pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crescem os repasses do FUNDEB, caem os índices do IDEB. Alguma contradição?
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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Crescem os repasses do FUNDEB, caem os índices do IDEB. Alguma contradição?





José Luiz Gomes escreve
                                  
                                   Realmente, há motivos para comemorarmos os avanços sociais obtidos pelos brasileiros, a partir da divulgação do último IDH. Melhoramos 47,8%. Saímos de um nível “muito baixo” para nos acomodarmos num patamar considerado “alto”, embora pudéssemos avançar muito mais, não fossem os crônicos problemas com a educação que, juntamente com saúde e renda, formam a vértice de indicadores desse índice. Os avanços no IDH brasileiro, como afirma Paulo Moreira Leite, podem ser creditados na conta da normalidade democrática dos últimos 20 anos, à estabilidade da moeda e, sobretudo, às políticas de transferência de renda implantadas a partir dos Governos Lula, que teve a sensibilidade de repartir o pão entre os mais empobrecidos.

                                   Fato aparentemente contraditório vem ocorrendo com a área de educação. Nos últimos anos, houve um crescimento expressivo dos recursos distribuídos através do FUNDEB – recurso que assegura o pagamento de professores, material escolar, merenda e transporte para a gurizada –, e isso não vem se refletindo numa melhoria de outro indicador igualmente importante, o IDEB, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Ocorre, na realidade, uma inversão, ou seja, quanto mais crescem os repasses do FUNDEB, diminuem os resultados obtidos no IDEB, pelo menos no que concerne aos dados obtidos entre os anos de 2011 e 2012.

                                   Há algumas explicações para esse fato, nenhuma delas muito otimista. O FUNDEB é a rubrica mais visada pelas raposas do erário público. A Controladoria Geral da União (CGU), que todos os anos procura ampliar o número de municípios investigados, constatou irregularidades em 73% deles entre os anos de 2011 e 2012. As irregularidades vão desde aplicações indevidas, dados adulterados até saques na boca do caixa ao apagar das luzes de uma gestão para outra. Ou seja, essa conta precisa ser refeita. Embora ocorra o aumento de recursos canalizados para os municípios, eles são solapados pelo aumento igualmente crescente dos casos de desvios de dinheiro público, que não podem ser acompanhados pelos órgãos fiscalizadores da res publica, pela absoluta ausência de aparato para tanto.  

                                   Por outro lado, quando se fala em melhoria da qualidade da educação pública, é preciso entender que uma série de variáveis interferem no resultado desse processo, exigindo, portanto, a sensibilidade necessária para atacá-las em sua plenitude. É importante uma sólida qualificação dos professores – algo já identificado como sendo um dos principais motivos que jogam o IDEB para baixo. Os nossos cursos de formação de professores ainda contam com muita deficiência. Uma ideologização demasiada pode transformar professores críticos, mas eles também precisam saber preparar uma boa aula, transmitindo conhecimentos que podem ser igualmente importantes para intervir na realidade, para usarmos um bordão comum.

                                   Uma boa gestão escolar também se constitui como um fator fundamental. Torna-se necessário que o diretor saia do conforto de sua poltrona e acompanhe o que ocorre em sala de aula, com espertise suficiente para reorientar práticas, dirimir conflitos, acompanhar as diretrizes estabelecidas pelo PPP etc. Os profissionais de ensino também precisam ser tratados com absoluta dignidade, corrigindo-se uma série de injustiças históricas imputadas a esses profissionais, que vão muito além dos salários acachapantes.

                                   Outro fator a ser considerado são as políticas públicas para o setor de educação – em todas as suas esferas – inclusive aquelas concebidas pelos municípios em particular, dentro da margem de manobra que lhes são facultadas. Tivemos a oportunidade de conhecer, juntamente com nossos alunos, algumas experiências inovadoras em vários municípios pernambucanos, algumas delas premiadas nacionalmente. O que pudemos verificar é que, em sua maioria, os gestores da educação municipal são meros instrumentos de arranjos políticos perniciosos, alguns indicados exclusivamente para facilitar o acesso da raposa ao galinheiro, sem a menor preocupação em desenvolverem políticas estruturadoras para a área. O outro grupo é formado por burocráticas – alguns deles despreparados para a função – que ficam em seus gabinetes apenas tocando o barco – e muito mal - a mercê das conveniências políticas dos seus chefes. São raros os imbuídos do espírito público, embora esses se constituam em honrosas exceções, capazes de obter grandes resultados. 

                                   Até recentemente, num dos municípios da região metropolitana do Recife, um novo secretário de educação assumiu o comando da pasta. Uma de suas primeiras providências foi convocar uma seresta para o dia das mães. As mães merecem todas as serestas do mundo, mas, diante do caos em que se encontra a educação do município, certamente, haveria outras prioridades. O município apresenta um dos piores indicadores do IDEB entre aqueles municípios com população acima de 200 mil habitantes.

                                   O resultado de todos esses fatores não poderia ser outro senão o que vem sendo apresentando por uma rede de televisão local, mostrando o quadro deficitário de nossa educação no Recife e Região Metropolitana, notadamente nos municípios de Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes. Estamos no segundo semestre e os alunos continuam sem receber fardamento, material escolar, abrigados em escolas improvisadas ou funcionando em condições precárias.

                                   No Recife, sequer os recursos para essa finalidade podem ser utilizados, uma vez que foram interditados pelo TCE, depois de constatadas as irregularidades amplamente divulgadas pela imprensa. Em Olinda, as autoridades públicas do setor sequer se dignaram a dar uma satisfação à população, fugindo da imprensa como o diabo foge da cruz. Em Paulista, o quadro não é distinto. Depois de 08 anos de gestão neo-socialista não foi possível perceber,tão somente, um esboço de política perene para o setor. Tudo é gerido, na base do improviso. Para completar, dentro dos critérios da meritocracia do Palácio do Campo das Princesas, o prefeito foi convidado a assumir um desses cargos comissionados de assessoria especial, tendo como justificativa, pasmem, a sua vasta competência e experiência.

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