Postado em 28 nov 2014
Foi o Facebook, como nenhuma outra rede social da internet, que iniciou um processo inédito e ainda não dimensionado de histeria ideológica que, ao menos no Brasil, foi cristalizado sob um complexo manto de silêncio.
Digo complexo porque, até surgir uma plataforma tecnológica capaz de lhe dar cor, forma e conteúdo, esse manto foi sendo lentamente consolidado por diferentes processos de acomodação moral, política e social, sobretudo a partir das gerações subsequentes ao golpe militar de 1964.
Até então, ninguém sabia ao certo quais eram as consequências de cinco décadas de construção conservadora dentro de uma sociedade naturalmente autoritária como a brasileira, nascida e moldada na cultura do escravagismo, do fisiologismo, da separação de classe e da carteirada.
Com a internet e, especificamente, com o Facebook, tornou-se possível entender como a overdose de doutrina anticomunista rasteira, aliada a uma visão de mundo ditada por interesses ligeiros, acabou por gerar essa multidão de idiotas que se aglomeram no espectro ideológico da direita nacional.
Essas pessoas que travestiram de piquenique cívico as manifestações de rua nas quais, em plena democracia, foram pedir intervenção militar. Uma multidão raivosa, mentecapta, de faixas na mão, cevada por uma mídia mais irresponsável do que, propriamente, conservadora.
Essa mistura explosiva de ressentimento político com déficit educacional fez explodir nas redes sociais jovens comentaristas com discurso roubado de velhas apostilas da Escola Superior de Guerra dos tempos dos generais.
“Vai pra Cuba!”
Ir para Cuba.
Onde, exatamente, erramos ao ponto de ter permitido o surgimento de mais de uma geração cujo insulto essencial é mandar alguém ir morar em Cuba?
Desconfio, que no centro dessa questão habita, feroz, a tese de que é preciso viver em pobreza franciscana para ser de esquerda. Essa visão macarthista do socialismo impregnada no imaginário da classe média brasileira e absorvida, provavelmente por falta de leitura, de forma acrítica por grande parte da sociedade.
“Vai pra Cuba!”, aliás, na boca torta da direita brasileira, não é apenas um insulto, mas uma praga horrenda, um desejo de morte lenta, um pelourinho necessário e elogiável, como bem cabe a traidores de classe.
“Vai pra Cuba!” é um grito que escorre como bílis negra pelo canto dos lábios do neorreacionários brasileiro.
De minha parte, não vou a lugar nenhum, enquanto esse tipo de gente ainda estiver por aqui.
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