O general Hamilton Mourão, senador pelo Rio Grande do Sul, admitiu recentemente, numa entrevista, que poderiam sim ter ocorrido reuniões onde estiveram em pauta uma tentativa de golpe de Estado no país. Tentativa que não prosperou, tampouco contou com a anuência das Forças Armadas. Seria um fato isolado. O raciocínio do general vai na mesma linha de raciocínio do Ministro da Defesa, José Múcio, que afirmou recentemente, quando se referia à eventual tentativa de golpe, que podemos tratar aqui de CPF e não de CNPJ, numa alusão à cúpula das Forças Armadas, que não teve participação neste enredo golpista.
É curiosa, por outro lado, a narrativa de setores proeminentes do bolsonarismo no sentido de construir um discurso negacionista em torno do assunto. Nos escaninhos, descobre-se que os militares estão profundamente preocupados com a linha de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, segundo eles, trabalha com a perspectiva de que o ex-presidente não teve nada a ver com aqueles episódios. Teme-se até novas delações premiadas, produzidas por tais descontentamentos. Eles se sentem traídos ou abandonados. Mas ou menos o que ocorreu com o ex-ajudante de ordens, que declarou em áudio que ele fora o único penalizado. Acabou com sua carreira, envolveu sua família, foi prejudicado financeiramente.
É incerto o desfecho desse rinha entre as instituições republicanas e democráticas, de um lado, e os sublevadores da ordem democrática do outro lado. Pelo andar da carruagem política, vamos voltar a empurrar o problema para a rodada seguinte, o que se constitui numa grande temeridade. Os ânimos estão muito aflorados. Seria necessário mudanças substantivas, que serão difíceis de ser negociadas ou operacionalizadas entre civis e militares. Agora mesmo ficamos sabendo que houve a necessidade da intervenção do Ministério Público para que matérias de direitos humanos fossem debatidas numa unidade militar de Minas Gerais, aquela de onde saíram os primeiros militares que deram o golpe civil-militar de 1964.
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