A importância da autoestima para
o processo de aprendizagem é muito maior do que se imagina. Isto foi o
que ficou evidenciado no resultado de uma pesquisa desenvolvida pelas
pesquisadoras Michela Camboim e Isabel Raposo, da Fundação Joaquim
Nabuco. A pesquisa, intitulada “Determinantes do Desempenho Escolar na
Rede Pública de Ensino Fundamental do Recife”, desenvolvida durante o
ano de 2013, em 120 escolas públicas (estaduais e municipais) do Recife,
investigou 146 turmas do 6º ano (5ª série), num campo de 4.200 alunos.
“Acompanhamos
os alunos e comparamos o desempenho de cada um, através de duas provas
de matemática que eles realizaram, uma no início e outra no final do
ano, para ver se eles se saiam bem no teste”, disse a pesquisadora
Isabel Raposo. Ela acrescentou que melhoraram na nota e tiveram
aprovação os que se relacionavam mais com os colegas, os que tinham
mais amigos na sala de aula, os mais novos em turmas de alunos mais
velhos e aqueles que, mesmo subnutridos, tinham uma aceitação positiva
dos seus pais. “Aqueles que conviviam bem no ambiente doméstico e na
escola, que eram os mais sociáveis, tinham mais maturidade e eram
aprovados pela família”, acrescentou a pesquisadora.
Essas
particularidades dos alunos foram identificadas a partir de um
questionário com 90 perguntas, aplicado entre a primeira e a segunda
prova de matemática. Segundo a pesquisadora, os alunos que as mães
acompanham, repreendendo-os quando eles erram, os que recebem elogios
do professor quando acertam, os que se acham populares (têm muitos
amigos), os que têm uma personalidade mais definida, são os mais aptos a
se interessarem pelos estudos e de terem um desempenho melhor,
tomando-se como referência a disciplina matemática.
Isabel
comentou que a matemática, para o estudioso M. Gonçalves, é considerada
de natureza difícil e emocionalmente muito intensa, podendo provocar nos
alunos emoções positivas ou negativas. Ressaltou que o sentimento de
desinteresse pela disciplina pode acarretar um desinvestimento
progressivo no trabalho escolar, afetando o desempenho. E acrescentou
que, na opinião dos pesquisadores Peixoto e Almeida, um dos aspectos que
pode influenciar os tipos de emoções vivenciadas pelas pessoas é o
autoconceito, que é visto como um constructo psicológico essencial a um
bom desempenho acadêmico.
Seguindo
o raciocínio do teórico Harter, a pesquisadora explicita que o
autoconceito e a autoestima estão intimamente ligados, mas não são a
mesma coisa. O autoconceito abrange a opinião que a pessoa tem de si
mesma, considerando seus sucessos e fracassos. A autoestima engloba os
sentimentos decorrentes deste autoconceito, trata-se de um sentimento
construído a partir do conceito que se auto-atribui, ou seja, como a
pessoa se sente em relação a si mesma
O
questionário elaborado pelas pesquisadoras Michela Camboim e Isabel
Raposo foi baseado na escala de autopercepção de Harter e na teoria das
habilidades não cognitivas de Heckman. O desenvolvimento do trabalho
resultou numa base de dados única sobre auto-estima de alunos de escolas
públicas, um diferencial em bases de dados sobre educação no país.
:: OBS:
A pesquisa “Determinantes do Desempenho Escolar na Rede Pública de
Ensino Fundamental do Recife” será apresentada, no formato de oito
artigos, durante o 1º Workshop de Artigos Científicos, nesta
quinta-feira, dia 4 de dezembro, das 8 às 12 horas, na sala Gilberto
Osório, da Fundaj/Apipucos (rua Dois Irmãos, 98), um evento que é uma
promoção da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco.
Veja, abaixo, a programação:
Nota do editor: As duas fotos acima foram colocadas de propósito. A primeira mostra alunos, possivelmente oriundos de família de classe média tradicional, num festivo encontro em sala de aula. A outra, a dura batalha dos alunos de famílias empobrecidas sendo transportados para a escola em carroças, pela ausência de um transporte escolar mais digno. O fato ocorreu numa cidade do interior do Estado de Pernambuco e foi denunciado por um vereador local. Não quero entrar aqui nos determinantes econômicos da autoestima - também não sei se a pesquisa colocou essa variável no estudo - mas o bom-senso nos informa que, está difícil desenvolver a autoestima entre os alunos desse segundo grupo, da forma que estão sendo tratados pelo poder público. Tive a oportunidade de pagar uma disciplina com a professora Edla Soares, no CE/UFPE, onde ela procedia uma pesquisa sobre as condições sociais do educando, considerando que todos deveriam atingir um determinado estágio de aprendizagem, mas, consoante o grau de adversidades encontrada, chegariam em tempos distintos aos objetivos. O calendário acadêmico, naturalmente, era honradamente desrespeitado. Foi a maior lição de avaliação que já aprendi. Posteriormente, assim como ocorria com Miguel Arraes e Silke Weber - outra professora de saudosa lembrança - Edla se tornou um espécie de eterna Secretária de Educação de Jarbas Vasconcelos. Quando o caboclo enveredou pelo "caminho da perdição', ela se afastou do grupo. Em tempo. Saiu sem ver sua imagem chamuscada pelo oportunismo político. Tinha posições e convicções firmes.
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