pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 25 de julho de 2017

Nem pop, nem tech, o Agro é corrupto


Ao invés de perguntar a Deus como foi parar ali, Michel Temer deveria perguntar à Confederação Nacional da Agricultura ou aos seus associados

Miguel Stédile *
Ayrton Vignola/Estadão Conteúdo
Ao invés de perguntar a Deus como foi parar ali, Michel Temer deveria perguntar à Confederação Nacional da Agricultura ou aos seus associados. O setor do agronegócio esteve entre os setores mais ativos para o financiamento da campanha pelo Impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff, desde inflar patinhos amarelos a pagar os trabalhos do publicitário particular de Temer, Elsinho Mouco, como o próprio marqueteiro confessou.
 
As relações entre o Agronegócio e a quadrilha que se instalou no Palácio da Alvorada são íntimas. Como é público e conhecido, além de encontros na madrugada para acertarem a mesada para Eduardo Cunha, Michel Temer e Joesley Batista, da JBS, também compartilharam jatinhos e, principalmente, propinas. Em troca, a JBS receberia a intervenção do governo para facilitar seus negócios.
 
Um dos canais para a recepção da propina era a empresa de engenharia e arquitetura Argeplan, de propriedade do coronel aposentado da Polícia Militar João Batista Lima Filho. Em 2016, O Movimento Sem Terra ocupou a Fazenda Esmeralda, em Duartina (SP), conhecida em toda região como propriedade de Temer, mas registrada em nome de Lima Filho. Não seria a área destino da lavagem de dinheiro da corrupção?
 
Mas Temer não está sozinho na sua amizade. Um em cada 3 deputados foi financiado pelos irmãos Batista em suas campanhas eleitorais, num total de 166 integrantes da Bancada da Friboi. Ao menos oficialmente, em financiamentos registrados. Junto a eles, 28 senadores. Entre os Partidos, o PP é campeão de financiamentos pela JBS. Não à toa, a Operação Carne Fraca apontou corrupção na fiscalização pelo Ministério da Agricultura, justo na área de frigoríficos, e num Ministério cujo domínio tem sido dividido entre o PP e o PMDB nos últimos 18 anos. E a própria delação dos irmãos Batista confessa que a empresa foi beneficada com compra de votos para aprovação de isenção de tributos pela Câmara.
 
A JBS também um bom exemplo do quanto o Agro é “tech”, suas empresas estão afundadas em denúncias de trabalho escravo, precarização do trabalho e desrespeito as leis trabalhistas. Coincidentemente, outra bandeira do governo Temer, acabar com os direitos com a reforma trabalhista. O parãmetro de tecnologia da JBS certamente devem ser as senzalas do século XIX.
 
Os interesses da JBS e do setor do agronegócio com a aprovação de isenções tributárias e das reformas é fundamental para superarmos o discurso predominante da mídia que só encerga corruptos, mas transforma os corruptores em sujeitos ocultos. Como se a corrupção fosse um ato individual e auto-suficiente de um político, ignorando que em sua origem está o setor empresarial em busca de transgredir as leis e a economia. Faltou pouco para os irmãos Batista se apresentarem como vítimas da ganância de Temer e companhia, enquanto fraudavam concorrências, burlavam fiscalizações e desrespeitavam a lei.
 
A corrupção nem de longe é o único crime associado a Temer e ao agronegócio. Seu braço direito, o Ministro da Casa Civil Eliseu Padilha é adepto de outra característica típica do agronegócio, a grilagem de terras. Em bom português: fraudar documentos para roubar propriedades de terra. Padilha é acusado de grilagem tanto no Rio Grande do Sul, onde se apoderou de uma área valorizada para a construção de parques eólicos, como também no Mato Grosso, onde é acusado pelo Ministério Público de desmatar 19 mil hectares no Parque Estadual Serra Ricardo Franco.
 
Outro ícone do agronegócio, Blairo Maggi, rei da soja, ocupa o Ministério da Agricultura. Recentemente, com a apreensão de um avião carregado de cocaína, a imprensa supôs que a soja não é o único produto de exportação da Fazenda Itamarati.
 
Além dos bolsos dos integrantes do governo, as propinas do agronegócio tem outro destino certo: a pauta do Congresso Nacional. Sob medida aos interesses de seus Ministros e de seus financiadores, Temer enviou as Mps 756, 758 e 759 que produzem uma série de retrocessos na estrutura agrária brasileira e fazem a festa de grileiros e outros contraventores. A frente da aprovação destas medidas, está outro campeão do agronegócio, da grilagem e do Governo Temer: o senador Romero Jucá, de Roraima.
 
Com um governo com relações tão carnais com o agronegócio e o crime, não é a toa que os fazendeiros sintam-se blindados e protegidos, ou melhor, impunes. Não apenas em violar a política e a economia, mas em desprezar a própria vida humana. No primeiro ano do golpe, os indíces da violência no campo retrocederam aos números de 13 anos atrás. Os assassinatos no campo saltaram para 61 vítimas, incluindo 13 jovens, 6 mulheres, 13 indígenas e 4 quilombolas. “Quilombolas, indígenas, gays e sem terras” são tudo o que não presta, segundo o Deputado federal Luiz Carlos Heinze, um dos papagaios de piratas postados fielmente ao lado de Temer em seu pronunciamento após a denúncia da PGR.
 
Como se sabe, não foi deus, mas o “grande acordo nacional… com STF com tudo”, nas palavras de Jucá, que levou Temer ao governo. E sua saída, manifestada nos desejos de milhares de brasileiros deve resultar não apenas em novas eleições diretas, mas numa limpeza da quadrilha agro-corrupta que se instalou nos poderes legislativos e executivo. O Fora Temer deve ter como consequências, tanto a devolução ao poder soberano do povo para escolher o Presidente da República, como o próximo mandatário precisa imediatamente revogar todas as medidas provisórias criadas a preço de propina e corrupção para favorecer o agronegócio. Deve também retirar definitivamente o Ministério da Agricultura e importantes ferramentas do Estado como a Companhia Nacional do Abastecimento da mão da camarilha do agronegócio. E para que a sociedade brasileira seja definitivamente sanada da ação criminosa do agronegócio nos poderes legislativos e executivos é necessário uma profunda reforma política que acabe definitivamente com o propinoduto chamado “financiamento privado de campanhas”. O Fora Temer só será efetivo se for for Fora também para quem lhe colocou ali: os patinhos da FIESP, os boizinhos da JBS e os cifrõeszinhos do capital financeiro que sustenta a ambos.
(Publicado originalmente no site do Portal Carta Maior)

Cantor na festa de aniversário da gestão Temer, Sérgio Reis é o líder em emendas pagas pelo Governo


George Marques
QUANDO O PRESIDENTE MICHEL Temer comemorou um ano de gestão, no último 13 de maio, um grupo de políticos, entre eles deputados e ministros, festejou com ele em um refinado restaurante italiano de Brasília, o Trattoria do Rosário. Na ocasião, a voz rouca do cantor e deputado Sérgio Reis (PRB/SP) entoou o clássico sertanejo “O menino da porteira” para aplausos do presidente. Na Câmara, o deputado também anda tendo motivos para comemorar: ele foi o que mais teve emendas pagas este ano pelo governo. Foram R$ 8,4 milhões no total, segundo levantamento feito por The Intercept Brasil com base nos dados do site Siga Brasil.

Um ranking feito por TIB mostra que os dez deputados com mais emendas pagas em 2017 receberam um total de R$ 72,5 milhões. A maioria deles é intimamente alinhado às pautas do governo e defende categoricamente Temer pelos corredores do Congresso Nacional. Ainda de acordo com o levantamento, só em 2017 já foram liberados cerca de R$ 1,5 bilhão de reais a 737 deputados com e sem mandato.
Na liderança da lista, Sérgio Reis teve um total de sete emendas pagas pelo governo neste ano. Em fevereiro, houve um pagamento de R$ 252.607,99 destinado a apoio e manutenção de unidades de saúde para o estado de São Paulo. Para o mesmo fim, outras quatro emendas totalizando R$ 2.965.541,91 foram liberadas em março. Em junho, o valor das emendas do deputado cresce, e o governo paga mais duas que, somadas, chegam a R$ 5.188.383,49 também para a área da saúde. Ao todo, nos seis primeiros meses deste ano, o total foi de exatos R$ 8.406.533,39 executados.
O governo vem sofrendo duras críticas pela liberação desenfreada de grandes recursos no mês mais grave da crise política, quando o Planalto se via ameaçado: ou atendia aos interesses dos deputados ou poderia não conseguir maioria para rejeitar a denúncia de corrupção contra o presidente, com votação prevista para a próxima semana, em 2 de agosto.
As emendas parlamentares individuais são dotações inseridas no Orçamento da União que abastecem os redutos eleitorais dos parlamentares com recursos para obras públicas. Em ano pré-eleitoral, são essenciais para que os políticos beneficiem suas bases nos estados. TIB mostrou recentemente que até o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no complexo de Pinhais, em Curitiba, também foi agraciado com a liberação de recursos de mais de R$ 1,6 milhão.

Para quem a banda toca, afinal?

Apesar de todo o agrado por parte do governo e mesmo já tendo elogiado Temer num passado recente, o cantor tem se aproximado muito nos últimos tempos do aspirante ao Planalto Álvaro Dias (PV-PR), árduo crítico da atual gestão, que chegou a pedir a renúncia do presidente após a divulgação das gravações comprometedoras feitas pelo dono da JBS, Joesley Batista. Sérgio Reis figura como “indeciso” no site 342agora, criado para acompanhar o posicionamento dos congressistas sobre a continuidade da denúncia criminal contra Temer.
A reportagem entrou em contato com o deputado Sérgio Reis para entender a aplicação dos recursos, mas o deputado ainda não se manifestou.
Entre os dez deputados mais bem pagos com emendas parlamentares em 2017, a maioria faz parte da tropa de choque de Temer. Em segundo lugar, está o líder do PMDB na Câmara Baleia Rossi (SP), com R$ 7.660.534,74. Em seguida, Alexandre Serfiotis (PMDB-RJ), que recebeu R$ 7.553.345,51. Partiu de Rossi a iniciativa de que o PMDB fechasse questão contra a continuidade da denúncia contra Temer. Ele também sugeriu que Zveiter fosse retirado da CCJapós apresentação do parecer contra Temer.
Os deputados Laerte Bessa (PR/DF) e Paulo Maluf (PP/SP), membros da CCJ e que votaram contra o andamento da denúncia de corrupção contra Temer, receberam respectivamente R$ 7.039.886 e R$ 6.768.072, ocupando os sétimo e oitavo lugares do ranking. De acordo com o 342agora, todos se manifestaram contrários à continuidade da investigação contra Temer.
Coube a Paulo Maluf contar sobre as qualidades até então desconhecidas de Temer aos presentes que acompanham a sessão na CCJ.  “Conheço Temer há 35 anos e, em 35 anos de convivência, não dá para a gente se enganar. Temer é um homem honesto, probo, correto e decente que está sendo acusado de maneira absolutamente imprópria”, profetizou.



O deputado Paulo Maluf, que já foi condenado à prisão na França e figurou na lista da interpol, diz que Temer é homem "honesto e probo".
O cargo que Bessa ocupou na CCJ era anteriormente de Jorginho Melo (PR/SC), retirado pelo partido por ter uma posição favorável à continuidade da denúncia. Manobras, promessa de cargos e liberação de emendas a aliadosajudaram o governo a garantir uma vitória montada na artificialidade parlamentar.
Bessa entrou na comissão sem nem sequer saber o nome dos colegas: se enrolou para citar o sobrenome do relator, Sérgio Zveiter, chamando-o de “Velter”, e do deputado Wadih Damous (PT/RJ) de “Uadi Vadus”. “Não é muito estranho uma denúncia nessa hora em que o Brasil começa a ver uma luz no fim do túnel?”, questionou, mostrando por que foi escalado para a CCJ.
(Publicado originalmente no site do Intercept Brasil)
Foto em destaque: Sérgio Reis canta ao lado de sua mulher Angela Marcia, durante sessão solene no plenário da Câmara em 2015.

Le Monde: É chegada a hora de pressionar por uma política de economia solidária


A Economia Solidária é também uma atividade que estimula a cidadania ao fomentar valores como solidariedade, cooperação, diálogo e democracia, define o parecer à CCJ de autoria da deputada Maria do Rosário.
Por: Leo Pinho
20 de julho de 2017
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Estima-se que a Economia Solidária no Brasil, incluindo cooperativas e empreendimentos solidários, formalizados ou não, seja responsável por cerca de 3% do PIB nacional, envolvendo mais de três milhões de pessoas¹
Apesar desse número ser nada desprezível, quem gira essa economia tem muitas dificuldades em seu dia a dia, seja porque a Economia Solidária não é reconhecida e respaldada por uma política pública que defina princípios e parâmetros para seu exercício, seja pelas dificuldades que isso gera em relação a obtenção de crédito e de incentivos governamentais.
O termo Economia Solidária foi usado de modo pioneiro por Paul Singer em 1996, em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado “Economia Solidária contra o desemprego”. No atual momento de crise política, econômica e social enfrentado pelo Brasil, mais do que nunca a Economia Solidária mostra-se necessária.
Um amplo processo de mobilização envolvendo o movimento de Economia Solidária no país, incluindo conferências, discussões no Fórum Brasileiro de Ecosol, mobilizações das centrais de cooperativas e audiências públicas definiu, desde então, a necessidade de criação de uma política pública, que começou a ser desenhada com a criação da Secretaria Nacional da Economia Solidária (SENAES) em 2003, que por quase toda sua existência foi conduzida por Paul Singer.
Nesse caminho de fortalecimento e conquistas foi criado o Cadsol (Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários), “com o objetivo de permitir aos empreendedores solidários o acesso às políticas públicas nacionais de ES e demais políticas e programas públicos de financiamento, crédito, aquisição e comercialização de produtos e serviços”.²
Destacam-se também nesse movimento estratégias de expansão das políticas públicas, com a criação de legislação e conselhos de Economia Solidária, com ações em cerca de 17 governos estaduais, homologação de leis estaduais e municipais, celebração de convênios da SENAES com municípios e estados, editais e apoio a centenas de projetos.
Esse processo também incluiu a implantação da rede de Centros de Formação em Economia Solidária em todo o país e a parceria da SENAES com a Agência de Desenvolvimento Solidário garantiu condições para desenvolver o Projeto Integração de Redes Solidárias, com objetivo de fortalecer a organização de redes de cooperação por meio da valorização de protagonismos, buscando ampliação da sustentabilidade e articulação em torno do desenvolvimento territorial e alternativas de inclusão produtiva.
Faltava aqui um marco legal, capaz de proporcionar mais segurança jurídica às ações e políticas de Economia Solidária, e assim, em meio a toda essa movimentação. O Projeto de Lei (PL) nº 4.685, de 2012, de iniciativa coletiva dos deputados Paulo Teixeira, Eudes Xavier, Padre João, Luiza Erundina, Miriquinho Batista, Paulo Rubem Santiago, Elvino Bohn Gass e Fátima Bezerra, dispõe sobre a Política Nacional de Economia Solidária e os empreendimentos solidários, estabelecendo definições, princípios, diretrizes, objetivos e composição da Política Nacional de Economia Solidária. Cria ainda o Sistema Nacional de Ecosol e qualifica os empreendimentos econômicos solidários como sujeitos de direito, visando fomentar essa economia e assegurar o direito ao trabalho associado e cooperativado.
O PL nº 4.685, de 2012 está pronto para ser apreciado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, e é o momento de pressionarmos os deputados a apreciarem a matéria. Esse PL é resultado de todo o amplo processo de mobilização de entidades e pessoas da Economia Solidária no país, e é fundamental apoiarmos esse movimento de avanço, apesar dos retrocessos, visando garantir um marco regulatório para essa economia, dando segurança jurídica às políticas públicas.
A Economia Solidária é também uma atividade que estimula a cidadania ao fomentar valores como solidariedade, cooperação, diálogo e democracia, define o parecer à CCJ de autoria da deputada Maria do Rosário. Destaca ainda o parecer da deputada: “por meio do reconhecimento da economia solidária como importante política pública, a presente proposição prevê vários estímulos aos diferentes aspectos que englobam esta atividade, tais como em relação à educação, profissionalização, cidadania e preservação do meio ambiente, o que vai ao encontro dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, tais como a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, previstos no Art. 1º da Constituição Federal. Trata-se, em verdade, de uma proposição que honra esta casa e todos aqueles preocupados com a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro”.
O PL prevê a criação do Fundo Nacional de Economia Solidária (FNAES), com objetivo de centralizar e potencializar os recursos a serem investidos no desenvolvimento dessa economia, buscando soluções para as dificuldades de natureza financeira dos empreendimentos. Outros empecilhos apontados ao desenvolvimento da Economia Solidária, como carência de treinamento e reconhecimento social, serão também contemplados pela implantação da lei, que por si só implicará maior aceitação social dos empreendimentos solidários e uma maior criação de empregos.
Diante do atual quadro de supressão de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras com as reformas trabalhista e da previdência, encaminhada a toque de caixa sem a promoção do devido debate junto à sociedade brasileira, a aprovação desse PL é fundamental para garantir mais oportunidades de forma equânime, socialmente justa e ambientalmente equilibrada.
A SENAES também padece nesse quadro e tem passado por retrocessos desde 2015, com a mudança da conjuntura nacional, tendo sido reduzida a uma subsecretaria dentro do Ministério do Trabalho, incluindo aqui também a demissão de Paul Singer.
Depois de um movimento de muita conquista, não é possível arrefecer frente a esses retrocessos.
É preciso pressionar deputados e deputadas a apreciarem essa matéria na CCJ o mais rapidamente possível! A manutenção das políticas públicas de Economia Solidária e de tudo o que foi construído ao longo dos anos é fundamental para redução da exclusão e da precarização do trabalho.
Para conhecer o inteiro teor do projeto: https://goo.gl/3np4DF
Para contatar deputados e deputadas e solicitar a aprovação do PL: https://goo.gl/9sKhy2
Para enviar um e-mail pedindo que se coloque em pauta e aprove o PROJETO DE LEI N.º 4.685-C, DE 2012, para garantir segurança jurídica e criação do Sistema Nacional de Economia Solidária: https://goo.gl/5PrRgm

Leo Pinho – Presidente da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil (UNISOL Brasil)


[1] Sobre esse e outros dados, vale a leitura de “A criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária: avanços e retrocessos”, de Maria Antonia Silva de Arcanjo e Ana Luíza Matos de Oliveira, publicado pela Fundação Perseu Abramo em 2017: https://goo.gl/rEirLS
(Publicado originalmente no site do jornal Le Monde Diplomatique Brasil)

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Drops político para reflexão: O fim do senador Aécio Neves

 


"Somente um sistema político necrosado como o nosso poderia permitir uma sobrevida a um ator político como o senador Aécio Neves(PSDB). Isso, naturalmente, com alguma ajudinha de um poder judiciário igualmente comprometido, notadamente depois das ultimas tessituras do golpe institucional. Há uma esquizofrenia desse sistema político com a sociedade que ele deveria representar, ou seja, as demandas de cidadania não são atendidas, ao passo em que prevalece um jogo de privilégios corporativos - na  melhor das hipóteses - ou as falcatruas cometidas contra o erário,  sempre tão danosas à população, lideradas por atores políticos no exercício do poder. É neste sistema político apodrecido que proliferam os vermes que atormentam a nossa tranquilidade republicana, subtraindo nosso sono cotidiano, em meio às tormentas de incertezas políticas e econômicas que conduzem a coisa pública no país. A acachapante performance obtida pelo senador Aécio Neves, numa pesquisa recente de intenção de voto para a Presidência da República, realizada pelo Instituto Vox Populi - onde não passou do escore de 1,1% - parece indicar que o eleitorado, desta vez, está disposto a fazer a assepsia política que o sistema político não foi capaz de fazer."
 
(José Luiz Gomes, Cientista Político, em editorial publicado aqui no blog)

sábado, 22 de julho de 2017

O xadrez político das eleições de 2018, em Pernambuco: Um Coelho nos planos da Conspiração Macambirense?

Resultado de imagem para Fernando Bezerra Coelho/Armando Monteiro

José Luiz Gomes da Silva



Até recentemente, as movimentações de dois atores políticos, em Brasília, acabaram em rota de colisão, uma vez que ambos disputavam os mesmos espaços, que, neste caso, podem ser traduzidos numa tentativa de arregimentar dissidentes da legenda socialista para os seus projetos políticos imediatos e futuros. Os dois atores políticos que acabaram se estranhando foram o Presidente Michel Temer(PMDB) e o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, dos Democratas. As coisas lá pela capital federal parecem que se acalmaram depois de uns canapés suculentos servidos nos jantares de conciliação e umas conversas ao pé-do-ouvido, onde juras eternas de fidelidade foram proferidas. Naturalmente que essas juras não podem ser levadas muito a sério nesse terreno pantanoso da política, onde a Ética das Consequências, de inspiração maquiavelina, parece ditar as regras do jogo. 
Salvo melhor juízo, a expressão "Quem tem tempo não tem pressa" pode ser creditada ao ex-governador Marco Maciel, uma velha raposa da política pernambucana. Esse parece ser hoje o lema dos principais postulantes ao Palácio do Campo das Princesas, nas eleições majoritárias de 2018. Paulo Câmara(PSB), atual governador, com o projeto de continuar inquilino da sede do Governo Estadual, do outro lado, seu adversário, o senador Armando Monteiro(PTB). Se, até bem pouco tempo, Armando Monteiro fez uma visita de cortesia aos Coelhos, em Petrolina, o atual mandatário do Estado sinalizou que estará prestigiando as festividades de casamento do atual prefeito da cidade, Miguel Coelho(PSB), num gesto emblemático, como que reconhecendo a importância de manter o clã dos Coelhos sob o guarda-chuva socialista.
No atual momento político da quadra estadual, essa ala dos Coelhos assume uma importância estratégica, fortalecida por uma série de circunstâncias específicas. Notadamente, isso justifica o assédio de atores e legendas políticas, interessadas no seu passe, como é o caso do PMDB, do DEM e do próprio PTB, em certa medida. De há muito que os Coelhos estão se contentado com as "compensações" políticas. Ora com uma indicação ao ministério, ora com uma das vagas ao Senado Federal. Isso desde o período em que o PSB local atendia pelo nome do ex-governador Eduardo Campos. Outro dia, um colunista de política local comentou que o senador Fernando Bezerra Coelho estaria como o primeiro da fila, nos planos dos socialistas, a suceder Paulo Câmara, depois do segundo mandato. Quem, em sã consciência, poderia assegurar que as raposas socialistas iriam respeitar essa ordem da fila, já desrespeitada no passado? Há, ainda, como agravante, o fato de a família Coelho não ter sido contemporizada no Governo Paulo Câmara, o que deixou algumas rusgas neste grupo político do Sertão do São Francisco.
Ainda no dia de ontem, depois de participarmos de uma mesa, durante um seminário na Fundação Joaquim Nabuco, o professor Michel Zaidan nos questionou sobre se sabíamos alguma coisa sobre rumores que davam conta de uma possível retirada de candidatura do senador Armando Monteiro. Não creio. Penso que, inclusive, essa sua visita à cidade de Petrolina indica que seu nome está fortalecida no contexto daquilo que denominamos por aqui em outro momento de Conspiração Macambirense, ou seja, um núcleo político que se fortalece em torno da oposição ao Governo de Pernambuco, visando, sobretudo as eleições majoritárias de 2018. Tanto isso é verdade que o senador Armando Monteiro, logo após essa visita, continuou o seu périplo pelo sertão, adubando suas bases para colher os frutos em 2018.

Le Monde: Hora de quebrar ovos

Hora de quebrar ovos
A presente crise constitui uma nova chance para o conjunto da esquerda brasileira. Mas, para aproveitá-la, é importante responder ao seguinte: a crise que o país vive pode ser solucionada por meio de uma negociação entre as partes em conflito? Ou ela exige uma derrota profunda de uma das partes em conflito?
por: Valter Pomar
18 de julho de 2017
Crédito da Imagem: Aroeira 
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No dia 17 de maio de 2017, o sonho do PSDB parece ter ido a pique. Segundo esse sonho, Michel Temer faria o serviço sujo, as eleições de 2018 seriam vencidas por um dos tucanos históricos, o país voltaria a crescer, devidamente alinhado com os Estados Unidos, sem espaço para “lulopetismos” e com o “custo Brasil” (leia-se: salários e direitos) arrochado.
O torpedo foi disparado pela Procuradoria-Geral da República e pelas Organizações Globo, ao divulgarem o diálogo criminoso entre titulares da empresa JBS e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Se tivesse ficado nisso, poderíamos estar diante de uma jogada calculada: sacrificar Aécio para tentar dar credibilidade a um “ataque final” contra Lula. Acontece que divulgaram também um diálogo criminoso mantido por Temer. E com os diálogos vieram fotos e filmes de assessores carregando malas de dinheiro.
Há quem diga que, incapaz de fazer frente à crescente mobilização popular – que teve na greve de 28 de abril um ponto destacado –, Temer deixou de ser funcional para o golpismo. Mas, qualquer que tenha sido a motivação original da PGR e da Globo, a situação ganhou vida própria, afetando o PSDB, ampliando a rejeição contra Temer, mudando o patamar da crise que vive o país e aprofundando a polarização, tendência que deve agravar-se, inclusive durante e depois da próxima eleição presidencial, quem quer que vença.
Importante dizer que, se não houver alteração constitucional nem interdição ilegal da candidatura Lula, a tendência é que as próximas eleições presidenciais – em 2017 ou 2018 – sejam decididas num segundo turno entre a direita e a esquerda. Mais exatamente entre alguém “padrão” Bolsonaro ou Dória contra Lula.
Os golpistas continuam trabalhando para impedir que Lula concorra às eleições presidenciais. Eles imaginam que isso dividiria o eleitorado lulista entre os adeptos do boicote, os de uma candidatura petista, os da esquerda antipetista, os de Ciro Gomes etc.
Tal fracionamento facilitaria a vitória de uma candidatura de direita. E poderia ter como efeito colateral desconstituir o bloco democrático popular que, desde 1989, constitui uma alternativa de governo que polariza a disputa política do país.
Entretanto, nada garante que seja possível interditar Lula, ao menos respeitando minimamente as aparências e os prazos previstos em lei. Afinal, trata-se não apenas de condenar sem provas em primeira instância, mas também em segunda instância, em tempo recorde e novamente sem provas.
Nada garante, igualmente, que interditar juridicamente Lula o impeça de “transferir votos” para outra candidatura que, ao final, possa sair vitoriosa. Ademais, se a direita vier a vencer as eleições graças à interdição de Lula, o resultado pode ser mais crise, inclusive devido à baixa legitimidade do novo presidente diante de uma situação marcada por grandes conflitos políticos e sociais.
Noutras palavras, aos golpistas não basta impedir Lula de concorrer. Nem prosseguir na tentativa de demolir a imagem e a capacidade operativa do presidente Lula, do PT e de outras instituições e símbolos do campo democrático e popular. Afinal, mesmo após doze anos em que vêm sendo vítimas de uma campanha sistemática de desconstrução, o PT e Lula seguem liderando as pesquisas de opinião, motivo que leva setores do golpismo a defender uma mudança no sistema político.
As alternativas em estudo, que vão do adiamento das eleições até a introdução do parlamentarismo – assim como as hipóteses vocalizadas por cavernícolas, tais como o magnicídio e uma saída jurídico-militar –, constituiriam um golpe dentro do golpe, para impor as contrarreformas, impedir a vitória de Lula e não ter de depender de um novo Collor.
Ainda não está claro como as elites poderiam materializar esse golpe dentro do golpe. As alternativas envolvem operações complexas, como uma “renúncia acordada” de Temer, um mandato-tampão de Rodrigo Maia ou Carmem Lúcia (presidente da Câmara e presidenta do STF, respectivamente) e a eleição indireta de um personagem como Henrique Meirelles ou Nelson Jobim. E mesmo assim não se teria conseguido remover aquilo que os golpistas consideram uma “pedra no meio do caminho”: a eleição presidencial direta em 2018. Também por esse motivo há quem defenda, nos meios golpistas, a convocação de um arremedo de Constituinte, por meio da qual buscariam pôr fim à crise, legitimar as contrarreformas e a mudança no sistema político.
Evidentemente, para que possam materializar um desfecho como o descrito, não basta a conciliação entre os golpistas. Por esse motivo, é essencial o contraponto dos setores populares, reafirmando que não existe solução democrática que não inclua a saída imediata de Temer e a convocação de eleições diretas já.
Essa unidade popular é fundamental não apenas para sabotar uma “saída por cima”, mas também para impedir que a direita sequestre a insatisfação popular, como de certa forma ocorreu em determinado momento das manifestações de 2013!
Entretanto, entre os que defendem o Fora, Temer e as Diretas Já, há diferenças importantes no terreno da tática, da estratégia e do programa.
No terreno estratégico e programático há, por exemplo, um velho e conhecido debate acerca de como enfrentar o neoliberalismo: se por meio de um programa de capitalismo democrático nacional ou se por meio de um programa democrático popular e socialista. Dito de outra forma, para que a população apoie com radicalidade a “Democracia” e a “Nação”, será ou não essencial defender a “Igualdade”?
Na tática também há variados pontos de vista, desde os que falam em “volta, Dilma” até os que não descartam a hipótese de participar, mesmo que de forma encoberta, de uma eventual eleição indireta, passando, ainda, pelos que apoiam Lula e indo até aqueles que se opõem à sua candidatura, seja por sonharem com uma alternativa “mais à esquerda”, seja por acreditarem que a retirada do ex-presidente facilitaria a luta das Diretas Já e também a constituição de uma frente progressista, por exemplo, em torno de Ciro Gomes. Vale lembrar que o apoio popular à Lula faz com que ele seja um candidato eleitoralmente mais amplo do que eventuais alternativas.
Finalmente, há nas forças populares um debate sobre como relacionar a luta democrática e nacional com a luta em defesa dos direitos sociais afetados pelas contrarreformas. Debate diretamente relacionado com outro: a importância de combinar as manifestações de rua com greves que paralisem a produção.
A crise política e a queda na popularidade de Temer aumentaram e muito a possibilidade de uma vitória popular na batalha em defesa da Previdência. Isso teria efeitos extremamente positivos, entre os quais consolidar – no imaginário de vastos setores da classe trabalhadora – a greve geral como um instrumento de luta possante e exitoso.
A crise também ampliou as possibilidades – por enquanto muito pequenas – de vitória popular no enfrentamento da contrarreforma trabalhista. Até agora, a compreensão popular sobre o tema é menor do que no caso da Previdência. O enfraquecimento de Temer nos garante mais tempo para organizar, esclarecer e mobilizar.
Por outro lado, fatos como a abertura de processo contra Temer e a prisão preventiva da irmã de Aécio Neves criaram um álibi e uma cortina de fumaça que fortalecem a decisão, tomada pelo “juiz” Moro há muito tempo, de condenar Lula. Mesmo sem provas, não faltariam elogios à “higienização das instituições” que estaria sendo promovida pela Operação Lava Jato. Isso apesar de a situação atual demonstrar exatamente o contrário: a Lava Jato vinha acobertando Temer, Aécio & Cia., pois tem como objetivo central criminalizar a esquerda.
Os efeitos colaterais de uma condenação sem provas não parecem preocupar a facção golpista de que Moro faz parte. Apesar do primitivismo e da mediocridade de seu cabeça mais visível, essa facção é a vanguarda do golpismo, entre outros motivos por saber que não se faz omelete sem quebrar os ovos.
Como disse Moro em declaração publicada pela imprensa no dia 17 de maio: “O Brasil encontra-se em uma encruzilhada. É possível avançar na implementação do estado de direito e no fortalecimento da democracia, o que exige o enfrentamento da corrupção sistêmica. Ou é possível retroceder ao status quo anterior, de desenfreada corrupção sem responsabilização. A passagem entre um modelo de privilégio para um modelo de responsabilidade não se faz sem turbulência”.
De fato, turbulência é o que não faltará, não apenas em razão do que ocorre na “grande política”, mas também por causa da piora na situação econômica e social.
As contrarreformas reduzem o valor pago aos trabalhadores e ampliam os recursos disponíveis ao capital, mas a conjuntura global e a situação interna são desfavoráveis ao crescimento. A tendência é a ampliação do desemprego, da desassistência e da miséria, o que, como é óbvio, não contribui para estabilizar o cenário político.
Até o dia 17 de maio, vivíamos uma crise político-institucional caracterizada pela crescente desarmonia e conflitos entre os “poderes” da República. Desde então, estamos ingressando em uma “crise de regime”. Noutras palavras, numa situação que pode desembocar numa mudança do regime político do país.
No varejo, isso pode se explicar assim: o caminho escolhido para atacar Lula e o PT, a aplicação da “ponte para o futuro” e o clima de radicalização decorrente polarizam o país entre alternativas (como Lula, Dória e Bolsonaro) que não são exatamente as preferidas pela cúpula de diferentes setores do golpismo. O aprofundamento da polarização, por sua vez, faz crescer a possibilidade de um “pronunciamento” militar, mesmo que venha fantasiado de toga. Noutras palavras: a crise das instituições tende a se converter numa crise de regime, podendo levar a uma ruptura da institucionalidade vigente.
No atacado, a explicação para o surgimento de uma crise de regime está na dificuldade cada vez maior de aparecer uma solução para a crise nos marcos da atual institucionalidade, no descompasso entre as necessidades das diferentes classes sociais versus os limites impostos pela atual constitucionalidade, na distância cada vez maior entre a profundidade da crise e as capacidades e pretensões dos que controlam as instituições de Estado.
Na história do Brasil já assistimos a situações semelhantes. Algumas poucas vezes, a mobilização popular prevaleceu e a crise foi resolvida por meio do exercício das liberdades democráticas. No mais das vezes, prevaleceu o acordo por cima, sustentado muitas vezes por intervenções militares, não faltando quem alimentasse ilusões nos “setores patrióticos” das Forças Armadas, que antes como hoje estariam supostamente incomodadas com o entreguismo, a corrupção e o caos social.
Importante levar em consideração também que a tendência à polarização e à crise não é restrita ao Brasil. É uma tendência latino-americana e também mundial. O golpe no Brasil só ganha pleno sentido e lógica quando o inserimos nas movimentações dos Estados Unidos, especialmente no sentido de enfrentar China e aliados, inclusive militarmente.
Apesar desses enormes perigos, a presente crise constitui uma nova chance para o conjunto da esquerda brasileira. Mas, para aproveitá-la, é importante responder ao seguinte: a crise que o país vive pode ser solucionada por meio de uma negociação entre as partes em conflito? Ou a crise que o país vive exige uma derrota profunda de uma das partes em conflito?
O golpe de 31 de agosto, tudo o que ocorreu antes e depois, bem como o apoio dos “jovens ricos educados” a alternativas do tipo Bolsonaro ou Dória indicam que uma parte das elites já decidiu seu caminho: aprofundar o golpismo, se necessário com doses de militarização. Tudo leva a crer que a maior parte das elites tocará a música de sua jovem guarda.
Como impedir que as alternativas de direita se concretizem? Alguns setores acham que contribuiremos para isso se “despolarizarmos” a disputa. Esse é o espírito que move diversas outras iniciativas autodenominadas “progressistas” e “nacional-populares”: ceder parte dos interesses do campo popular em troca de supostas “garantias democráticas”.
O principal problema deste tipo de “solução” é que ela consiste em tentar impedir nossa derrota por meio de uma autoderrota. Uma consequência prática disso seria que não haveria reversão, e sim aprofundamento da “ponte para o futuro”. E já sabemos (vide Europa e Estados Unidos) o que tende a ocorrer quando a esquerda capitula enquanto o tecido social se deteriora.
Outro caminho para impedir as alternativas de direita consiste em ampliar a mobilização popular. A Frente Brasil Popular, o PT, a CUT, o MST, a CMP, a UNE, a Frente Povo Sem Medo e todas as organizações do campo democrático, popular e de esquerda precisam insistir na campanha pelo Fora, Temer e Diretas Já; defender os direitos e enfrentar as contrarreformas; colocar em pauta a necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte, como mecanismo democrático que propomos para reordenar as instituições e indicar o tipo de desenvolvimento que queremos para o Brasil; e, ao menos no caso do PT, apresentar desde já a candidatura de Lula presidente.
Não necessariamente a mobilização será suficiente para impedir desfechos como as indiretas, a interdição de Lula e o parlamentarismo, mas, mesmo na pior das hipóteses, ajudará a preparar o povo brasileiro para as duras lutas que virão.
Seja no melhor, seja no pior cenário, devemos nos preparar para um período em que a luta de classes assumirá formas mais duras, mais confrontadoras e mais violentas do que no período 2003-2016. Inclusive se a esquerda vencer a próxima eleição presidencial, a tendência seguirá sendo a ampliação dos conflitos. Em resumo: também precisaremos estar dispostos a quebrar ovos.
*Valter Pomar é professor do bacharelado de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.
[Texto publicado na edição 199 –  Le Monde Diploamtique Brasil – junho de 2017]

Pós-verdade e política

                                 
Charles Feitosa

Pós-verdade e política
Arte Andreia Freire / Revista CULT
                     

Onde não há fatos, nada é verdade – O que Trump tem a ver com Nietzsche, Foucault ou Derrida? A resposta para o título desse texto é simples e cristalina como água que jorra da fonte: nada, mas nada mesmo. Mesmo assim ocorre no noticiário político e na internet volta e meia a associação, completamente indevida por sinal, entre as estratégias midiáticas de desinformação de Trump e os esforços de desconstrução das grandes narrativas da verdade pelos filósofos ditos “pós-modernos”.
Por exemplo, a famosa afirmação de Nietzsche, em um fragmento de 1887, de que “não existem fatos, apenas interpretações”, costuma ser escutada na filosofia como um alerta crítico de que a verdade não é única, nem definitiva, nem imutável, mas precisa ser continuamente discutida e tematizada. No contexto político atual a frase está sendo relida, ao contrário, como se fosse a legitimação para os estados de “tanto faz” ou de “liberou geral” reinantes, pois onde não há fatos, nada é verdade.
Um sinal sutil dessa tendência é o uso da palavra “pós-verdade” como se fosse o ponto de interseção entre política e filosofia na contemporaneidade. O termo “pós-verdade” é conhecido pelo menos desde os anos 90, mas se tornou especialmente popular em 2016, tendo sido escolhida a palavra do ano pela equipe do Oxford Dictionaries.
A pós-verdade costuma ser definida brevemente como uma estratégia de desvalorização dos fatos em prol de interesses pessoais. Também chamada de fake news (notícias falsas), várias amostras da pós-verdade na política costumam ser citadas, tais como as estatísticas fictícias divulgadas na campanha do Brexit em 2016 sobre os altíssimos custos para permanecer na comunidade europeia ou os rumores conspiratórios sobre a origem muçulmana extremista do ex-presidente dos EUA, Barack Obama.
No Brasil, são também inúmeros e infindáveis os exemplos: os boatos em torno de uma suposta encenação da morte de Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula ou mais recentemente, a afirmação do atual prefeito de São Paulo de que os manifestantes da greve geral de 28.04.17 estariam recebendo dinheiro para irem às ruas.
Mas o grande garoto-propaganda da pós-verdade continua sendo Donald Trump. Em episódio emblemático, seus assessores, ao serem questionados sobre o número exato de pessoas que assistiram a posse presidencial em janeiro de 2017, alegaram que não estavam mentindo quando insistiam, a despeito de indícios contrários, que tinha mais gente na posse de Trump do que na de Obama em 2009, mas sim apenas apresentando “fatos alternativos”.
Onde não há fatos, não existe verdade única – Por que chamar essas formas midiáticas de manipulação de textos ou imagens como pós-verdade? A escolha do termo não é neutra, trata-se de uma interpretação que é ao mesmo tempo uma acusação. Tudo se passa como se a “pós-verdade” fosse a verdade típica dos tempos “pós-modernos”.
A própria expressão “pós-moderno” tornou-se muito frequente nos últimos trinta anos, tanto na imprensa, como na vida cotidiana. Falou-se muito e indistintamente de sociedade pós-moderna, de amor pós-moderno ou ainda de doenças pós-modernas. Trata-se de um conceito guarda-chuva, cujo uso inflacionário oculta a falta de clareza acerca de seu significado.
Etimologicamente o prefixo “pós” indica uma determinada fase histórica: não vivemos mais na modernidade, mas sim “depois”. Entretanto, o significado desse “depois” ainda é estritamente ambíguo e polêmico, podendo indicar tanto um “extra-“, um “anti-”, ou ainda como um “ultra-moderno”.  É preciso, antes de tudo, ter o cuidado de distinguir uma condição “pós-moderna” de um pensamento pós-moderno. Por condição pós-moderna entende-se, quer a celebremos ou a lamentemos, nossa situação histórica de viver e morrer na virada do século 20 ao 21.
Por pensamento pós-moderno, entretanto, entenda-se estritamente uma estratégia específica de lidar com essa condição, consolidada com a publicação em 1979 do livro La condition postmoderne de autoria do filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998). Para Lyotard, o projeto dos modernos de liberar a humanidade da ignorância e da miséria produziu, ao contrário, sociedades que permitem o imperialismo, a guerra, o desemprego, a tirania da mídia e o desrespeito à vida humana em geral.
Contra a lógica da razão e do mercado seria preciso inventar outras lógicas, norteadas pelo reconhecimento do dissenso (a irredutível diversidade dos jogos de linguagem nas culturas) e por uma revalorização da dimensão estética. Em um tempo em que não é possível mais um discurso único e definitivo sobre o que é bom, justo ou verdadeiro, Lyotard propõe a emergência do pensamento pós-moderno, cuja característica fundamental é a afirmação das diferenças e do pluralismo.
Dentro desse contexto seria muito mais pertinente reconquistar o sentido mais original e positivo do termo “pós-verdade”, enquanto um esforço anti-dogmático de promover a pluralização e diversificação dos saberes. Então aqui cabem as seguintes perguntas: Isso a que se hoje se nomeia “pós-verdade”, não seria apenas uma nova fachada para um fenômeno bem antigo, a saber, a mentira na política? Não foi sempre assim, na história dos gestores políticos, manipular informações para se manter no poder? Ou será que há alguma diferença fundamental entre as mentiras tradicionais dos homens de estado e a onda contemporânea de desvalorização da verdade?
De fato, já desde Platão sabemos que a mentira não é apenas um incidente ocasional na vida política, mas é ela mesma um dos recursos disponíveis aos governantes na difícil e inglória tarefa da administração das cidades. Na descrição da sua utopia, a despeito do compromisso de cada cidadão de sempre buscar e defender a verdade, Platão argumentava que seus dirigentes, somente eles, teriam a permissão de mentir, pois a mentira, se usada adequadamente, pode contribuir para a realização do bem-estar comum.
Onde não há fatos, tudo é verdade – Desde então a ideia da mentira na política como um remédio amargo, mas necessário, se consolidou no nosso imaginário. Há exatamente 50 anos atrás, em 25 de fevereiro de 1967 na The New Yorker, a genial filósofa judia de origem alemã Hannah Arendt publicou um texto paradigmático sobre o tema, intitulado Verdade e Política (em relação ao qual o título do meu presente texto faz referência e reverência).
Arendt começa chamando de “lugar comum” a crença na incompatibilidade insuperável entre verdade e política, mas ao mesmo tempo ela extrai desse lugar comum uma pergunta incômoda,  que nos obriga a pensar: Será da própria essência da verdade ser impotente e da própria essência do poder enganar? A resposta de Arendt é complexa, pois se de um lado ela defende uma certa potência inerente à verdade de incomodar e questionar as tiranias, por outro lado ela também admite um certo uso tirânico das verdades absolutas, pois geralmente é em nome delas que se instalam discursos e práticas totalitárias.
Mas o mais importante é que Arendt defende que a natureza da verdade é essencialmente política, ou seja, “é sempre relativa a várias pessoas: ela diz respeito a acontecimentos e circunstâncias nos quais muitos estiveram implicados; é estabelecida por testemunhas e repousa em testemunhos; existe apenas na medida em que se fala dela, mesmo que se passe em privado”. Se a verdade é essencialmente política ela pode ser ameaçada pelas mentiras estratégicas dos poderosos e precisa continuamente ser defendida e conquistada com o máximo de questionamentos e debates públicos.
O que mais me interessa no texto de Arendt é sua tese de que, mesmo reconhecendo uma tensão estrutural entre verdade e política, existe uma mudança no modo clássico e contemporâneo do uso da mentira na disputa pelo poder.  A mentira clássica era dirigida estrategicamente para este ou aquele grupo de inimigos e por isso poderia ser facilmente detectada pelos historiadores como uma espécie de buraco ou de falha na rede dos acontecimentos.
O problema é que segundo Arendt a contemporaneidade é marcada por uma forma de “mentira organizada”, uma aliança entre os meios de comunicação e os regimes totalitários, onde toda a matriz da realidade pode ser falsificada através das estratégias midiáticas de manipulação em massa. O resultado não é mais apenas a substituição da verdade pela mentira, mas a paulatina destruição na crença em qualquer sentido que nos oriente pelo mundo. Em outras palavras, a mentira organizada contemporânea conduz a um cinismo niilista, uma recusa em acreditar na verdade de qualquer coisa. A descrença é a desistência da tarefa de fazer qualquer avaliação. Algo parecido acontece quando, no Brasil de hoje, se diz que todos os políticos são corruptos, como se não houvessem aí distinções mais finas ainda a serem feitas.
Onde não há fatos, há verdades em demasia – Talvez não possamos mais chamar de mentira essa versão sistêmica e explícita, onde todos estão sendo enganados ao mesmo tempo. Mas ao meu ver, “pós-verdade” também não é o nome mais adequado. Talvez o mais correto seria falar de hiper ou ultra-verdade, pois vivemos em uma época em que todos se sentem no direito de dizer qualquer coisa, seja nos discursos políticos ou nas redes sociais, embasados em dados fictícios ou não, mas garantidos pela crença tácita de que “tudo vale” e pela recepção acrítica da maioria dos tele-expectadores e internautas.
Quando há verdades em demasia o perigo não é mais apenas, como diz Arendt, a descrença generalizada na realidade, mas a sua contrapartida, a revalorização reativa, nostálgica e muitas vezes enceguecida dos fatos, como se eles existissem em algum lugar objetiva e efetivamente e pudessem funcionar como uma pedra de toque nas nossas falas.
Um sintoma dessa súbita revalorização dos fatos em si é a prática cada vez mais difundida de facts checking dos discursos políticos na internet. Embora seja muito saudável desvelar as falsas estatísticas citadas pelo MBL ou por Trump, é sempre bom lembrar aquela frase do Nietzsche citada do início desse texto, para não cair na armadilha inversa de achar que alguém tem o poder definitivo e inquestionável de dizer o que são os fatos.
Existem divergências de interpretações até mesmo entre os diferentes fact-checkers. Não podemos nunca deixar de nos perguntar criticamente quem são e como o fazem, estes que assumiram para si a tarefa de controlar a veracidade dos discursos dos outros. Avaliar continuamente não só os discursos, mas também os avaliadores e os próprios instrumentos de avaliação, é a tarefa política constante daqueles que ainda tem respeito pela liberdade e pelo pensamento. Isso inclui também o exercício da autoavaliação, pois a pós-verdade, entendida aqui não como a “não-verdade”, mas como a “verdade pluralizada e sob constante tematização”, exige sempre e de cada vez mais e melhores interpretações. Em suma, abaixo Trump e viva Nietzsche!
Charles Feitosa é Doutor em Filosofia pela Universidade de Freiburg i.B./Alemanha; professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC) da UNIRIO

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Editorial: Coelho sai, não sai.




O clima esquentou em Brasília, numa disputa envolvendo o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia(DEM), e o Presidente da República, Michel Temer(PMDB). Em jogo está uma dezena de deputados socialistas insatisfeitos com a legenda, dispostos a mudarem de agremiação partidária, consoante algumas benesses oferecidas. O clima ficou tão pesado que jantares de cortesia foram oferecidos pelo Planalto, com direito às visitas sem protocolos e às conversas de pé-de-ouvido, sem as formalidades daquelas agendas enfadonhas. Michel Temer tem jogado todas as suas fichas no sentido de preservar seu mandato até o final de 2018. Age em várias frentes e percebeu nessa insatisfação dos socialistas uma excelente oportunidade de fortalecer o seu PMDB, assegurando que esses deputados continuem fiéis ao seu Governo, votando pelo veto da Câmara dos Deputados ao pedido de investigação, formulado pela Procuradoria-Geral da República, para que o STF analise as acusações que pesam contra ele. 

O curioso nesse cenário é o caso do Senador Fernando Bezerra Coelho, do PSB de Pernambuco, sobre o qual o assédio pareceu mais evidente. O filho do senador, Fernando Filho, é Ministro das Minas e Energias. Sua indicação ao cargo, em certo sentido, pode ser entendida como uma manobra mais do senador do que propriamente como uma indicação do partido. As disputas entre o grupo político do PSB local é uma luta bastante renhida. Isso desde os tempos em que o ex-governador Eduardo Campos ainda era vivo e mantinha sob rédias curtas seus comandados do chamado quadro político. Como afirmamos num dos artigos anteriores, trata-se de um grupo cujas pretensões políticas estão sendo represadas ao longo dos anos, gerando, naturalmente, muitas críticas. Definitivamente, não se pode afirmar que esse núcleo dos Coelhos esteja afinados com o Palácio do Campo das Princesas. Além de abrirem um diálogo com os peemedebistas, conversam com os Democratas e, ainda não fosse suficiente, ficamos sabendo que o senador abriu espaço na agenda para receber o mair adversário do projeto de reeleição do governador Paulo Câmara no Estado, o senador Armando Monteiro(PTB).

Até essa contra-ofensiva dos peemedebistas, notadamente o presidente Michel Temer, o diálogo entre socialistas e Democratas parecia bastante azeitado. Há entre eles, inclusive, um projeto de fundir as duas legendas, criando-se, quem sabe, uma nova agremiação. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, vem se empenhando pessoalmente nesse projeto, o que se coadunaria com possíveis aspirações políticas do mesmo. Os movimentos desse ator político preocupa não apenas o presidente Michel Temer -  que nos parece hoje muito mais preocupado em salvar a sua pele - mas raposas políticas felpudas de outras agremiações, que observam nessa desenvoltura o interesse em ocupar a cadeira de Presidente da República não apenas para um mandato tampão, mas com o objetivo de nela permanecer por mais tempo. Este fato, inclusive, tem dificultado bastante as negociações políticas na capital federal em torno da costura de um consenso em torno de um possível governo pós-Temer. 

Por outro lado, aqui na província, a costura de um arranjo político que possa contemporizar os interesses dessa ala dos Coelhos também não é assim tão simples. Um dos grandes projetos do senador Fernando Bezerra Coelho é entrar na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas. Possui uma barganha importante na disputa pelo Governo do Estado, como a influência da família sobre uma região estratégica em qualquer disputa majoritária, como a região do Sertão do São Francisco. Vale ainda aqui o registro de que essa ala dos Coelhos, através de Miguel Coelho, filho de FBC, reconquistou a Prefeitura de Petrolina, um importante colégio eleitoral do Estado. Estranha, entretanto, esses acenos do senhor Michel Temer para os Coelhos - dizem até aventando oferecer a legenda para uma disputa majoritária - sem antes conversar com o morubixaba do partido no Estado, o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, fechadíssimo com o projeto de reeleição do governador Paulo Câmara(PB). Como se sabe, o PMDB não é bem um partido, mas um conjunto de feudos controlados por caciques em cada Estado.  

Charge!Hubert via Folha de São Paulo

Hubert

Charge! Benett via Folha de São Paulo

Benett

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Em colóquio, Vargas Lhosa fala sobre rompimento com Gabriel García Márquez

Em colóquio, Vargas Llosa fala sobre rompimento com Gabriel García Márquez


Em colóquio, Vargas Llosa fala sobre rompimento com Gabriel García Márquez
García Márquez após briga Vargas Llosa, em 1976 (Foto Rodrigo Moya)


Era 12 de fevereiro de 1976, Cidade do México. Dois importantes nomes da literatura latino-americana, o colombiano Gabriel García Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, assistiam juntos a uma sessão privada de cinema. A convivência de nove anos, entretanto, acabou naquela noite, após Llosa dar um soco no olho esquerdo de Gabo.
Iniciada em 1967 na Venezuela, a amizade nunca foi reatada depois do episódio – e os dois não voltaram a se falar até a morte de Gabo, em 2014. Na última quinta (6), após um longo silêncio sobre o assunto, Llosa atribuiu motivações políticas ao rompimento durante um colóquio em comemoração aos cinquenta anos de Cem anos de solidão, na Universidade Complutense de Madrid, na Espanha.
Em diálogo com o ensaísta colombiano Carlos Ganés, o peruano disse que considera a esquerda muito dura com escritores que não aderem ao seu pensamento – e Gabo, em sua opinião, teria apoiado o regime de Fidel Castro em Cuba apenas para não se indispor com a própria esquerda.
“[Gabriel García Márquez] tinha um sentido prático da vida e sabia que era melhor estar com Cuba do que contra Cuba. Assim, se livrou do banho de sujeira que caiu sobre aqueles que eram críticos à evolução da revolução, mais socialista e liberal, para o comunismo”, afirmou o escritor.
Diante da insistência do mediador para que falasse mais sobre o assunto, disse que não tinha mais comentários a fazer e sugeriu que a conversa fosse encerrada.
A hipótese de que ambos haviam rompido devido a discordâncias políticas já era cogitada pelo fotógrafo mexicano Rodrigo Moya, que registrou o olho roxo de Gabo dois dias depois do incidente, em 1976. Segundo ele, na ocasião o colombiano teria dito que Llosa “se somava a ritmo acelerado ao pensamento de direita”.
Biógrafo de Márquez, o jornalista britânico Gerald Martin tem outra opinião. No livro Gabriel García Márquez: uma vida (2010), sustenta que a agressão teve relação a problemas familiares, já que na época ambos moravam em Paris, com suas famílias, e Márquez costumava mediar eventuais conflitos conjugais entre o peruano e sua mulher.
Algo que Gabo teria dito a Patricia, mulher de Llosa, poderia ser o motivo do rompimento, de acordo com Martin. “Isso é pelo que você disse a Patricia” ou “isso é pelo que você fez a Patricia”, são as palavras que Llosa teria dito no momento da agressão.
Durante o colóquio, Vargas Llosa também relembrou as cartas trocadas com Gabo na década de 1960, seu deslumbramento quando leu a narrativa de Macondo, as leituras compartilhadas, os escritores de que gostavam e os encontros e desencontros que tiveram ao longo dos anos de amizade.
“García Márquez não foi um intelectual. Não tinha condições de explicar o enorme talento que tinha na hora de escrever, funcionava mais por instinto, palpite. Dava a impressão que não era consciente das coisas mágicas que fazia, era mais um artista, um poeta”, disse.
Llosa obteve seu doutorado na Universidade Complutense de Madrid com a tese García Márquez: história de um deicídio, uma análise biográfica de 667 páginas de toda a produção literária do autor colombiano até Cem anos de solidão.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)