quarta-feira, 21 de maio de 2025
Editorial: STF ouve como testemunha o ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Junior
Há rigor, não há informações precisas sobre as resistência na caserna em relação ao golpe civil-militar de 1964. Possivelmente houve, mas não é um tema muito explorado pelos pesquisadores que se debruçam acerca deste tema. Sobre esta última tentativa de golpe de Estado no país, no entanto, as fissuras entre os militares golpistas e os militares legalistas ficaram mais evidentes. Ontem, por exemplo, os Ministros da Suprema Corte resolveram não aceitar as denúncias contra dois militares, um general e um coronel, por não encontrarem elementos que pudessem comprovar a sua participação na trama golpista. As denúncias contra outros 11 militares foram aceitas.
Dois comandantes de forças militares foram cruciais para interromperem as tessituras deste último golpe. O general Freire Gomes, que já foi ouvido pelo STF, e o Brigadeiro Baptista Junior, com audiência marcada pra o dia de hoje. Segundo avalição do Ministro Alexandre de Moares, o depoimento do general Freire Gomes entrou em contradição com o que ele havia afirmado antes na Polícia Federal. Confirmada as suspeitas do Ministro Alexandre de Moraes, há de se perguntar sobre as motivações que teriam levado o general a se posicionar desta forma. O mais provável é que resolveu atenuar em relação a um colega militar. O episódio, naturalmente, aumentou as expectativas em relação ao depoimento do ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Junior, que assumiu uma postura legalista, em respeito à Constituição Federal naquela ocasião.
Num encontro no dia de ontem, em Brasília, que reuniu milhares de prefeitos de todo o país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vaiado em diversos momentos, numa demonstração da insatisfação dos gestores municipais sobre a condução da política nacional, que acaba se refletindo na ponta, a exemplo desta propalada isenção de impostos para quem ganha até cinco salários mínimos. O Governo Lula 3 navega sobre águas turbulentas.
terça-feira, 20 de maio de 2025
Editorial: A saúde de Joe Biden.
Há casos interessantíssimos sobre chefes de Estado que são acometidos de enfermidades e seus assessores tentam esconder da população a sua real condição de saúde. Por isso não surpreende que um jornalista tenha lançado recentemente um livro tratando exatamente deste assunto, onde remonta, a partir de um exaustivo de trabalho de jornalismo investigativo, como as autoridades americanos esconderam os problemas de saúde do ex-presidente Joe Biden. Biden, pelo que se sucedeu, já cumpriu seu mandato de presidente dos Estados Unidos com alguma dificuldade, explicitada no momento em que disputava a reeleição, onde precisou ser substituído.
Agora vem a notícia de que Joe Biden foi diagnosticado com câncer de próstata. Até recentemente a Netflix lançou uma série documentário com três capítulos, que remonta os acontecimentos do 11 de setembro e a posterior caçada humana empreendida ao terrorista Osama Bin Laden. Como eles utilizam cenas reais daqueles fatos, Joe Biden, ainda aparece nas imagens esbanjando saúde, ao lado de Barak Obama. Em meio às turbulências institucionais que sacudiram as nossas instituições democráticas nos últimos anos, hoje se sabe que o democrata exerceu um papel decisivo sobre os rumos de nossa democracia. Biden foi o primeiro chefe de Estado a reconhecer a vitória de Lula nas últimas eleições presidenciais.
Com a eleição de Donald Trump as nuvens mudaram sensivelmente. O republicano se identifica com grupos políticos que não são grandes exemplos de democratas. O pior é que esses grupos contam com o apoio do republicano para viabilizarem seus projetos políticos no país.
Editorial: STF inicia hoje julgamento da denúncia contra o núcleo 3 da tentativa de golpe de Estado.
No dia de ontem, 19, durante as oitivas de testemunhas, a imprensa está noticiando uma eventual divergência no depoimento do ex-Comandante do Exército, o general Freire Gomes. Durante toda a discussão acerca das tessituras de mais uma tentativa de golpe de Estado no país, o general Freire Gomes assume um papel crucial. Sua recusa em embarcar na aventura golpista pode ter sido determinante no desfecho daquele enredo. Freire Gomes pode ter sido a peça que impediu que a engrenagem golpista funcionasse a contento. Nas entrelinhas, sabe-se que teria sido destratado pelos pares e linchado nas redes sociais pelas hordas bolsonaristas. Durante a sua fala, no entanto, o general afirmou não ter presenciado nenhum conluio entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o almirante Garnier, da Marinha, que, supostamente, teria emprestado sua solidariedade ao intento.
O depoimento não converge com as declarações prestado pelo general à Polícia Federal, daí as ponderações do Ministro Alexandre de Moraes. Hoje, 20, é a vez da Primeira Turma do STF julgar a denúncia contra uma espécie de núcleo tático da tentativa de golpe, envolvendo vários militares e um policial federal, que teve recentemente o teor da perícia do seu celular anexado aos autos da tessitura golpista, acrescentando mais alguns elementos preocupantes àquela trama, trazendo luz sobre a encrenca institucional em que o país estaria metido caso essa gente lograsse êxito no desmonte de nossas instituições democráticas.
A denúncia que estará sendo julgada no dia de hoje é sobre um grupo tático, composto por militares, crucial na execução do golpe propriamente dito. Conforme enfatizamos anteriormente, é fundamentalmente importante o entendimento da cúpula das Forças Armadas sobre o assunto. Sabe-se que o objetivo final dessa campanha pelo PL da Anistia não visa unicamente aqueles que estão presos na Colméia ou na Papuda, mas, sobretudo, o núcleo duro da tentativa de golpe de Estado. Anistia, entende as Forças Armadas, seria uma forma de estimular novas insubordinações.
segunda-feira, 19 de maio de 2025
Editorial: Nova vaquinha para Jair Bolsonaro.
Numa campanha anterior, o ex-presidente Jair Bolsonaro arrecadou, através de PIX, nada menos do que R$ 17 milhões de reais, provocando até mesmo a preocupação da Receita Federal sobre a legalidade do procedimento. Salvo melhor juízo, esses recursos chegaram até mesmo a serem retidos por algum tempo. Pelo andar da carruagem política, são esses recursos que o ex-presidente estaria utilizando para as suas viagens, despesas médicas e, principalmente, para o pagamento dos honorários da banca de advogados que contratou para a sua defesa. São advogados caros, pelo que se informa. Uma notícia prosaica saiu esta semana, dando conta de que o ex-presidente já teria estuporado a metade desse dinheiro, cabendo agora uma nova campanha para a arrecadação de novos recursos através de uma nova vaquinha.
E, por falar em Jair Bolsonaro, continua a novela sobre a sua ascendência sobre a definição de um candidato de direita para disputar o pleito presidencial de 2026. Segundo consta, o núcleo duro que gravita em torno da figura do ex-presidente estaria incomodado com as movimentações do governador Tarcísio de Freitas, que hoje se encontra, na realidade, pressionado a assumir a condição de candidato pelas forças conservadoras. Aliás, para sermos mais sinceros, com quaisquer movimentações que fujam ao controle estrito da família Bolsonaro. Na ausência do capitão nas urnas, cogita-se a possibilidade de uma candidatura de Michelle Bolsonaro ou de Eduardo Bolsonaro, que se encontra licenciado do cargo, morando nos Estados Unidos.
Numa entrevista recente, Valdemar da Costa Neto, Presidente Nacional do PL, foi categórico em afirmar que quem decide o candidato é Jair Bolsonaro, pois os votos são dele. O PF deve tudo a Bolsonaro. Pelo andar da carruagem política, conforme prevê Gilberto Kassab, talvez as forças do campo conservador lancem mesmo duas candidaturas ao pleito presidencial de 2026.
Resenha: Um daiquiri cinematográfico no cais de Havana.
Este editor praticamente se formou em cinema durante a pandemia da Covid-19. Fizemos inúmeros cursos sobre o tema, principalmente os organizados por instituições acadêmicas. Era uma paixão de nossa adolescência, projeto que nunca foi levado adiante em razão de inúmeras circunstâncias. Somos da época do "Cine Goteira", quando as películas eram exibidas em praças públicas, com todo mundo torcendo para que não chovesse, tema explorado em nosso primeiro romance, o Menino de Vila Operária. O cinema exercia um verdadeiro fascínio entre os meninos da vila. Já adulto, passamos a sentir uma verdadeira paixão, principalmente em relação às películas que tratavam de temas políticos. Por essa época, nossos diretores predileto eram os realistas russos Serguei Eisenstein e Dzika Vertov. Isso não mudou ao longo dos anos. Dzika Vertov, por exemplo, exerceu forte influência sobre um grupo de cineastas revolucionários franceses, que formaram o Grupo Dzika Vertov, a partir do Movimento de Maio de 1968, entre eles Jean-Luc Godard.
Durante o período da pandemia, isolado, acompanhamos, com particular interesse, um curso que tentava estabelecer um link entre cinema e marxismo, o que nos levou a estabelecer contato com outros cineastas revolucionários, inclusive o cubano Tomás Gutiérrez Alea, um dos principais expoentes do ICAIC, instituto que revolucionou o cinema latino-americano, tornando-se a verdadeira escola de cinema do continente. Importantíssimo na formação de grandes cineastas. O ICAIC foi tão revolucionário que chegou a ser dirigido por uma mulher negra, a primeira cineasta cubana, Sara Gómez, a lente da Revolução Cubana. Dialeticamente, porém, o ICAIC chegou a "censurar" dois documentaristas do instituto, que realizaram um documentário mostrando a vida degradada de cubanos na periferia do cais de Havana. O fato gerou uma grande polêmica à época, algo que se contrapunha aos ideais daquele instituto de cinema.
A censura e a posterior estigmatização dos cineastas, acusados de contra revolucionários, foi importante para refletirmos sobre até onde ia o limite daquela liberdade de expressão. Isso nos deixou bastante intrigado e, posteriormente, extravasamos essas nossas preocupações através da construção de um conto tratando do assunto. O professor do curso havia visitado Cuba e, pontualmente, externava a sua experiência naquela Ilha, apontando seus problemas, mas sempre muito otimista, enfatizando que o grande objetivo da revolução era o de assegurar a segurança alimentar da população do país. O conto ficou longo, quase um novela. Durante a pandemia, igualmente, devoramos os volumes da nova biografia de Kafka, escrita pelo filósofo alemão Reiner Stack. Um trabalho soberbo, uma pesquisa exaustiva, realizada por um grande especialista no escritor tcheco.
De imediato, a trilogia atingiu o conceito de um dos melhores trabalhos biográficos contemporâneos. Sinceramente, não sabemos o que ele apresenta de elementos novas à vida do autor de O Processo, que já não tenha sido explorado pelas biografias anteriores. Ele contesta, por exemplo, o perfil de pessoa reservada de Kafka, uma vez que ele era um bom vendedor de seguros na empresa da família. Não sei se há aqui elementos para desfazer este traço de personalidade do autor. Kafka era tão ensimesmado que até para organizar os seus trabalhos para publicação quem assumia essa tarefa era Max Brod, dada as dificuldades de interlocução de Kafka com os editores. Como o conto invoca esses elementos políticos e burocráticos, típicos do estilo kafkiano, resolvemos reunir no livro outros contos escritos com o mesmo perfil, alguns deles tratando de cinema, como um outro sobre o cineasta da Escola dos Estudos Culturais Inglesa, Ken Louch. Conforme havíamos prometido, estão aí algumas informações para satisfazer a curiosidade sobre as capas dos livros que estão expostas no blog. O livro será disponibilizado em breve no nosso perfil KDP da Amazon, mas já pode ser solicitado como pré-venda pelo Zap 81986844557. Vale a leitura.
Editorial: O "controle" da CPMI do INSS.
CPMI's são importantes em quaisquer circunstâncias, independentemente dos seus resultados. Há uma grita enorme acerca dos últimos relatórios produzidas por duas delas, a da Covid-19 e a do MST. Concluído os trabalhos, relatórios lidos e encaminhados aos órgãos responsáveis da Republica, é aqui que se esbarra numa espécie de leniência, traduzida no engavetamento pura e simples desses relatórios. Acompanhamos essas duas últimas e confesso que aprendemos bastante, uma vez que não se trata apenas de se saber como agiram os gatunos do erário nessas ocasiões. E, ainda assim, essas CPMI's se tornam importantes, uma vez que ficamos atualizados acerca das "inovações" utilizados por essas gangues para desviar recursos públicos. No caso da CPMI do INSS, que hoje parece-nos inevitável, já se sabe, por exemplo, que havia uma engenharia abominável de expedientes para roubarem os pobres velhinhos aposentados e pensionistas.
Ontem, 18, surgiu a informação de um servidor do órgão com poderes paranormais, capaz de ressuscitar velhinhos, ou seja, o pobre aposentando morria e continuava ativo no sistema, beneficiando malfeitores. No caso da CPI do MST gente muita boa foi convidada, tanto pelo Governo quanto pela Oposição, que trouxeram informações importantíssimas sobre a dinâmica dessa questão no país, um drama que se arrasta a centenas de anos sem que se apresente uma solução concreta. Na verdade a elite agrária do pais não permite que este problema seja resolvido, desde a época das sesmarias. Esta questão está na raiz das tessituras entre militares e tais elites, que culminou no golpe civil-militar de 1964. É curioso que, mesmo ao seu "modo", a questão da reforma agrária foi uma das mais urgentes preocupações dos militares quando no poder. Até o sociólogo Gilberto Freyre deu sua contribuição nessa discussão, produzindo um prospecto a este respeito, a pedido de Marco Maciel.
Correndo atrás do prejuízo, o Governo agora se movimenta para ter um controle sobre os trabalhos da CPMI do INSS, talvez destinando a ela o mesmo destinos das anteriores. Neste caso, no entanto, o ônus político do roubo no INSS será pesadíssimo. As narrativas criadas com o intuito de livrar-se desse ônus estão se tornando ridículas. As pessoas que lidam com comunicação deveriam saber disso.
domingo, 18 de maio de 2025
Editorial: A estranha narrativa do Governo sobre a crise que estourou no INSS.
A crise do INSS é estrutural e não adianta colocar um dedo sobre o buraco com o objetivo de tentar estancar o vazamento porque a represa já rompeu. Desde que foi anunciada a operação que mobilizou dezenas de policiais federais e servidores da Controladoria-Geral da União, outras tantas operações já se seguiram e algo sugere que estamos apenas na ponta do iceberg no que concerne ao volume de dinheiro público desviado e apropriado indevidamente através de expedientes dos mais escabrosos. Como se não fosse suficiente a "fábrica" de velhinhos, um servidor do órgão estaria "ressuscitando" pessoas que haviam morrido no cadastro. Não sabemos como a PF está se arranjando para atender a tantas demandas operacionais. No dia ontem, 16, foi Alagoas e Paraíba. Hoje, 17, Caruaru, em Pernambuco.
Desde o início desta crise que o homem forte da comunicação do Governo Lula 3, o marqueteiro Sidônio Palmeira, está no olho do furacão, tentando minimizar os danos da crise para a imagem do Governo. Salvo melhor juízo, participou, inclusive, de reuniões nevrálgicas após os fatos, que culminaram, com a tomada de decisões radicais, como o afastamento de servidores do órgãos. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira tratando deste assunto, praticamente interditou as narrativas adotadas pelo Governo para se contrapor à avalanche de indignações que se apossou da sociedade brasileira diante deste fato. André Janones publicou um vídeo nos mesmos moldes, mas bem aquém do alcance obtido pelo vídeo protagonizado por Nikolas Ferreira.
Análise apontam que o Governo teria perdido essa guerra de narrativas, com consequência que se refletiram sobre a popularidade que já não ia muito bem. Agora, diante da inevitabilidade de instauração de uma CPMI, próceres integrantes do Governo repetem uma narrativa igualmente estranha. Jaques Wagner, que já havia dito que a crise estava encerrada, antes mesmo de ressarcir os aposentados e pensionistas lesados, agora afirma que só faz sentido uma CPMI se for para investigar o Governo Bolsonaro. É preciso investigar todos os governos, senhor Jaques Wagner, inclusive o do PT. Se essas fraudes começaram em 2016, ainda no Governo Temer, elas só aumentaram exponencialmente desde então, principalmente a partir de 2023. Por outro lado, a Ministra Gleisi Hoffmann, afirmou que uma CPMI neste momento atrapalharia as investigações. Atrapalharia as investigações? Não entendi.
sábado, 17 de maio de 2025
Resenha: Cantos e encantos de Jampa.
Quando retornou ao Brasil, depois de uma temporada de cinco anos de estudos nos Estados e na Europa, o nome do sociólogo Gilberto Freyre esteve relacionado à iniciativas importantíssimas no campo das ideias e, igualmente, no campo da imprensa e editoração. Criou e dirigiu periódicos, a exemplo de A Província, assim como tornou-se introdutor no país dos famosos guias de viagens. Em solo brasileiro, articulou-se com editora para lançar, ao menos cinco deles, projeto que não se materializou dentro da expectativa inicial, tendo sido interrompido com as publicações de um guia prático, histórico e sentimental sobre o Recife e outro sobre a cidade de Olinda. Havia o projeto de outros três, salvo melhor juízo, um sobre Salvador, que Jorge Amado acabou escrevendo, outro sobre o Rio de Janeiro e, finalmente, um sobre a cidade histórica de Outro Preto, em Minas Gerais.
Gilberto também foi pioneiro na publicação dos chamados livros organizados, inaugurado com o lançamento de O Livro do Nordeste, onde diversos artistas, escritores e intelectuais produziram textos sobre a região. Neste livro há uma particularidade igualmente inovadora. A publicação de um poema sob encomenda. Gilberto solicitou o poema ao amigo Manuel Bandeira, que produziu aquele primor de poema é que a Evocação do Recife. Nas nossas conversas com o comendador Arnaldo surgiu a ideia de produzirmos um guia histórico, turístico, sentimental e gastronômico sobre a nossa querida João Pessoa. Arnaldo, ainda nos tempos da juventude, quando estudava jornalismo na capital, conheceu o céu e o inferno da cidade, morando em casas de pensão, matando a fome com caldo de cana e pão doce, naqueles tempos difíceis, antes de se afirmar profissionalmente.
Chegamos a iniciar o projeto, mas a saúde de Arnaldo não permitiu a sua continuidade. Arnaldo hoje vive isolado em sua dacha de Bananeiras, no friozinho gostoso da região do Brejo Paraibano, comendo os camarões pitus frescos de Solânea e cuidando dos jardins de Dona Margarete. Quando a temperatura baixa ao limite máximo, ele bate o telefone para nos embrenharmos nas matas da cercanias à procura de araçás e pitangas. Produzimos uma série de crônicas a partir dessas nossas conversas porque a ideia inicial era mesclar leveza e prazer à leitura do texto, sem ater-se às regras burocráticas dos cânones.
Há histórias engraçadíssimas no livro, como as suas aventuras de juventude na festa da padroeira da cidade; os sábados no Mercado da Torre, num banquete da gastronomia local, acompanhado das melhores cachaças do mundo, as produzidas no Brejo Paraibano; as andanças pelos inferninhos do bairro do Varadouro; as refeições especiais servidas nas pensões aos domingos, que consistiam em k-suco de morango, macarrão e carne de lata Wilson, quando ninguém mais aguentava o cuscuz com ovo dos outros dias da semana. Tratamento vip apenas para os rapazes que prestavam favores sexuais às viúvas dona das pensões. Para esses tinha iogurtes, toddynho e coisas do gênero. Tudo que pudesse deixar os mancebos no "ponto".
Ninguém conhece melhor a cidade de João Pessoa do que Arnaldo. Conhecia cada rua, cada beco, cada viela, cada praça da cidade. Tivemos a oportunidade de constatarmos isso a partir de nossas andanças pela cidade. Arnaldo era também um exímio conhecedor da gastronomia local, sendo capaz de dizer onde seria possível comer o melhor sarapatel, a melhor feijoada além de informar quem as preparava. Se desse na telha de comermos uma costela no bafo, ele nos conduzia ao melhor boteco onde a iguaria era servida. Se alguém estranho punha a mão no preparo, ele apontava a transgressão de longe, informando que sentia a ausência do tempero de Dona Fulana de Tal.
Resolvemos reunir todas essas crônicas em livro, por recomendação do próprio Arnaldo. São textos que trazem informações fora da curva; numa linguagem coloquial, bem-humorada, de leitura agradável; que fecham o circuito de interesses que trazem os turistas à cidade, hoje uma das mais procuradas do mundo para passeios turísticos e até para moradia. Como a cidade está se tornando "pequena" para tanta demanda, há algumas referências ao Litoral Sul, com suas praias belíssimas de Tambaba, Tabatinga, Coqueirinho. Em breve o livro estará disponível para comercialização pela plataforma KDP da Amazon. Vendas antecipadas pelo ZAP (81) 986844557. Muitos pedidos de informações sobre os livros divulgados neste blog, o que agradecemos o interesse de nossos diletos leitores e leitoras. Já publicamos inúmeras resenhas sobre esses livros no blog.
Editorial: "CPI a gente sabe como começa, mas não sabe como termina".
Há dois atores políticos relevantes, ambos já nos deixaram, a quem é atribuída a frase acima: Ulisses Guimarães e o pernambucano Sérgio Guerra. No momento, em relação à instauração da CPMI do INSS, dada como favas contadas, o Governo Lula 3 corre atrás do prejuízo, com o objetivo de minimizar os danos. Havíamos afirmado por aqui, movido pela intuição, que esta CPMI seria inevitável. Agora é o próprio Davi Alcolumbre, Presidente do Senado Federal, que já procurou Gleisi Hoffmann para comunicá-la sobre o assunto. Agora só resta tentar minimizar os danos. Há uma especulação em torno do nome da socialista Tabata Amaral(PSB-SP)para conduzir os trabalhos desta CPMI como relatora.
Os socialistas apoiaram o requerimento da CPMI e a relação com o Governo depende de algumas variáveis, como maior participação na máquina, além de manter Geraldo Alckmin como vice numa eventual chapa de reeleição. Nas atuais circunstâncias, por mais contraditório que possa parecer, acreditamos que seria prudente Lula seguir os conselhos do ex-presidente Michel Temer, que não recomendou uma nova candidatura ao petista. O Governo vem cometendo deslizes primários, como este último na China, que poderia ter sido evitado apenas com o cumprimento do rito protocolar. Encontro reservado é encontro reservado. Entre membros formais de governo. Depois, dissemina-se um cisma, um clima de desconfiança entre os integrantes do núcleo duro, o que não deve ajudar muita coisa, sobretudo navegando-se em mares turbulentos.
É bom que se instaure esta CPMI. É a oportunidade de abrir a caixa-preta do INSS. O problema das fraudes no INSS é um problema estrutural, onde não se pode creditar toda a responsabilidade a este ou aquele governo de turno. É muito grave. A cada nova investigação da Polícia Federal surgem novos mecanismos fraudulentos que estão sendo utilizados por quadrilhas especializados nessas modalidades crimes. São autorizações de descontos indevidos, aposentadorias irregulares e até "fábrica de velhinhos", ou seja, estão criando beneficiários inexistentes, fictícios. Se mexer, e acreditamos que a CPMI possa entrar a fundo nesta questão, possivelmente encontraremos outros expedientes fraudulentos do gênero. Acabamos de publicar esta postagem e descobrimos que a PF está na cidade de Caruaru, cumprindo novos mandados de busca, em razão de novas fraudes aplicadas contra o INSS. Novas aposentadorias "arranjadas" como documentação falsa. A Polícia Federal agora investiga se houve facilitação por parte de algum agente público. Somente numa dessas aposentadorias pagas com retroativo, o rombo ultrapassa os R$ 100 mil reais.
Editorial: A CPMI das fraudes no INSS tornou-se inevitável. Alcolumbre já avisou a Gleisi Hoffmann.
A CPMI do INSS, pelo andar da carruagem política, não tem mais volta. Será instaurada contra a vontade do Planalto, que não a desejava de jeito nenhum, nem para responsabilizar Bolsonaro pelos desmandos no órgão, conforme a narrativa governista. Parece que o "paredão" desta vez será vencido, uma vez que esta CPMI está imbuída de muitos interesses em jogo, bem como por um componente de apelo popular que não poderia ser negligenciado. Até parlamentares do PT estão assinando o requerimento, precedente que pode abrir a porteira de partidos daquele núcleo duro histórico aliado ao partido, uma vez que a "base aliada" já aderiu em peso ao requerimento. A preocupação do Governo neste momento é a contenção de danos, ou seja, criar as condições de composição da CPMI que faculte alguma margem de manobra na condução dos trabalhos.
Soubemos que a deputada federal do PSB, Tabata Amaral, estaria articulando pela indicação da relatoria. Integrantes do Governo Lula 3 estão usando umas expressões curiosas para se referirem aos dissidentes como, por exemplo, "o que vocês estão fazendo aí?", numa referência aos parlamentares do PSB que assinaram o requerimento. Ao que se sabe, o Presidente do Senado Federal já teria comunicado à Ministra da Articulação Política, Gleisi Hoffmann, que a abertura da CPMI para investigar o escândalo do roubo no INSS. A dimensão do problema é gigantesco. O Governo enviou mensagens aos aposentados perguntando sobre se eles haviam detectado irregularidades de descontos indevidos em seus proventos. Deu 98,2% de retorno positivo.
Depois dessa mega operação contra as fraudes no órgão, a PF já desencadeou duas outras operações com a mesma finalidade. Os fraudadores estão fabricando velhinhos em série para recebimento irregulares de benefícios. Situação delicadíssima a da nossa previdência social, acossada, de um lado pela insolvência natural do regime de aposentadorias, e, de outro, por um esquema de fraudes gigantesco, com a possível participação de agentes públicos, como se constatou nesta última operação da PF, onde um servidor de cargo estratégico do órgão poderia estar agindo de forma mancomunada com algumas dessas entidades. O filho dele advogava para uma dessas entidades.
sexta-feira, 16 de maio de 2025
Editorial: Bolsonarismo raiz já considera a alternativa Michelle Bolsonaro.
A revista Veja desta semana traz uma matéria de capa sobre as especulações, no núcleo duro do bolsonarismo, acerca da possibilidade de uma candidatura presidencial da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Michelle é muito resiliente eleitoralmente, mas, por algum motivo, encontra dificuldades de assimilação nas hostes do bolsonarismo raiz, vele dizer entre os familiares e entre o grupo que gravita sob a ascendência direta do ex-presidente Jair Bolsonaro. Neste escopo, entra a liderança de Valdemar da Costa Neto, Presidente Nacional do PL, que afirma, reiteradamente, que quem decide é Bolsonaro. O PL deve tudo a ele. Por bolsonarismo mais radical ou raiz entenda-se esse núcleo de alta linhagem, dirigente, uma vez que os eleitores identificados com o bolsonarismo não teriam qualquer dificuldade em sufragar o nome de Michelle Bolsonaro, conforme evidenciam as inúmeras pesquisas de intenção de voto realizadas até este momento.
O PL, talvez mesmo por injunção deste problema, é um dos poucos grêmios partidários que não está se movimentando em torno de uma fusão ou federalização. O próprio Gilberto Kassab, hoje um dos atores mais inteirados sobre o cenário político nacional, acredita que as forças do campo conservador poderão construir duas alternativas de candidatura. Uma a partir deste conjunto de forças, talvez encetada, quem sabe, pelo Movimento Brasil, de Michel Temer, e outra pelo PL. O PL já andava de conversações com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mas o capitão é irredutível. Só há uma alternativa de direita: Ele mesmo ...ou talvez Michelle, para ficar em família.
Essas especulações em torno de uma candidatura da ex-primeira-dama surge exatamente num momento em que a mídia passa a dar publicidade a eventuais áudios atribuídos ao ex-Ajudante de Ordens, Mauro Cid, onde ocorrem algumas indiscrições. Caso as especulações tomem contornos de confirmações, Michelle Bolsonaro abdicaria de uma candidatura ao Senado Federal pelo Distrito Federal. Segundo se especula, ela poderia escolher o estado por onde deseja ser eleita senadora da República. Seria o certo pelo duvidoso, a despeito de sua condição confortável nas pesquisas de intenções de voto.
Editorial: Novas revelações sobre a tentativa de golpe de Estado.
Talvez nunca chegaremos a conhecer todos os detalhes da trama que envolveu a tentativa de golpe de Estado do 08 de janeiro. Quem sabe no futuro algum réu confesso escreva algum livro revelando todas as nuances daqueles acontecimentos. Por enquanto, ninguém assume a condição de golpista. Até recentemente, jornalistas do UOL Prime, esmiuçaram todos os diálogos e mensagens encontrados no celular do ex-Ajudante de Ordens da Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid. Seria um material que, em princípio, não estaria no escopo do material que hoje subsidia as investigações da Polícia Federal e integra o inquérito que envolve os artífices da tentativa de golpe no país.
Tiveram a paciência de ouvir milhares de mensagens tratando de amenidades até encontrar algum mensagem que pudesse estabelecer alguma relação com aqueles acontecimentos. Hoje, 16, temos a notícia de que o agente da Polícia Federal que estava infiltrado entre os alvos golpistas - pois fazia a segurança do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva - acrescenta mais informações sobre a trama, a partir do que a Polícia Federal encontrou depois de periciar o seu aparelho celular. O circuito vai se fechando contra aqueles que tramaram contra as nossas instituições democráticas e é bom que seja assim. Os diálogos evidenciam que o agente ficou decepcionado com a falta de atitude do capitão e fez ameaças veladas a um ministro da Suprema Corte. Os diálogos indiscretos não vamos repetir por aqui, pois os leitores sabem bom do que esses golpistas são capazes. No Chile, esmagaram as mãos de Victor Jara a coronhadas e depois o mataram, desferindo contra ele 42 disparos. Com essa gente não se brinca.
Até agosto estima-se que o STF conclua alguns desses inquéritos, determinando as penalidades aos envolvidos, caso sejam condenados. O ex-presidente Jair Bolsonaro está completamente enredado, mas continua alimentando algumas expectativas positivas, sabe-se lá baseado em que. Talvez esteja faltando, como alguém sugeriu, um ator político de seu staff mais próximo com a franqueza suficiente para informá-lo sobre a real situação em que ele se encontra. Não será candidato e a condenação em relação ao inquérito que responde no STF é quase certa.
Editorial: O embate duro do Ministro Wolney Queiroz no Senado Federal.
O Ministro da Previdência Social, o pernambucano Wolney Queiroz, teve um dia difícil ontem, por ocasião de sua audiência no Senado Federal. Não se esperava outra coisa, diante do climão de animosidade entre Governo e Oposição envolvendo o recente escândalo de fraudes no INSS. Senadores como Eduardo Girão e Sérgio Moro foram duros em suas intervenções, exigindo a habilidade do ministro para se explicar diante da responsabilização do Governo Lula 3 pelo ocorrido, consoante as ponderações dos senadores. Enquanto o Ministro prestava esclarecimentos aos senadores e à sociedade, a PF investia contra novos fraudadores em cidades de Alagoas e Pernambuco, no curso da operação Fraud, onde quadrilhas estavam fabricando velhinhos para receberem os benefícios.
Suspeita-se que expedientes do gênero possam ter sido utilizados na mega fraude que está em investigação, mas a Operação Fraud é algo a parte. Os problemas de fraudes no órgão são cabeludos. Estávamos lendo uma matéria sobre o famoso déficit previdenciário, que ocorre quando a população jovem empregada já não consegue, com suas contribuição ao sistema, cobrir o pagamento daqueles que já se aposentaram. Criar embaraços para dificultar ao máximo a concessão dessas aposentadores tem sido a tônica das reformas previdenciárias. Quando a este problema se junta as recorrentes fraudes, estamos diante de uma equação explosiva.
A CPMI ganha fôlego no Congresso, mas existe sempre aquelas manobras políticas que podem brindar determinadas linhas investigações, como a nomeação de atores identificados com este ou aquele grupo de trabalho. Se a Presidência ou a Relatoria cair em mãos erradas podem determinar todo o andamento dos trabalhos, como geralmente ocorre. A próxima semana será decisiva para a eventual CPMI, uma vez que o Presidente Davi Alcolumbre terá que se posicionar sobre o assunto. Muita expectativa em torno do assunto.
quinta-feira, 15 de maio de 2025
Editorial: A "fábrica" de velhinhos para fraudar o INSS.
Muita chuva em toda a faixa litorânea do Nordeste, mas, nem assim, a Polícia Federal deixou de cumprir suas funções de polícia de Estado, desencadeando hoje, 15, mais uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão contra mais uma quadrilha de fraudadores do INSS, desta vez nas cidades de Mata Grande(AL) e Tupanatinga(PE). No curso das investigações sobre a grande fraude do INSS, este expediente já teria sido aventado pela PF. Neste caso, trata-se de uma verdadeira "fábrica" de velhinhos inexistentes, habilitados fraudulentamente para receberem benefícios. A cada nova operação da PF percebe-se a dimensão do problema das fraudes no órgão, suscitando todos os esforços no sentido de se aprofundar sobre o assunto, recorrendo-se a todos os expedientes possíveis, inclusive uma CPMI.
Não dá para dizer que esta crise foi encerrada com o afastamento do Ministro Carlos Lupi, tampouco com a nomeação de um outro presidente do INSS. E, por falar em INSS, quem esteve hoje no Senado Federal, para ser ouvido em comissão, foi o atual Ministro Wolney Queiroz. Não tivemos a oportunidade de acompanhar, em virtude de problemas com sinal da internet. Mas já está agendado. Comenta-se que houve um ligeiro desentendimento entre ele e o senador Sérgio Moro, que, quando ocupava a pasta da Justiça, ainda no Governo Bolsonaro, teria recebido informe de um servidor de carreira do órgão (salve os servidores de carreira) sobre eventuais irregularidades na concessão dos descontos.
O fato de se mostrar reticente quanto a abertura de uma CPMI será um fardo muito pesado para o Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre carregar. 51% das assinaturas são de parlamentares da base aliada do Governo Lula 3. Existe aquelas situações de fraudes "orgânicas" ou inevitáveis em qualquer sistema. Sabe-se, por exemplo, que em 2023 teria sido constatado o número de 1.400 aposentadorias que estariam sendo pagas, mesmo quando os beneficiários já teriam morrido. Estaria dentro da margem de erro num sistema gigantesco como o do INSS, que movimenta bilhões. Desta vez, no entanto, os fraudadores fizeram a festa.
Editorial: Tucanos também desejam federalizarem-se.
Já discutimos por aqui as reais motivações dessa onde de federalizações dos diversos grêmios partidários brasileiros. Acordos celebrados no plano nacional estão produzindo grandes ruídos nas quadras estaduais, sobretudo em relação ao comando do espólio formado a partir dessas federações. Em Pernambuco, por exemplo, a confusão é generalizada. No que concerne à fusão do Podemos com o PSDB, por exemplo, temos a seguinte situação: o Podemos já integra o Governo de Raquel Lyra, ex-PSDB, enquanto o PSDB é comandado por um desafeto do Palácio do Campo das Princesas. Pelo andar da carruagem política, vem mais confusão por aí, uma vez que ouvimos recentemente o Presidente Nacional do PSDB, Marconi Perillo, afirmar que, logo após concretizada a fusão com o Podemos, ele deseja iniciar negociações no sentido de se integrar à federação entre o MDB e os Republicanos.
A grande motivação é realmente os bilhões do Fundo Eleitoral, aliada ao projeto de poder, duas variáveis bastante convergentes, aliás. Segundo consta, o PSD também estaria entre os partidos que articulariam essa nova federação. Em todo caso, hoje, onde tem movimentações em torno do poder, Gilberto Kassab está dentro. Pilotando o PSD, articulado com o Governo Lula 3 e a Oposição, Kassab é hoje um dos atores mais estratégicos no contexto das eleições presidenciais de 2026. Ele hoje tem, ao menos, três nomes ao pleito: Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e, mais recentemente, Eduardo Leite. O PSD integra o Governo Lula, mas tem enfatizado que não estará com ele em 2026.
Ao fim e ao cabo, galvanizando todo esse processo, sempre ele, Michel Temer, do MDB, com seu Movimento Brasil, com argamassa suficiente para unir Deus e o Diabo pelo poder. Poucos dias atrás publicamos um texto por aqui onde enfatizamos a alavancagem que o Movimento Brasil vem obtendo junto a setores da mídia conservadora, de partidos políticos e de peças decisivas do pleito de 2026, a exemplo do próprio Gilberto Kassab. Há uma trinca de atores políticos que decidirão o pleito presidencial de 2026. Dois foram citados nesta postagem. O terceiro deixamos para as especulações dos leitores.
Editorial: O menu indigesto da política brasileira.
Não vamos aqui revelar quem vazou os diálogos indiscretos com o Xi Jinping, mas também temos as nossas suspeitas. O que preocupa mesmo é este cardápio indigesto da política brasileira, com ingredientes de intrigas palacianas, derrapadas diplomáticas e novas denúncias de eventuais corrupção na máquina pública. Tá feia a coisa, quando acordamos pela manhã com essas notícias ocupando as primeiras páginas dos jornais e, possivelmente, inspirando nossos chargistas. São erros em sequência que não poderiam dar um outro resultado que não este. No início de 2023 uma repórter fez algumas considerações acerca de como deveria ser o comportamento litúrgico de uma primeira-dama. A repórter foi literalmente linchada nas redes sociais. A esta altura, Sérgio Buarque de Holanda deve estar se revirando em sua tumba, tentando comunicar que havia advertido sobre este fato.
O encontro de onde teria vazado informações indiscretas acerca de considerações sobre a atuação da rede TikTok no país, em tese, tratou-se de um encontro reservado. Se a liturgia fosse obedecida, não teríamos porque estarmos "debatendo" esses eventuais vazamentos, alimentando as intrigas palacianas. São projetos pessoais, conduzidos por cálculos personalistas, que estão assanhado essas intrigas, o que sugere concluirmos que não é nada consistente, embora os prejuízos, como se observa, sejam bastante evidentes. A despeito dos esforços empreendidos pela SECOM para mudar esta realidade, se seguirmos neste diapasão, não há estratégia de comunicação que surta os efeitos positivos esperados.
Ainda não saiu nenhuma nova pesquisa de avaliação do Governo Lula 3 depois que estourou o escândalo das fraudes do INSS, mas, segundo se informa, o Governo teria pesquisas internas indicando as ranhuras de imagem. Os levantamentos da repercussão deste fato nas redes sociais indicam que a estratégia governista de adotar uma narrativa que responsabiliza os governos anteriores sobre o ocorrido no INSS não deu resultado positivo e, pelo andar da carruagem política, não há como Davi Alcolumbre possa segurar a onda positiva pela criação de uma CPMI d0 INSS. O ônus a ser pago será muito pesado entre seus pares.
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Drops Político: Obrigado, Singapura.
Não temos um estudo mais aprofundado sobre este blog, o que significa dizer que não temos um guia que nos oriente no sentido de adequar os assuntos tratados aqui consoante o interesse do público. Temos algumas intuições que se mostram pontualmente acertadas, mas nada com muita precisão. A questão das zonas geográficas de acesso se constituem num outro problema, uma vez que os escores de acessos de determinados países são muito variáveis. No geral, o Contexto Político está consolidado em países como os EUA, o Canadá, o Brasil, a Alemanha e Países Baixos. Não temos muita penetração na América Central, tampouco no continente Africano. Na Ásia vamos bem, principalmente na Cidade-Estado de Singapura. Singapura tem dado um apoio efetivo ao blog, seja em termos de acessibilidade, seja no que concerne à leitura de nossos livros, conforme os relatórios recebidos. Só temos a agradecer. Muito obrigado, Singapura. Vejam o relatório do dia de hoje.
Editorial: Justiça decide que grupo empresarial de Natal é o dono do Hotel Tambaú.
Crédito da Foto: Clilson Junior. |
O magnífico Hotel Tambaú, em João Pessoa, está fechado há muitos anos, provocando alguns problemas até de saúde pública para a população da cidade. Suas piscinas viraram criatórios para o mosquito da dengue. Suas imediações degradadas, locais para consumo de drogas e encontros sexuais. Para os turistas que visitam a cidade, uma grande decepção. Um monstrengo encravado na cidade que hoje atrai turistas do mundo todo, tornando-se um dos destinos mais procurados do mundo. Concebido pelo arquiteto Sérgio Bermudes, ainda na década de 70, O Hotel Tambaú era um atrativo em si mesmo. O equipamento, além dos 172 apartamentos de frente para mar, dispõe de áreas de lazer, lojas, restaurantes, bar, auditório, galeria de exposições. Um colosso.
Movido pelo reclame da população, o poder público já havia se manifestado sobre o assunto, tudo no afã de intervir no sentido de retomar as atividades do equipamento. No dia 12, o STJ determinou que o hotel pertence ao grupo AG Hotéis, de Natal, hoje administrado pelo empresário Rui Gaspar. O hotel foi arrematado pelo valor de R$ 40,6 milhões. Ele já anunciou que pretende restaurar o equipamento em 2026, devolvendo-o às suas atividades, com a ampliação das acomodações e outras intervenções. É uma boa notícia. As imediações do Largo da Gameleira, o aprazível Largo da Gameleira, deverá voltar ao que era antes, com a retomada das atividades do hotel.
O fechamento daquele equipamento produz um grande desconforto aos turistas que visitam a cidade de João Pessoa. Batido o martelo da justiça, a torcida agora é que, finalmente, as obras de restauração sejam indiciadas imediatamente. Chegaram a colocar os tapumes, isolar a área, mas tudo continuou como estava antes. Outro dia líamos uma matéria sobre a ausência de cuidados maiores com o Largo da Gameleira, point das famílias do bairro de Tambaú e Manaíra, que se reúnem por ali, nos finais de tarde, para tomarem um sorvete na Friberg.
Editorial: 259 parlamentares já assinaram a proposta de CPMI do INSS.
O documento que propõe uma CPMI sobre o INSS já conta com 259 assinaturas de parlamentares, 51% de deputados e senadores da base governista. São 223 deputados e 36 senadores. Como as animosidades entre os Três Poderes da República são evidentes, a mídia repercute bastante uma "reação" do Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, questionado a decisão da Corte sobre o pedido de encerramento das ações contra o deputado Alexandre Ramagem, em julgamento no STF. Além dos questionamentos, Hugo Motta solicita que a resolução da Câmara seja avaliado pelo pleno da Suprema Corte. É possível antecipar qual seria o desfecho dessa reação, mas, enfim, uma reação é uma reação, sobretudo num contexto de aparente desequilíbrio de forças. Serve para dar uma satisfação aos pares.
Daqui a duas semanas, o Presidente do Senado Federal, David Alcolumbre, terá um teste de fogo. Apreciar o pedido de uma CPMI sobre as fraudes no INSS. O pedido é robusto, o clima popular é de grande comoção, o que implicará num custo muito alto ao presidente da Casa Alta se contrapor ao pleito, a despeito do bom trânsito de Alcolumbre junto a um Executivo que não deseja a instalação desta CPMI. Mesmo com a eventual resistência de David Alcolumbre, sob os argumentos rotineiros da "fila de espera", a pressão dos parlamentares será grande. Nossa expectativa é que a CPMI seja aprovada, permitindo aos brasileiros e brasileiras tomarem conhecimento das nuances da engrenagem de ladroagem perversa que penalizou milhões de aposentados e pensionistas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do país.
A cada dia surge uma nova suspeita da Polícia Federal sobre o assunto. Polícia Federal, que, aliás, vem realizando um excelente e exaustivo trabalho de investigação sobre o caso. Curioso um líder do Governo afirmar que a crise foi extinta, quando estamos no olho do furação. Ontem, 13, foi divulgado uma espécie de mapeamento dos locais com o montante das fraudes ocorridas, notadamente em cidades de estados como o Maranhão e o Piauí, onde se concentraram a maior parte dessas fraudes. Não há dúvidas que teremos mais novidades por aí e a abertura da caixa-preta numa CPMI ajudaria bastante esses esclarecimentos.
terça-feira, 13 de maio de 2025
Editorial: A autopsia do escândalo do INSS.
Não sabemos o número exato de agentes públicos da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União envolvidos nas investigações das fraudes do INSS, mas sugere-se que possa se tratar de um número ainda insuficiente para esmiuçar toda a complexidade do problema, trazendo a público dados precisos, uma autopsia dos crimes cometidos, ajustando as provas e remetendo à justiça os elementos que impliquem na posterior punição dos responsáveis. Há de se reconhecer aqui o empenho abnegado dessas duas instituições de Estado na realização das investigações envolvendo esta fraude. Ainda ontem, 12, andou circulando um vídeo - não se sabe se verdadeiro ou montagem - onde o "careca" do INSS aparece na garupa de uma moto, acompanhando o ex-presidente Bolsonaro numa dessas motociatas. Falso ou verdadeiro, casa-se com a narrativa que uma das partes está construindo sobre essas fraudes.
O montante de mais de R$292 milhões serão devolvidos aos pensionistas e aposentados lesados numa primeira etapa, conforme comunicado do novo presidente do órgão, Gilberto Waller Júnior. Ainda há muitas polêmicas acerca dos mecanismos que serão utilizados para este ressarcimento, como o aplicativo Meu INSS, que deverá ser acessado pelo beneficiário, para seguir as orientações e habilitar-se a receber o montante descontado irregularmente de suas aposentadorias e pensões. Na realidade, estamos longe de construirmos algum consenso entre os órgãos do Governo em relação a este assunto.
No momento em que o governo sinaliza para a utilização do aplicativo, talvez como forma de precaver-se sobre novos "ruídos", a CGU anuncia que a maior parte dessas fraudes ocorreram no Nordeste, em estados como Piauí e Maranhão, dois estados com os piores Índice de Desenvolvimento Humano do país. São pessoas simples, humildes, deficientes, de pouco ou nenhuma instrução, ainda na era analógica, indicando que os ladrões do erário parecem ter escolhido a dedo suas vítimas, ampliando o grau da maldade produzida. As cidades onde ocorreram fraudes em número mais elevados são Ribeiro Gonçalves, No Piauí, Vertente do Lério, em Pernambuco, e Altamira, no Maranhão. Curiosamente Vertente do Lério, em Pernambuco, aparece em segundo lugar na lista, mas é circunstancial. Os estados mais atingidos foram mesmo o Maranhão e o Piauí.
Editorial: O plano para assassinar "Juca".
Crédito da Foto: Poder360 |
Nesses momentos de turbulência que o país atravessa, é sempre bom ouvirmos posições equilibradas das instituições da República. Matéria da Folha de São Paulo do dia de hoje, 13, faz considerações ao posicionamento da cúpula das Forças Armadas em relação à aplicação das penalidades previstas aos militares envolvidos na tentativa de golpe de Estado. Caso isso não ocorra, como sugere-se, afinal, que seja o grande objetivo do PL da Anistia, estimularia a insubordinação na tropa na avaliação dos militares legalistas, moderados e constitucionalista. Não há dúvidas de que, com tal desfecho, haveria uma espécie de "banalização" de golpes de Estado. Embora considere avaliar a dosimetria das penas aplicadas aos envolvidos nos atos do 08 de janeiro especificamente - mesmo entendendo que se tratou de uma etapa da tessitura golpista - O STF, pelo andar da carruagem política, não será complacente com aqueles atores que estiveram no epicentro do planejamento e execuções relacionadas a mais uma tentativa de golpe de Estado no país. Felizmente fracassada.
E, por falar em golpe de Estado, a Folha também informa que se descobriu que no curso da operação Punhal Verde e Amarelo, onde estava prevista a eliminação física de membros do Executivo e do STF, a lista também incluía um codinome de "Juca", que, segundo presume-se, seria o ex-Ministro da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu. Curioso que a informação é recente. Em princípio, os nomes divulgados seriam o do presidente Lula, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Isso é muito sério e a nossa modesta conclusão é a de que o presidente Lula não reuniu as condições institucionais suficientes para adoção das medidas saneadoras que se faziam necessárias em órgãos militares, de segurança e inteligência de Estado. O caso da ABIN paralela é emblemático.
Neste momento, o ex-Ministro José Dirceu ensaia uma volta à ribalda, onde se projeta até mesmo uma candidatura a deputado federal por São Paulo. Apesar da "hibernação" a que se submeteu por um longo período, continua azeitado politicamente. Recentemente comemorou seu aniversário em Brasília em grande estilo, com convidados das mais diversas tribos políticas da capital federal. Advogados dos militares envolvidos nas tessituras da Operação Punhal Verde e Amarelo, que a Folha tentou ouvir, não quiseram se pronunciar sobre o assunto.
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Editorial: "Devo não nego, pago quando puder". Nem por isso vou perder a popularidade?
Crédito da Foto: Acervo da Fundação Joaquim Nabuco. |
Filho de família tradicional da aristocracia canavieira do estado da Paraíba, o escritor José Lins do Rego, eventualmente, socorria os amigos, quando esses enfrentavam alguma dificuldade financeira. Foi assim com o escritor Graciliano Ramos, que ficou desempregado logo após amargar uma prisão durante a ditadura do Estado Novo. O velho Graça sobreviveu no período escrevendo contos para uma publicação argentina, participando de concursos literários organizados pelo Governo Federal e publicando textos em jornais. O seu livro mais conhecido, Vidas Secas, foi publicado desta maneira, capítulo por capítulo, o que levou alguns críticos a questionarem a sua "unidade" narrativa. Mais isso é uma outra discussão.
José Lins trocou inúmeras cartas com o sociólogo Gilberto Freyre. Em algumas delas, Freyre também se queixa ao amigo de suas dificuldades econômicas, mas não podemos afirmar se o paraibano o socorreu nessas dificuldades. É atribuída a José Lins a expressão: "Devo não nego, pago quando puder. Nem por isso vou perder o sono." Chegamos a confirmar essa expressão num texto biográfico sobre o autor de Menino de Engenho, que, entre outros textos do autor, embalou nossas leituras de adolescência. Odilon Ribeiro Coutinho, que ajudou financeiramente a campanha de Gilberto a deputado federal, num texto publicado pelo revista Ciência & Trópico, descreve magnificamente aquele ambiente do viço da cana-de-açúcar que nos levaram a ler, reiterados vezes, os seus principais romances, aqueles que tratam deste ciclo. A moenda literária de José Lins do Rego só funcionava bem, segundo Manuel Bandeira, nos romances da cana-de-açúcar.
Fizemos esta introdução para discutirmos o enredo complicado em que o Governo Lula 3 tenta se explicar sobre as fraudes recentes ocorridas no INSS, assim como no que diz respeito aos procedimentos de devolução dos descontos indevidos aos aposentados e pensionistas. Antes afirmaram que os recursos seriam depositados naturalmente nas contas dos aposentados. Agora já informam que as agências dos Correios poderiam serem utilizadas com esta finalidade, num momento em que a estatal está enredada em problemas, como a recente operação de fraudes cometidas por funcionários do órgão que, segundo investigações da Polícia Federal, supostamente, operavam um esquema onde encomendas eram despachadas e os recursos apropriados indevidamente. É de perder o sono, contrariamente ao que dizia Zé Lins. De onde virá os recursos? Do tesouro? Das entidades beneficiadas irregularmente, quando se sabe que será uma tarefa extremamente complicada reaver tais recursos? Independentemente da origem dessas falcatruas, caiu uma bomba no colo do Governo, que ainda não se refez dos danos produzidos. Encontra-se atordoado. Penso que ainda podemos dizer isso por aqui. Agora ficamos sabendo que há um movimento para barrar na Justiça o vídeo do deputado Nikolas Ferreira tratando deste assunto, que viralizou nas redes sociais. Depois de 130 milhões de visualizações?
Editorial: Mesmo inelegível, Bolsonaro se preocupa com as movimentações de Temer.
Acordamos hoje com as avalições sobre o aumento expressivo do preço do nosso cafezinho este ano. Neste ritmo, fica difícil fazer o blog ao lado da tradicional xícara de café com canela. Não há prenúncio de que o preço de alguns produtos possam ceder, tampouco os índices inflacionários, de acordo com as autoridades monetárias. As previsões acerca do assunto são pessimistas. Ontem, 11, comentávamos por aqui acerca das movimentações do ex-presidente Michel Temer no sentido de construir uma candidatura de centro-direita, a partir da impossibilidade de uma candidatura de Jair Bolsonaro, assim como diante das dificuldades e desgaste do Governo Lula 3. O curioso é que, embora desaconselhem essas movimentações, os próprios bolsonaristas convergem para o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, assim como o Movimento Brasil, liderado pelo ex-presidente Michel Temer.
Tarcísio de Freitas está galvanizando a alternativa de centro-direita, o que significa dizer que, apesar do esboço de resistência, se nada mudar em relação à inelegibilidade de Bolsonaro, o próprio PL pode encampar o projeto Tarcísio. Aliás, além dos elogios, dirigentes da legenda sondam a possibilidade de filiá-lo ao partido. O Republicanos está em vias de efetivar uma federação com o MDB. Em princípio, o PSD de Gilberto Kassab também estaria nas negociações. Talvez o que esteja incomodando mesmo os bolsonaristas raízes seja este protagonismo assumido por Michel Temer. São cinco governadores de centro-direita que estão no radar de Temer. Todos eles com pretensão de pré-candidaturas. Não vejo como possa ser ungido alguém de fora desse grupo, que já conta com o apoio da mídia conservadora e da Faria Lima. Michel Temer não brinca em serviço. Desde as últimas eleições municipais que ele vem coxeando o alambrado, como diria o Leonel de Moura Brizola.
Perguntado de poderia ser ele mesmo o escolhido, Temer argumenta que não tem mais disposição. Quem não deve estar gostando mesmo dessas movimentações é o PT, a partir da experiência com a ex-presidente Dilma Rousseff. A construção de consensos entre os grupos conservadores são mais simples. O complicado mesmo seria as movimentações em torno de construção de uma alternativa de centro-esquerda, em razão das enormes adversidades que o PT enfrenta neste momento. Dificuldades econômicas e novos escândalos de corrupção não alavancam candidatura de ninguém.