RIO
– Agamenon Magalhães, interventor de Pernambuco no primeiro governo de Vargas, perguntou ao filho, Paulo
Germano, que acabava de formar-se na Faculdade de Direito de Recife, qual o mais
preparado e valente de seus colegas:
- Rafael Meyer.
Mandou chamá-lo e nomeou promotor de
Paulista, onde os Lundgren tinham a matriz das “Lojas Paulistas” (nome no
Nordeste) e das “Lojas Pernambucanas” (nome no Sul) e, cheios de armas,
mantinham empregados e a cidade em intolerável e permanente intimidação e
servidão, dispondo das pessoas, sobretudo da virgindade das filhas dos
trabalhadores:
AGAMENON
- Dr. Rafael, o senhor sabe o que é
aplicar a lei?
- Sei, sim, doutor
Agamenon.
- Talvez ainda não saiba tudo. Vá para
Paulista aplicar a lei. Os Lundgren fizeram da cidade uma fazenda de escravidão.
Não respeitam a lei, nada. Quem manda lá é o poder deles. Estão cheios de armas.
Desarme-os. Mas não encontre logo as armas. Primeiro, cerque o depósito onde
estão as armas, destelhe o deposito, derrube as paredes do deposito e só depois
descubra as armas lá dentro do paiol.
Rafael Meyer, pequeno, incorruptível,
preparado e valente, foi e aplicou a lei. Os Lundgren, desmoralizados,
anunciaram quer iriam embora de Paulista e só voltariam quando a ditadura
acabasse. Rafael Meyer aplicou tão bem a lei que acabou ministro do Supremo
Tribunal Federal.
LUNDGREN
Em 1950, Agamenon foi candidato a
governador de Pernambuco pelo PSD. Arthur Lundgren, fundador das “Lojas
Pernambucanas”, deu a vitória ‘a UDN em Paulista, onde ficava a fábrica.
Agamenon, eleito governador, ligou-se a Antonio Galvão, presidente do sindicato,
e passou a derrotar a UDN. Irritado, Lundgren se preparou para transferir toda a
fábrica
para Rio Tinto, na Paraiba, onde já tinha uma filial. Agamenon empiquetou a
estrada com soldados e mandou convocar Lundgren:
- Dr. Lundgren, o senhor pode se mudar
para a Paraíba. Mas a fábrica não vai. São 6 mil pernambucanos que dependem
dela. O Estado vai administrar.
A fábrica não saiu de Paulista.
Nota do Editor: Em nota publicada pelos jornais, os herdeiros da família Lundgren se pronunciaram sobre o assunto, tratando, inclusive, sobre temas polêmicos, como a suposta milícia armada que cuidava das reservas florestais do município,
dos filhos "bastardos", fruto de possíveis aventuras sexuais entre a família e as filhas dos operários da fábrica de tecidos, e as denúncias de trabalho escravo na organização. Na realidade, apesar de negar alguns fatos, como numa feliz expressão do sociólogo Gilberto Freyre no livro "Nordeste", numa referência aos senhores de engenhos, os Lundgren eram os donos dos rios, das matas, das terras, das casas, das máquinas e das melhores mulheres. Até o lazer era estritamente hegemonizado pela família, que permitia acesso, aos domingos, aos filhos dos operários, ao "Jardim do Coronel" - uma espécie de Jardim Zoológico, situado no mesmo terreno da residência da família. Os dois cinemas - que quando rapazola o editor do Blog do Jolugue frequentava com assiduidade - eram de propriedade da família.
Crédito da foto: Vicente Queiroz.
Morei muitos anos em PE e nao sabia desta historia, inclusive morei alguns meses no Bairro Arthur Lundgren II
ResponderExcluirComo residi em Paulista, criado como menino de vila operária - meu pai era operário da Companhia de Tecidos Paulista - conheço todas essas histórias. a influência da família Lundgren na cidade, inclusive, subsidiou alguns trabalhos acadêmicos. Há tese de doutorado e dissertações de mestrado sobre o assunto.Um grande abraço. Obrigado pela colaboração e continue prestigiando o nosso blog.
ExcluirEi, vc pode me indicar as teses de doutorado que relaciona eles a escravidão? Principalmente sobre o primeiro que chegou em 1855 e fez riqueza no porto de Recife. Possivelmente foi no tráfico ilegal do período. osvaldo.falcao@tuni.fi
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