pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Marcelo Manzano: Os estragos no corpo e alma do PT

publicado em 9 de fevereiro de 2015 às 11:42
Posse da Dilma
09/02/2015 08:01
O PT e o mar
por Marcelo Manzano*, no Brasil Debate
Assim como os ataques dos tubarões estraçalharam o peixe de Santiago, o pescador protagonista do livro “O velho e o mar”, de E. Hemingway, o exercício do poder produziu estragos irreparáveis sobre o corpo e a alma do PT. Mas será que ele caminha para o seu fim?
Desde que Lula assumiu o mais alto cargo político do Brasil em 2003, são incontáveis as manifestações anunciando o fim do Partido dos Trabalhadores. O primeiro ato dessa procissão talvez tenha sido protagonizado pela turma que migrou para o PSOL.
O saudoso Plínio de Arruda Sampaio, em “entrevista explosiva” à revista Caros Amigos de maio de 2005, já tratava de jogar luz sobre a “crise terminal” do PT. De lá para cá, a despeito de o PT ter realizado uma transformação social sem precedentes no País e ter conseguido vencer mais três eleições seguidas para a Presidência, a obsessão com o fim do PT só faz crescer.
E tem pra todo gosto. Da extrema esquerda ao Instituto Millenium, de petistas históricos a jejunos, de sindicalistas a ilustres acadêmicos, fervilham palpites e maus agouros a respeito do tempo de vida do partido.
Entre os argumentos, o mais frequente, espécie de denominador comum entre todos os críticos – inclusive dentro do partido – é o de que “o PT já não é mais aquele”. Já não teria o vigor nem a ousadia que tão bem empunhou na campanha das Diretas, no inesquecível processo eleitoral de 1989, na defesa intransigente de utopias de um difuso socialismo democrático.
Será? De fato, o desgaste que o PT vem sofrendo lhe tira o lustro e traz dúvidas quanto à sua capacidade de continuar avançando como partido. Talvez tenha cometido erros que transformem a sigla em um fardo excessivamente pesado para se carregar nos próximos pleitos eleitorais. O tempo dirá.
Entretanto, é preciso tomar cuidado e separar a análise da viabilidade política da sigla nas próximas eleições da análise do significado da experiência do PT como vetor de um projeto de esquerda para o País.
Tal qual o velho pescador Santiago, protagonista do livro “O velho e o mar” de E. Hemingway, o PT se aventurou pelo mar bravo do sistema eleitoral brasileiro e, em busca de realizar seu sonho de longa data – a construção de um país mais justo, soberano e igualitário – fisgou o seu Marlin-azul: a Presidência do País.
Peixe grande, canoa pequena, a viagem desde então se transformou em intensa luta pela sobrevivência e trouxe à tona as ameaças inescapáveis que recaem sobre aqueles que ambicionam avançar para além da linha do horizonte. Assim como os ataques dos tubarões estraçalharam o peixe do valente Santiago, o exercício do poder produziu estragos irreparáveis sobre o corpo e a alma do PT.
Mas, quando finalmente é avistado da costa, o peixe está lá, estampado na canoa do velho: na forma de um esqueleto enorme, a lição de que parte do sonho era inalcançável, mas também que o cerne de osso, esticado de uma extremidade à outra, é a peça de resistência que dá sentido à luta.
O PT errou, muito – como, aliás, erraram todos os outros partidos de esquerda ao redor desse mundão capitalista em que estamos metidos. Mas errou não porque abriu mão dos sonhos de outrora. Errou principalmente por ter acreditado ser possível, a um só tempo, jogar o jogo sujo do sistema eleitoral brasileiro, enfrentar os interesses rentistas que há tantas décadas nos governam e garantir os avanços das instituições republicanas que emergiram com a Constituição de 1988. A equação não fecha.
Contudo, a despeito de ter sido seriamente avariado no percurso, há motivos para dizer que o PT de hoje, talvez apenas uma carcaça do vigoroso partido dos anos oitenta, é melhor do que aquele.
O PT sabe hoje que não se constrói um país com arroubos voluntaristas, com uma cesta de boas causas, com um catado de princípios valorosos. O PT – e parte importante da esquerda brasileira – aprendeu na marra que não se consegue avançar em um país capitalista da periferia se não houver um Estado que seja o protagonista do desenvolvimento econômico, isto é, que lidere a acumulação capitalista e, ao mesmo tempo, imponha limites aos interesses privatistas.
Aliás, vale recordar, o PT dos oitenta, das “Diretas Já”, da encantadora melodia do “Lula-lá”, dava de ombros para o tema do “desenvolvimento” – olhava torto, por exemplo, para debates sobre os rumos da nossa indústria, desconfiava dos empréstimos subsidiados do BNDES ao capital e acendia velas para a austeridade fiscal.
Com a estrela na testa, restringia-se à defesa valorosa dos direitos dos trabalhadores, dos sem terra, das minorias e dos desvalidos. Aquele PT foi, sim, fundamental no processo constituinte e na sua longa jornada regulatória: mas às bandeiras meritórias de então foi acrescido o cerne, o eixo estruturante que até 2003 passava ao largo do ideário petista.
Hoje, graças ao choque de realidade de ser governo, tanto o PT quanto a esquerda brasileira estão em outro patamar. Graças às contradições enfrentadas pelos governos de Lula e Dilma, sabe-se, por exemplo, como a defesa dos empregos e dos salários, exige uma musculatura do Estado e de outras instituições públicas que vai muito além da intransigente defesa dos direitos da pessoa humana ou da inocente prática do orçamento participativo.
Dizem os críticos – externos e internos – que o PT, na medida em que galgou a hierarquia política do País, permitiu-se enrijecer; que seus quadros se encantaram com os vícios do poder e da grana; enfim, que o projeto de transformação social do País foi reduzido a um projeto de poder.
Sim, em parte isso de fato aconteceu – o que não é novidade alguma em se tratando de seres humanos, sejam eles franceses, japoneses ou menonitas. Mas é verdade também que muito se fez para avançar no sentido do pleno emprego e da melhora sistemática da renda dos assalariados e dos mais pobres. Isso foi conquistado – e não é pouco: basta olhar ao redor do planeta.
Em última instância, portanto, esse é o esqueleto que mantivemos preso ao barco, e é ele que nos permite perceber, por um lado, o quão pouco sabíamos antes de nos lançarmos ao mar e, por outro, o quanto tivemos que enfrentar para conquistar avanços civilizatórios fundamentais para o povo deste País.

*É economista, Pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho e Professor de Economia da Faculdades de Campinas – Facamp

(Publicado originalmente no site Viomundo)

domingo, 8 de fevereiro de 2015

BBB: Decadência da Cultura Brasileira, por Luis Fernando Veríssimo







DECADÊNCIA DA CULTURA BRASILEIRA
VALE MUITO A PENA LER...
Por Luis Fernando Veríssimo 


Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo.
Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros… todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE.
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, Ongs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a “entender o comportamento humano”. Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores).
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa…, ir ao cinema…. , estudar… , ouvir boa música…, cuidar das flores e jardins… , telefonar para um amigo… ,•visitar os avós… , pescar…, brincar com as crianças… , namorar… ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

Segundo testemunha, vítimas da chacina do cabula, na Bahia, estavam desarmadas

Segundo testemunha, vítimas da chacina do Cabula, na Bahia, estavam desarmadas

fevereiro 8, 2015 15:11
Segundo testemunha, vítimas da chacina do Cabula, na Bahia, estavam desarmadas


“Foram muitos, muitos tiros de uma só vez nos rapazes”, diz morador do local onde jovens foram baleados por policiais militares; governador da Bahia afirmou que, por ora, nenhuma medida será tomada, pois não há “indícios que teve atuação fora da lei”
Por Redação
Um morador do bairro Cabula, em Salvador (BA), onde doze jovens foram mortos por policiais militares na madrugada da última sexta-feira (6), afirmou que as vítimas estavam desarmadas e rendidas no momento da execução. O homem, que não quis se identificar, falou ao jornal Correio, da capital baiana.
“Foram muitos, muitos tiros de uma só vez nos rapazes que estavam desarmados”, afirmou. De acordo com ele, os disparos foram feitos em um campo de barro, rodeado por uma mata fechada. Um grupo de rapazes teria descido da viatura já sob a mira das armas dos PMs, e foi colocado de frente para o matagal e de costas para os policiais. “Todos estavam com as mãos para cima, outros com a mão na cabeça. Foi quando um PM obrigou um dos rapazes a sair com eles. Antes, o garoto foi quebrado na porrada”, completou o homem.
“De repente, ouvi rajadas. Me abaixei. Quando ouvi que não tinha mais nada, todos os rapazes estavam no chão”, contou a testemunha. Outros residentes da área confirmam as informações. “Os meninos estavam todos reunidos no campo, quando foram cercados pelas viaturas. Espancaram todos”, relatou uma mulher. “A polícia não tem o direito de fazer o que fez. A polícia é paga para proteger e não matar aleatoriamente”, declarou outra.
Entenda o caso
Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, a ação ocorreu por volta das 4h de sexta-feira, na Estrada das Barreiras. Policiais da Rondesp (Rondas Especiais) teriam recebido a denúncia, vinda do Serviço de Inteligência da polícia, de que um grupo planejava assaltar uma agência bancária na região. Nove agentes, divididos em três viaturas, foram incumbidos de atender à ocorrência. Quando chegaram ao local, teriam encontrado seis homens e uma Saveiro branca próximos à unidade da Caixa Econômica Federal.
A versão da PM é a de que o grupo, ao perceber a chegada das viaturas, disparou em direção a elas. Em resposta, os policiais teriam iniciado o tiroteio. Os homens fugiram e adentraram um matagal, onde se encontravam outros integrantes da quadrilha, em um total de trinta pessoas.
A ação deixou, ao todo, 16 pessoas baleadas. Entre elas, dez chegaram sem vida ao hospital, uma morreu ainda no local do crime e a última faleceu ao entrar no centro cirúrgico. Até o momento, a polícia identificou apenas sete mortos: Adriano Souza Guimarães, de 21 anos; Caíque Basto dos Santos, de 16; Everson Pereira dos Santos, de 26; Bruno Pires do Nascimento, de 19; Ricardo Vilas Boas Sila, de 27; Natanael de Jesus Costa, de 17; e João Luiz Pereira Rodrigues, de 21. Famílias ouvidas pelo jornal Correio no hospital confirmaram também a morte de Vitor Amorim de Araújo e Tiago Gomes das Virgens, ambos de 19 anos. Dos quatro sobreviventes, três permanecem internados e um já recebeu alta e foi detido. Entre os PMs, um sargento foi atingido de raspão na cabeça, mas passa bem.
No Cabula, o clima é de medo. Familiares das vítimas afirmam já sofrer ameaças por parte dos policiais. Há rumores de que alguns deles, à paisana, estiveram presentes no enterro dos rapazes, realizado no último sábado (7).
Resposta do governador: nada será feito por enquanto
Na manhã da sexta-feira, o governador recém-empossado da Bahia, Rui Costa (PT), disse que, a princípio, nenhum dos policiais envolvidos na ação será afastado, já que não há “indícios que teve atuação fora da lei nesse caso”.
Costa comparou a atuação da PM à de um jogador de futebol. “É como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, para fazer o gol. Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado”, declarou. “Nós defendemos, assim como um bom artilheiro, acertar mais do que errar. E vocês terão sempre um governador disposto a não medir esforços, a defender desde o praça ao oficial, a todos que agirem com a energia necessária, mas dentro da lei.”
Em entrevista ao portal da Ponte Jornalismo, Átila Roque, diretor da Anistia Internacional do Brasil, rebateu o governador. “Quando uma operação policial que termina com doze mortos é vista como normal, isso demonstra a falência do sistema de segurança pública”, argumentou. A ONG pediu ao governo da Bahia uma “investigação minuciosa, independente e célere” do caso.
Ainda de acordo com a reportagem da Ponte, o “Reaja ou será mort@”, articulação de movimentos e comunidades de negros e negras da Bahia, também encaminhou à SSP do estado um pedido de reunião com a participação da Anistia Internacional e de Justiça Global até a próxima terça-feira (10).
(Foto de capa: Reprodução/Youtube)
(Publicado originalmente na Revista Fórum)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: 35 anos depois, o PT enfrenta sua pior crise.


Nesses 35 anos do Partido dos Trabalhadores, completados apenas no próximo dia 10 de fevereiro, bem que gostaríamos de estar fazendo aqui outros comentários. A conjuntura política, no entanto, nos coloca na contingência de refletir sobre o impasse em que o partido se envolveu depois de 12 anos no exercício do poder, um período considerado demasiadamente extenso para os setores conservadores da sociedade brasileira. Os avanços sociais obtidas com políticas públicas redistributivas de renda e de corte inclusivos são inegáveis. Nem um outro partido fez tanto pelos estratos mais fragilizados da sociedade brasileira, devolvendo a milhões o direito do exercício da cidadania. Um legado que, certamente, pode estar na raiz do incômodo e da intolerância de nossas elites com o PT, como observava o economista Marcio Pochmann, um pouco antes das eleições presidenciais de 2014. Não se constitui nenhum segredo para ninguém quais os reais objetivos políticos da Operação Lava Jato. Foi urdida nos mínimos detalhes para criar embaraços políticos e jurídicos para atingir o PT e, de quebra, envolver Dilma no enredo, quiçá criando as condições necessárias para que ela não cumpra a totalidade do seu mandato. Infelizmente, os atores que estão por trás desse engendramento estão bastante articulados, ocupando espaços estratégicos, as condições estão "amadurecidas" e o PT demorou a reagir. Quando se estuda um golpe, sempre é importante deter-se nas suas "condições". O aparato político e jurídico parecem estar devidamente armados. Não se sabe como as ruas reagiriam a um pedido de impeachment de Dilma, mas a "opinião pública" vem sendo bombardeada sistematicamente pela "agenda negativa' desse início de Governo, além do clamor popular contra a corrupção -apenas petista - orquestrado pelas organizações do plim plim. Aliás, para ser mais preciso, o segundo mandato de Dilma ainda não ainda começou. Os urubus voando de costa não permitiram. Hoje, depois dos fartos depoimentos obtidos com a delação premiada, parece não restar mais nenhuma dúvida sobre o envolvimento de pessoas ligadas ao partido nos esquemas de corrupção da estatal. Se, por um lado, é verdade que eles estão blindando os tucanos e outras tribos - bem mais enrascados do que o PT - por outro lado, as explicações de João Vaccaria para encontros reservados em hotéis com operadores do esquema atentam contra o bom-senso. Evidente que não se tratavam de encontros sociais, como ele chegou a sugerir. Nessas três décadas de existência, o partido talvez enfrente e o pior momento de sua história. Acuado pela direita, arestado com os movimentos sociais. Como sempre, Lula voltou à boca do palco para indicar os rumos do partido daqui para frente. Vamos torcer que em tempo hábil.

Eduardo Loureiro: Dúvidas profundas sobre o futuro do petismo


publicado em 6 de fevereiro de 2015 às 14:18
dilma1
3 X 5 = 15?
5 de fevereiro de 2015
Por Eduardo Loureiro, no Página 13, via e-mail
Em 2003, Lula assumia a Presidência da República. Juntamente com as expectativas para um governo melhor, vinham os primeiros baldes de água gelada: anúncio da contra-reforma da Previdência, aumento dos juros e do superávit primário – e consequente redução dos níveis de renda e emprego.
Em 2005, houve eleição para Presidente da Câmara. Disputaram Luis Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães, pelo PT; Severino Cavalcanti e Jair Bolsonaro, pelo PP; e Luís Carlos Aleluia, pelo então PFL (atual DEM). A divisão entre as candidaturas petistas foi fatal. O desrespeito de Virgílio Guimarães pela escolha da bancada petista fez com que uma oportunidade para derrotar o governo petista fosse aberta. Severino Cavalcanti, numa aliança entre a oposição e o fisiologismo, foi ao segundo turno contra Greenhalgh e se elegeu presidente da Câmara.
Mais tarde, em junho daquele mesmo ano (a eleição à Câmara ocorrera em fevereiro), Roberto Jefferson denuncia um esquema de caixa 2 de campanha, que ele mesmo batizou de “mensalão”. O resto, é história.
Voltemos aos tempos atuais: em 2015, temos um ministro da Fazenda fiel aos mandamentos macroeconômicos ortodoxos e ao famoso “tripé da estabilidade”: câmbio flutuante, juros altos e superávit primário. Como resultado, aumento de 1,2% do superávit primário – não houve cortes orçamentários no ano passado para pagamentos de juros – e elevação da taxa SELIC em 0,5%.
No último domingo, 1º de fevereiro, o candidato à Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecido por seu fisiologismo e vínculo com o empresariado, foi eleito em primeiro turno, contra Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG). Uma cisão na frágil base – calcada somente no institucionalismo – do governo Dilma II.
Um famoso filósofo prussiano escreveu, certa vez, que a história acontece a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Não sei bem se podemos falar em repetição, uma vez que os problemas citados, em maior e menor grau, são recorrentes nos governos petistas, nos mais diversos níveis, desde 1995. Mas não se pode negar as sinistras semelhanças de 2003 e 2005 com 2015, bem como a imprevisível e explosiva mistura entre desorientação política e economia em compasso recessivo.
Além do mais, é importante ressaltar que a bancada petista de 2015 é menor e menos coesa politicamente que a de 2003 – embora a Reforma da Previdência tenha trazido importantes dissensos entre 2003 e 2005, incluindo diversas desfiliações. Além disso, Eduardo Cunha é mais articulado e possui maior sustentação empresarial que Severino Cavalcanti, e conquista a Presidência da Câmara de maneira mais folgada, na bancada mais reacionária desde 1964.
Também diferente de 2005, o país não apresenta crescimento econômico, tampouco melhora nas condições de emprego e renda da população (mesmo que ainda tímidas se comparadas ao período que se iniciaria em 2007). Além disso, já no começo de 2015, vive bombardeio semelhante da imprensa ao que se viu no processo pós- junho/2005.
Ou altera-se o rumo desta prosa, ou, dificilmente, teremos um desfecho diferente.
Cabe lembrar: em 2005, a militância foi fundamental para evitar que o processo de desgaste levasse Lula ao impeachment ou o PT e partidos aliados à derrota em 2006. A mesma militância que, de forma quase espontânea, elegeu Dilma em 2014, na eleição mais apertada do Brasil depois do fim do regime militar.
Boa parte desta militância já se manifestou profundamente decepcionada com os primeiros atos do governo Dilma, como a nomeação de seu ministério, as retiradas de direitos dos trabalhadores e as medidas econômicas contracionistas, interessantes somente ao mercado financeiro.
Estaria esta mesma militância disposta a receber mais um golpe, em troca de um futuro que se apresenta cada vez mais tenebroso? Ou a decepção – que leva a defecções à esquerda – e o oportunismo – à direita – serão a tônica do petismo daqui por diante?
Eduardo Loureiro é militante do PT e dirigente nacional da Articulação de Esquerda

35 anos do PT: Um bom debate sobre o seu futuro

TARSO GENRO
O "golpismo" midiático substitui, num outro contexto, o velho golpe militar: os militares não estão mais para aventuras contra a democracia. Ele cria instabilidade e quer convencer a classe média, principalmente, que as coisas não se solucionam pelos métodos democráticos. Depois, se conseguirem, ferram imediatamente os próprios setores médios, além dos trabalhadores, para promoverem a "austeridade".
Nenhum golpe melhorou a vida dos setores médios ou dos trabalhadores. Não tem saída que não seja solucionar as crises dentro da democracia. A desmoralização da política e dos partidos ajuda a corrupção: faz decair o debate político e permite que a mídia instrumentalize os controles.
A ação direta de partido contra partido, nos atos partidários, é prenúncio de fascismo. Isso gera violência entre diferentes partidos. Devemos, dirigentes partidários, recomendar contra isso, pois pode fazer desandar a democracia e gerar violência. É isso que o golpismo quer!
Incriminação de grupo político, sem definir responsabilidades e provas de autoria, é nazi-fascismo puro. Lembrem-se de Gushiken, Orlando Silva... É o que a mídia está fazendo de novo. PT deve acessar os processos e verificar provas reais, se existem, contra Vaccari e aí tomar medidas.

LUIZ EDUARDO SOARES.
Nesta sexta-feira, dia 6 de fevereiro, a conjuntura política alcançou o ápice da crise, porque o PT, institucionalmente, definiu como golpe a identificação de vínculo entre o partido e a corrupção na Petrobrás. Assumir esta postura significa situar-se no pólo oposto à investigação dirigida pelo judiciário. A aposta foi radical. Se for confirmado o vínculo, o partido cai inteiro no descrédito e na irreversível desmoralização, atraindo para si a culpa dos operadores e se inviabilizando, politicamente. Por que se ousaria um lance assim arriscado e extremo? Só há uma resposta plausível: as lideranças já conhecem os próximos capítulos do roteiro, já sabem que as relações promíscuas com os atos criminosos exibirão enraizamentos profundos, que comprometerão o conjunto do partido. Por isso, terão percebido que não resta alternativa ao tudo ou nada que adotaram. Só restou ao partido tentar politizar os fatos criminais para vacinar a opinião pública quanto ao que virá. Mas o país não é o mesmo depois do julgamento do mensalão. A velha retórica não funciona. O que pode salvar Dilma --um ministério assombrosamente medíocre e fisiológico, que envergonha o país-- não salvará o PT. E agora, Dilma? Não dá mais pra falar em herança maldita. Estão aí a recessão, a inflação, o desemprego, os cortes nos direitos dos trabalhadores, a crise de energia, e o espetáculo da hipocrisia, da pusilanimidade, da mediocridade. E o (des)governo está só começando. O PT precisa urgentemente de um bode expiatório, um inimigo pra agregar a galera e dar ânimo nesse ambiente decadente e ruinoso. Vai ser difícil colar em Sérgio Moro este papel. Quando se olha pra trás e rememora a campanha repulsiva de Dilma, o estômago embrulha comparando aquela vilania, tantas calúnias e mentiras, com a realidade do que ela faz. Que os deuses da história nos protejam. E São Pedro não nos desampare.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

MEC: A cereja do bolo

Para coroar a indicação de Cid Gomes para o Ministério da Educação somente a agora divulgada nomeação de Manuel Palácios para a Secretaria de Educação Básica do MEC. A nomeação deve ser publicada nos próximos dias no “Diário Oficial” da União. O docente substituirá Maria Beatriz Luce, atual titular da secretaria. A área é responsável pela construção da Base Nacional Comum curricular para a educação básica.
Os reformadores empresariais da educação ocupam, com esta indicação,  mais uma posição no MEC. Além do próprio Cid Gomes, o INEP já era ocupado por um simpatizante desta vertente. Juntos, certamente, levarão adiante a política dos reformadores.
Palácios é graduado em Engenharia de Telecomunicações pelo IME (Instituto Militar de Engenharia), e possui mestrado e doutorado em Ciências Sociais pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio). Sua trajetória acadêmica, no entanto, é focada na área de educação. Seu currículo inclui, por exemplo, pesquisas sobre criação de indicadores de qualidade da educação básica e gestão escolar.
Em 2013, foi orientador de mestrado profissional da atual vice-governadora do Ceará, Izolda Cela (Pros), ex-secretária de Educação do Estado na gestão de Cid Gomes e que também foi Secretária de Educação em Sobral (CE) quando Cid Gomes foi Prefeito.
Manuel é um dos coordenadores gerais do CAED na Universidade Federal de Juiz de Fora, responsável por prestação de serviço na área de avaliação educacional em vários estados e municípios. Tem portanto transito livre na indústria educacional.
Luiz Carlos de Freitas

Impresso em crise: A cabeça da serpente.

IMPRESSOS EM CRISE

A cabeça da serpente

Por Jota Alcides em 03/02/2015 na edição 836
 
A crise dos jornais no mundo inteiro é a pior em mais de 400 anos de história. Grandes e tradicionais jornais, nos países desenvolvidos e nos emergentes, ou estão fechando ou estão sendo vendidos. Causa principal: explosão da internet, já alcançando 3 bilhões (2014) de pessoas no mundo.
Desde a expansão da internet nos anos 1990, a receita dos jornais nos EUA só tem caído. Em 2012 foi a mais baixa dos últimos 50 anos, segundo recente revelação da mídia, 15% mais baixa do que a receita de 1956.
Nem o Japão, sempre apontado como imune à crise dos jornais, escapa. Suas tiragens permanecem enormes – o Yomiuri Shimbun, maior diário japonês, vende 10 milhões de exemplares diários matinais e 3,6 milhões vespertinos (mais do que todos os jornais brasileiros juntos). A circulação no Japão caiu somente 6,3% na última década, ainda pequena se comparada com os 10,6% nos Estados Unidos. Entretanto, os jornais japoneses começam a sentir os efeitos mais fortes da internet na queda de publicidade: faturaram, em 2009, 565,5 bilhões de ienes (US$ 6,2 bilhões), contra 858,4 bilhões de ienes em 1998, segundo a revista britânica The Economist.
Nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na América do Sul o diagnóstico é o mesmo: a internet está derrubando a circulação e a publicidade dos jornais. Com essas duas fontes de receita em queda, agrava-se a crise.
Jovens mais distantes
No Brasil, já se foram, extintos, grandes e tradicionais títulos do mercado impresso:Jornal do BrasilTribuna da ImprensaDiário Popular e Jornal da Tarde. O Globo demitiu mais de 100 profissionais nãos últimos meses, o Estadão está demitindo, o Estado de Minas está demitindo e o Diário de Pernambuco, mais antigo jornal em circulação na América Latina, um patrimônio histórico dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, acaba de ser vendido.
É uma crise tão grave que os donos de jornais no Brasil e no mundo estão atordoados, não sabem o que fazer. Quando a internet explodiu, muitos jornais aproveitaram para fazer marketing de avanço tecnológico. Alguns, como o Jornal do Brasil, chegaram a anunciar orgulhosamente suas edições na internet. Mal sabiam que estavam alimentando uma gigantesca, poderosa e insaciável serpente.
Como agora sabem disso, os jornais da Alemanha fazem alguns ensaios diferentes. Há 30 anos, o diário Abendzeitung, de Munique, tinha 300 mil leitores. Hoje, sua circulação é de apenas 107 mil exemplares. Em Berlim, Hamburgo e Munique os jornais perderam cerca de 30% de seus leitores durante a última década. Na Alemanha e em todo o mundo, além da internet, dos altos custos de produção e da queda de publicidade, os jornais ainda enfrentam outro problema: os jovens estão cada vez mais distantes dos jornais e mais próximos da internet, e os mais velhos, tradicionais assinantes de jornais, estão morrendo sem substitutos. O que fazer?
Conteúdo da internet
Alguns jornais da Alemanha, como o Süddeutsche, estão agora fazendo o contrário do que fizeram muitos jornais no mundo: separando suas edições impressa e online. A equipe impressa produz o jornal diário, que fecha às 17 horas e precisa ser capaz de atrair os leitores até o dia seguinte; e a equipe online produz o jornal em tempo real. É o primeiro ensaio para evitar que a edição online canibalize a edição impressa.
Durante os primeiros anos de explosão da internet, os donos de jornais acreditaram que deveriam colocar seu conteúdo gratuitamente nos próprios sites porque isso acabaria atraindo mais leitores e compradores de seus produtos impressos. Sabem hoje que isso resultou numa grande falácia.
Mas sabem também, hoje, que os jornais são os principais alimentadores de conteúdo da internet. Então, pergunta-se: o que acontecerá se todos os jornais do mundo saírem da internet? Não apenas um, ou dois, ou três, mas todos, no mundo todo, unidos pelo instituto de sobrevivência e articulados pela Associação Mundial de Jornais.
É uma solução radical e ousada, mas é a única salvação dos jornais para manter viva a história iniciada por Relation, o primeiro jornal impresso da história mundial, exatamente em 1605 na franco-germânica Estrasburgo, conhecida como uma das capitais da Europa. Tirar o conteúdo de todos os jornais da internet é degolar a cabeça da serpente.
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Jota Alcides é jornalista e escritor

(Publicado originalmente no Observatório da Imprensa)

Michel Zaidan Filho: Apagão político


 
                                                                                                
                                               Nunca se viu uma conjuntura de tantas dificuldades e incertezas, no horizonte político do Brasil, como esta que estamos vivendo. Só se acumulam nuvens escuras e ameaçadoras num céu que promete desabar a qualquer hora sobre as nossas cabeças. É como se o ano novo e o novo mandato da Presidenta ainda não tivesse começado. A agenda negativa do ano anterior persiste em ficar e piorar a cada minuto. Com exceção da equipe econômica e seu programa de ajuste fiscal, o resto é notícia ruim. Por exemplo,  a eleição do presidente da Câmara e a vitória de seu bloco (10 partidos) suprapartidário, a instalação da nova CPI da Petrobras, a renúncia da diretoria da Petrobras, a falta de água e o possível racionamento da  energia elétrica. Se o ambiente já não era bom, ficou pior. Num quadro de tantas dificuldades econômicas (inflação alta, déficit nas transações em conta corrente, desequilíbrio fiscal, alta do dólar, baixíssimo crescimento econômico), a Presidenta Dilma  precisa - como nunca - de um sólido apoio do Poder Legislativo para enfrentar as dificuldades. Mas a situação lhe é adversa. A fragmentação da representação parlamentar, o encolhimento da sua base de apoio e o velho e conhecido fisiologismo do PMDB não lhe permite ter ilusões sobre esse apoio político. Mas sim muitas apreensões e desconfianças do que pode vir contra ela do Congresso Nacional. Se pudesse prescindir das Casas Legislativas para tocar  a agenda econômica seria uma tranquilidade. Infelizmente o Congresso, na atual conjuntura, só é relevante pelo saco de maldades que pode preparar para a Presidenta.
                                              Some-se a isso, o prosseguimento no Supremo Tribunal Federal do processo da "Operação Lava Jato" e a possibilidade bem concreta de vários parlamentares e ex-próceres do PT serem denunciados por corrupção. Quanto mais avançam as investigações e ouvidas na Polícia Federal, a munição para CPI vai ficando mais rica e variada. E antes mesmo que o STF condene ou denuncie parlamentares eventualmente envolvidos no esquema de desvio de dinheiro público, a CPI na Câmara dos Deputados já estará fazendo estragos e arranhões na reputação dos envolvidos e tentando comprometer a imagem do governo petista. Convenhamos, não é exatamente um clima favorável para início de mandato e de legislatura. Não se espera de uma Casa Legislativa, em ambiente de dificuldades econômicas, que inicie suas atividades em guerra contra o Executivo e fazendo as vezes de advogado de acusação. Isto pode até render dividendos políticos para a próxima eleição, mas não ajuda na execução de uma  agenda positiva em favor do interesse público. Se, conforme os estudiosos, já se constata a irrelevância e a  perda de importância dos parlamentos contemporâneos, em benefício do Poder Judiciário e do Executivo, imagine um Congresso recém-eleito que se aplica inteiramente em investigar e produzir provas contra os adversários políticos!
                                               Se os crimes contra a administração pública devem ser punidos - e devem - que sejam apurados pelos órgãos judiciários e policiais. Não pelo Poder Legislativo que, além de não estar devidamente aparelhado para isso, não tem como competência principal apurar crimes e responsabilidades criminais. As CPIs transformam-se em palco para os nobres parlamentares exibirem seus dotes de arguidores, sem o devido processo legal, sem o direito do contraditório e a ampla defesa. Os "réus" são constrangidos, ameaçados, ofendidos, humilhados ou submetidos a um verdadeiro linchamento moral, diante das câmeras televisivas. Enquanto isso, o país fica à espera de solução para os graves problemas que afligem à maioria do povo brasileiro.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da UFPE e coordenador de Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Roberto Mangabeira Unger reassume Secretaria de Assuntos Estratégicos.




Recentemente, o ministro Miguel do Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, um dos mais esquerdistas do Governo Dilma, foi vaiado num evento organizado pela UNE, por uma trupe de jovens ligados ao PSOL. O ministro negou que estivesse em curso, nesse segundo mandato da presidente Dilma, uma reforma de corte neo-liberal, com comprometimento dos programas sociais. Quando saiu sua nomeação, em substituição a Gilberto Carvalho - o então homem forte de Lula no Planalto - Rossetto foi festejado como um espécie de reserva moral na composição do ministério de Dilma Rousseff, diante de tantos nomes pouco expressivos ou estreitamente vinculados às forças conservadoras. 

Agora vem a notícia de que o economista Marcelo Néri deverá ser substituído na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Em seu lugar, assume o polêmico professor Roberto Mangabeira Unger​. Adjunto, Marcelo Néri foi conduzido à titularidade com a saída do titular da pasta. Uma das maiores autoridades brasileiras no estudo da Nova Classe "C", sua indicação agradou a muitos setores. Reúne competência técnica com comprometimento político. Assim como não se sabe porque Mangabeira foi convidado a voltar aquela secretaria com status de ministério, também não se sabe as razões pelas quais Néri foi afastado do cargo. Trata-se de mais um arranjo político que exige um certo contorcionismo para entendê-lo. Já faz algum tempo que não se sabe mais o que são os projetos estratégicos do Governo Dilma, salvo uma tentativa de evitar as manobras da oposição no sentido de apeá-la do cargo.

Confesso nossa surpresa com a saída de Marcelo Néri, a quem acompanhamos de perto, sobretudo em relação aos estudos sobre a nova classe média que, aliás, até então, era um assunto de natureza estratégica. Deixou de ser? Seria essa a razão da saída de Néri do ministério? Com sua saída, o Governo Dilma perde um excelente quadro, que deverá voltar à sala de aula na Fundação Getúlio Vargas.  

Apesar de  uma admiração pessoal e identificação com algumas posições de Roberto Mangabeira Unger, um doce para quem decifrá-lo politicamente. Pelo andar da carruagem política, entretanto, a essa altura do campeonato, esse não parece ser um critério que entra no julgamento da presidente Dilma Rousseff​. É muito difícil entender o que está se passando nos bastidores político do Planalto. Mangabeira mantém uma ponte entre o Planalto e a Universidade de Harvard, onde orgulha-se de ter sido professor aos 24 anos de idade. Já esteve identificado politicamente com Ciro Gomes, Leonel Brizola, Lula, Dilma. Em ralação a Lula, chegou a propor uma cruzada para derrubá-lo, taxando-o como o Governo mais corrupto da história da República. Logo em seguida, estava compondo o seu Governo. Ainda um dia, quando a nossa modesta inteligência permitir, vou entender essa jogada do futuro ministro. 

O bate-boca entre Aécio Neves e Renan Calheiros

Eleição da Mesa gera bate-boca entre Aécio e Renan. Descontente com a distribuição de cargos no Senado, tucano acusou peemedebista de privilegiar aliados. “Vossa excelência apequena esta Casa!”, bradou. Renan rebateu dizendo que colega desrespeita a democracia

O tempo fechou durante a escolha dos demais membros da Mesa Diretora do Senado, com direito a anúncio de desfiliação por parte da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) e troca de ofensas, aos gritos, entre o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG) – um dos responsáveis, segundo a própria tucana, por sua decisão de deixar o partido. Ao final da tumultuada sessão preparatória da nova legislatura (2015-2018), que durou cerca de três horas e provocou debandada de blocos partidários do plenário, a chapa única foi aprovada por 46 votos a dois, com uma abstenção
Dois nomes da composição anterior foram mantidos em seus respectivos postos na Mesa – Jorge Viana (PT-AC), na primeira vice-presidência, e Romero Jucá (PMDB-RR), na segunda vice. Os demais escolhidos foram Vicentinho Alves (PR-TO), na primeira secretaria; Zezé Perrella (PDT-MG), na segunda; Gladson Cameli (PP-AC), na terceira; e Angela Portela (PT-RR), na quarta. O quadro de suplentes será composto por Sérgio Petecão (PSD-AC), na primeira suplência; João Alberto Souza (PMDB-MA), na segunda; e Douglas Cintra (PTB-PE), na terceira. A quarta suplência segue vaga, uma vez que a bancada do DEM retirou da chapa, em um dos vários atos de rebelião, o nome de Maria do Carmo Alves (SE).
“Arregacem as mangas, sejam preparados porque vocês vão experimentar o que vocês nunca viram nesta Casa, uma oposição com conteúdo, com preparo e com capacidade de fazer o bom combate”, bradou da tribuna o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), antes de deixar o plenário. “Acreditava que a proporcionalidade seria respeitada. E, no acordo com o PP, como nós temos o mesmo número de senadores, nós fizemos um entendimento de que o Democratas abria mão da quarta secretaria e ocuparia a primeira suplência. Não sendo cumprido, o Democratas também se afasta da participação.”
A chapa única foi decidida em reunião realizada na residência oficial do Senado, ocupada por Renan nos últimos dois anos e pelos próximos dois. Além dele, participaram da articulação os governistas nordestinos Fernando Collor (PTB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Humberto Costa (PT-PE), Jorge Viana (PT-AC), José Pimentel (PT-CE) e Eunício Oliveira (PMDB-CE). Renan reagiu às acusações de que teria imposto o quadro ao conjunto dos senadores, alijando partidos de oposição e desrespeitando os critérios de proporcionalidade, praxe na Casa que distribui postos aos partidos mais numerosos. “Quem inscreve a chapa não é o presidente do Senado. São os líderes”, argumentou.

Gritaria

Mas o momento de mais tensão foi o bate-boca, aos gritos, entre Renan e Aécio. Depois de inúmeros apelos da oposição pela revisão dos acordados já encaminhados, com imposição de predomínio da base aliada, e diante da inflexibilidade de Renan, que se dizia regimentalmente impedido de alterar o rumo da votação, Aécio apontou o dedo em direção à Mesa e disparou:
“Vossa excelência subverte a ordem natural das coisas. Pergunta se o PSDB ainda mantém a sua indicação, ou o PSB? Não. Essas são as indicações naturais, com base na proporcionalidade, no respeito à população, no respeito à democracia interna. Vossa excelência será o presidente dos ilustres senadores que o apoiaram, mas perde a legitimidade para ser presidente dos partidos de oposição nesta Casa”, vociferou Aécio, imediatamente rebatido por Renan.
“Que bom que isso esteja sendo dito por vossa excelência, que foi candidato a presidente da República, e tem a dimensão do que é a democracia”, rebateu o peemedebista, já abandonando o tom sereno das colocações – e, com mais uma declaração, em tom irônico, irritou Aécio ao fazer menção à postura do tucano durante as eleições. “Por isso deu no que deu”, emendou Renan, sugerindo que Aécio relativiza os valores democráticos ao não transigir com o entendimento da maioria. “Vossa excelência perdeu a chance de ser presidente da República, porque é estreito!”
“Vossa excelência está desrespeitando, senador Renan! Desrespeita a democracia para atender às conveniências da sua eleição! Tive 51 milhões de votos, que eu honro! Perdi [as eleições] de cabeça erguida! Olho nos olhos dos cidadãos! Vossa excelência apequena esta Casa! Vossa excelência venceu perdendo a dignidade que esse cargo deveria ter!”, replicou Aécio, aos berros, acusando o grupo de Renan de urdir uma estratégia que deixaria o PSDB de fora da composição da Mesa – mesmo argumento utilizado por PSB e DEM.
“Respeite a Mesa! Respeite a Mesa! Tenha a dimensão da democracia! Respeite seus colegas!”, devolveu Renan, também com o dedo apontado para o interlocutor, aos gritos.
Vídeo:

Parceria

Enquanto os ânimos se exaltavam em plenário, com senadores se revezando nas críticas a Renan e anunciando a retirada de plenário, membros do PT observavam em silêncio a batalha verbal. Consciente de que a chapa única seria levada a votação, apesar dos apelos de lado a lado por novo adiamento da escolha, o PT permaneceu em plenário e assegurou quórum suficiente para dar continuidade aos planos da base, capitaneados por Renan e pela maioria do PMDB.
Reservadamente, integrantes da base viram na postura de Renan uma tentativa de confronto à ascensão de Aécio como força oposicionista no Senado, com o efeito colateral de reforço ao sentimento de dissidência entre aliados – movimento demonstrado com a candidatura de Luiz Henrique da Silveira (SC), companheiro de partido de Renan, como alternativa de “mudança”. Essa é a quarta vez que Renan assume o comando da Casa.
Assim, com a debandada de plenário, Renan conseguiu acomodar os aliados nos cargos da Mesa – à exceção do PDT, todos os demais partidos representados na agora oficializada composição apoiaram a eleição do peemedebista. O PSDB, por ter a terceira mais numerosa bancada, ficaria com a primeira secretaria, espécie de “prefeitura” da instituição. Mas, depois do episódio com Lúcia Vânia, que tem 20 anos de PSDB, e com a indicação de Vicentinho Alves, desrespeitando-se o critério da proporcionalidade, os tucanos abandonaram a disputa, prometendo muita briga a partir de agora.
“Retiro o meu nome e desejo aos que vierem a integrar a Mesa que tenham muito cuidado e muita responsabilidade na sua atitude e no seu trabalho, porque nós estaremos vigilantes pelos próximos dois anos”, exclamou Paulo Bauer (PSDB-SC), depois de explanar sobre o cenário político no país, deixando o plenário em seguida. Para assumir a primeira secretaria, Lúcia Vânia foi preterida pelo partido justamente em favor do senador catarinense.
Fábio Gois, Congresso em Foco

Tijolinho do Jolugue: O inferno astral de Dilma Rousseff.



Desnecessário informar a um leitor mais atento que a presidente Dilma Rousseff vive um mal momento. Aliás, isso já faz algum tempo. Venceu uma eleição apertada, por uma diferença de um pouco mais de 3 milhões de votos; seus adversários não dão trégua, montando, a cada momento, novas urdiduras para prejudicá-la; a economia não vai muito bem e ela acabou capitulando a um receituário de corte neo-liberal, quase sempre, cortando direitos e entregando a fatura para a classe trabalhadora; o escândalo de corrupção da Petrobras é sistematicamente explorado pelos seus inimigos e setores da imprensa e, para completar o enredo, depois de uma série de ações equivocadas, perdeu as eleições para a Presidência da Câmara dos Deputados, colocando uma pá de cal sobre o mínimo de escrúpulo republicano que ainda poderia se supor existir no Legislativo. Não sei mais o que poderíamos acrescentar a essa lista, mas, certamente, o rosário de problemas nesse início de Governo se apresenta como uma lista interminável.  


Daqui para frente, sob a liderança de um Cunha, instalou-se de vez na Câmara Federal uma casta mafiosa, extremamente corporativa, que chantageará o Governo sistematicamente. Reforma política, regulação econômica da mídia... nem pensar. Se confirmada a previsão dos seus oráculos - José Serra é um deles - está em curso um processo de desgaste até o sangramento final da presidente Dilma, de preferência antes de concluir o seu mandato., através de um pedido de impeachment, gerado a partir das denúncias de Operação Lava Jato. Comenta-se que um advogado ligado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já teria consultado sobre a viabilidade jurídica do pleito. A bem da verdade, desde o seu vazamento, logo se pronunciou que o rolo era grande em ralação aos escândalos da Petrobras, embora seja hipocrisia apontar o PT como o único ou maior beneficiário do desvio de recursos. Instalou-se uma engenharia de corrupção naquela estatal - muito antes dos Governos do PT - da qual nem os governos militares estiveram de fora. Algo, porém, por inúmeras razões, parece evidente. O objetivo é "envolver" a presidente Dilma Rousseff, criando as condições necessárias para o seu possível impedimento. Desde o início esse objetivo parece claro: vazamento seletivo, próximo ao segundo turno das eleições; blindagem da tucanagem e  criação das condições políticas favoráveis, como a eleição do Deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados.

Encurralada, acossada, Dilma não tem sido muito feliz em suas atitudes: Faz concessões demasiadas para desafetos; se indispõe com aliados e os movimentos sociais. Dilma já devia saber que fazer concessões para essa gente é sinônimo de capitulação. A demissão de Graça Foster e toda a diretoria da Petrobras é apenas um capítulo desse enredo nebuloso que envolve o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Também aqui é muito difícil analisar o acerto de sua atitude, uma vez que tentou segurar, o quanto pode, a Graça na Presidência da Estatal. Uma das razões era a sua convicção na integridade da indicada, o que nos parece uma uma avaliação correta. No entanto, o desgaste tornaram a situação de Foster insustentável. Ela cai e para o seu posto está sendo especulado o nome de Henrique Meirelles, para variar, um nome da confiança do mercado. Não se sabe muito bem o que ele poderá fazer naquela estatal, mas uma das possibilidades possíveis e saneá-la para entregar ao capital estrangeiro.