pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 21 de dezembro de 2024

Editorial: Uma desidratação que pode ser entendida com outro nome.


No dia de hoje, 21, um dos veículos de informação andou calculando os valores que o Governo pode perder em termos de economia depois da desidratação produzida no Pacote Fiscal pela Câmara dos Deputados. São valores nada desprezíveis, sobretudo se considerarmos as circunstâncias das contas públicas neste momento. Não queremos aqui assumir a condição de oráculo do caos, mas as coisas estão bastante difíceis. Não apenas o mercado, setores da mídia, mas, igualmente os novos companheiros, aliados possivelmente à oposição no Legislativo, agiram deliberadamente para promover uma desidratação que pode ser entendida, em última análise, como um boicote ao pacote proposto pelo Ministro Fernando Haddad. 

Assim fica muito difícil, uma vez que o governo entregou o que podia e o que não podia,  correndo o risco até de se indispor com o STF em nome da aprovação do pacote. O Governo Lula cumpriu sua parte nesta temerária agenda de governabilidade. Os caras pegaram os seus quinhões, ou emendas, e promoveram os ajustes no pacote, consoante, provavelmente, ao lobby de setores que poderiam ser penalizados. Asseguro aos senhores que este lobby não foi promovido pelos pobres que recebem o benefício do BPC, mas, provavelmente por aqueles beneficiários dos supersalários, que não desejam pagar o pato ou dar sua cota de sacrifício.

O Governo Lula3 precisava aprovar este pacote a todo custo. Nunca houve consenso em torno dessas medidas. O grau de desarticulação é tão gritante que integrantes da base mais orgânica se posicionaram contra algumas medidas, a exemplo de gente do PSOL e até do PT.   

Editorial: O papel da mídia nos golpes de Estado no país.



Estávamos estudando o papel da grande mídia impressa do país por ocasião dos momentos que antecederam os golpes de Estado. Interessante observar a formação dos grandes conglomerados logo após o golpe de 1964, sobretudo em praças como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O acordo já estava firmado entre os conspiradores e esses conglomerados que, antes mesmo da materialização do intento golpista, passaram a atacar as forças do campo progressista e associá-las, no período, à ameaça comunista, ainda hoje, por algum motivo - talvez para disseminar o medo ao identificar um inimigo - invocada. Logo após o 31 de março, os manchetes desses jornais davam conta que os revolucionários haviam salvado a a nossa democracia. Não entendo como um golpe de Estado pode ser associado à democracia, mas os grandes jornais da época assim ao golpe se referiam. 

Mudanças significativas ocorreram desde então - movidas pela revolução produzida pela internet - mas esses jornais continuam ativos, com suas edições impressas, com seus terríveis editorialistas malhando o Governo Lula3 e, até mesmo, plantando discórdias para inflamar um ambiente político por demais instável. A pitada de maldade fica evidente numa matéria de um desses jornais, transformando um desentendimento numa crise, ao insinuar que os militares não aceitariam o afastamento do ministro da Defesa, José Múcio, em função de uma discordância do presidente Lula acerca da divulgação do vídeo da Marinha. Ora, José Múcio assumiu o cargo com uma missão que ele considera devidamente cumprida, a de pacificar a relação entre civis e militares. 

Não seria a primeira vez que ele manifestaria o desejo de deixar o cargo espontaneamente, até mesmo por razões familiares. A matéria sugere, nas linhas e entrelinhas, um é isso ou aquilo. Não podemos falar aqui de uma crise, como se tenta sugerir, embora exista a informação sobre a possibilidade de o presidente Lula ter sugerido o afastamento do Comandante da Marinha. A relação de Lula com José Múcio não permitiria uma fissura dessas dimensões. Um desses jornais, muitos anos depois, admitiria o equívoco em apoiar o golpe de 1964 num editorial. Antes tarde do que nunca. 

Editorial:Militares desejam a permanência de Múcio no cargo.



No dia de ontem, 21, jornalista do Jornal Folha de São Paulo usou uma expressão interessante, mas pouco usual quando estamos tratando de Ministros de Estado que podem deixar o Governo. Durante uma matéria sobre uma eventual saída do Ministro da Defesa do Governo Lula3 do cargo, informou que o titular da pasta estaria com fastio, termo que o ministro não deverá saber o que significa pelos próximos dias, já de volta a Pernambuco para aproveitar o recesso de ano novo, submetido à gula do repasto da doce culinária pernambucana, muito influenciada pela aristocracia açucareira, onde ele tem suas origens. Não faltarão as tapiocas, as cocadas, o Bolo Souza Leão, O Bolo de Rolo, as cachaças genuínas, o mel de engenho derretido nos cuscuz, o queijo coalho assado no braseiro, os sorvetes e licores de pitanga. Quando José Lins do Rego esteve no internato de Itabaiana, quase morria de tédio em razão da ausência dessas iguarias, preparadas com esmero pelas mucamas do Engenho Corredor. Quando conseguiu fugir do cativeiro, chegou ao engenho justamente no momento da revoada das tanajuras, outra iguaria bastante apreciada pelos nordestinos.  

O cargo de Ministro da Defesa foi aceito pelo pernambucano como uma missão. Aposentado do TCU, as perspectivas que se abriam para José Múcio Monteiro na iniciativa privada eram bem mais promissoras. Superada as reticências iniciais, não seria este o único momento em que o ministro manifestara o desejo de deixar a pasta da Defesa. Já teria cumprido a sua missão de pacificar a relação entre civis e militares. A escolha caiu como uma luva, pois Múcio foi muito bem aceito na caserna. A tese da pacificação, sobretudo nas atuais circunstâncias, é controversa, mas vamos em frente. Nos últimos dias, jornais como O Globo e a Folha de São Paulo, curiosamente, dedicaram matérias sobre uma eventual mudança no Ministério da Defesa. 

Chamamos a atenção por aqui sobre uma possível crise aberta em relação ao vídeo divulgado pela Marinha. O problema não seria necessariamente o teor do vídeo - embora seja este o mote das discussões - mas, de novo, a inoportunidade diante das circunstâncias, onde mal saímos de uma tentativa de golpe de Estado, onde há militares envolvidos, cabendo às instituições democráticas a espinhosa tarefa de adotarem medidas punitivas, como esta última, onde um general de quatro estrelas foi preso, constituindo-se em algo inusitado no país. Não há clima para disfarças a inquietude em alguns setores militares, sobretudo em razão da possível prisão de novos militares. 

Na realidade, o vídeo produzido provocou ruídos nessa relação. Segundo a Folha,  o presidente Lula sugeriu a demissão do Comandante da Mainha, proposta com a qual o Ministro da Defesa não concordou, sobretudo porque poderia contribuir para ampliar essas arestas entre civis  e militares. Outra pergunta bastante atinente é sobre quem iria substituí-lo na pasta? Múcio, ainda segundo a matéria do Jornal, teria um lista tríplice. Desta lista, apenas o nome de Geraldo Alckmin teria sido ventilado. Para inflamar ainda mais o ambiente, que já é naturalmente propício às combustões, o Jornal sugere que a cúpula militar  não aceitaria a saída do Ministro José Múcio. Caso ele deixasse o cargo, as relações entre civis e militares voltariam à estaca zero. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Editorial: Quem vai pagar o pato desta vez?



Estamos acompanhando uma formação pela UFRS sobre os "Acontecimentos" de 2016, que culminaram com o afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. Conjugaram-se perigosamente, naquele período, alguns fatores que acabaram por minar toda a sua resistência, assim como solapar as reações tímidas do campo progressista ao andamento de um processo que tinha como objetivo maior apeá-la do poder. Algumas combinações de fatores podem ser determinantes num processo político, assim como ocorre com as reações químicas. Não se aconselha, por exemplo, conjugar instabilidade política com uma economia na bancarrota, uma população insatisfeita, convivendo com o monstro da inflação, com seus salários derretendo todos os meses, sem os recursos da classe média alta e dos ricos, que podem ser classificados como rentistas, e asseguram a liquidez e o poder de compra dos seus rendimentos através dos investimentos. Perdão por entrar por aqui numa seara onde conhecemos apenas a lei da procura e da oferta.  Juros nas alturas interessa apenas aos rentistas. 

Assim como naqueles dias que antecederam ao impeachment de Dilma Rousseff, ninguém quer pagar o pato. O pato aqui é uma referência ao pato inflado, colocado na sede da FIESP, em São Paulo, informando que o mercado não iria assumir o ônus do arrocho. Não queremos assumir a condição de oráculo do caos, mas os próprios economistas advertem que, se certas condições não forem controladas, a economia do país pode descer a ladeira da recessão. O agravante dos dias de hoje é que, diferentemente de 2016, quando o caserna estava cuidando de suas atividades inerentes, hoje as instituições democráticas e republicanas precisam lidar com o indiciamento de indivíduos, inclusive fardados, que estiveram no epicentro de mais uma tentativa de golpe de Estado no país. 

Lula enfrenta uma oposição de faca nos dentes, inconsequente, desprovida de espírito público, com uma tremenda má vontade contra o seu Governo. Tentaram impedir inclusive que ele assumisse. A rigor, se considerarmos as apurações da PF, até um plano de assassinato chegou a ser planejado. Eles torcem pelo quanto pior melhor. Estão minando as resistências de Lula, que conta apenas com sua habilidade política para se contrapor a este vendaval. O cerco é por todos os lados. Nas ruas, nas redes, em setores da mídia, no Legislativo. O mais preocupante é a inércia das forças do campo progressista e democrático, o que se sugere, não tenham, ainda, dimensionado o tamanho real da encrenca. 

Editorial: Jornal insinua que o Ministro da Defesa gostaria de deixar o cargo.



Quando aceitou ser o Ministro da Defesa do Governo Lula3, o pernambucano José Múcio Monteiro estava deixando o TCU, com um horizonte dos mais promissores na iniciativa privada. Num ato de abnegação, depois de muita insistência do petista, aceitou o cargo. Hábil politicamente, foi muito bem recebido pela caserna, cumprindo uma missão importante em aplainar, naquele momento crucial, a relação entre civis e militares, que sempre foi marcado por algumas escaramuças ao longo de nossa história. Como se sabe, devido às circunstâncias, as coisas apenas se agravaram desde então. São questões orçamentárias, políticas  e estratégicas em jogo, por vezes gerando alguns desentendimentos dentro do próprio Governo, como, por exemplo, no que concerne à polêmica em torno da aquisição de tanques de fabricação israelense, quando alas ideologicamente orientadas da legenda petista se contrapuseram às negociações em estágio bastante avançado. Matéria do jornal O Globo, trata deste eventual desejo do ministro José Múcio. 

O ministro sempre afirmou que a ocupação do cargo foi uma grande oportunidade de conhecer de perto o trabalho realizado pela Forças Armadas no país. Mas, convenhamos, longe de apaziguarmos os ânimos entre civis e militares desde então, a tendência natural é que essas relações piorem daqui para frente, depois dos avanços das investigações sobre a tentativa de golpe do 08 de janeiro, que cada vez mais envolvem membros da caserna, ampliando as arestas e indisposições. Aguarda-se para o próximo ano uma reforma ministerial no governo, movida, sobretudo, em razão das acomodações políticas produzidas pela correlação de forças provenientes das últimas eleições municipais. 

Lula, por exemplo, deverá ampliar as alianças que já vinha construindo, assim como acomodar a musculatura de partidos como o PSD, hoje o partido de maior capilaridade nacional. Kassab já teria sinalizado que deseja maior "visibilidade" para o seus subordinados. Fala-se também nas mudanças em razão do desempenho, o que significa que poderá ocorrer trocas de peças no tabuleiro da Articulação Política e da Comunicação Institucional. Estamos sob nevoeiro, mas o morubixaba petista ignora as lições dos marinheiros e não conduz o barco devagar. Não irá comprometer as políticas sociais em razão do déficit fiscal; rediscutirá e ampliará os acordos com a sua base fluída de apoios junto aos partidos de centro;  investirá pesado na comunicação institucional, apontada como um dos principais gargalos que impedem o crescimento de sua popularidade. 

P.S.: Do Contexto Político: Matéria do Jornal Folha de São Paulo, no dia de hoje, 20, informa que houve um diálogo menos amistoso entre o ministro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desejava destituir o comandante da Marinha logo após a divulgação daquele vídeo polêmico. José Múcio demoveu o presidente deste intento, mas teria externado, segundo o jornal, um fastio em continuar no cargo. A Marinha é onde se encontra o maior foco de indisposição ao petista. A matéria é longa, invocando, inclusive, a zona de atrito entre alas da legenda e os militares. Nas entrelinhas, fica claro, igualmente, assim como ocorreu com o pacote de ajuste fiscal, o quanto o morubixaba petista é sensível a esta área mais ideologicamente orientada da legenda. 

Charge! Cláudio Mor via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Editorial: Camilo Santana: A estrela sobe.


O Ministro da Educação, Camilo Santana, chegou à Esplanada dos Ministérios com vitórias políticas espetaculares no currículo. Governador do estado do Ceará por dois mandatos bem avaliados, fiador do sucessor, Elmano de Freitas, eleito senador da República. Na realidade, conforme comentávamos naquelas eleições, no Ceará se verificou-se algo curioso. O senador, literalmente, elegeu o governador. Agora, por ocasião dessas últimas eleições municipais, o ministro voltou ao estado para emprestar seu capital político em favor do prefeito eleito, Evandro Leitão, o único caso de um prefeito de capital eleito pelo PT nas últimas eleições. 

Agora, surge uma boa notícia, divulgada na Coluna Maquiavel, do site de Veja: A educação é uma das áreas bem avaliadas do Governo Lula3, o que aumenta sensivelmente o capital do ministro para habilitar-se como um eventual substituto de Lula nas eleições presidenciais de 2026, conforme se especula. Ainda é cedo para se afirmar que o PT escalará o ministro para substituir o morubixaba que, hoje, dá pinta de que será ele mesmo o candidato. Diferentemente de Fernando Haddad, hoje em visível desgaste político em função desse famigerado pacote fiscal que não consegue agradar a ninguém, Camilo segue uma linha de alinhamento com setores mais autênticos da legenda, adotando programas ou políticas públicas identificadas com as bases histórica do partido. 

Na realidade,  este pacote fiscal nunca foi consenso no partido, o que pode ter contribuído para tantas polêmicas em torno do assunto. Se algo ocorrer de muito errado pela frente, a rigor, o PT não pode culpar apenas o mercado. Setores do próprio PT se contrapuseram contra o pacote fiscal proposto pelo Ministro da Fazenda. Ontem, 18, o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, precisou adiar uma votação porque o governo seria derrotado. O PSOL e gente do próprio PT iria votar contra. Tá difícil a coisa. 

Editorial: A crise das telenovelas.


O PSOL está entrando com uma representação junto ao STF em razão do que eles entendem como intromissões indevidas da Câmara dos Deputados no pacote de ajustes fiscais proposto pelo Governo Lula. A Câmara corta aqui, acrescenta ali, tornou-se uma colcha de retalhos essa proposta de pacote fiscal. Na medida em que não gosta das intromissões indevidas da Câmara dos Deputados no projeto, o PSOL, por outro lado, também não encampa o que está sendo proposto pelo Governo Lula3. Lira adiou uma votação no dia de ontem, 18, argumentando que o governo seria derrotado sem o apoio do PSOL e de integrantes do próprio PT. Que pacote complicado, senhores. 

Já acompanhamos discursos entusiasmados da oposição com críticas ao mesmo pacote; o mercado não ficou satisfeito; o Beco da Fome também não, uma vez que pode mexer no BPC, ponto em que o Lira promoveu alguns ajustes. Há alguma coisa de muito errado com algo que não consegue agradar ninguém. É melhor deixar essa novela para outro momento, para o momento em que a poeira abaixar. Se as novelas de lá estão em crise, as telenovelas brasileiras também entraram numa espiral de declínio nunca visto junto aos telespectadores. Algo inédito na teledramaturgia brasileira.  Já fizeram de tudo e tudo não foi suficiente para reverter a situação, como se presume que possa acontecer com o pacote fiscal proposto pelo Governo. O exemplo mais emblemático é a telenovela Mania de Você, um fracasso retumbante na carreira de um autor muito bem sucedido, como é o caso de João Emanuel Carneiro. 

Sugere-se que o problema estaria relacionado aos novos hábitos da sociedade - ninguém deixa a tela do celular pela telona; mudanças de comportamento da sociedade, que os autores não conseguiram captar; assim como a concorrência dos streamings. Há poucos concluímos um curso de escrita criativa ministrado pelo mestre Luiz Antonio Assis Brasil, professor da PUCRS. A crise das telenovelas brasileiro nos fez lembrar de uma de suas aulas, onde ele observa que a ali se encontra o verdadeiro roteiro ou enredo de um romance. Vários núcleos, mas tudo congregado por um conflito, que sempre gira em torno de um protagonista principal. 

Uma pena que o professor, pioneiro no Brasil no ensino da matéria e depois de longos anos como professor, esteja se aposentando, conforme fomos informados. Acima, a provável capa de uma nova edição do romance Menino de Vila Operária, que antecipamos para os leitores e leitoras. A sinopse é o próprio personagem principal, o menino, entremeado pelo conflito latente entre os operários e a oligarquia industrial proprietária da indústria de tecidos, com várias cenas do argumento expandido, onde é abordada a sua vida social; as questões políticas e econômicas envolvendo os conflitos de interesses entre o núcleo de trabalhadores e os proprietários e seus serviçais; as vivências de infância da molecada que nascera e crescera numa vila operária; no final, a História do Monte Castelo Futebol Clube, nosso time de várzea que marcou época entre os clubes de futebol da cidade. A primeira edição está completamente esgotada. Há dois exemplares ainda disponível da primeira edição na Estante Virtual.

P.S.: Do Contexto Político: Cumpre esclarecer que, na concepção de Luiz Antonio Assis Brasil, sinopse significa a construção do perfil da personagem central do romance ou do enredo. É um entendimento bastante distinto do senso comum. Um outro elemento enfatizado pelo professor é a necessidade de formulação de um conflito envolvendo este personagem. Se não há conflito, não há romance. A primeira coisa que nos vem à mente quando pensamos sobre o assunto é o famoso Dom Casmurro, de Machado de Assis, diante das cisma que o atormenta e que o autor não a soluciona, integrando o leitor à trama. Nem sempre construir o mote desse conflito é tão simples, sobretudo quando estamos tratando de romances históricos, biográficos, por exemplo.    

Editorial: Um pé de milho II.



Infelizmente, a conjuntura política começa a ficar demasiadamente preocupante. Dólar subindo; avaliação do governo despencando; caserna inquieta com a prisão de um general de quatro estrelas; pacote fiscal que mais parece um Frankenstein, depois das mudanças introduzidas no Legislativo; inflação rondando as gôndolas dos supermercados. Peru a R$40 reais o quilo, queijo do reino a 120. Isso para ficarmos no básico. Assim fica difícil organizar a ceia de Natal. Em momentos assim, convém dar aquela desligada da realidade. Fazer um pouco do que fez no passado o grande Rubem Braga, deixar essas questões para os políticos e concentrar-se apenas naquele pé de milho que insistiu em nascer no seu quintal, transformando-o, depois de aposentado, ao lado de uma chata máquina de escrever, num rico lavrador da rua Júlio de Castilho. Talvez seja por isso que a maior audiência do blog nos últimos dias tenha sido as crônicas que escrevemos no passado.  É uma forma de sermos menos afetados por essas intempéries. 

A imprensa e as redes sociais hoje estão inundadas com informações acerca dessa queda de braço entre o Governo Lula3 e o mercado, através do Banco Central. O cenário está ficando muito parecido com aqueles dias nebulosos, onde as poderosas federações começaram a solapar o governo da presidente Dilma Rousseff, ao afirmarem que não iriam pagar o pato. Fortalecida a cada nova eleição, a oposição já prepara o mote da próxima campanha eleitoral, onde se prevê o fortalecimento da representação no Senado Federal, por razões bem conhecidas, além de levantar a bandeira da anistia aos implicados na tentativa de golpe do 08 de janeiro. Acreditamos ser o Brasil o único país do mundo onde segmentos da sociedade tentam banalizar uma tentativa de golpe de Estado. 

O PT precisa encontrar o seu eixo com a carruagem em movimento o que, convenhamos, não é uma tarefa das mais simples. Salvo melhor juízo, no dia de hoje, 19, o presidente Lula irá se submeter a exames de rotina para averiguar os resultados da última intervenção cirúrgica. Os burburinhos do Palácio do Planalto dão conta de grandes investimentos na comunicação institucional, como forma de se contrapor às adversidades do momento. O Governo precisa parar de gastar, mas, segundo segmentos mais autênticos da legenda petista, tal procedimento poderia se constituir num suicídio político, ao interditar políticas sociais importantes, destinadas à população mais pobre. É isso. 

Charge! Laerte via Folha de São Paulo.

 


quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Editorial: Hamilton Mourão admite reuniões que previam uma tentativa de golpe.


O general Hamilton Mourão, senador pelo Rio Grande do Sul, admitiu recentemente, numa entrevista, que poderiam sim ter ocorrido reuniões onde estiveram em pauta uma tentativa de golpe de Estado no país. Tentativa que não prosperou, tampouco contou com a anuência das Forças Armadas. Seria um fato isolado. O raciocínio do general vai na mesma linha de raciocínio do Ministro da Defesa, José Múcio, que afirmou recentemente, quando se referia à eventual tentativa de golpe, que podemos tratar aqui de CPF e não de CNPJ, numa alusão à cúpula das Forças Armadas, que não  teve participação neste enredo golpista. 

É curiosa, por outro lado, a narrativa de setores proeminentes do bolsonarismo no sentido de construir um discurso negacionista em torno do assunto. Nos escaninhos, descobre-se que os militares estão profundamente preocupados com a linha de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, segundo eles, trabalha com a perspectiva de que o ex-presidente não teve nada a ver com aqueles episódios. Teme-se até novas delações premiadas, produzidas por tais descontentamentos. Eles se sentem traídos ou abandonados. Mas ou menos o que ocorreu com o ex-ajudante de ordens, que declarou em áudio que ele fora o único penalizado. Acabou com sua carreira, envolveu sua família, foi prejudicado financeiramente. 

É incerto o desfecho desse rinha entre as instituições republicanas e democráticas, de um lado, e os sublevadores da ordem democrática do outro lado. Pelo andar da carruagem política, vamos voltar a empurrar o problema para a rodada seguinte, o que se constitui numa grande temeridade. Os ânimos estão muito aflorados. Seria necessário mudanças substantivas, que serão difíceis de ser negociadas ou operacionalizadas entre civis e militares. Agora mesmo ficamos sabendo que houve a necessidade da intervenção do Ministério Público para que matérias de direitos humanos fossem debatidas numa unidade militar de Minas Gerais, aquela de onde saíram os primeiros militares que deram o golpe civil-militar de 1964. 

Charge! Pedro Vinício.

 


Editorial: A cotação dos pernambucanos na reforma ministerial de Lula.



As contingências ou a correlação de forças provenientes da última eleição municipal impuseram ao Governo Lula3 a necessidade de uma mudança ministerial. Aliás, três fatores são determinantes neste contexto. Alguns ministros não estão sendo bem avaliados e, pelo andar da carruagem, o cenário político já opera com a candidatura do morubixaba petista para um quarto mandato. Nessas ocasiões, os bastidores ou coxias da política são tomados por especulações em torno dos nomes que poderão cair, a exemplo de Paulo Pimenta, da Secom, e Alexandre Padilha, da Articulação Política. Por outro lado, pelo menos aqui na província, surgem matérias tratando deste assunto, todas enfatizando a ascensão, na bolsa de apostas em Brasília, de nomes como o dos ministros da Pesca, André de Paula, e dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho. 

Sugere-se que o nome de Sílvio Costa Filho esteja sendo ventilado até mesmo para a pasta de Articulação Política. André de Paula teria uma contribuição maior a dar ao Governo Lula3, ancorado na boa performance obtida pelo seu partido, o PSD, nas últimas eleições municipais. Tem um padrinho forte, o Gilberto Kassab, com azeite e créditos junto ao Governo, principalmente ao projetarmos as eleições presidenciais de 2026. O partido cresceu em todos os rincões do país. Em São Paulo, por exemplo, o crescimento efetivo da legenda causou ciúmes até mesmo no staff mais próximo do governador Tarcísio de Freitas, que o deixou livre para operar no tabuleiro local. 

A política tem algumas coisas curiosas. Sílvio Costa Filho entrou na Esplanada dos Ministérios praticamente sozinho, como cota pessoal, sem o apoio do seu partido, o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, que prefere manter uma relação equidistante do Palácio do Planalto, em razão do seu projeto presidencial. Comeu o mingau quente pelas beiradas, articulou-se politicamente dentro de sua margem de manobra possível e hoje se projeta como um eventual candidato a fazer essa ponte para o Governo Lula3. Aqui na Província, adubou as bases políticas nas últimas eleições, colhendo bons resultados para a sua legenda, habilitando-se, inclusive, para compor a chapa, como candidato ao Senado Federal, numa eventual disputa de João Campos ao Palácio do Campo das Princesas nas eleições de 2026.   

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Charge! Aroeira via Facebook.

 


Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


Editorial: A intrincada repercussão e as circunstâncias da prisão do general Braga Netto.



São curiosas as reações ou repercussões em torno da prisão do general Braga Netto, por suposta participação nas artimanhas que levaram a mais uma tentativa de golpe de Estado. É a primeira prisão de um general de quatro estrela no país, ocorrida num ambiente sensível, de instabilidade institucional. Nossas instituições democráticas avançaram um casa, evitando o agravamento de um processo de retrocesso democrático no país, com suas consequências indesejáveis, às quais o Brasil já foi submetido em outros momentos históricos. Na realidade, esse flerte com o autoritarismo teve início em 2016, num constante assédio ao Estado Democrático de Direito desde então. 

A prisão é comemorado por amplos segmentos sociais, enquanto suscita inquietações e reações inusitadas do outro lado, do lado dos que, de alguma forma se identificam com este projeto autoritário. Foram criadas até paginas ou perfis nas redes sociais apenas com o propósito de defender o general Braga Netto. O ex-presidente Jair Bolsonaro saiu em sua defesa, argumentando que a prisão teria uma justificativa - o fato de a acusação basear-se no argumento de que o general estaria interferindo nas investigações - uma vez que o processo já teria sido concluído. Longe disso, senhor Bolsonaro. Apenas na semana passada mais três militares foram arrolados nas investigações da Polícia Federal. E, aliás, há vaga para mais gente fardada, o que preocupa sensivelmente setores militares. Já existem até bolsa de apostas acerca de quem seria o próximo a amargar o xilindró, fazendo companhia ao general Braga Netto, talvez mesmo antes da ceia de Natal com a família. 

A prisão do general Braga Netto reflete outras questões curiosas, com, por exemplo, a leitura que os bolsonaristas fazem em relação ao nosso sistema prisional, segundo eles, repleto de regalias oferecidas aos apenados. São contra o instituto da audiência de custódia - que manteve a prisão do general - assim como os ditos privilégios. Dependendo das circunstâncias, a audiência de custódia poderia ter evitado a prisão do general. A Bancada da Bala não admite que seja adquirido nem papel higiênico para os presos. O general cumpre pena num ambiente com ar-condicionado, geladeira, banheiro privativo. Nenhuma contestação dos bolsonaristas neste sentido.  

Editorial: Fraudes nos programas sociais do Governo.



Numa entrevista recente à CNN, o Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social do Governo Lula, Wellington Dias, confirmou que já teria sido verificado, somente neste ano, algo em torno de 3,7 milhões em fraudes ocorridas em relação ao pagamento dos benefícios sociais do Governo, principalmente o Bolsa Família. Salvo melhor juízo, o governo teria admitido recentemente que também não há como estabelecer um controle absoluto sobre o que os beneficiários fazem com os recursos recebidos, numa alusão ao problema dos jogos de apostas, onde foi constatado outro gravíssimo problema. A fraude no recebimento do Bolsa Família está relacionada a pagamentos a beneficiários indevidos - pois recebem renda acima do teto previsto - ou a adulteração de CPF. 

O próprio governo deve saber que trabalha com alguma margem de irregularidades há um bom tempo. A questão aqui é minimizá-la, sobretudo nesses tempos bicudos, onde as contingências das finanças públicas impõem um rigor necessário, para que não se cometa injustiças em relação àqueles cidadãos e cidadãs que realmente precisam do benefício. Aliás, segundo noticiou-se, O ministro Wellington Dias foi um dos quais entraram em rota de colisão com a proposta de ajuste fiscal, que previa cortes substantivos em sua pasta. Wellington Dias ocupa uma pasta estratégica para o Governo Lula3. Ela define o balizamento ou norte das políticas públicas do Estado neste momento. 

E, por falar em políticas públicas, o nosso ministro Fernando Haddad anda às turras, num fogo cruzado entre oposição e governo. Aliás, poderíamos acrescentar aqui também o mercado, insatisfeito e de mal humor em relação ao pacote fiscal que foi apresentado. Neste momento, ninguém gostaria de estar na pele do Ministro da Fazenda. Mesmo com o morubixaba convalescendo, Haddad o procurou para pedir ajuda junto à tramitação do pacote no Legislativo. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Charge! Aroeira via Facebook.

 


Editorial: Governo libera 7,6 bilhões em emendas para aprovar pacote fiscal.


Antes das eleições de 2022, durante as bravatas em praça pública, o próprio Lula afirmava que este tal de orçamento secreto era uma excrescência. Pode ser que o morubixaba petista, intimamente, mantenha a mesma posição, mas, diante das circunstâncias políticas sensivelmente adversas, ordenou que sua equipe se empenhasse na liberação das emendas reclamadas pelo Legislativo. Até este momento, 7,6 bilhões de reais foram liberados em emendas, tudo dentro do escopo da aprovação do pacote fiscal proposto pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Uma continha pesada para o pagador de impostos, sobretudo se considerarmos as condições dessas liberações, que não atendem alguns dos requisitos republicanos básicos, como a transparência absoluta no gasto desses recursos públicos. 

Até recentemente, numa operação da Polícia Federal no DNOCS da Bahia, constatou-se que tal preceito de aplicação correta desses recursos não estava sendo observado. Os recursos de emendas foram parar, indevidamente, em mãos de agentes públicos e privados. Até um ex-superintendente do órgão estava envolvido. Antes fosse este um caso isolado. Não é. São até recorrentes encontrarmos situações semelhantes, identificadas pelas investigações da PF, do Gaeco, da Receita Federal, entre outras instituições. Vamos ser francos por aqui. Trata-se de um padrão de governabilidade temerária, que tende a aprofundar-se, em razão da fragilidade do Governo Lula3. 

Repercute hoje também a entrevista concedida por Lula ao Programa Fantástico, da Rede Globo, onde algumas perguntas cabulosas foram formuladas, abrindo as porteiras para as polêmicas, como o princípio da presunção de inocência. Segundo a entrevistadora, Lula teve direito a este princípio sagrado do direito, algo que foi contestado mais tarde pela Presidente Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, durante uma entrevista. Para alguns, apesar da expertise política, Lula pode ter escorregado numa casca de banana ao conceder tal entrevista. 

Editorial: O dinheiro do golpe.



Não surpreende que alguns cientistas sociais tenham passado a usar a expressão golpe empresarial militar para se referir à intentona autoritária de 1964, dado o efetivo suporte de amplos setores empresariais ao projeto de poder encampado pelos militares. Naquela período, então, fazia algum sentido o medo da ameaça comunista, que poderia se contrapor aos interesses dos seus negócios. Hoje isso não existe mais, mas, mesmo assim os interesses em jogo permanecem. No texto do pesquisador Renné Armand Dreifuss, citado por aqui algumas vezes, onde ele analisa magistralmente as tessituras do golpe de 1964, há referências claríssimas sobre o suporte financeiro de amplos setores empresariais aos militares golpistas. 

Pelo andar da carruagem política, consoante esta última prisão de um general de quatro estrelas, motivada por interferir nas investigações e, supostamente, ter distribuído uma caixa de vinho com a quantia de cem mil reais para a execução da operação Punhal Verde Amarelo, fica claro a similaridade do processo de financiamento dessas operações pelo empresariado. Desta vez, segundo o tenente-coronel Mauro Cid, o dinheiro veio do pessoal do agro. Agora a Polícia Federal está empenhada nas investigações para se chegar aos reais patrocinadores desta nova aventura golpista que o país enfrentou recentemente. 

Aliás, para sermos mais sinceros, os militares golpistas foram tratados a pão de ló por aquele ator que pretendia uma ruptura institucional no país. Sistema de aposentadoria imexível, Salários e penduricalhos robustos, viagens, próteses penianas, azulzinhos para tratar do "coração", lagostas, camarão vila franca - o cinza é para os fracos - salmão, vinhos importados,  picanha e coisas do gênero. Ocorreu uma espécie de cooptação para o golpe. É neste sentido que se recomenda uma espécie de varredura nos dispositivos que foram montados para a materialização deste projeto autoritário. O grau de adesão sugere-se que era perigosamente expressivo, numa articulação que envolvia civis com ou sem representação parlamentar, empresários, militares, membros de órgãos de Inteligência e Segurança do Estado, integrantes das polícias militares. Não por acaso, o STF determinou a prisão de vários comandantes da Polícia Militar do Distrito Federal. 

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 15 de dezembro de 2024

Editorial: Lula recebe alta hospitalar do Sírio Libanês.



Lula acaba de receber alta do hospital Sírio Libanês, desfazendo as incertezas sobre o seu quadro de saúde. O presidente invadiu a coletiva de imprensa da equipe médica do hospital para, pessoalmente, agradecer a Deus e a população brasileira que orou por sua recuperação. Como estamos vivendo tempos bicudos, num contexto anticivilizatório, não há dúvidas de que houve aqueles que torceram pelo pior. Ainda ontem as redes sociais - sempre elas - estiveram inundadas de postagens com ilações criminosas de que as imagens do presidente circulando nos corredores do hospital não passavam de montagens ou que quem estava ali, na realidade, era um cover do presidente. 

A coisa é tão abominável e escabrosa que, pelas imagens, dá para observar a ausência daquele dedo que o presidente perdeu num acidente de trabalho, quando exercia a atividade de torneiro mecânico. Conhecedor das inúmeras versões que circularam sobre o assunto, por algum motivo, o presidente fez questão de dar uma explicação sobre as circunstâncias da queda que sofreu, responsável por todos os seus problemas de saúde dali decorrentes, onde foi submetido a duas cirurgias, uma para drenar e  outra para impedir novos sangramentos no local. 

De volta à vida e as tarefas políticas, vamos torcer que o presidente tenha a mesma resiliência para descascar os inúmeros abacaxis que o espera em Brasília, conforme enfatizamos pela manhã. É nessas horas que o indivíduo faz algumas reflexões profundas sobre o sentido da vida, que pode não ter sentido algum, exceto aquele que nós decidimos. Em breve saberemos se o morubixaba ainda assim, depois dos atropelos, permanecerá com a convicção de que deve candidatar-se mais uma vez à Presidência da República.  Saúde, presidente. 

Charge! Aroeira via Facebook.

 


Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 14 de dezembro de 2024

Editorial: Tentativa de golpe no Brasil, sugere-se, segue a mesma recomendação do "Garganta Profunda": Sigam o dinheiro.


Um jogo de intrigas envolvendo uma sucessão no FBI acabou com a renúncia do presidente Richard Nixon, nos Estados Unidos. Mark Felt vinha trabalhando para assumir o cargo, mas foi preterido pelo presidente, que resolveu indicar um outro nome de sua confiança para assumir o cargo. Quando estourou o Escândalo Watergate, Felt, que conhecia bem as artimanhas do órgão naquele episódio, passou a auxiliar dois jovens repórteres do Washington Post em suas matérias sobre o caso, desmontando a tese de que a invasão do Partido Democrata se travava de um simples arrombamento, algo realizado por delinquentes comuns. 

Ao contrário, agentes de Estado - ou falsos agentes de Estado, para ser mais preciso, uma vez que cruzaram a "linha" - haviam sido utilizados de forma irregular para plantar escutas na sede do partido, com o objetivo de favorecer o projeto de reeleição de Nixon. Mantendo o anonimato, Felt passou a se encontrar em locais esmos, como estacionamento de prédios, com o propósito de checar as investigações e subsidiar ar matérias que estavam sendo produzidas pelos dois repórteres. Sugere-se que este tenha sido o primeiro caso de jornalismo investigativo do mundo. Numa dessas conversas, Felt recomendou aos repórteres que seguissem o dinheiro para desvendar o novelho da trama que havia sido orquestrada pelo comitê de reeleição de Nixon. 

Hoje, depois das notícias envolvendo a prisão do general Braga Netto, surgiram rumores sobre uma caixa de vinho com dinheiro que andou circulando, que tinha como destino gente das tropas especiais envolvida na tentativa de golpe e, mais emblemático, a doação, segundo um delator, teria sido oferta do agro. Com isso fica provada as digitais de gente ligado ao agronegócio na trama da tentativa de golpe, o que não se constitui, necessariamente, numa surpresa, dadas as indisposições desse nicho com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Editorial: Polícia Federal prende o general Braga Netto, ex-Ministro da Defesa de Jair Bolsonaro.



A coisa está ficando feia para aqueles atores políticos que atentaram contra as instituições democráticas do país. A Polícia Federal acaba de prender o general Braga Netto, ex-Ministro da Defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, um nome que sempre esteve relacionado às investigações sobre um suposto plano de golpe de Estado no país. Dentro de um procedimento republicano, como se presume, não compete fazermos aqui qualquer julgamento. Deixemos essas incumbências para os órgãos competentes, a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal. Nos últimos dias, porém, a PF indiciou três novos militares envolvidos nessas tessituras, ampliando o número dos fardados que teriam integrado um plano de ruptura institucional que previa, inclusive, o assassinato de autoridades da República. A prisão no caso de Braga Netto, segundo se noticiou, é em função de obstrução da justiça. 

No Brasil é sempre complicada essa relação entre poder civil e poder militar. A rigor, diferentemente de outras democracias consolidadas, os militares sempre tiveram reticências em se subordinarem ao poder civil. Esta, aliás, é uma das premissas de uma democracia consolidada. Os solavancos autoritários são demasiadamente recorrentes no país, ocorrendo sempre a cada quatro mandatos presidenciais consecutivos. Há uma instabilidade institucional crônica. No momento, por exemplo, estamos navegando sobre águas turvas, com nuvens indicando tempestades. Os Três Poderes estão em pé de guerra. Ninguém se entende. 

Se já havia uma indisposição explícita entre o Judiciário e o Legislativo, agora é o Executivo que se estranha com o Judiciário, tendo como motivação as liberações, em caráter de urgência, das emendas para atender à necessidade premente de aprovação dos projetos do Governo, o que contraria as determinações daquele órgão no que concerne à necessidade de se impor transparência ao uso desses recursos públicos.  O Judiciário também reclama que o Legislativo procedeu um malabarismo para não se submeter ao que havia sido determinado. Estamos bem distante da propalada condição de equilíbrio e harmonização na relação entre os Três Poderes. 

P.S.: Do Contexto Político: Essa premissa dos cincos mandatos consecutivos, atribuída ao Cientista Político polonês, Adam Przeworski, em tese, poderia ter sido conquistada pela democracia representativa brasileira, se considerarmos os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e os dois mandatos de Lula, seguida do primeiro de Dilma Rousseff. Ocorre, porém, que este quinto mandato já não ocorreu em condições normais, com a presidente sofrendo todo tipo de assédio do mercado, consorciado com forças políticas de perfil conservador que foram, gradativamente, minando suas resistências. Mesmo em seu primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff, a rigor, nunca teve algum momento de paz. Navegou todo o tempo em águas turbulentas. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo.

 


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


Charge! Renato Aroeira via Facebook.

 


Editorial: O nó górdio do Ministério da Justiça e Segurança Pública.



As famílias nordestinas costumam se reunir em torno de uma mesa farta, geralmente num dia de domingo. Nessas ocasiões, preparam vários pratos, mas alguns deles são especiais, de grande porte, produzidos com carinho e esmero, destinados a todos os parentes e aderentes convidados. Há de se determinar uma pessoa específica, com a finalidade precípua de cuidar do seu cozimento. Se isso falha, teremos alguns problemas. É aquela velha história de muita gente mexendo na mesma panela, ocorre de salgar duas vezes e por tudo a perder. Essa imagem nos veio à mente depois das novas especulações em torno de eventuais inclusão do Ministério da Justiça e Segurança Pública na nova reforma ministerial que está na fornalha do Palácio do Planalto. 

É como se houvesse uma fritura em andamento, sabe-se lá qual o tipo de peixe - traíra está moda - ou que ingredientes estão sendo utilizados. O mais preocupante é que, pelo andar da carruagem política, a troca pode ser mais orientada pela acomodação de atores - mediante as articulações políticas em jogo - sem levar em consideração a expertise do postulante ou seu preparo técnico para o cargo. Sabedor dessas eventuais movimentações de bastidores, o próprio titular da pasta, o Ministro Ricardo Lewandowski, já teria se pronunciado sobre o assunto durante uma coletiva de imprensa. O nome que está sendo pensado, segundo se especula também nos escaninhos, está bem distante do currículo obtido por Lewandowski durante sua vida pública. 

O problema do Ministério da Justiça e Segurança Pública é que não se constrói um consenso em torno do enfrentamento dos graves problemas de segurança que o país enfrenta neste momento. Enquanto o Ministério da Justiça, orientado pelo Governo Lula3, segue uma linha republicana, de preservação e ampliação dos direitos humanos, de padrões civilizatórios no tratamento aos apenados, a oposição segue uma linha diametralmente oposta, talvez inspirada nos métodos de Nayib Bukele, de El Salvador. Como a segurança pública é um dos temas que mais atormentam os brasileiros, matreiramente, do ponto de vista estratégico, convém apostar no quanto pior melhor. É uma maneira de desgastar o Governo Lula3. 

Recentemente, o Ministro Ricardo Lewandowski esteve em audiência na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. Ele só reclamou que não havia necessidade da convocação, quando as portas do seu ministério estiveram sempre abertas, sobretudo para os representantes do Legislativo. Responsivo, cordato, cavalheiro, Lewandowski aplainou a agressividade inerente aos representantes da Bancada da Bala, já eleita na esteira de uma narrativa que acompanha o "voto xerifão". 

Um bom exemplo dessas discrepâncias é a chamada audiência de custódia que, deve ter impedido tantas injustiças cometidas por um aparato policial sensivelmente comprometido. A Bancada da Bala deseja simplesmente acabar com este expediente, que interdita irregularidades, abuso de poder e, no fim da linha, contribui para desafogar as unidades prisionais, abarrotadas de presos, bem acima de sua capacidade. Somente aqui em Pernambuco, salvo melhor juízo, o déficit do sistema prisional chega a 15 mil vagas. Não vamos aqui nem entrar na questão das câmaras nos uniformes dos policiais em operação, onde o STF precisou intervir depois dos desmandos ocorridos em São Paulo. Muito satisfeito com o trabalho que o Ministro Ricardo Lewandowski vem realizando à frente da pasta da Justiça.