As declarações recentes da ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy, precisam ser analisadas dentro de um determinado contexto, mas não simplesmente desprezadas ou ridicularizadas, como querem alguns. Evidente que essas declarações estão carregadas de bílis, mas, em se tratando de alguém que geriu os destinos da cultura no país por um período de 04 anos, no mínimo, quando a poeira baixar, com mais calma, ela deve ser instigada a dar uma explicação sobre suas declarações. Ruminar em silêncio, como vem fazendo setores da agremiação, talvez não seja o caminho mais prudente. Alguém tem alguma dúvida de que setores do partido estão profundamente insatisfeitos com a repartição do condomínio governista? Claro que não. A única diferença entre esses atores insatisfeitos é que Marta Suplicy parece ter o pavio mais curto. Na realidade, Marta anda insatisfeita já faz algum tempo. Desde o momento em que foi "rifada" da candidatura à Prefeitura de São Paulo, em nome de Fernando Haddad, afilhado de Lula. O Ministério da Cultura veio como um prêmio de consolação. Sempre mal digerido, para alguns, mal gerido também. Haddad enfrenta muitas dificuldades, mas trata-se de um homem público de raras qualidades. É perene e tem um grande futuro pela frente. Ofuscou muitas figurinhas carimbadas da política paulista, inclusive dentro da própria agremiação. Os petistas paulistas pecam pelo excesso de vaidade. Vaidade demais atrapalha, mesmo entre os atores afinados com o establishment. Aqui no província havia um grande sociólogo que, segundo alguns historiadores, teria emprestado apoio ao Regime Militar imposto com o Golpe de 1964 com o propósito de ser nomeado governador do Estado. A nomeação nunca ocorreu porque sua excessiva vaidade incomodava os militares. É um pouco o que vem ocorrendo com Aluízio Mercadante. Apesar de pertencer à tendência CNB - a mesma de Lula - os integrantes dessa tendência não se sentem representados por Mercadante, a despeito de sua enorme capilaridade junto ao Planalto. Ele representa, sobretudo, ele mesmo. Embora argumentem das mais diferentes maneiras, o problema do ator político é, notadamente, a ocupação de "espaço". Marta Suplicy vem perdendo espaço em seu reduto político. Qualquer calouro de Ciência Política sabe que isso não ficaria barato. Reparem que, ao fazer suas declarações, de quebra, ela atinge de forma gratuita o ex-candidato a prefeito pela legenda nas últimas eleições, Alexandre Padilha. O 'sistema de cultura" reconhece os acertos das políticas públicas implantadas no setor na gestão do sociólogo Juca Ferreira. Foi um nome comemorada dentro e fora do circuito cultural petista e não petista. Não se pode deixar de reconhecer o esforço que foi feito naquela pasta, a partir da gestão de Gilberto Gil, no sentido de integrar as ações do setor. Se você tomar como referência os pontos de cultura, hoje, com toda a certeza, é possível apontar com precisão as correções de rumo necessárias para aperfeiçoá-los. Para se ter uma ideia dessas ações coordenadas, foi o IPEA quem fez esse diagnóstico. Quanto às denúncias de desmandos, compete aos acusadores o ônus da prova, embora nada mais me surpreenda naqueles quadrantes. Infelizmente.
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