pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Cinquenta tons de cinza
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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cinquenta tons de cinza

Uma jovem inocente. Um homem sedutor, misterioso, fascinante e extremamente belo. Um triângulo amoroso (Ou não, já que a mocinha só tem olhos para o mocinho e o ‘terceiro’ é apenas um bom amigo).Isso tudo parece familiar?

Escrito e divulgado online como uma FanFic de Crepúsculo, 50 Tons de Cinza teve seus direitos comprados por uma editora americana e se tornou um sucesso editorial. Mas antes tiveram que mudar o nome dos personagens: Edward Cullen agora é Christian Grey, Isabella “Bella” Swan se torna Anastásia “Ana” Steele, Jacob é José... E assim sucessivamente.
Confesso que me interessei por esse livro apenas por essa familiaridade com a série da Stephenie Meyer, queria saber como seria essa tal “versão erótica” de Crepúsculo. Além disso o sucesso editorial de “50 tons” também me impressionou: O livro já foi traduzido para as mais diversas línguas, é o livro mais vendido na história da Inglaterra (31 milhões) e no mês de julho representou 75% das vendas de ‘Ficção Adulta’ nos Estados Unidos.
É importante falar de números quando se trata desse livro, pois, com números tão expressivos, também vem a expectativa. Por que é tão vendido? Por que fez tanto sucesso? Comprei na Bienal do livro e comecei minha leitura assim que retornei da viagem.

Passando para o enredo, o livro conta a história de Anastasia e sua atração instantânea e irremediável pelo empresário Christian Grey. Ana deseja aquele homem maravilhoso e ele também parece encantado com ela, porém, Christian quer Ana em seus próprios termos.
Depois de fazê-la assinar um contrato de confidencialidade, para que nada do que ele disser caia na mídia, Christian se revela como um Dom, ou dominador sexual, e oferece a Anastasia outro contrato para que ela seja sua submissa.
Pense em chicotes, algemas e roupas de couro tudo que envolva prazer associado à dor. É isso o que Christian propõe a virgem Anastásia, um mundo obscuro e ao mesmo tempo erótico, no qual ela vai se envolvendo cada vez mais, conforme a história vai se desenvolvendo.

Christian é um personagem instável, controlador e praticamente atua na vida de Anastasia como um stalker perseguindo sua presa. Ao longo do livro ele faz referências sobre se consultar com um psiquiatra, mas tenho as minhas dúvidas se esse homem recebe mesmo algum tipo de ajuda. Na verdade é como se Christian estivesse além de qualquer salvação, “fodido em 50 tons diferentes”, como ele próprio diz.
Porém esse homem complicado também tem um lado bem humorado, é lindo de morrer e possui um passado sombrio, que “justifica” seu comportamento presente. E, como uma presa fascinada pelo predador, Anastasia fica fascinada por ele. Eu também fiquei, por isso entendo a heroína.

com chicotinho, claro

Narrado em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Ana, o livro tem pouca ou nenhuma ação, se limitando aos pensamentos românticos da mocinha, sua troca de emails com Grey e várias cenas de sexo, das mais diversas maneiras e nas mais diversas, situações.
É bom relembrar que, embora tenha vários elementos de umYABook, se trata de um romance adulto. Isso significa bastantes cenas eróticas, foco principalmente no relacionamento do herói e da heroína da história e palavras de baixo calão/palavrões. Perdi a conta da quantidade de“Puta merda”, “porra” e “foder” que li nesse livro. Deixo isso claro para já desaconselhar à leitura para aqueles que são sensíveis a esse tipo de palavreado e às situações descritas. Não é só o sexo que pode incomodar alguns leitores, mas também a obsessão quase patológica de Christian por ser obedecido e, também, de provocar dor em Anastasia. Obviamente tudo é consensual, mas só leia se tiver estômago para BDSM*.
Analisando o livro friamente, tenho que concordar com os críticos, pelo menos no que se refere a escrita da autora. E.L. James não escreve bem, utiliza em excesso algumas palavras/expressões e parece perdida em algumas partes do livro. Senti falta de uma linha condutora que fosse além do “misterioso passado de Christian Grey”, mas o livro se resume basicamente a isso.
"Isso não tem nada a ver com a cor cinza. Isso é pornografia"
Claro, a também a profusão de situações sexuais no livro. Fico imaginando o que raios vão fazer na adaptação cinematográfica para que não fique parecendo forçado ou promiscuo. Acho que, mais do que um ator certo ou atriz, o filme precisará de um bom diretor, se quiser ser além de um ‘erotismo barato’ e tentar contextualizar as cenas com a situação emocional de Christian, além de mostrar as implicações de algumas dessas cenas no relacionamento do casal.
Voltando ao livro, apesar de parecer repetitivo em alguns momentos, eu li esse livro em2 dias. Tudo por que a autora tem esse hábito de terminar cada capítulo com um gancho, de forma que o leitor se sinta compelido a ler o próximo. Não entendo muito de Fics, mas, se eu não me engano, o autor divulga 1 capitulo por vez e o pessoal vai lendo e comentando o que acha. Imagino que seja esse o motivo dos“ganchos” e da profusão de cenas romântico-sexuais (quase uma por capitulo mesmo) por que eu ouvi dizer que a autora não fez nenhuma adaptação antes de publicar o livro, apenas trocou os nomes dos personagens.
O que me faz lembrar da obsessão de alguns de rotularem “50 tons” como um cópia de Crepúsculo. No começo vi mais relação entre as histórias, alguns diálogos de Ana e Christian me lembraram outros de Bella e Edward e as cenas em que Christian salva Ana (primeiro de um atropelamento e depois de um homem‘saidinho’) também foram uma clara referência à Saga da Stephenie Meyer.
Mas depois a história perde esse ar de fanfic, os personagens passam a tomar rumos completamente diferentes. Se Edward não quer que Bella o toque por que tem medo de se descontrolar e feri-la, Christian não deixa que Ana o toque por causa de seus inúmeros traumas físicos (cicatrizes) e emocionais. Ana, por sua vez, é uma heroína mais corajosa e independente que Bella, não se limitando ao papel de submissa: Ela vai até as sombras de Grey para tentar levá-lo para luz, pois sabe que sem isso jamais poderão ficar juntos.

É por isso que, quando eu comparo as duas histórias, eu imagino que colocaram“Crepúsculo” em frente a um espelho daqueles de circo, que mostram um reflexo distorcido e um pouco bizarro: Esse reflexo é “50 tons de cinza”. Você vê as semelhanças, mas também vê diferenças tão gritantes que se pergunta se, de fato, uma coisa surgiu a partir da outra.
Talvez o que ambas as histórias tenham em comum é serem amadas pelo seu publico e detestada pelo restante das pessoas. Já ouvi falarem tão mal desse livro quanto falam de Crepúsculo, uma coisa a qual todo Best-seller está exposto: Ainda não surgiu (e creio que demora um tempo para surgir) um livro que seja sucesso de público e crítica em nosso século.

Mas,apesar dos (muitos) pesares, eu gostei desse livro. Dou nota 8 e confesso que estou contanto os dias para o lançamento de “50 tons mais escuros”, pretendo terminar a trilogia e ver como esse relacionamento termina. Só não recomendaria esse livro para alguém que nunca tenha lido nada do gênero romance Adulto, apesar de ser bem fraquinho para o gênero, pode chocar os mais sensíveis (não digam que não avisei).
Porém também estou um pouco temerosa: Algo me diz que essa saga não irá terminar de uma maneira tão feliz quanto à outra que lhe deu origem. É esperar para ver.

* BDSM: “Sigla” para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão e Sadomasoquismo. Leia mais sobre o assunto nesse artigo do Wikipédia.


Obs.:Termino de escrever essa resenha e, como sempre faço, só então fui ler as opiniões de outros blogs. Destaco a resenha do Romances in Pink que, além de sintetizar precisamente o livro, também levantou um assunto que não tinha me ocorrido enquanto escrevia: Por que a autora retrata BDSM como uma coisa ruim?

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