pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Carta aberta de Morvan ao ministro Cid Gomes: Da Vinci, inspirai-nos.
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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Carta aberta de Morvan ao ministro Cid Gomes: Da Vinci, inspirai-nos.

publicado em 30 de dezembro de 2014 às 12:19
Cid Gomes
Carta Aberta Ao Excelentíssimo Senhor Ministro Da Educação — Ainda A Questão Do Curriculum
por Morvan Bliasby,  e seu blog, via e-mail 
Li, com a atenção devida, vossa entrevista ao Portal Globo – Entrevista Cid Gomes, e gostaria de discutir, no proveito de toda a Nação brasileira, haja vista a atomicidade das políticas educativas e educacionais, passando à reflexão sobre ideias do discurso ali contido, mesmo se se considerarem as implicações, intencionais ou não, da interpretação deste mesmo discurso.
Transcrevendo, sob determinado prisma, a parte mais importante, reitero, sobre as implicações e decorrências que aproveitarão ou não à sociedade, d’hoje até, quiçá, daqui a cinquenta anos, onde se diz:
“Se o jovem tem vocação mais para a área tecnológica, aprofundar matemática, física; se tem vocação mais para a área de humanas, poder ter sociologia, filosofia. Não forçar todos a terem tudo, como é hoje, que se obriga todos os alunos do ensino médio a terem conhecimento sobre todas as áreas. Como é uma novidade, vai de encontro à tradição de pelo menos 40 anos no país, deve ser precedido de uma grande discussão, vamos ouvir experiências de outros países, tem diversos modelos, mas acho que é possível mudar em quatro anos”.
Ora, senhor Ministro, esta [pseudo] dicotomia humano X técnico (Sic!), antiga, profundamente arraigada em nosso meio acadêmico, é o que há de mais retrógrado e lesivo ao país. Tais políticas maniqueístas, excludentes mutuamente, remontam aos jesuítas, os quais suprimiram toda e qualquer tentativa de se ensinarem “ciências” (Sic!), pois estas, por trazerem em seu bojo questionamentos nada afáveis ao Estado teocrático de então, deveriam ser defenestradas, em nome da ordem e da manutenção do status quo. Tivéramos um enorme déficit em ciências exatas, justamente por esta visão fragmentada e maniatadora da sociedade e esta produziu os seus efeitos perversos por várias gerações.
Depois, mercê do Estado totalitário, cujo desaguar redundou no golpe de 1964, as ciências do Departamento de Humanas passaram a ser as proscritas, pois estas ensejavam aos educandos ideias “libertadoras”, questionamentos políticos, etc. Retiraram-se das grades curriculares do ensino médio, de longe o grande ‘laboratório’ destes ensaios, as disciplinas “questionadoras” (filosofia, psicologia, sociologia), colocando-se em seus lugares a famigerada OSPB. Sabe-se muito bem o alcance destas medidas para a [de]formação de toda uma geração de seres humanos.
O ensino médio deveria ser repensado a partir do que já advertia Baudelaire, sobre o “discurso duplo” na Educação. Dever-se-iam preparar homens. Estes deveriam optar por ser operários ou não e, em sendo-os, operários conscientes do seu papel social. Precisamos romper com esta dicotomização em prol de uma sociedade livre. Este menosprezo (histórico, mas nem por isso desimportante) pelas ciências humanísticas é tragicômico por estarmos justamente falando sobre um Governo que conhece, no lombo, o peso da falta de educação política do seu povo. Um Governo cuja mandatária e todo um conjunto de pessoas discordantes do modelo antinacional sofreu as agruras, físicas e psíquicas, de lutar pela libertação do seu país.
Não operemos quais jesuítas às avessas, colocando o “tequiniquês” acima de tudo e vilipendiando o pensar filosófico. Estamos no momento histórico no qual mais o Brasil precisa de um livre pensar. Temos um atraso cultural, mas no seu sentido mais amplo. Não é uma questão de formar um homem para servir a determinados propósitos, mas sim de formar homens livres e estes só o são quando não têm sua oportunidade de uma visão libertária solapada, dolosamente ou não.
O estudante “técnico” de hoje, sem uma visão holística da sociedade e sem uma escola que forme seres pensantes é o coxinha de amanhã. É um potencial zangão da nossa “Mass Media”. Daí que o curriculum, em qualquer série, não pode ser dicotomizado. Lembre-se. Estamos falando em formar seres pensantes, antes de qualquer coisa. Uma reunião, um simpósio, uma palestra na fábrica, por estranho que possa parecer, é mais útil, em determinado momento, do que uma explicação sobre o funcionamento de um transístor, pois o conhecimento sobre este componente pode ser obtido, considerando os recursos de busca digital hoje existentes, com igual ou maior proveito do aluno e a reunião terá seu construto a partir das observações ali perpetradas pelos audientes, em conjunto. Reitero: falamos em formar pessoas.
Disciplinas humanísticas em toda a escola, a partir do período de operações formais, é mister, não é veleidade nem tampouco desperdício. Só assim, interromperemos o ciclo de visões fragmentadas do conhecimento. Por fim, lembrar aquele para quem o conhecimento não apresentava visões antípodas: Oh, Da Vinci, inspirai-nos.
Atenciosamente,
Morvan
Morvan Bliasby é Pedagogo com especialização em Orientação Educacional, tendo também Especialização em Recursos Humanos e Prática Organizacional. É autodidata em informática e em eletrônica linear e trabalha no Estado do Ceará como técnico em prospecção em Software Livre, na Seplag.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

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