corre o risco de perder o mandato, conquistado com muito esforço, depois de um longo processo de indefinições. Quem sabe um ghost writer pudesse ajudá-lo na tarefa de se expressar pelas redes sociais.    

Editorial: Supostos membros do Hezbollah foram presos no país pela Polícia Federal.



Ontem comentávamos por aqui que, embora haja um grande esforço diplomático, a guerra no Oriente Médio continua em escala crescente. Existe a estimativa de que, pelos menos, dez mil civis já foram mortos no conflito, sobretudo atingidos pelos bombadeios do Estado de Israel, na Faixa de Gaza. Não há critério huminitário por aqui. Hospitais, escolas, universidades e até ambulâncias são atingidos pelos bombadeios. Há indícios de que, por razões de segurança, o estado judeu pretende voltar a ocupar aquela área, mesmo depois de um eventual cessar-fogo. Por suas posições diplomáticas em favor da autoridade palestina - e não de grupos terroristas - o Governo Lula enfrenta, no momento, uma indisposição com o governo de Israel, que, supostamente por retaliação, estaria criando dificuldades para a repatrição de brasileiros que se encontram na zona de conflito. 

Agora pouco surgiu a notícia de que a Polícia Federal teria prendido alguns supostos membros do grupo radical Hezbollah, que - também supostamente, para não nos comprometermos com fake news - estariam se preparando para perpetrar atentados contra judeus residentes no Brasil. Naturalmente satisfeito com a operação, o Ministro da Justiça, Flávio Dino, teria exultado que a nossa inteligência é melhor do que o Mossad, o famoso serviço secreto israelense. Um pouco exagerada e, se, de fato, o minitro fez tal declaração, igualmente infeliz, sobretudo nesses momentos de ranhuras diplomáticas entre os dois países. 

Na realidade, a operação da Polícia Federal brasileira contou com a colaboração dos serviços de inteligência de Israel e Americano. Israel e EUA sempre estabeleceram parcerias efetivas no campo da inteligência. É bastante preocupante o fato de o Mossad ter concluído que tais atos terroristas estariam sendo preparados, pelo mesmo grupo, em diversos países. Não é nada improvável. Infelizmente.  

Editorial: Por onde anda o SUSP - Sistema Único de Segurança Pública do país?


Segundo este editor foi informado, o SUSP - Sistema Único de Segurança Publica do País - é um plano de segurança pública bem-concebido, elaborado desde o primeiro Governo Lula, que atende às prerrogativas de respeito aos direitos humanos, uma vez que contou com a participação de grandes especialistas no assunto, além de entidades da sociedade civil em sua elaboração. Ou seja, em linhas gerais é um plano politicamente correto, exequível, com grande potencial de eficiência e eficácia.  Certamente, ainda conta com a vantagem de não ir na linha da tese bolsonarista de que "bandido bom é bandido morto". 

Até recentemente, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Luiz Roberto Barroso, em pronunciamento, reconheceu que existem violações de direitos humanos explícitas no sistema prisional brasileiro. Todos nós sabemos dessa realidade, mas, quando ela é dita pelo Presidente da Suprema Corte assume uma repercussão bem mais relevante. É impressionante como um plano de segurança pública, elaborado ainda no primeiro Governo Lula, por algum motivo, já não tenha sido plenamente executado e produzido resultados concretos para o país, numa área sabidamente nevrálgica. O país mergulhou de vez numa baita crise de segurança pública. Não há como fechar os olhos a esta realidade. 

O que está faltando para a implementação definitiva do SUSP. Recursos? Vontade política? Ausência de diálogo com os entes federados? Políticas de Segurança Pública envolve inúmeros fatores. Aqui em Pernambuco, por exemplo, a Polícia Civil enfrenta inúmeros problemas, como espaços físicos mal-conservados, número insuficiente de pessoal técnico da Polícia Cientítica, recomposição salarial de agentes e delegados. O Governo apresenta um "plano' - Juntos pela Segurança" que ainda não saiu da abstração, deslocado da realidade concreta vivida pelos policiais no seu cotidiano. Algo pensado assim não tem chances de dar certo. Convém não esquecer que Pernambuco sempre esteve entre os estados mais violentos do país. Não nos supreenderíamos se logo ganhássemos as manchetes nacionais, como já ocorre com o Rio de Janeiro e a Bahia.  

Editorial: Charlatanismo ao vivo pela TV.


Não vamos aqui citar o nome do pastor, tampouco a denominação religiosa neopentecostal à qual ele pertence, por razões óbvias. Mas é impossível deixar de fazer o registro de um caso de charlatanismo religioso, ao vivo, transmitido pela TV. Um cidadão aparece 34 vezes, em diferentes locais, alegando ter recebido alguma benção. Ou seja, trata-se de uma pessoa contratada para esta finalidade, com o propósito de enganar os incautos fiéis dos templos, sobre supostas curas inexistentes. Infelizmente, algo que poderia ser um sinal de alerta para os demais fiéis não serem enganados, acaba não dando em nada, uma vez que eles estão enebriados.  

Alguns anos atrás, uma emissora de televisão divulgou um vídeo onde outro conhecido pastor ensinava aos seus auxiliares como achacar os fiéis para as contribuições. O pastor estava num momento de lazer com os auxiliares e se sentiu à vontade para fazer tais declarações, possivelmente gravadas sem o seu conhecimento. Uma coisa que nos surpresndeu é que eles conseguiram reverter a situação, claramente negativas junto aos fiíes, alegando que o pastor era vítima de uma perseguição atroz, invocando, inclusive, algumas referências bíblicas. Assim, como num passe de mágica, os fiéis passararam a não acreditar no que viram. É curiosa essa nossa conclusão, mas foi exatamente isso o que ocorreu. 

A igreja ligada ao pastor apenas cresceu desde então, tornando-se a maior entre as igrejas neopentecostais do país. Isso explica a luta incessante pelo Livro de Eli, no filme do mesmo nome. Como diz Gary Oldman - numa interpretação excepcional - o poder deste livro é enorme, capaz de manipular multidões. A denúncia talvez proceda se houver o interesse das autoridades públicas no sentido de mover algum tipo de ação contra esses charlatões da fé. 

Charge! Leandro Assis e Triscila Oliveira via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 7 de novembro de 2023

Editorial: O xadrez político das eleições municipais de 2024 no Recife: Raquel Lira faz os primeiros movimentos no tabuleiro.



 Até recentemente, depois de entabular algumas conversas com caciques do PDT nacional, aventou-se a possibilidade de a governadora Raquel Lyra(PSDB-PE) estar de malas prontas para ingressar na legenda pedestista, do saudoso Leonel Brizola. Uma outra possibilidade seria a de criar as condições políticas adequadas para uma eventual viabilidade da candidatura do Deputado Federal Túlio Gadelha(Rede-PE) para as próximas eleições municipais. Aqui haveria algumas restrições impostas pela Legislação Eleitoral, assim como uma indefinição sobre, de fato, quem seria o nome ungido pelo Palácio do Campo das Princesas para disputar as próximas eleições municipais. A manobra política teria a perspectiva de trazer a governadora para a base de apoio de Lula, assim como adquirir o passe do Deputado Federal Túlio Gadelha para a legenda. As movimentações, segundo se especula, teria o sinal verde do Palácio do Planalto.  

No dia de ontem, numa posição bastante contundente, marcada por um viés ideológico e paroquial, o ex-Deputado Federal Wolney Queiroz, atual Secretário-Executivo do Ministério da Previdência Social, comandado por Carlos Lupi, descartou completamente a possibilidade de a gestora integrar a base pedetista. Há velhas feridas não cicatrizadas entre o grupo Queiroz e o grupo Lyra, produzidas ao longo das disputas políticas travadas no país de Caruaru.  Não seria de todo impossível - afinal, como advertia o ex-governador Paulo Guerra, ao observar que, neste campo não existiria as palavras 'nunca' nem "jamais' - mas vamos precisar de muita vaselina política por aqui. 

Assim como ocorreu com o PSD, o mais provável seria admitirmos que a estratégia da governadora vai no sentido de produzir mais um desfalque na base de sustentação do prefeito João Campos(PSB-PE), que deve disputar a prefeitura e emendar o bigode com a governadora nas eleições estaduais de 2026. A melhor estratégia a ser adotada, considerando-se tal raciocínio, seria a de produzir alguns danos políticos ao gestor do município ainda em 2024, evitando seu agigantamento nas eleições seguintes. Até as pedras do cais do Recife sabe qual é o grande projeto político do prefeito João Campos. 

Assim que assumiu a prefeitura, João passou um período meditando sob a massaranbuda do tempo, esperando, como diza Joaquim Francisco, o que as espumas produzidas pela batida da água sobre as pedras poderiam indicar. O ainda jovem prefeito, foi pego de surpresa com a morte do seu pai, o ex-governador Eduardo Campos. Seria até natural que passasse por tal processo, explicado à luz das teorias psicanalíticas. Como já informamos antes, tomou gosto pela política. Não é improvável que sua namorada,a deputada Federal Tabata Amaral tenha exercido alguma influência sobre isso. 

Hoje ele tem uma avenida política a pavimentar e percorrer pela frente e está disposto a fazer a caminhada. Parecia ter priorizado a periferia emsua gestão, mas os resultados também começam a ser entregues em bairros de classe mádia alta, como Boa Viagem. Sabe-se que existe uma equipe trabalhando exclusivamente no projeto de revitalização do Recife, algo que também precisa ser feito. Além das obras de infraestrutura, políticas sociais importantes, inclusive voltadas para a juventude, também estão em andamento.

Não deve incomodar a João as recentes inquietações manifestadas por um grupo de trabalho do PT, criado com o objetivo de definir as estratégias para as próximas eleições municipais. O grupo sugere que, para a aliança entre o PT e o PSB ser mantida, seria necessário o PT indicar o vice na chapa, condição que, possivelmente, não será aceita por João, que precisa do terreno limpo para as eleições de 2026. Neste caso, a espertise adquirida ao longo dos anos, dá ao prefeito as condições de como manter a situação sob controle. Ele sabe exatamente o que esse grupo do PT deseja.    

Editorial: A batalha ideológica ( e política) do ENEM



Em razão de sua importância e magnitude, o ENEM sempre atrai as polêmicas inevitáveis, contrapondo narrativas entre Governo e Oposição. Já houve um momento em que tais discussões se davam em torno de eventuais fraudes na realização do exame. As investigações mostraram que, de fato, algumas dessas possibilidades de fraudes, infelizmente, acabaram se confirmando. A espertise acumulada ao longo dos anos, por sua vez, como que blindaram essas possibilidades de fraudes. 

Desta vez ainda houve um vazamento suspeito, mas nada além disso. de qualquer forma, o INEP já acionou a Polícia Federal para as investigações de praxe. Curiosamente, agora a briga fica no campo político\ideológico. É dada como certa uma convocação do Ministro da Educação, Camilo Santana, à Comissão Permamnete de Educação e Cultura do Senado Federal, com o objetivo de se pronunciar acerca de algumas questões polêmicas do exame, como uma referência ao agronegócio, por exemplo, bastante explorada nas redes pelas hostes bolsonaristas. 

Diante da política de "demonização" infringida a Paulo Freire, encampada pelas hordas bolsonaristas, não ficaríamos surpresos se Camilo Santana seja instigado a explicar porque o educador pernambucano foi mencionado em questões da prova. O fato, em si, dimensiona o grau de obscurantismo em que estamos metidos depois do tsunami bolsonarista que assolou o país.   

Editorial: A batalha pela meta fiscal.


Se depender do Poder Legislativo, os integrantes do Governo Lula não terão um dia de paz. A Oposição parece ter chegado à conclusão de que, neste momento, a melhor maneira de enfrentar o Governo é o confronto direto. Alguns fatores podem explicar a adoção desta estratégia pela oposição: O sentimento das ruas, onde a oposição ainda conta com um capital político bastante preservado; a proximidade das eleições municipais de 2024, onde eles prometem dar a primeira estocada nos petistas e, finalmente, o próprio desgaste do Governo Lula, após esses dez meses de mandato. 

Não bastassem as questões relacionadas às incertas e temerárias articulações políticas, a questão da meta fiscal pode trazer problemas gigantescos para a gestão do terceiro Governo Lula. Como assinala a coluna do jornalista Cláudio Humberto, no dia de hoje, no limite, pode estrangular o Governo, impondo-se restrições de implementação de políticas públicas, proibição de concessão de reajustes aos servidores, além de impedir novas contratações. Legal e constitucionalmente existe, até mesmo, a possibilidade de um eventual pedido de impeachment.  

E olha que o Governo já tem um concurso em andamento. Os líderes dos Poder Legislativo, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira já se pronunciaram sobre a necessidade de se acompanhar a Ministro Fernando Haddad na cruzada para fechar essa conta. A receita é simples, conforme ensinava a economista Tânia Bacelar: Tente gastar mais do que arrecada e você logo saberá o que significa déficit público. O indivíduo entra numa parafuseira financeira sem volta. Pede empréstimo - se ainda tiver crédito-; paga juros altos, comprometendo ainda mais o salário; refinancia o próprio empréstimo e aí não tem mais retorno. 

A economista levantava essa questão há muito anos atrás, durante uma palestra na Fundação Joaquim Nabuco, mas a premissa é a mesma e continua perene. Vinculada à UFPE, a economista trabalhou durante muitos anos na SUDENE e hoje assessora o Consórcio Nordeste, salvo melhor juízo. Numa entrevista recente, quando indagado sobre o assunto da meta fiscal, o presidente Lula desconversou. Não seria possível que Haddad tivesse feito a proposta sem antes ter combinado com o morubixaba petista.  

Editorial: Graciliano Ramos no ENEM.



O INEP recomendou à Polícia Federal que investigasse um suposto vazamento de dados envolvendo a prova do Exame Nacional de Ensino Médio, o ENEM. Pouco tempo depois que a prova de redação começou a ser aplicada, passaram a circular informações nas redes sociais sobre o teor do tema, assim como os textos-guia que tinham como objetivo orientar os alunos na elaboração da redação. Como estamos num clima de muita beligerância entre Governo e Oposição, já se cogita a possibilidade de uma audiência pública do Ministro Camilo Santana na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. 

O exame, depois de sucessivos reveses, vem se aprimorando ao longo dos anos, tornando-se quase imune às eventuais tentativas de fraudes, que já ocorreram no passado. O que intriga, neste caso em particular, é que os alunos não podem utilizar instrumentos eletrônicos que facultem a possibilidade de transmitir tais informações. Encerrada as provas, aí sim, começam a circular nas redes alguns temas abordados, como, por exemplo, o repertório de Jurandir, o saxofonista que interpreta o Bolero de Ravel durante o pôr do sol na praia do Jacaré, em Cabedelo, na Paraíba. Um espetáculo da natureza que atrai milhares de turistas todos os anos. É o momento em que o Rio Paraíba, dos romances de José Lins do Rego, encontra-se com o mar. 

Possivelmente, como um dos granes ícones da nossa literatura regionalista, o alagoano Graciliano Ramos deve ter aparecido por lá, mas não por esse motivo. Graciliano Ramos era muito exigente com a construção dos seus textos. Tão exigente que, em certo momento, sua esposa teria observado que, se ele continuasse cortanto o texto de Vidas Secas não iria sobrar mais nada. Caetés, seu primeiro romance, foi uma obra rejeitado pelo escritor. Sempre considerou o romance uma porcaria, mesmo com as considerações positivas de um crítico literário como Antonio Cândido. Chegou a responder ao crítico, desmerecendo a sua própria obra, minimizando as suas considerações.  

O escritor alagoano comparava o ato de escrever ao tabalho das mulheres lavadeiras dos rios alagoanos, que lavam, enxáguam, batem com as roupas nas pedras, voltam a enxaguar e somente assim se dão por satisfeitas. Ficou extenso e confuso o tema da redação do ENEM deste ano: "Desafios pra o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelo mulher no Brasil." Certamente, o alagoano faria alguns ajustes por aqui. Não se assustem se as notas da prova de redação sejam ruins este ano.    

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Editorial: Paulistanos sem energia elétrica.


Pelo menos enquanto durar o Governo Tarcísio de Freitas, não se aventa a possibilidade de a sanha privatista refluir. É uma ideia fixa. A empresa estatal mais próxima da guilhotina ultraliberal é o colosso da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - que apresenta bons resultados e se constitui na maior empresa de saneamento básico da Amética Latina. Nem mesmo as experiências recentes  - e traumáticas, registre-se - com trechos de linhas do metrô já privatizadas seria capaz de suscitar alguma reflexão sobre a questão. 

A antiga Companhia de Eletrificação do Estado de São Paulo - a CESP - hoje privatizada, deixou mais de 500 mil paulistas sem eletricidade depois de um acidente provocado por uma árvore que caiu e atingiu a rede elétrica. Isso aconteceu ainda no sábado, criando alguns transtornos até mesmo para a realização das provas do ENEM. Pela previsão, teremos quatro dias para solucionar o problema, o que significa que os mantimentos dos infelizes irão estragar na geladeira. 

Sempre que isso ocorre, volta ao debate a questão da melhoria da qualidade dos serviços prestados depois de uma empresa passar por um processo de privatização. Estamos tratando aqui, naturalmente, de uma grande falácia. Nem o mais renhido privatista teria hoje algum argumento para defender essa tese. Só quem ganha com o processo tem sido a iniciativa privada, que compra o patrimônio público enxuto, dando lucro, por avaliações sempre abaixo do preço de mercado. Por  vezes também os agentes públicos, mancumunadas com tais transações obscuras. A grande prejudicada é a população, como neste caso.