Literatura brasileira é coisa de branco?
É o que sugere o impactante estudo de Regina Dalcastagnè
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RONALDO BRESSANE
Regina Dalcastagnè, professora da Universidade de Brasília (UnB), em
uma pesquisa de 15 anos, chama a atenção para uma estatística espantosa:
o campo literário brasileiro é dominado por autores homens, brancos, de
classe média, moradores de Rio e São Paulo, professores ou jornalistas.
O mesmo acontece com os personagens de seus livros – e temos que nossa
literatura mais parece ser ambientada na Suécia que no Brasil. Em
exaustiva pesquisa quantitativa que analisou 258 romances brasileiros
publicados entre 1990 e 2004 pelas editoras mais expressivas do setor –
Companhia das Letras, Rocco e Record –, o texto final do livro,
“Personagens do romance brasileiro contemporâneo”, revela em números
tendências impressionantes da nossa literatura atual. Quase três quartos
dos romances publicados (72,7%) foram escritos por homens; 93,9% dos
autores são brancos; o local da narrativa é mesmo a metrópole em 82,6%
dos casos; o contexto de 58,9% dos romances é a redemocratização,
seguida da ditadura militar (21,7%). Além de o protagonista ser, na
maior parte das vezes, representado como artista ou jornalista, os
negros surgem quase sempre como marginais e as mulheres, como
donas-de-casa ou prostitutas.
DUAS PERGUNTAS PARA A AUTORA
CULT – Por que seu estudo se ateve apenas a livros de grandes
editoras? Além disso, sua pesquisa parou em 2004, e já estamos em 2012…
Regina Dalcastagnè – Pensamos em preparar um projeto
com foco nas editoras menores, mas precisaríamos de uma rede de apoio
em todo o país para levantarmos todas, sem falar nas di_ culdades para a
aquisição de todos os livros. Em tempo: já estou com nova equipe
montada para prosseguir a pesquisa junto às grandes editoras, com um
recorte de 2005 a 2014.
Autores egressos de pequenas editoras para as maiores não mudariam o resultado da sua pesquisa?
Creio que, somando os autores que saíram de editoras menores para as
grandes, nossos resultados seriam os mesmos. Ressalto que nossa pesquisa
foi realizada sobre “os romances publicados pelas grandes editoras” –
livros e autores que “costumam ser” referendados pelo campo literário
brasileiro (jornalistas, críticos literários, editores, professores
etc.) – ou seja, é apenas um recorte representativo do que “se considera
ser” a literatura brasileira contemporânea.
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