publicado em 4 de agosto de 2013 às 16:52
Eduardo Campos aproxima-se perigosamente dos urubus voando de costa da Era Lula
Por José Luiz Gomes, cientista político, via Facebook
Devo informar que tal expressão
foi muito utilizada pelo jornalista Elio Gaspari, ao se referir aos
desafetos do ex-presidente Lula, sobretudo depois da crise gerada com as
denúncias do Mensalão.
Segundo consta, Lula teria uma cadernetinha onde esses nomes estavam devidamente anotados.
Esforçou-se pessoalmente para não permitir que esses desafetos fossem
eleitos para os executivos estaduais ou para o Legislativo Federal.
Teve êxito em alguns casos, noutros não.
A lista é grande e, não raro, nos surpreendemos com a inclusão de novos atores políticos nesse cipoal.
Zé Ramalho, numa de suas canções, afirma que precisou transar com Deus e com o Diabo para entender o jogo dos homens.
Em política, não se pode dizer que se trata de uma exceção essas
manobras, traduzidas naquilo que poderíamos classificar como uma
verdadeira “gangorra ideológica”, movida ao sabor do peso das
conveniências.
Há, entretanto, políticos que procuraram preservar um mínimo de
coerência em sua vida pública, como foi o caso de Luiz Carlos Prestes,
Gregório Bezerra, Miguel Arraes, Leonel Brizola.
Este último muito lembrado por ocasião das manifestações de rua recente.
Por vezes, Dr. Miguel Arraes chegou a ser criticado por suas alianças políticas com setores das oligarquias pernambucanas.
No contexto da correlação de forças políticas existente no Estado de
Pernambuco, naquele momento, talvez fosse essa a única possibilidade
viável de sagrar-se vitorioso nas urnas, estratégia que acabou sendo
utilizada, pouco depois, pelo seu arquiinimigo, o senador Jarbas
Vasconcelos, quando candidatou-se ao Governo do Estado.
Antigo presidente do IAA, Arraes conhecia essas oligarquias como poucos.
O professor Jorge Siqueira costumava dizer que a presidência daquele órgão teria sido o maior capital político de Dr. Arraes.
Passou a conhecer todas as grandes cisões familiares das oligarquias do Estado, usando-as em momentos oportunos.
Se por um lado é verdade que chegou a celebrar algumas alianças
táticas com essas oligarquias, também é verdade que jamais renunciou aos
seus princípios ou negociou suas convicções políticas sobre as lutas
populares.
Numa entrevista concedida ao editor, o vice-prefeito Luciano Siqueira
– depois de questionado sobre essas alianças – enfatizou que, em nenhum
momento, por exemplo, Arraes abandonou os comunistas.
Em seu primeiro Governo, o governador Eduardo Campos ainda fazia
alguma questão de preservar alguns desses simbologismo herdados da sua
convivência política com Miguel Arraes, como a famosa visita à comunidade de Ilha de Deus, uma região bastante empobrecida do Recife, que nunca recebera antes a visita de um governante.
Demorou muito pouco a estratégia de apresentar-se ao eleitorado,
simbolicamente, como o herdeiro do espólio político do Dr. Miguel
Arraes, naquilo que ele tinha de mais sagrado: uma profunda
sensibilidade social.
Uma identidade com os segmentos sociais mais fragilizados.
Desde que foi prefeito do Recife, Arraes nunca escondeu essa vocação,
como pode ser atestada através do trabalho do saudoso professor João
Francisco, “Pedagogia da Revolução”.
Através de uma metodologia orientada pela análise de discurso, João
Francisco evidencia, claramente, a diferença de projetos políticos entre
Arraes e o então governador de Pernambuco, Cid Sampaio.
O neto, a princípio, esboçou uma plataforma política que procurava
identificar-se com os setores populares, mas, gradativamente, foi
assimilando uma agenda de orientação neo-socialista, seja lá o que isso
signifique.
A agenda do governo Eduardo Campos é tudo, menos socialista:
crescimento expansionista sem preocupações ambientais; meritocracia
familiar; sustentada numa ampla parafernália midiática, que nos coloca
no melhor dos mundos, e a sua popularidade nas alturas.
É o governador mais bem avaliado do país, embora o Estado apresente
problemas estruturais preocupantes em diversas áreas, como se pode
verificar nos últimos dados divulgados sobre o IDH.
Para completar o enredo, depois dos acontecimentos de julho, parece
ter perdido o “tino” e permitiu que sua Polícia Militar cometesse uma
série de abusos de autoridade – reprimindo com prisões as mobilizações
de rua.
Neste aspecto, aproximando-se das teses do esloveno Slavoj Zizek
sobre a tendência de uma gestão sempre mais autoritária do poder
político.
Nisso, ele está muito bem acompanhado pelo governador do Estado do
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que perdeu completamente a cabeça e, com
ela, a popularidade.
Numa manobra política curiosa, à qual já classificamos de “equilíbrio
instável”, mantém-se atrelado ao governo federal, mas costura
abertamente sua provável candidatura presidencial com os setores mais
atrasados e conservadores da política brasileira.
Neste aspecto, não repete o avô, mas capitula-se a uma agenda nefasta
engendrada pelo capital. Alia-se aos “urubus” voando de costa da Era
Lula.
A fauna está completa: Agripino Maia, certo senador pernambucano,
Arthur Virgílio, Tasso Jereissati, Marconi Perillo, Jorge Bornhausen.
Recentemente, Eduardo Campos manteve mais de um encontro com Lula.
Comenta-se que teriam conversado sobre as eleições presidenciais de 2014.
É possível. Há quem assegure que Lula o teria convidado para compor
uma chapa com os petistas. Aliás, quem sabe, encabeçar uma chapa,
filiando-se ao Partido dos Trabalhadores.
No jogo estrito da competição eleitoral, não há dúvida, ele continua
como uma espécie de fiel da balança, sobretudo se considerarmos a
fragilidade e os percalços da relação entre o PT e o PMDB. Mas o
“Moleque” dos jardins da Fundação Joaquim Nabuco vem perdendo substância
já faz algum tempo.
Até onde sabemos, Lula vinha mantendo a relação em “banho Maria”,
salvaguardando a necessidade de preservar a presidente Dilma Rousseff.
O fato de pleitear uma candidatura presidencial não teria sido o
problema maior da relação entre ambos. O que teria deixado Lula
profundamente magoado com Eduardo Campos foi essa aliança com os
“urubus” voando de costa, os desafetos do seu governo.
Assim como outros analistas, também não enxergamos com otimismo a
possibilidade de preservação dessa aliança entre Eduardo Campos e o
Planalto. Dentro do jogo pesado da política ele é uma peça importante,
mas já atua no tabuleiro dos adversários e é assim que deve ser tratado
daqui para frente. O caboclo já está no darkroom com o Diabo.
(Publicado originalmente no Viomundo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário