pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Caso Chico Buarque: A fúria dos que saíram do armário

Essa direita troglodita ataca à traição. E sabe que figuras públicas não costumam reagir, para não alimentar a sede mesquinha dos escrevedores de intrigas.


Eric Nepomuceno
Reprodução
O que mais impressiona – e preocupa – na agressão verbal que um grupo de garotões cuja profissão principal é ser filho de pai rico lançou contra Chico Buarque na noite da segunda-feira, 21 de dezembro? Três coisas. Primeiro, a extrema fúria dessa direita desgarrada que acaba de sair do armário embutido. Segundo, a facilidade com que repetem o que dizem os grandes meios de comunicação. E terceiro, a incapacidade para qualquer gesto minimamente civilizado.
Chico saía de um jantar com amigos quando, ao buscar um táxi, passou a ser chamado de ‘petista’. Ouviu a repetição de clichês idiotas repetidos à exaustão pelos meios de incomunicação e pelos deformadores de opinião. A um dos garotões ele respondeu com humor. Dizia o valentão que defender o PT quando se mora em Paris é fácil. ‘Você mora em Paris?’, perguntou Chico. E o rapaz respondeu: “Não, quem mora em Paris é você!’. Chico, então, perguntou: ‘Você andou lendo a Veja?’. A ironia continua sendo uma válvula de escape. Mas para ter ironia é preciso inteligência, artigo definitivamente raro na praça.




Não foi a primeira nem a décima agressão verbal que ele e seus amigos ouvem, todas relacionadas ao PT, a Lula e a Dilma. O mais recomendável é, sempre, fazer ouvidos moucos. Mas também essa regra tem suas exceções. O episódio de segunda-feira foi inevitável: Chico estava no meio da rua, é pessoa pública, reconhecível a milhas marítimas de distância.

Mais grave é saber que não foi a primeira nem a decima ocasião, e também não terá sido a última. O país está polarizado como poucas vezes esteve nos últimos 50 ou 60 anos. O grau de agressividade, de furiosa intransigência dessa direita recém-saída de um imenso armário – certamente embutido – é o que mais chama a atenção. E preocupa. Muito. Dizer na cara de alguém ‘Você é um merda’ pode ter consequências sérias. Chico sabia e sabe que qualquer reação à altura não faria outra coisa que atiçar ainda mais a fúria dessa direita desembestada, fartamente alimentada pela grande imprensa. Até nisso a direita recém assumida em sua verdadeira essência é covarde. Até quando?

O país se acostumou às tristes cenas de violência entre torcidas organizadas no futebol. Elas pelo menos têm a decência de se uniformizar, ou seja, é fácil identificar o adversário à distância.

Essa direita troglodita, não. Ataca à traição. E sabe que figuras públicas como as que foram atacadas à sorrelfa não costumam reagir, para não alimentar a sede mesquinha dos escrevedores de intrigas.

Há poucos registros, que eu me lembre, de alguém que tenha saído do armário com tanta sede de ação. Cuidado com eles: tantas ganas reprimidas, quando subitamente liberadas, desconhecem limites.


Eric Nepomuceno é jornalista e escritor, estava com Chico no episódio relatado
(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)



Créditos da foto: Reprodução



Michel Zaidan Filho: O sanfoneiro, o gestor e a arena




O cantor, compositor e sanfoneiro Alcymar Monteiro queixou-se, em carta aberta publicada pelos jornais, de que o senhor governador do Estado não estava pagando cachês devidos ao longo da programação de festas durante este ano. Não é a primeira vez que os artistas contratados pela gestão do PSB põe a boca no trombone, cobrando dívidas ao governo do Estado por relevantes serviços culturais prestados ao povo pernambucano. Isso levou a uma crise, na gestão do deputado Silvio Costa Filho, com denúncias de superfaturamento nas notas fiscais etc.

O sanfoneiro tem suas razões. Ele vive disso. Tira seus sustento dessas apresentações ao longo do calendário festivo do Estado. Errada está a política cultural deste governo em tratar os artistas (e não só os populares) como clientes ou funcionários da administração estatal, gerando uma relação viciada de troca de favores que permite, inclusive, não pagar os cachês prometidos por cada apresentação. O artista, com medo de perder “a boquinha” oficial, fica calado, arcando com o ônus dessas apresentações.

Mais grave do que o modelo clientelista de gestão da cultura e da relação com os produtores culturais (que às vezes se comportam como pedintes e reivindicantes perante a gestão) é a prioridade do gasto público estabelecida pelo gestor: o que é prioritário no ordenamento de despesas, pelo governo, no Estado de Pernambuco? – A saúde? – A educação? – A segurança pública? – O tratamento da rede de esgotos? -  O transporte público? Ou a folia, a festa, o circo? – Pois é. Para o pagamento da obra faraônica chamada de “Arena Pernambuco”, não falta nada. Nem um centavo sequer. Pode o governo nem repassar para os times a receita prometida para compensar as bilheterias deficitárias e a ausência de público no estádio, mas as parcelas de empréstimo contraído - através de PPP-  para o pagamento da feitura da obra são religiosamente pagas, sem atraso, sem mora nem abatimento. É o caso de se perguntar: quem se beneficia dessa ordem de prioridade do dinheiro público? Quem ganha e quem perde com esse modelo perdulário e injusto de gestão?

Num momento de crise, em que se discute inclusive a flexibilização com os gastos obrigatórios do governo federal com saúde, educação e outras rubricas, o juízo da população contra esse modelo ruinoso de escassos recursos públicos, não pode ser senão de repúdio e indignação. A uns, tudo. Ao povo, o circo – sem o pão.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE


segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A entrevista do governador Paulo Câmara




Os pernambucanos que tiveram a oportunidade de ler o Diário de Pernambuco em sua edição de ontem, dia 20, se depararam com uma daquelas entrevistas características dessa época do ano, onde os governantes são os entrevistados pelos principais jornais do Estado. Desta vez, o Diário ouviu o governador do Estado de Pernambuco, senhor Paulo Saraiva Câmara. O jornal da antiga praça da Independência tem uma longa história no Estado, constituindo-se, inclusive, como um ator relevante na própria instituição do conceito de região Nordeste. Não apenas pela famosa série de artigos publicados pelo sociólogo Gilberto Freyre, ainda como estudante nos Estados Unidos - segundo Durval Muniz, uma verdadeira certidão de nascimento de uma região - mas por suas posições ativas em diversos momentos históricos do país, assim como por sua área de abrangência ou influência, que ajudou a circunscrever, geograficamente, os limites territoriais da região Nordeste. 

Tudo isso está muito bem explicado numa postagem nossa, num outro blog, dedicado à pesquisa escolar. Lá, os leitores poderão ter uma dimensão da importância deste jornal secular. Agora, no entanto, convém estabelecer algumas considerações mais atuais, sobretudo no que concerne à linha editorial adotada pelo DP, certamente, determinada pelos seus atuais proprietários.  Um grupo ligado a um ex-Deputado Federal, hoje vinculado aos neo-socialistas da província, segundo se sabe, é um dos principais acionistas do jornal. Essas entrevistas com os governantes, nessa época do ano, normalmente, são muito comportadas. No que se refere a esta última, publicado pelo DP, poder-se-ia afirmar, sem exagero, que foi uma entrevista comportada demais. Está mais para um relatório de gestão, onde o governante torna-se suspeito para fazer sua avaliação unilateral, sem o contraditório que uma imprensa livre poderia levantar. 

Foram três páginas, todas construídas por um discurso que, ao final, leva o leitor a apenas suspirar, com a leve sensação de quem não entendeu nada do que foi dito ou, pior, pedindo para ser beliscado, certo de que estava nas nuvens, quiçá sonhando. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no livro Além do Bem e do Mal, tem uma frase que se tornou célebre nos manuais de análise de discurso: Toda palavra é uma máscara e todo discurso é uma fraude. Penso que essa máxima se aplica perfeitamente à entrevista concedida pelo senhor governador Paulo Câmara ao Diário de Pernambuco. 

Trata-se, na realidade, de um emaranhado de informações, em áreas de competência quase que exclusiva do Estado, como saúde, educação e segurança pública, onde são enumeradas o conjunto de ações do aparelho de Estado para cada setor específico, como contratação de efetivo, melhoria de alguns indicadores de educação, um campeonato de robótica e até a construção de uma unidade de saúde pública em Goiana, na região da Mata Norte do Estado. Sobre, até que ponto, o conjunto dessas ações estão contribuindo num contexto mais amplo, para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e das cidadãs pernambucanas, nenhuma palavra. E a gente sabe que a nossa vida não melhorou nessa gestão.

Os entrevistadores, tanto quanto possível, evitaram aquelas perguntas que poderiam desvelar a cruel realidade vivida pelo Estado, nessas áreas de sua competência. Aliás, salvo os "indicadores" apresentados pelo próprio governador, senti falta dos indicadores de cidadania, como os índices crescentes de violência - solapando as metas do Pacto pela Vida -; o número de bebês mortos ou acometidos pela microcefalia, uma doença transmitida pelo mosquito aedes aegypti - cujo Estado lidera o número de casos em todo o país. Esses indicadores de cidadania bem que poderiam ser apresentados pelos repórteres que o entrevistaram. 

De acordo com o jornalista Fernando Castilho, do JC, o Governo de Pernambuco anunciou que deixará de concluir e e colocar em funcionamento 06 UPAS. Elas custariam aos cofres públicos algo em torno de 180 milhões/ano. Por outro lado, liberou 54 milhões para o cumprimento do contrato de Parceria Público Privada com a construtora da Arena Pernambuco. Somente este ano, o Estado já injetou 147,8 milhões para honrar esses compromissos, numa verdadeira inversão de prioridades. Essas questões, que dizem respeito sobre as prioridades no gasto do dinheiro público, não foram levantadas para o nosso governador.   

Silvio Costa X Jarbas Vasconcelos: Esse "cozidão" ainda irá azedar.



O "debate" em torno do pedido do impeachment da presidente Dilma Rousseff está produzindo algumas situações inusitadas aqui na província, reveladora do caráter e das verdadeiras intenções de alguns atores políticos. Há também contradições insustentáveis, como, por exemplo, a presença do Deputado Federal Silvio Costa, vice-líder do Governo Dilma, nos famosos "cozidos" promovidos pelo também Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB), um conhecido apologista do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Pelo andar da carruagem política, esse cozido tende a azedar. Na realidade, esses "cozidos" promovidos por Jarbas Vasconcelos é uma roda política, de interesses bem-específicos. No último dele, o Deputado Sílvio Costa foi o primeiro a chegar, segundo noticiado pelos jornais locais. 

Como não havia muitas convergências entre ambos, em nosso artigo semanal de monitoramento das próximas eleições municipais, fizemos alguns comentários sobre as reais motivações do senhor Sílvio Costa. Logo depois, os jornais especularam sobre possíveis movimentações e conversas em torno das eleições de 2016, no Recife, onde o seu filho, Sílvio Costa Filho(PDT), apresenta-se como possível alternativa. Mas, o que mais nos intrigam nesse impasse dos atores provinciano é a banalização desse conceito de "golpe" ao se referirem ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. 

O conceito é aplicado consoante as conveniências de cada um. O rito do impeachment é perfeitamente compatível no contexto de um regime democrático, desde que satisfeita algumas pré-condições, como elementos concretos de malversações de recursos públicos por parte do dirigente. Como, no caso de Dilma, não há elementos técnicos e jurídicos que respaldem o pedido, a admissibilidade do pedido, então, passou a ser tratada pelos governistas como uma tentativa de golpe. Um golpe institucional, registre-se. A oposição, por razões óbvias, nunca endossou essa tese.

É bom que se diga que, na fala de um dos ministros do STF, ao justificar o seu voto, fica evidente a sua conclusão de que, pela forma como se pretendia dar prosseguimento ao processo, trata-se, de fato, de uma tentativa de golpe. Nos referimos aqui à famosa "Comissão do Cunha". Pois bem. A oposição não gostou das decisões tomadas pelo STF no que concerne ao rito do impeachment. Jarbas Vasconcelos vociferou que, aí sim, estava configurado um golpe, sob o patrocínio do Supremo Tribunal Federal. Na nossa modesta opinião, ao por ordem na casa, na realidade, o STF abortou uma tentativa de golpe. 

Mesmo na condição de um dos convivas do "cozidão', o Deputado Sílvio Costa precisou retrucar Jarbas Vasconcelos, informando-o que ele estava equivocado. O próximo "cozido" da Praia do Janga deverá nos informar sobre a temperatura do termômetro da relação entre ambos. A relação entre ambos, admitida pelo próprio Silvio, sempre teve altos e baixos. Num passado recente, Sílvio teceu duras críticas a Jarbas, depois se derramando em elogios.   

domingo, 20 de dezembro de 2015

Editorial: Governo Dilma Rousseff em equilíbrio instável



A despeito das notícias alvissareiras da última semana - como a decisão do STF sobre o rito do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff; a ligeira recuperação de sua popularidade, apontada por pesquisa do Datafolha; a troca de comando no Ministério da Fazenda, responsável pela condução da política econômica; das mobilizações dos movimentos sociais, populares e sindicais em todo o país, em favor do Governo- na realidade, o caldeirão político continua em plena ebulição na capital federal, colocando a presidente naquilo que, em Ciência Política, denominamos de equilíbrio instável. Não dá para dormir em paz com essas aves de rapina conspirando o tempo todo, apostando no quanto pior melhor, desejosos de apear do poder uma mandatária legitimamente eleita pelas urnas, sem uma motivação concreta, como exaustivamente denunciado por juristas e entidades como a OAB. 

A conjuntura política indica que o Governo Dilma ainda está muito distante de uma recuperação. A presidente Dilma Rousseff​ até pode encomendar os ingredientes da ceia de Natal, convidar os familiares para a confraternização, brincar com o neto - como na foto acima, publicado pelo Jornal Correio Brasiliense -mas, a rigor, está segurando um cabo de guerra, pressionada tanto pela direita, quanto pelos setores que a apoiam. Não dá aqui para dizer que são necessariamente de esquerda os segmentos sociais que a apoiam, uma vez que até partidos ditos de esquerda estão indo às ruas pedir a cabeça da presidente, como é o caso do PSTU e figuras como Renan Calheiros assumem a linha de frente da defesa dessa Governo. 

Depois, convenhamos, definir o que é de esquerda nesse Governo de Dilma, não tem sido uma tarefa das mais fáceis. Esquerda aqui mesmo apenas aquela multidão de pessoas dos movimentos sociais e sindicais que saíram às ruas para manifestar apoio ao Governo. Essas raposas políticas não dormem e irão conspirar durante todo o recesso. Se eu fosse Dilma, ligaria para o Aldo Rebelo e pedia para cancelar aquele tradicional descanso de fim de ano na Base de Aratu. Em pouco tempo, o famigerado Deputado Eduardo Cunha ganhou uma sobrevida na Presidência da Câmara dos Deputados.Uma decepção para aqueles cidadãos e cidadãs brasileiros que torciam que ele não chegasse a 2016 na presidência daquela Casa. 

Como informou Anatólio Julião, em postagem pelas redes sociais, no dia de ontem, é uma cascavel que se escondeu dentro de casa e que ainda não foi encontrada. Como não estamos lidando com conventos e seminaristas, mas com bordéis, um dos principais avalistas do Governo Dilma é o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros que, como informou o cientista político Michel Zaidan, até a cabeleira é falsa.  Infelizmente. É um cabra mais sujo do que pau de galinheiro. Lembro que, certa vez, publicamos, num blog local, um longo artigo sobre o dilema em que nos encontrávamos, tendo como avalista alguém com essas credenciais. O título do artigo era: o Brasil ainda tem jeito. Achei interessante que houve apenas um comentário, em apenas uma única palavra: não.  

Certamente por ser do ramo é que ele teve a coragem do peitar os seus pares, como é o caso do vice-presidente, Michel Temer(PMDB). Engraçado mesmo foi sua afirmação de que o PMDB não tem donos nem é um partido de coronéis. Não mesmo, Renan. De qualquer maneira, o ano de 2016 promete que será de intensas turbulências. Já que estamos no período natalino, vale a referência bíblica sobre o servir a dois senhores. Dilma fez concessões demasiadas aos seus adversários políticos. Entregou a condução da política econômica a um homem de confiança do mercado e dos setores conservadores, como o Joaquim Levy. 

Joaquim queria avançar no austericídio, mas ela ponderava em nome dos políticas sociais do Governo. Há quem assegure que ele deveria radicalizar essas medidas, sob pena de conter a sangria das finanças públicas. Há quem discorde, indicando que Dilma deveria ter seguido um outro caminho, nomeando alguém para imprimir uma outra diretriz às políticas econômicas, como se sugere que Barbosa deverá fazer. Não sou economista, mas já vi gente boa defender uma mudança radical nessas políticas, caso de André Singer que, por suas conhecidas ligações com o Governo, deve saber o que está dizendo. De acordo com Singer, Barbosa deveria ter sido escolhido desde o começo do Governo. Bem ou mal, os apoiadores de Dilma Rousseff defendem essa tese e já afirmaram que ela perderia o apoio popular caso continuasse com Levy e o seu austericídio. 

De concreto, com as políticas de Levy ou sem elas, o que se sabe é que a nossa economia vai muito mal das pernas. Do ponto de vista da condução da política econômica, a opção por Levy teria sido um erro. Do ponto de vista político o maior erro foi esse loteamento do Governo por atores sabidamente de má fama na condução dos negócios públicos, enredando o Estado em casos emblemáticos de corrupção, conforme vem se observando nas investigação da Operação Lava Jato. Aqui, segundo o ex-ministro Ciro Gomes, houve um grave erro, incapaz de ser consertado com a propalada tese de que ninguém combateu mais a corrupção do que este Governo. Se, por um lado, ocorreram avanços no que concerne ao aperfeiçoamento dos instrumentos de fiscalização e controle do Estado, deu-se carta branca à atuação de alguns atores - caso de Rodrigo Janot, da PGU - por outro lado, é uma baita contradição governar com o PMDB e manter uma cruzada de enfrentamento à corrupção.    

sábado, 19 de dezembro de 2015

STF define rito de impeachment, mas adia decisão sobre afastamento de Cunha


A corte estendeu a sessão para definir o rito do impeachment em curso, mas adiou para fevereiro a decisão sobre o pedido de afastamento de Eduardo Cunha.


Najla Passos
José Cruz / Agência Brasil
O Supremo Tribunal Federal (STF) estendeu a sessão desta quinta (17) para além das 20 horas, com o objetivo de concluir o julgamento da Ação Preceito Fundamental, movido pelo PCdoB, que questionava a legalidade do rito adotado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na condução do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que ele acolheu no último dia 2.
 
Mas deixou para fevereiro, quando a corte voltar do recesso, a análise do pedido de afastamento de Cunha, feito pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, na noite de quarta (18). De acordo com Janot, o presidente da Câmara vem se utilizando do cargo para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e retardar o processo da sua cassação, sob exame do Conselho de Ética da casa.


Rito do Impeachment
 
A decisão do STF sobre o rito do impeachment favorece a presidenta Dilma, na medida em que dá maior protagonismo ao Senado, casa em que o governo conta com maior número de aliados, inclusive o seu presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL). Por 8 votos a 3, o tribunal decidiu que o Senado pode ou não acatar a decisão da Câmara de julgar o impeachment. Conforme a determinação dos ministros, por maioria simples, os senadores podem simplesmente decidir pelo arquivamento do processo antes de afastar a presidente do cargo.
 
Mas a mesma decisão também impede que o governo toque o processo com a velocidade que gostaria, já que, por maioria, os ministros invalidaram a eleição da comissão especial da Câmara que analisará o impeachment. Isso porque a comissão atual foi formada por uma chapa avulsa, de maioria oposicionista, e eleita por voto secreto. Para o STF, os membros da comissão devem ser indicados pelos líderes e todas as votações referentes ao processo devem ocorrer de forma aberta e transparente.
 
Pela decisão, portanto, a corte terá que realizar uma nova eleição para definir a comissão especial que irá julgar o processo de impeachment, processo que só deverá ocorrer após o recesso parlamentar. E isso se Cunha não articular uma nova manobra para fazer prevalecer a sua vontade. Em entrevista coletiva concedida após a sentença, ele questionou vários pontos da decisão e acenou com a possibilidade de recorrer dela.
 
O tribunal definiu também que a presidenta não terá direito a apresentar defesa prévia antes da instauração do processo pela Câmara, já que o direito ao contraditório e à ampla defesa é assegurado na continuidade do processo. E, por fim, decidiu que, após o afastamento da presidenta, para cassar de fato o mandato dela, o Senado precisa contar com a decisão qualificada de dois terços dos seus membros.
 
Ficaram vencidos os ministros Luiz Edson Fachin (relator da matéria), Dias Tofolli e Gilmar Mendes. Em menor extensão, também ficou vencido o ministro Marco Aurélio, que defendeu quórum qualificado para o Senado acatar o julgamento do impeachment, ao invés da maioria simples que saiu vencedora. O voto que congregou maioria e definiu o julgamento foi o do ministro Luís Roberto Barroso.
 
Afastamento de Cunha
 
Já o afastamento de Cunha da presidência da Câmara e do mandato de deputado ficou para ser avaliado só na volta do recesso, que começa neste sábado (19) e vai até o dia 31 de janeiro. O afastamento foi requerido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na noite da quarta (16). Segundo ele, Cunha vem se utilizando do cargo para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e para retardar sua própria cassação, sob análise do Conselho de Ética da Câmara.
 
Encaminhado ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato, na manhã desta quinta (17), o pedido consta de 190 páginas. Em função disso, Zavascki  anunciou que não terá tempo hábil de analisa-lo antes do início do recesso, marcado para este sábado (19). O ministro não informou se tormará a decisão sozinho. Mas o esperado é que ele a submeta ao plenário da corte, que volta a se reunir a partir do dia 1º de fevereiro.

Crônicas do cotidiano: "Não gosto de você, papai Noel."



Aldemar Paiva morreu aos 89 anos de idade. Alagoano, era um cidadão múltiplo. Poeta, cordelista, jornalista, radialista, ator, cronista, escritor com inúmeros livros publicados. Um dos seus poemas mais conhecidos faz referência ao Natal e, nessa época do ano, por razões óbvias, é bastante invocado: "Não gosto de você, papai Noel." Ainda tive a oportunidade de vê-lo recitar esse poema num dos auditórios da Fundação Joaquim Nabuco.  Antes de sua apresentação, tivemos a oportunidade de manter um diálogo bastante interessante sobre a origem desse poema, além de sua rotina de criação, uma verdadeira aula sobre como escrever crônicas, um gênero que sempre gostei bastante.   

Hoje, com a família, tive a oportunidade de acompanhar a programação infantil que a minha filha caçula assiste pela TV. Neste período, há um festival de programação toda voltada para o tema, sobretudo na TV paga. Pois bem. Em todos os programas, invariavelmente, a mensagem (ideologia) que se passa sobre o "não receber presente" está relacionada ao mal comportamento, ou seja, a criança não recebe o presente porque se comportou mal, foi uma criança rebelde, desobediente, mal-educada e outros adjetivos do gênero. Não sei se vocês repararam, mas o sistema tem sempre razão e a culpa é toda de responsabilidade do indivíduo. 

No poema de Aldemar Paiva fica evidente as agruras de um pai empobrecido, incapaz de proporcionar um presente ao seu filho. Fiquei imaginando a lógica perversa de um sistema que é capaz de provocar uma maldade tão atroz. Quer dizer, então, que todas as crianças pobres - aquelas cujos pais não reúnem condições de presenteá-las - são crianças ruins, más, indolentes, que não fazem jus ao "sistema de recompensas"? Uma perversidade do sistema capitalista que, certamente, produzirá traumas às crianças que não participam desse "fetiche" consumista imposto pelo capital, nessa época do ano.

Como a economia não vai bem das pernas, os comerciantes já anteveem a possibilidade de um Natal magro este ano. Sem presentes e, talvez até mesmo sem a presença dos tradicionais queijos do reino e do peru. Aliás, estamos terminando o ano em meio a um grande impasse, na condução da política econômica - inclusive com a substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa - e em meio a um imbróglio político que parece não dá trégua à presidente Dilma Rousseff, mesmo depois que o STF tentou por ordem na casa. Deixo com vocês o poema completo do Aldemar Paiva. 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Michel Zaidan Filho: O quarto mandado


A JUSTIÇA FEDERAL,  por ordem do magistrado Teori  Zavascki, ministro-relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), expediu 4 (quatro) mandados de busca e apreensão de documentos, aparelhos em domicílios, empresas públicas e escritórios políticos aqui em Pernambuco, com o objetivo de impedir a destruição de provas ou indícios da participação criminosa de políticos e empresários no esquema fraudulento de desvio de dinheiro proveniente da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Suape. O mesmo número de mandados (4) foi confirmado pelas informações prestadas pelos meios de comunicação, em cadeia nacional. De Brasília, onde foram prestadas as informações, ao Recife, ocasião em que uma emissora local de Televisão repercutiu as notícias, ao lado do assessor de comunicação da Polícia Federal, o senhor Giovanni Santoro, os quatro mandados viraram 3 (três). 

Depois, a repórter informou que um havia sido suspenso. Curiosamente, o nome dos investigados nessa operação (Catilinárias) não foi mencionado, nem pela repórter nem pelo assessor da falta de comunicação. Em Brasília, em um telejornal   vespertino, a repórter mencionou rapidamente o nome do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), do empresário e dono do armazém “O Grillo” e da fazenda “Esperança”, e sócio do ex-governador Eduardo Campos (PSB), e o nome do próprio finado, e a sua fazenda em Brejão, Projeto Agropecuário: “Nossa Senhora de Nazaré”. Pois bem, a quem se destinava o quarto mandado, pedido pelo Ministério Público Federal, e suspenso pela Justiça, no caminho de Brasília a Recife?

Assim, vamos nos valer aqui das informações colhidas nos blogs de notícia, para esclarecer o destino do quarto mandado: essa ordem judicial se destinava a fazer uma busca e apreensão de documentos, aparelhos, planilhas, notas fiscais, rebibos e outros elementos de prova na casa de dona RENATA CAMPOS, viúva do senhor EDUARDO HENRIQUE ACCIOLY CAMPOS. Quero afirmar, preventivamente, ao séquito da viúva e seus advogados, que essa notícia não foi inventada por mim. Está nas redes sociais. Infelizmente, os meios de comunicação de massa e, por incrível que pareça, nem o assessor – tão garboso – de comunicação da PF quis declinar, com a presteza e loquacidade que lhe são peculiares, os nomes dos envolvidos na operação de busca da PF em Pernambuco, nem quem era o alvo da busca do 4º mandado.  Por que?

Essa investigação corre sob segredo de Justiça? – Os nomes de um simples empresário e de um ex-governador falecido não podem ser mencionados? E por que o do senador do PSB foi? E por que a televisão em Brasília pode, ainda que rapidamente, mencionar os nomes dos três investigados em Pernambuco? Acaso, essas criaturas são inimputáveis? Estão acima da lei e do ordenamento jurídico do País? - Por que foram omitidas essas informações? – Qual o critério jornalístico da TV GLOBO do Nordeste para justificar essa clamorosa falha de comunicação? E por que a Polícia Federal preservou da indiscrição pública a nomeação dos políticos e empresários pernambucanos envolvidos na Operação-Lava Jato?

Não sabe a Polícia e a imprensa que a transparência e o acesso público às informações é um imperativo do pleno exercício da democracia e que os cidadãos e cidadãs têm todo o direito de saber o que é feito com o dinheiro público? E procurar a responsabilização civil e criminal dos que utilizam o Estado em função de interesses particulares ou de grupo? – Por que subtrair do crivo fiscalizador da opinião pública coisas tão graves, como essas que estão sendo reveladas nas delações premiadas, nas CPIs, nos inquéritos da Polícia Federal, em Curitiba, nos jornais (não vendidos), nas televisões (não censuradas), nas redes sociais e na boca do povo de um modo geral?


A quem interessa sonegar ou deixar de prestar  a informação correta, completa, íntegra aos que votam, pagam e sofrem as consequências dos inúmeros malfeitos da administração pública no Brasil?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

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Operação Catilinárias

A depressão na pós-graduação é um tabu, diz pesquisador da UFRN

Marcelle Souza
Do UOL, em São Paulo
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  • Wallacy Medeiros
    Sérgio Arthuro é médico e neurocientista
    Sérgio Arthuro é médico e neurocientista
O pesquisador Sérgio Arthuro leu um artigo na revista Nature e decidiu escrever um texto sobre depressão na pós-graduação. Em pouco tempo, a publicação ganhou repercussão nas redes sociais – até o último dia 10 já tinha quase 40 mil compartilhamentos no Facebook. E foi aí que ele percebeu a dimensão do problema. "Esse tema é um tabu!", disse em entrevista ao UOL.
Arthuro é médico, neurocientista e faz pós-doutorado no Instituto do Cérebro e no Laboratório do Sono do Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
"Apenas escrevi um texto baseado em um artigo, mas acredito que teve uma enorme repercussão porque muita gente passou por esse problema e, apesar disso, ninguém fala sobre o tema. Infelizmente aqui no Brasil não se estuda, pesquisa ou discute isso", disse. Arturo diz que não é especialista no tema e resolveu escrever, sem pretensão científica, inspirado nos anos de experiência no meio acadêmico.
De acordo com a pesquisa "Under a cloud: Depression is rife among graduate students and postdocs. Universities are working to get them the help they need", publicada na Revista Nature em 2012, os principais sinais de depressão são: inabilidade de assistir às aulas ou de fazer pesquisa, dificuldade de concentração, diminuição da motivação, aumento da irritabilidade, mudança no apetite, dificuldades de interação social e problemas no sono.
A pesquisa ainda aponta que não há números precisos sobre a quantidade de estudantes de pós-graduação com depressão, especialmente porque a maior parte não procura ajuda. Estudos indicam que as taxas de depressão dobraram entre estudantes da graduação nos Estados Unidos nos últimos 15 anos e a incidência de comportamento suicidas triplicou no período. Na Inglaterra, estudantes criaram a página Students Against Depression (Estudantes contra a Depressão), que reúne histórias de quem já passou pelo problema e dicas de como procurar tratamento.
"Acredito que os estudantes são atingidos, porque eles são o elo mais frágil da corrente. Se um orientador quiser parar de orientar um estudante, não vai acontecer nada com ele, que vai continuar ganhando o mesmo salário e tendo o emprego garantido. Já para o estudante, perder um mestrado ou um doutorado pode ser uma perda para o resto da vida profissional", diz.
O pesquisador afirma que o orientador tem um papel fundamental para ajudar ou piorar a situação dos pós-graduandos com problemas. "Acho que o orientador deveria deixar muito claro, no começo do trabalho (mestrado e doutorado), o que ele quer do estudante e o que ele pode dar para o estudante, e os dois têm que entrar em um acordo. O problema é que a relação é muito assimétrica".
Segundo Arthuro, são as três principais causas para a ocorrência de depressão na pós-graduação:
  1. O próprio nome "defesa" no caso do doutorado: "Tem coisa mais agressiva que isso? Defesa pressupõe ataque, é isso mesmo que queremos? Algumas pessoas vão dizer que os ataques são às ideias e não às pessoas. Acho que isso acontece apenas no mundo ideal, porque na prática o limite entre as ideias e as pessoas que tiveram as ideias é muito tênue. Mas pior é nos países de língua espanhola, pois lá a banca é chamada de 'tribunal'".
  2. Avaliações pouco frequentes: "Em vários casos, principalmente no começo do projeto, as avaliações são pouco frequentes, o que faz com que o desespero fique todo para o final. No meu caso, os últimos meses antes da 'defesa' foram os piores da minha vida, pois tive bastante insônia, vontade de desistir de tudo etc. Pior também foi ouvir das pessoas que poderiam me ajudar que aquilo era 'normal' e que 'fazia parte do processo'… Isso não aconteceu apenas comigo, mas com vários colegas de pós-graduação. Acho que para fazer ciência bem feita, como todo trabalho, tem que ser prazeroso, e acredito que avaliações mais frequentes podem evitar o estresse ao final do trabalho."
  3. Prazos pouco flexíveis: "Cada vez mais me é claro que a ciência não é linear, e previsões geralmente são equivocadas. Dessa forma, acredito que não deveria haver nem mestrado nem doutorado com prazo fixo. O pós-graduando deveria ter bolsa por 5 anos para desenvolver sua pesquisa, e a cada ano elaboraria um relatório sobre suas atividades e resultados. Uma comissão deveria julgar esse relatório para ver se o estudante merece continuar".
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Humor: Estudantes fazem piada sobre vida acadêmica e pós-graduação20 fotos

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No Facebook, estudantes fazem memes sobre a rotina da vida acadêmica e os perrengues da pós-graduação Reprodução/Facebook Pós-graduação da Depressão

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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Michel Zaidan Filho: Operação catilinárias







Os telejornais noticiaram, em cadeia nacional, uma nova fase da Operação-Lava Jato. Nela, foram emitidos - com a autorização da Justiça federal - 50 mandatos de busca e apreensão de documentos e aparelhos - que possam conter provas contra os investigados por essa mega-operação da Polícia Federal. Coube ao nosso Estado, 4 mandatos de busca e apreensão. No noticiário, não se menciona os nomes que foram objeto da investigação policial. Adivinhem quem são? - Como os jornalões impressos de Pernambuco não vão falar a respeito, adiantamos aqui que foi o alvo da investigação: o empresário ALDO GUEDES, seu estabelecimento comercial (na Avenida Imbiribeira) e sua fazenda ( Esperança), da Fazenda (Nossa Senhora de Nazaré) do ex-governador, no brejo pernambucano. Quem é o senhor ALDO GUEDES E QUAL A SUA LIGAÇÃO com a citada operação da Justiça Federal? - Nada mais, nada menos do o sócio do ex-governador do PSB e neto de Miguel Arraes, EDUARDO HENRIQUE DE ACCIOLY CAMPOS. Ex-presidente da empresa estatal Copergás e dono do jatinho-fantasma que explodiu no ar, vitimando o ex-governador e outras pessoas.Este cidadão é acusado de ter recebido 20 milhões de propina, na Operação Lava Jato.

É possível que a imprensa comprada e vendida (a sabe-se lá, que interesses) não diga uma só palavra sobre isso, para não atrapalhar os planos eleitorais, políticos do Partido familiar do ex-governador de Pernambuco. É possível. Afinal, um dos jornalões impressos já foi comprado por testas-de-ferro do PSB, a mandado de um conhecido empresário de Petróleo e Gás, do nosso Estado. Os outros, por conveniência  e leniência, poderão seguir o mesmo caminho, preservando - mais uma vez - as figuras "impolutas" da política pernambucana. Mas o fato é que a oligarquia de nosso Estado não pode escapar das responsabilidades  criminais e civis das atividades ligadas à refinaria Abreu e Lima, sobretudo sua participação no propinoduto da Petrobrás e a irrigação não do sertão de Pernambuco, mas das contas das campanhas eleitorais em nosso Estado. E isso deve ser apenas a ponta do Iceberg. Pernambuco tornou-se, ultimamente, o palco - não das lutas irredentoras  do nativismo, a independência ou a república - mas de escândalos atrás de escândalos: o da venda dos imóveis do cais José Estelita, a construção Arena Pernambuco, o polo da Hemobrás, a refinaria Abreu e Lima, a transposição do Rio São Francisco e vai por aí...
Em algum momento, os agentes públicos-privados envolvidos (e beneficiados) com esses mega-escândalos terão que prestar declarações à sociedade e à Justiça, sobre a sua participação nessas atividades criminosas. Nada deve desviar o foco da sociedade em relação à essas responsabilidades penais. Até porque vários estão aí, vivos e bolindo, querendo disputar cargos e mandatos. Não podem e nem devem ficar impunes. Têm de ser investigados, denunciados, processados e punidos exemplarmente, na forma da lei. Pernambuco não está fora das garras da Justiça e seus representantes devem muitas explicações ao povo, aos contribuintes e aos eleitores.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

A ressaca do movimento pró-impeachment


A ressaca do movimento pró-impeachment

PUBLICADO EM 15/12/2015 ÀS 10:42 POR  EM NOTÍCIAS

José Luiz Gomes da Silva,
cientista político da UFPE
A presidente Dilma Rousseff completou idade nova no dia de ontem, 14 de dezembro. Certamente, o melhor presente para ela serão os relatórios dos assessores do Planalto sobre as manifestações pró-impeachment, ocorrida no dia de domingo. Em todo o Brasil, essas manifestações resultaram num grande fiasco. Cumpre, agora, fazermos alguns comentários que se aproximem da realidade, tentando entender o que teria ocorrido, motivando o arrefecimento desse movimento. Os organizadores do movimento – por razões óbvias – estão emudecidos ou tentando manipular a realidade. Um jornaleco, comprometido com o movimento, até divulgou uma foto com as manifestações anteriores, como se fossem as ocorridas no dia de ontem. Eles são muito arrogantes para fazerem uma auto-crítica.
Um outro fato a ser observado foi a cobertura tendenciosa da mídia golpista, fazendo uma “ginástica” no discurso, que até poderia interessar aos estudiosos do assunto. Logo cedo, a emissora do plim plim, dava seus flash, informando que a multidão estava chegando aos locais de concentração. Na realidade, essa multidão nunca chegou, mas o objetivo era claro. Levar as pessoas às ruas. Governadores tucanos também deram uma força ao movimento, como no caso de São Paulo, onde houve uma antecipação da abertura dos portões do metrô. Nada disso funcionou. O movimento é cada mais circunscrito, se fechando aos grupos mais radicais, identificados com práticas fascistas ou regimes políticos fechados. Está havendo uma espécie de “depuração”. Os mais consequentes parecem se afastar dessa aventura, de consequências imprevisíveis para a saúde de nossas já frágeis instituições democráticas.
Antecipo que o rito do impeachment está previsto na nossa Constituição, não sendo, necessariamente, algo que atente contra os interesses republicanos. Ao contrário, é um instrumento que atua em sua defesa, apeando do poder governantes que não se pautam pelos princípios que regem a gestão da máquina pública. Por ser previsto, ele se orienta por um conjunto de fatores que justificam sua aplicação. Juristas e até a OAB já se pronunciaram sobre a fragilidade jurídica desse pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, justificado pelas tais pedaladas fiscais, uma prática corriqueira no nosso mundo político. Até um dos atores mais interessados nesse desfecho, o vice-presidente Michel Temer(PMDB), também era chegado a umas pedaladas. É só consultar o Ciro Gomes(PDT).
Politicamente, o que viria depois de um impeachment da presidente Dilma Rousseff não seria um paraíso de normalidade política e econômica. Ao contrário, a tendência é que a turbulência aumente sensivelmente. Não seria fácil esse “arranjo” político de conciliação nacional, liderado pelo PMDB, com seus atores políticos mais sujos do que pau de galinheiro quando o assunto é corrupção da máquina pública. A crise econômica e política deve agravar-se em 2016, com migo ou sem migo, como diria um grande craque alvirrubro, da década de 70, Dedeu. Equívocos foram cometidos e esse agravamento é contingencial. Nada nos informa que um superministro – como se prevê que José Serra poderia tornar-se – conseguiria o milagre de reverter essa situação. Lembro agora que, quando houve a corte de 69,9 bilhões nas contas públicas, Joaquim Levi não compareceu ao evento, externando sua insatisfação com a tesoura. Desejava muito mais. Dilma tentou poupar dos cortes alguns programas sociais tidos como estratégicos para o petismo.
O argumento de que houve pouco tempo para mobilizar a turma do pró-impeachment é furado, uma vez que eles estão mobilizados desde sempre. Nas redes sociais, nas ruas, desancando e “cassando” petistas nos restaurantes, saguões de aeroportos, livrarias, logradouros públicos e até nas repartições federais, hoje recheadas de “coxinhas”. Há um clima de recrudescimento da intolerância no Brasil, dirigidos a alguns grupos sociais específicos, o que sugere que o fascismo já está entre nós.
Neste período do ano, as pessoas estariam mais preocupadas com as festividades natalinas, ou seja, a galinha gorda é prioritária. Dissemos galinha gorda, porque, diante da crise, certamente, o tradicional queijo do reino e o peru poderão estar ausente de algumas mesas. Se esse é um argumento para o arrefecimento, sugiro aos organizadores marcarem a próxima mobilização para o dia 31 de dezembro, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Certamente, uma multidão deverá comparecer ao evento.
O improvável impeachment ficou com a cara de Eduardo Cunha e Temer, como sugere o jornalista Gilberto Dimenstein, em sua página na rede Facebook. Esses caras não inspiram a menor confiança. Na realidade, são políticos que deveriam estar fora da vida pública a bastante tempo. O que nós precisamos é aperfeiçoar o nosso sistema político, evitando que figuras dessa estirpe jamais ascendem ao exercício de algum cargo público. Tirar Dilma para entregar o poder a essa corja é uma tremenda “roubada”. Não existe um fato juridicamente forte para tirar a presidente, emenda Dimenstein.