Ciceroneado por Fernando Henrique, Aécio Neves molda candidatura
Ex-membros da gestão de Fernando Henrique ajudam senador a formatar discurso econômico
JULIA DUAILIBI E BRUNO BOGHOSSIAN - O Estado de S.Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tornou-se o
principal operador político da pré-campanha do senador Aécio Neves à
Presidência da República pelo PSDB em 2014.
FHC e Aécio Neves na Sala São Paulo durante festa de aniversário de 80 anos do ex-presidente em 2011
Desde o segundo semestre de 2012, FHC, que lançou o senador candidato
em dezembro, e Aécio cumprem juntos agenda de almoços e cafés com
empresários e integrantes do mercado financeiro no eixo Rio-São Paulo.
Em alguns encontros, aproveitaram para pedir ajuda financeira aos
candidatos do PSDB na eleição municipal - o desempenho nas urnas era
visto como determinante na montagem da candidatura para o Planalto em
2014.
A ação de FHC em prol de Aécio começou a se formatar após uma
conversa entre os dois no apartamento do ex-presidente, em São Paulo, no
começo de 2012. No encontro, os dois traçaram os principais movimentos
para construir a candidatura não só no partido, mas em setores da
sociedade.
Por meio da ação de FHC, Aécio passou a se encontrar com
ex-integrantes da equipe econômica do tucano para formatar um discurso
econômico. Oficialmente, as reuniões são para discutir conjuntura
nacional e internacional e orientar o partido, num momento em que o PSDB
fala em rediscutir seu programa. Mas o pano de fundo é formatar o
discurso para a campanha de 2014.
No último dia 26, FHC e Aécio se reuniram pela manhã no apartamento
do senador no Rio com Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, Armínio
Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Edmar Bacha, formulador do
Plano Real. A agenda, que se estendeu até o almoço e contou, depois, com
a presença do ex-jogador Ronaldo, foi mais uma da série de encontros
com os economistas.
Desde a campanha presidencial de 2002, FHC viu o PSDB esconder atos
da sua gestão, sob a alegação de que a população não aprovara a era
tucana. A derrota na disputa presidencial de 2010 levou a um resgate da
herança FHC, inclusive em temas mais polêmicos como privatizações e
reforma do Estado.
A partir desse resgate, FHC passou a atuar mais na vida partidária - o
tucano costuma parafrasear o ex-líder espanhol socialista Felipe
González, segundo o qual ex-presidentes são como vasos chineses, grandes
e bonitos, mas que ninguém sabe onde pôr.
Passou, então, a defender a renovação do partido. No iFHC, núcleo de
memória e centro de estudos que montou, criou agenda com jovens
economistas e de outros setores da sociedade. Começou a ajudar na
procura de um marqueteiro, o "João Santana do PSDB", como brincam
tucanos, numa referência ao responsável pela comunicação do PT e pela
imagem da presidente Dilma Rousseff.
A ação de FHC pró Aécio tem ainda um viés político. Ajuda a agregar
setores do PSDB paulista, principalmente a ala sob a influência do
ex-governador José Serra, no projeto do senador.
"Os dois sempre foram muito próximos. O partido tentou se afastar da
nossa herança. O grande pensador do PSDB é FHC", declarou o presidente
do PSDB mineiro, Marcos Pestana.
Em movimento ensaiado, FHC lançou Aécio ao Planalto com o apoio do
presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Também no final do ano, em outro
encontro em seu apartamento com Guerra, o ex-senador Tasso Jereissati
(CE) e o secretário-geral do partido, Rodrigo de Castro (MG), decidiu-se
que a estratégia presidencial do PSDB passava pela indicação do senador
como presidente do partido.
No início, Aécio resistiu. Argumentou que causaria desgaste se tornar
porta-voz das críticas a quase dois anos da eleição. Também disse que a
liderança do PSDB afastaria potenciais legendas aliadas que hoje estão
na órbita do governo. O mineiro tentou articular uma segunda opção, mas a
tendência é que assuma a função de presidente do PSDB, até como forma
de mostrar comprometimento com 2014.
"Ele gostaria que Aécio fosse mais arrojado. Mas esse também é o
perfil do Aécio", afirmou um interlocutor de FHC, comentando o que
muitos paulistas falam nos bastidores: Aécio parece titubear em relação à
candidatura ao Planalto. "Aécio está se movimentando, sim.
Principalmente no campo das ideias", diz o deputado mineiro Paulo
Abi-Ackel.
Economia. O discurso do senador para 2014 será
pautado pelo baixo crescimento do PIB, que deve fechar 2012 em torno de
1%. Para os tucanos, se a economia "patinar", o debate sobre o PIB será
central em 2014, quando Dilma tentará se reeleger. Aécio desenha um
discurso no qual mostra o Brasil na lanterna do crescimento entre os
emergentes e aponta os dois primeiros anos de Dilma como "tempo perdido"
para a economia - entre os países da América do Sul, o Brasil pode
fechar 2012 com crescimento apenas maior que o do Paraguai.
O time de economistas da era FHC passou a municiar Aécio com análises
sobre a conjuntura econômica nacional e internacional. As ponderações
abordam o enfoque crítico na dobradinha inflação alta com crescimento
baixo. "A rigor, a Europa está em crise. Os Estados Unidos estão se
recuperando. O mundo em desenvolvimento cresce mais que o Brasil e com
inflação menor. Estamos no final da linha na América Latina. O problema
não está lá fora", disse Bacha, em palestra para a bancada do PSDB no
Congresso mês passado.
No governo FHC, Malan e Armínio eram vistos como monetaristas, por
defenderem o controle rígido da política monetária em contraposição aos
desenvolvimentistas, mais favoráveis a políticas de incentivo ao
crescimento. Durante a era FHC, (1995-2002), marcada pela estabilidade
econômica, reformas do Estado e privatização, o País cresceu uma média
anual de 2,48%. Nos dois mandatos de Lula (2003-2010), o índice foi de
4,65%. No primeiro ano de governo Dilma, o PIB cresceu 2,7%.
O Estado de São Paulo
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